Capítulo 3 🎲 Capítulo 03

[Kayron - Autor: Lane] & [Safira e Cassandra - Autor: Karol] & [Valério - Autor: Évany] & [Bomani - Autor: Hellen]

Kayron queria arrancar tufos de seu cabelo branco e rosnar para quem chegasse perto dele, tamanha a raiva que sentia. Seu plano de manter a discrição foi por água abaixo, e agora ele precisava tomar cuidado para não fazer nada suspeito na frente dos novatos com quem se envolveu no incidente com a succubus.

Após as aulas matutinas, o semideus rumou para a Biblioteca Arcana, onde auxiliou por meio período.

Era o álibi perfeito. Na biblioteca o fluxo de informações e conhecimentos fazia valer a pena toda aquela droga de identidade falsa. Ao tentar rastrear durante anos os assassinos do seu clã, descobriu que aquilo que parecia meramente um ardil dos orcs contra a sua família, era apenas a ponta da ponta do 'iceberg'.

Kayron sabia que um dos titeriteiros daquele 'show' de matança estava ali, na Academia dos Arcanos Mistos. Alguém que conseguiu encontrar uma forma de eliminar deuses imortais. Alguém que havia aprisionado as almas de seus parentes em eterna agonia na lâmina do punhal vermelho que ele escondia na barra da calça. Ele só não sabia quem era a figura abominável em questão.

Até que descobrisse, Kayron aprenderia o máximo possível do inimigo e buscaria uma forma de libertar as almas dos membros do seu clã. E então ele se livraria daquele punhal amaldiçoado.

Já na biblioteca, Kayron cumprimentou Qemeya, a minúscula e fofa bibliotecária meio-elfo, cujos óculos sempre escorregava pelo nariz delicado. Ele tentou não reparar demais no lindo sorriso com que Qemeya o brindou.

O semideus se escondeu atrás de uma prateleira para não ter que falar com o grupinho de garotas que se aproximava. Pior que ter que lidar com pessoas, era ter que lidar com pirralhos. Um grande problema quando se era um infiltrado numa escola cheia deles e principalmente quando se era tão antissocial como Kayron.

Nos fundos do recinto, o semideus retirou o punhal da barra da calça e por um segundo, o som de mil vozes agonizantes preencheu toda a biblioteca. Ele guardou rapidamente a lâmina dentro de um livro mágico que, por ora, seria a solução mais eficaz para selar a energia do punhal. Seria uma perturbação se ele fosse pego portando uma arma mágica amaldiçoada sem autorização.

Qemeya apareceu no exato momento em que Kayron selava o livro com magia. Atordoada, ela fitou o semideus com os olhos verde-mar.

- Kayron? O que foi isso? Pelos deuses, parecia até o grito dos mortos!

Como um fleumático, Kayron afastou uma mecha branca de seu cabelo que caía sobre a testa, e mirou Qemeya com uma expressão inocente nos olhos dourados feito ouro derretido.- Penso que está imaginando coisas, Srta. Qemeya. Está tudo no perfeito silêncio por aqui.

Ele endereçou seu sorriso mais tímido e singelo, feito um mestre da ilusão.

"Tudo vai se resolver", disse a si mesmo quando Qemeya se afastou, convencida de suas palavras. "Eu matarei cada um dos malditos que ousaram ferir minha família. Eu os farei provar do próprio veneno."

🩸🩸🩸

Na hora do almoço, Kayron estava fugindo das alunas que normalmente o perseguiam.

Qemeya reparou em como ele olhava para os lados, ansioso:

- Quer almoçar em um local mais reservado? Tem um belo jardim no fundo das escolas...

Ele quase não a escutou, visto que percebeu Safira no corredor de livros, ela estava pegando alguns livros, parecia distraída com seus fones de ouvido, ela estava tão concentrada, parecia ser uma garota tão doce. Ele a encarou e seus olhos se cruzaram, ela tirou o fone e segurou seu olhar ao dele. O olhar perscrutador de Safira o lembrava de alguém... Mas quem mesmo? Ele desviou os olhos, e soltou um suspiro, ele não percebeu que estava segurando o ar.

