No cruzeiro com o CEO
img img No cruzeiro com o CEO img Capítulo 2 Um dia ruim, parte I
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Capítulo 6 Curtindo no quarto img
Capítulo 7 Perseguida img
Capítulo 8 O salvador img
Capítulo 9 Não é a mesma coisa img
Capítulo 10 Passeio e promessas img
Capítulo 11 O sonho acabou img
Capítulo 12 Despertando img
Capítulo 13 Especial img
Capítulo 14 Uma boa notícia img
Capítulo 15 De volta pra casa img
Capítulo 16 Me perdoa img
Capítulo 17 Lugar secreto img
Capítulo 18 Um caos img
Capítulo 19 Sem jantar img
Capítulo 20 Um dia de compras img
Capítulo 21 O que será img
Capítulo 22 Não minta pra mim img
Capítulo 23 Cliente estranha img
Capítulo 24 Descobertas img
Capítulo 25 O mundo desaba img
Capítulo 26 Ajuda inesperada img
Capítulo 27 A polícia chegou img
Capítulo 28 Mais uma mentira img
Capítulo 29 Nem tudo é o que parece img
Capítulo 30 Na delegacia img
Capítulo 31 Liberdade img
Capítulo 32 Golpe final img
Capítulo 33 Toma para você img
Capítulo 34 Em estado de choque img
Capítulo 35 Tarde demais img
Capítulo 36 O destino de cada um img
Capítulo 37 Epílogo - No cruzeiro com o CEO - Outra vez img
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Capítulo 2 Um dia ruim, parte I

Geovana

Abri os olhos e em seguida uma sensação estranha me abateu, mas não soube descrevê-la. A luz entra forte pela janela e eu pisco, estranhando a forte luz que adentra meu quarto, já que normalmente desperto quando a luz ainda está fraca e suave. Uma urgência me toma ao lembrar o que isso pode significar.

Pulo da cama e vou até a mesinha pegar meu celular para verificar as horas, mas percebo que ele descarregou durante a noite.

- Merda!

Xingo ao constatar que estou atrasada e nem sei o quanto. Cheguei meio chapada em casa e fui deitar, me esquecendo de colocar o celular para despertar. Hoje não é um bom dia para chegar atrasada, já que eu teria que informar ao meu chefe que vou tirar nove dias de férias, dez na verdade, pois tem a viagem para São Paulo um dia antes da saída do cruzeiro. Trabalhando há cinco anos na empresa sem nunca tirar férias, é mais que o meu direito tirar esses dez dias. Mas o atraso o deixará irritado, o que poderá dificultar as coisas para mim.

Ligo a TV e coloco no canal de notícias que tem a hora na tela o dia inteiro e então eu levo um susto. Nove horas da manhã. Eu levanto as seis, saio de casa seis e meia e chego no escritório sete e meia para abri-lo as oito com tudo bem organizado. A mesa do chefe e seus associados, a minha própria mesa e a agenda. Sempre cheguei nestes últimos cinco anos exatamente meia hora antes de meu expediente começar. E agora estou uma hora atrasada, sem contar o tempo de percurso até lá, nem se eu chamasse o carro de aplicativo teria como compensar meu atraso.

- Merda dupla.

Coloco meu telefone para carregar enquanto vou me arrumar, e faço isso em tempo record. Em dez minutos, saio de casa com meu telefone a dez por cento e empurrando meio dúzia de biscoitos goela abaixo. Vou andando rapidamente até o posto de saúde da minha rua, vou tentar pegar um atestado médico.

Ligo para o escritório e o Dr. Carlos, muito bravo, atende ao telefone que eu deveria atender.

- Ah, Dr Carlos, precisava mesmo falar com o senhor.

Falo torcendo o nariz e o dedo. Só falta ter tido muita sorte em um dia e o resto de meus dias de puro azar.

- Geovana? Por que não chegou ainda?

- Liguei por isso, Dr. Carlos, estou muito doente hoje, acordei com dor de cabeça e febre e estou na fila do posto. - Até fingi uma tosse meio desengonçada, só não sei se é o suficiente para enganar ao advogado.

- Não vem trabalhar, hoje? - Cachorro, nem pergunta se eu estou bem ou se preciso de alguma coisa, já pergunta se vou faltar.

- Eu vou, é claro, assim que for medicada seguirei para o trabalho, mas a fila está tão grande...

Olhei a fila de espera e vi que aquela fila já esteve muito maior em outros dias.

- Chegue após o horário de almoço e com um comprovante de comparecimento, junto com uma receita médica.

- Tudo bem, Dr. Carlos, pode deixar.

Ele desligou em seguida sem nem mesmo falar um mísero "tchau" ou um "Tenha um bom dia" ou somente um "melhoras". Falta de educação vemos aqui. Suspiro com o pensamento e dou o primeiro passo na fila de atendimento.