- Tudo bem? - Sua amiga perguntou o tirando do transe.

Ele balançou a cabeça afirmando que se voltou para Qemeya e tentou conter o impulso de ajeitar os óculos da bibliotecária fofinha.

- Eu... eu aceito sua oferta, Qemeya. Mas por favor vá à frente. Preciso resolver algo antes. Encontro você no jardim.

Qemeya anui com um sorriso que sacode algo no interior do semideus. Ele respira fundo para reprimir o que quer que fosse aquilo.

Kayron aproveitou o momento para se locomover até Safira. Ele não sabia exatamente o quê, mas havia algo naquela vampira... Era puro instinto. Ou talvez..., talvez não fosse nela. Não restava outra opção a não ser testar. Ao chegar perto da beldade cobiçada por quase todo o 'campus', ele falou em um sussurro que apenas ela escutou:

- Foi você quem pegou emprestado da biblioteca o livro Occulta Tenebris Pellibus? É um volume único, sabia? Não seja egoísta, outras pessoas podem querer ler.

A isca havia sido lançada. Era a oportunidade do semideus de conseguir mais alguma pista sobre os acontecimentos anteriores e sobre a forma de libertar seus pais.

Safira o encara séria, ela mordeu os lábios pensativa antes de responder o garoto que ela achava muito atraente. A vampira tinha que tomar cuidado com o que responderia, afinal ele estava falando dos livros proibidos da cidade, que poucas pessoas tinham acesso.

- Pois é fofo, são livros raros para pessoas únicas. - Ela disse se aproximando dele, até deixá-lo encurralado. - Você é bem curioso garoto. - Sussurrou em seu ouvido.

- Cuidado, nessa cidade pessoas curiosas não são tão bem vistas.

Kayron a encarou sorrindo.

- Sorte sua que você tem esse sorriso lindo... Tá legal te empresto o livro, vem na minha casa a qualquer hora, que podemos ler juntos - Ela disse se virando para ir embora.

- Ah! Você está me devendo uma bebida.

Ela piscou para ele e vai ao encontro de um grupo de garotas.

Deixando Kayron para trás.

Sorriso lindo? Ler juntos? Devendo uma bebida?

Kayron, embasbacado, observou Safira partir, os cachos dela meneando hipnotizantes em suas costas.

O que custava ela ter sido clara?

Ele balança a cabeça e riu para si mesmo, incrédulo. O semideus não sabia dizer se a garota havia entendido ou não o código. O livro era um pretexto. Havia uma senha no que ele disse. Mas e se ela tivesse captado a mensagem e o convite para que lessem juntos fosse a desculpa para que eles trocassem a informação que tinham? Kayron havia seguido sua intuição, e absolutamente não falhava. E o seu instinto gritava que Safira poderia levá-lo a mais pistas. Mas se ele estivesse enganado, teria que fazer algo para silenciá-la. Nada ficaria no seu caminho. Nem mesmo garotas sensuais e lindas de cabelos cacheados.

Kayron finalmente se mexe e lembra que Qemeya o espera nos fundos da escola.

Ele suspirou, derrotado. Teria que aceitar o convite de Safira. O que seria uma completa loucura. Kayron queria respostas. E Safira era a antítese disso; ela cheirava a perigo e enigmas.

🩸🩸🩸

Valério estava mexendo nas fichas dos alunos. Em suas mãos, os dossiês completos de matrícula e pagamento, além de informações sobre a grade curricular de todos aqueles que ele viu na cena da succubus na noite anterior.

O que essas crianças estavam fazendo se envolvendo com problemas?

Espalhou as fichas e suspirou. Sua mente não conseguia conectar os alunos aos acontecimentos, como se peças do quebra-cabeças precisassem ser encontradas antes de montar a figura completa.