Depois de fazer a minha ficha, ainda fiquei esperando para ser atendida. Ao chegar no médico falei de dor no corpo e dor de cabeça, fiz um pequeno teatro, não sei se convenceu, pois ao pedir a declaração ele só ajeitou os óculos me encarando e preencheu o papel, junto com o pedido para que eu tomasse um determinado medicamento na enfermaria. Não tinha receita, apenas um pedido de retorno caso os sintomas continuassem.

Caminhei vagarosamente, fingindo dor, para a enfermaria, a procura de uma abertura qualquer e finalmente eu vejo uma. Entro e vejo que estou em um lugar cheio de vassouras e pilhas de roupas de cama emboladas, devem estar sujas; caixas amassadas, rodos, esfregões... ando rapidamente até ver uma luz ao final do corredor e sinto um grande alívio ao chegar no final dele, encontrando a saída.

Pena que ela dava para a lavanderia.

- Leva isso lá pra cima - só ouvi as palavras da mulher ao depositar uma pilha de lençóis em meus braços. Imediatamente pensei: mas e a luz que vi? Ao girar o pescoço, vi uma grade janela por onde entrava uma abundante quantidade de luz do Sol. Explicado.

- Mas eu...

- Não te ensinaram o serviço, ainda? São uns incompetentes mesmo, avisaram que teria funcionário novo, mas não falaram nada sobre ensinar o serviço - me interrompeu a mulher em seu monólogo e tudo o que eu queria era sair dali.

Olhei para mim mesma, e só então me dei conta que vestia um conjunto azul, o mesmo tom da roupa dos funcionários do posto. "Droga!" Por isso a pequena senhora me confundiu.

- Venha, eu vou te mostrar o serviço - falou ela já agarrando meu braço e me arrastando dali, um desespero me bateu. Olhei o relógio na parede, porque meu celular já morreu e eu não tenho um de pulso, aliás, preciso comprar. Observação anotada mentalmente com sucesso. Já são onze da manhã, ainda vou pegar um ônibus até o trabalho, almoçar e então chegar no escritório. Preciso sair daqui imediatamente.

- Não, não! Pode deixar que eu encontro o lugar.

- Tem certeza? - seus olhinhos miúdos brilham em esperança.

- Claro, eu posso encontrar o lugar, não se preocupe.

Ela sorriu voltando para seus afazeres.

Joguei os lençóis em cima das caixas no caminho e atravessei a saída por onde havia entrado, me lembrei de fingir dor novamente, vai que o médico está me observando.

Reduzi o passo, fiz careta e alisei a bunda. Deu tempo de tomar uma injeção, né, acho que sim. Atravesso a porta e vou para o ponto de ônibus, logo vem o coletivo e finalmente me parece que tive um pouco de sorte. Pego o ônibus vazio devido ao horário, nuca que eu ia trabalhar sentada. Sempre fazia o percurso de pé, salvo quando dava sorte de parar perto de alguém que saltava em um ponto até no máximo a metade do caminho. Porque depois disso, nem faz muita diferença.

Assim que relaxo no banco, me dou conta de que o papel não está na minha mão. Um frio percorre meu corpo. Não posso ter perdido tanto tempo a toa. Abro a bolsa e verifico dentro dela, vendo que não há nada ali. Bato com a mão na testa, me lembrando que possivelmente deixei os papéis junto com os lençóis sobre a caixa.

- Puta merda, que azar do cão, definitivamente hoje não é meu dia.

Fico pensando no que falar para o Dr. Carlos, ele vai acreditar em mim. Ao chegar, almoço e subo para o escritório

Explico a ele que acabei perdendo os papéis no ônibus, mas que ele pode pedir as câmeras do postinho que verá a minha imagem lá. Mas é óbvio que não fará isso. E já que estava enfrentando a fera, aproveitei e soltei o que precisava de uma vez.

- Tem mais uma coisa, Dr. Carlos. - Ele apoia os cotovelos sobre a mesa e me encara com aquele bigode branco enorme que mais uma parece uma mariposa gigante. - Eu ganhei o sorteio do cruzeiro, vou precisar ficar dez dias fora.

Peguei a revista em minha bolsa e coloquei sobre a mesa. Ele piscou muitas vezes, muitas vezes mesmo.

- Pode conferir o número da revista no site, se quiser.

- Dez dias?

- Senhor, eu trabalho há cinco anos no seu escritório. Nunca tirei férias, nunca cheguei atrasada, somente hoje. Sempre fiz o meu melhor para a sua empresa, só estou pedindo dez dias que é o que preciso para usufruir do meu prêmio.

Ele pega a revista, abre na parte da promoção e faz as mesmas observações que meu namorado havia feito. Confirmo tudo, o local, os dias, o fato de ser tudo pago.