Em seus dedos brincou com o broche da Succubus. Quando desferiu sua mordida potente e venenosa, conseguiu agarrá-lo. Na verdade, ele não se importava com aquela succubus e pouco menos se importava com os alunos, se eles morreriam ou sobreviveriam, seria sorte ou azar deles... Mas aquele broche...

As memórias foram para seu passado. Uma caixinha pequena e dourada ornamentada que sua ex-amante tinha. O mesmo símbolo.

Bom, se elas estiverem de alguma forma interligadas, seria proveitoso. Valério pensava que poderia seguir essa pista para ter sua vingança.

As horas passaram voando, ele simplesmente fechou todas as pastas, guardou o broche em seu bolso interno do paletó e seguiu para fora de sua sala. Era hora do almoço.

Após comer no refeitório dos professores normalmente e com gente entediante ao seu lado, Valério voltou do almoço.

Sua cabeça transitando entre os acontecimentos da noite anterior, suas memórias, suas novas descobertas e... ele ainda precisava preparar a aula para a turma da noite. De tarde o 'campus' é tranquilo para os professores, só algumas papeladas.

Ele abriu a sua sala, que estava trancada...

E quando a porta abre, ele pegou Cassandra no flagra, tentando abrir a janela para sair! Valério percebeu suas coisas reviradas...

"Ela mexeu, certeza!" pensou.

Cassandra deu um sorriso para o professor Valério, piscou um olho e saltou da janela antes que ele pudesse reagir.

"Maldita! Você não pense que poderá escapar!"

🩸🩸🩸

Na sala de aula, os alunos estavam com semblantes cansados, a festa parecia que fora ótima, mas, por que motivos estavam sem energia e sem força de vontade? Cassandra sentou na mesa analisando a sala, sem entusiasmo nenhum.

- Bom dia professora. - Cantarolou entrando na sala animada.

- Safira, bom dia, mas você está atrasada... - Cassandra sorriu vendo a animação da garota, que usava um vestido azul, que modelava seu corpo e usava um salto, a dando um pouco mais de altura.

- Então professora, ontem estudei muito anatomia dos lobisomens e dormir tarde, me desculpe. - Ela confessou fazendo 'beicinho'.

"Sei, ela deve ter chupando alguns pescoços". Cassandra pensou varrendo os olhos mais uma vez pela sala. "Ou talvez de todos".

Ela sorriu, sentindo-se mais energizada e levantou-se da cadeira, começando a aula.

Safira sentou no fundão, colocou sua bolsa de marca em cima da mesa e tirou seu caderno.

Safira não sabia os nomes das pessoas que estava interessada, mas quando as viu entrar pela porta, espiou com o canto do olho para a garota que a intrigou na noite passada, aquela que desmaiou.

Pensou que poderia ler a mente dela, mas não teria graça nenhuma! Como gostava de desafios, resolveu ir com calma. É, era isso que ela estava precisando. "Ou talvez aquele gatinho, que estava no porão. Ele me prometeu uma bebida, eu com certeza vou cobrar" Pensou mordendo os lábios pintados de vermelho carmim.

"Hummm, interessante! Meu pai precisa saber o que está acontecendo aqui... Ultimamente coisas estranhas aconteceram na cidade." Ela pensou secando o rapaz que se sentou ao seu lado. "Uma professora sexy que julga que manda nos alunos, um professor que é super bonito mesmo com o olhar frio costumeiro, um monte de alunos gatos que com toda certeza não são humanos e uma aluna misteriosa que não consigo nem ao menos identificar sua espécie." Ela pensou suspirando e admirando a vista pela janela de vidro. "Terei que descobrir. Ah pai, onde você está? Faz um mês que não tenho notícias suas."

Enquanto a Cassandra dava a sua aula de maneira animada, parecia que o sangue dos alunos voltou ao normal. A sala gradualmente agitou se com a aula.

- Licença professora? - Um dos alunos a chamou na porta da sala.- O professor Valério está chamando você em sua sala privada.

- Obrigada Bomani, já estarei indo, só passarei uma atividade. - Ela confirmou pegando um canetão e começou a escrever na lousa.

"Droga o que ele quer comigo, será que ele me viu na sala dele?" Pensou terminando as atividades e saiu da sala, na dúvida, me fingirei de sonsa ou inventaria uma desculpa tola.

🩸🩸🩸

Bomani se encontrava caótico! Além de se atrasar por ficar horas conversando com seus novos amigos até tarde da noite, tentava se equilibrar entre os cadernos e livros, o motivo?

O africano tinha se esquecido que precisa de pelo menos uma bolsa para carregar o básico. Ainda por cima estava ansioso para fazer uma pausa e ler um livro de espécies, dado por Wei, antes dele sair do quarto dos meninos com quem formou laços de amizade.

O corredor que ele precisava seguir para chegar na sala em que seria lecionada a próxima aula era no mesmo andar em que ficava a biblioteca. Coincidentemente, na mesma hora, Safira atravessou as portas duplas de vidro sem pressa alguma, diferente dele.

A vampira de olhar leviano colocou seus fones de ouvido e pegou suas coisas. Havia muitos pensamentos poluindo sua mente, questões que ela sabia precisar resolver. Estava com sede, parecia que alguns pescoços nunca seriam suficientes! Ela só bebia sangue de humanos, mas com novos moradores na cidade, já está questionando-se sobre um desejo novo que parecia surgir da sua mente.

Só sentiu o impacto do encontrão que deu em alguém.

- Que droga garoto. Você é cego? - Rosnou brava.

Os dois jovens não caíram ao chão, mas Bomani se sentiu ainda mais desesperado quando viu que havia derrubado todas as suas coisas e a da bela vampira, criando um caos no assoalho. O africano não respondeu de primeira, somente se abaixou para pegar tudo o mais rápido possível.

- Me desculpe... - Falou, já terminando de pegar suas coisas e se levantar ficando de frente para a vampira.

Safira bufou brava, sua bolsa cara ainda estava naquele chão sujo. Sim ela se importava com coisas banais daquele tipo. Contou até mil, enquanto fuzilava o garoto em sua frente com seus olhos escuros.

"Se não estivéssemos em público, você seria apenas um corpo, eu tomaria cada gota do seu sangue com vontade." Ela pensou ainda o fuzilando com os olhos, sem saber que aquele garoto a sua frente era um dos maiores assassinos de demônios do mundo.

- Você pode pelo menos tirar minha linda bolsa do chão? - Ela suspirou ainda o fuzilando.

- Você quer segurar minhas coisas para eu fazer isso, senhorita? – Ele retrucou estendendo suas coisas na direção da mulher.

Ela mostrou um sorriso, mas sua expressão era raivosa.

- Garoto, você sabe quem eu sou para estar falando assim comigo?

De forma debochada, um sorriso surge nos lábios do rapaz, os dentes brancos em contraste:

- Não é como se fosse importante para mim. Aliás, se está tão incomodada com a sua... – ele olha para o chão vendo o acessório ali – bolsa. Você que a pegue. Tenho mais o que fazer, tenha um bom dia.

Bomani saiu de perto da vampira sem nem mesmo encostar na bolsa. Safira ficou observando-o. Ela deu um grito de ódio, tão alto, que todos os que passavam por ali naquele momento se viraram para olhá-la.

- Você me paga! Nunca mais aparece na minha frente, senão você está morto. - Esbravejou.

Um garoto aleatório da universidade se aproximou dela, pegando suas coisas da maneira mais serviçal possível, entregando para a vampira de maneira muito feliz, nitidamente contente por falar com sua musa!

- Oi Safira, não sei se você me conhece...

Irada, Safira apenas pega as coisas das mãos do garoto. E dá as costas para ele, sem nem agradecer:

"Nunca mais quero ver aquele idiota na minha vida." Ela pensou em Bomani, enquanto procurava seu livro.

- Droga que livro é esse? - Assustou-se quando percebeu um objeto diferente em sua bolsa.

O livro havia sido trocado!

"Ah... aquele idiota... não". A bela vampira pensou colocando a mão na testa desacreditada.

A reação da vampira foi engraçada para Bomani, garotas mimadas são bem sensíveis com o ego. Quando chegou na sala, sentou-se deixando suas coisas sobre a mesa. Esticou o corpo, espreguiçando. Só então ele percebeu haver algo errado nos objetos que trouxe para a sala. Havia um livro estranho no lugar do livro de espécies de Wei.

- Eu não acredito nisso. – Murmurou olhando para o livro de capa dura.

🩸🩸🩸

Cassandra foi até a sala do professor Valério, que estava com sua porta aberta de maneira como se a convidasse para entrar. O belo homem de olhos azuis estava distraído em sua leitura, provavelmente revisando algumas notas.

Pigarreou para chamar atenção dele.

- Você me chamou? O que você quer comigo, Valério?

Ao notar que a Cassandra estava ali em sua frente, Valério levantou da cadeira e respondeu a sua pergunta, rodeando a mesa lentamente, até ficar de frente para a professora, muito próximo:

- Sim, chamei. Bom eu que te pergunto... O que você procurava na minha sala Cassandra?

"Bem direto", ela pensou. Um sorriso surgiu em seus lábios de batom. Devagar, ela se aproximou dele, encostando na mesa, tomando-a como assento.

- Não sabia que a sala era sua! Pensei ser do 'Campus'. - Ela o provocou mostrando um sorriso malicioso.

- Mas sabia muito bem que é aqui onde eu deixo minhas coisas... - Ele se aproximou mais dela, quase sussurrando em seu ouvido. O perfume foi jogado para as narinas da professora, que apenas absorveu o sedutor aroma amadeirado, como uísque e carvalho. - Já que estava mexendo nelas, então porque não me conta o que você procura? Talvez eu possa ajudá-la a encontrar.

Mordiscando os lábios enquanto retribuía o olhar intenso de Valério, Cassandra tomou fôlego:

- Acho que você não vai entender. - Em sua voz, um rastro de desdém, enquanto percorria o corpo dele com os olhos em uma poderosa secada. - Professor Valério, sinto muito. Acabei de chegar para lecionar e não estou habituada ao mapa da Universidade. Errei a sala. - Lutando contra o elo magnético entre eles, Cassandra se afastou, levantando-se.

De forma clara, ela se sentiu desconfortável com sua aproximação. Até então vivia de forma independente, uma vampira solitária. E a sensação elétrica que fluía entre eles a incomodou.

Percebendo o incômodo da professora, ele não deixou de sorrir de lado:

- Senhorita Cassandra, quem sabe um dia a gente não faz um tour pelo campus para que eu possa te ensinar em qual lugar você deveria entrar ou não. - Ele deslizou o indicador pelo braço da professora. - O que houve?

Um arrepio tirou Cassandra de seu cerne. Ela se afastou mais, acuada. Sem querer bateu o pé na mesa e derrubou os papéis e pastas empilhados. O som foi seco e forte, como um martelo batendo no chão e chamou sua atenção. Quando se abaixou para pegar o que derrubou, ela percebeu um livro muito específico, de uma coleção secreta e oculta na cidade.

- "História de Stelivy: Os segredos dos clãs". - Leu o título enquanto ficou em pé, arqueando uma sobrancelha e com o livro na mão, balançando. - O que você está fazendo com esse livro, Professor Valério?

Ela estava sorrindo. Ela sabia que seria interessante aquela conversa.

- Eu gosto de coisas históricas! - Ele simulou, com um sorriso fraco, pegando os livros das mãos da vampira.

Cassandra deu uma risada sexy.

- Ohhhh! Não duvido! Mas já que está me questionando, está sendo um hipócrita, pois que eu me lembre, esse livro foi retirado diretamente da coleção do Sr. Jones, que fica na Biblioteca escondida no porão. - Vitoriosa, agora ela quem se aproximava dele, arrumando sua gola da camisa social. - Ou você entrou magicamente na biblioteca secreta, ou você tem muitos segredos que vou adorar tirar... um a um... de você.

- Não sou um homem de segredos e nem de roubar. Eu só pego emprestado... - Valério a puxa para si, envolvendo o braço em sua cintura. - Eu adoraria tirar outras coisas de você...

Cassandra tomou fôlego para falar, mas não teve tempo. Um barulho estrondoso interrompeu vindo do lado de fora. Ela reconheceu o típico o som de uma hélice de helicóptero.

Afastou-se de Valério e dirigiu-se até à janela de vidro. Dali visualizou um luxuoso helicóptero branco pousando no gramado do 'campus'. Abriu um sorriso e balançou a cabeça: sabia bem de quem era.

Saiu da sala deixando o professor sem entender nada.

O helicóptero aterrissou no gramado verde e amplo, a ventania balançou violentamente a copa das árvores. Era uma cena inusitada, que criou uma aglomeração de jovens em volta e nas janelas do prédio da Universidade.

Todos observaram um homem descer do helicóptero. Não, aquele não era um homem qualquer. Muito bem vestido com um terno feito sob medida, na altura certa colado em seus ombros fortes, deveria ser bem alto, de aura imponente. Seus olhos verdes eram sagazes, tribulando por todos os rostos na multidão, analisando cada detalhe. Seus lindos cabelos estavam rigidamente penteados para trás. Ele passou a mão no cabelo perfeito. E foi atigindo por um abraço que o apertou animadamente.

- Pai, você voltou. - Sua filha disse, o enlaçando em um abraço de urso.

- Oh! Minha 'Safirinha'. - Um sorriso pairou no rosto, antes carrancudo, do homem. - Trouxe algo para você. - Ele disse pegando do bolso interno do paletó uma caixinha embrulhada com fitas de cetim vermelho. E entregou.

- Ah! Ah, papai, obrigada. - Safira aceitou o presente do seu pai.

- Olá senhor Jones.

- Senhor diretor Bronwen. - Jones disse aceitando a mão do senhor de idade, que era um puxa-saco dele. O senhor baixinho, de bigode, fazia tudo para agradar o homem que vinha a ser o maior investidor da cidade.

- Senhor Jones, tenho inúmeras questões para reportar. - O diretor disse, o guiando para que entrasse na Universidade pela porta dupla de madeira.

Safira agarrou nos braços do pai e fora desfilando ao seu lado, percebendo os olhares invejosos em sua direção.

- Nossa! O pai dela é tão lindo. - As meninas do 'campus' murmuravam animadas.

Chegando na sala do diretor, o Senhor Bronwen, mostrou a cadeira para que Jones se acomodasse, mas ele deu a volta e sentou na poltrona do diretor, colocando os pés sobre a mesa do reitor.

- Se acomode onde quiser Sr. Jones. - Ele sugeriu, sentando de frente para Jones. - Safira, fofa... - O diretor chamou a atenção da garota que mexia no celular. - Pode nos dar licença? - Ele pediu com todo cuidado do mundo, sobre os olhos de Jones.

"Pode ir filha, mas tarde conversamos." Ele pensou balançando a cabeça, concordando.

"Ok... Pai, te espero em casa." Ela se comunicou com o pai, pelo pensamento saindo da sala do diretor.

- E então senhor Bronwen, o que queria falar comigo?

- Ah! Senhor Jones, tenho tanta coisa para te contar... Nossa cidade virou um caos sem o senhor aqui. - O senhor confessou triste.

- Eu imaginei. - Jones suspirou se levantando. Ele foi até a janela, colocou a mão no batente e sorriu. - Não se preocupe, senhor Bronwen, o dono da cidade voltou.

Ele assobiou, vendo os alunos passearem pelos campos.

"Fiquei tempo demais fora, as pessoas devem saber quem manda nessa cidade."

Jones estava muito confiante, mas ele não imaginava que dentre as inúmeras coisas que haviam mudado na cidade, muitas delas ele não iria gostar.

            
            

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