Ele joga a revista na minha frente e fala:

- Vai ter que escolher: o prêmio ou o seu trabalho.

***

Adrian

Ainda bem que estava sentado, pois teria desabado no chão após a notícia. Meus joelhos perderam a força, minha boca se abriu e meus olhos se arregalaram.

- Como? - Ela riu como se eu tivesse contado a maior piada do mundo.

- Quer mesmo que eu te conte como? Eu tenho uma sugestão muito melhor, que tal relembrarmos o momento em que ele foi feito? - Ela fala e espalma a mão na barriga levemente elevada. Seria possível?

- Mas não temos nada há três meses, quase quatro! - exclamo - Como o filho pode ser meu?

Ela abre a bolsa, coloca alguns papéis sobre a mesa e se senta na cadeira do visitante.

- Aí está o laudo da ultrassonografia, o exame de sangue, e o que mais você quiser como prova estou disposta a fazer - ela muda seu tom de voz, agora falando sério, como poucas vezes a ouvi falar. - Nosso filho tem exatamente o tempo gestacional da nossa última relação, não estive com outro homem que não fosse você. Posso ser o que você quiser, mas não sou uma puta.

Aqueles olhos claros me encaram e ela prossegue.

- Logo depois do fim do nosso relacionamento, fui para Paris e Londres, passar uns dias na casa de parentes que eu tenho lá, você sabe. E qual foi minha surpresa quando os primeiros sintomas começaram a surgir? - Ela pisca e um sorriso malicioso brota em seu rosto. - A mesma ou até pior que a sua. Tomei coragem pra voltar e te contar, e aqui estou. Eu tenho direitos, você tem direitos e ele tem direitos. - Conclui espalmando a mão novamente.

Observo os documentos. Ela se levanta e vai pegar a cachorrinha que ainda passeia pela sala despreocupadamente.

- O que você quer? - pergunto após analisar os papéis e constatar que ela tem razão.

- Que você dê toda assistência a mim e ao nosso filho. Começando por um apartamento próximo ao centro comercial, não quero precisar me deslocar quilômetros até a clínica ou até o shopping.

- Vou pedir o exame de DNA.

- Até agora, meu bem. Não sei se já pode fazer, mas se puder, estou disposta. - Ela encara as unhas perfeitas e torce o nariz - Estas unhas estão um horror. Venho te visitar em breve, meu bombom, agora vou fazer as unhas.

Andando calmamente, ela abre a porta da sala e me deixa totalmente embasbacado.

Encaro a porta branca fechada e um peso enorme se instala sobre meus ombros, eu não precisava de mais um motivo pra me preocupar. Não precisava de algo a mais para pensar. Com tanto desvio de verba acontecendo misteriosamente, ainda preciso dar assistência a mãe do meu filho e ao meu filho quando ele nascer.

Passo os dedos por debaixo dos óculos, apertando minhas vistas que pesam com a exaustão. Escuto a porta se abrir.

- É verdade? - ouço a voz da minha mãe. Não queria encará-la agora, continuo apertando os olhos.

- Puta merda, mano, não sei se te dou os parabéns ou os pêsames. - Meu irmão fala. Pronto, agora tá formado. A tropa tá quase toda aqui, só falta surgir Ariane, minha irmã gêmea, aqui na sala do nada. Como às vezes costuma aparecer, farejando treta.

- Quem morreu? - gemo, pois é inacreditável. Ariane sente a treta a quilômetros de distância.

Solto o ar pesado antes de encarar minha família inteira na minha frente.

- Eu vou morrer em breve.

Sem entender nada, minha irmã encara a todos nós esperando resposta.

- O que a lambisgoia da Mirela estava fazendo aqui?

- Veio trazer a coroa de flores - falo com desgosto e minha irmã olha em volta da sala, provavelmente sem entender a piada sobre mim mesmo.

Acabo resumindo para ela o meu dia de merda e o golpe de misericórdia da Mirela.

- Grávida! - ela fala alto. - Mas é esperta, mesmo. Sempre disse isso a você, aquela lá nunca teve cara de boba nem de fútil e burra. Ela usa aquela máscara pra enganar os trouxas iguais a você.

- Nossa, muito brigado por chutar o morto - reclamo.

Ela vem na minha direção e me abraça.

- Ah, irmãozinho, eu sei que é muita coisa pra você, mas quantas vezes te avisei, não foi? Pelo menos sobre ela. Mas esse babado da empresa, isso é coisa bem grande.

- Tenho um plano para tentar descobrir alguma coisa sobre isso. Tudo o que pude fazer daqui de dentro eu fiz, agora preciso buscar outras fontes. Aqui não tem nada, a pessoa que fez isso é muito competente.

- E o que vai fazer? - Ela se senta na cadeira para ouvir meu plano, minha mãe se acomoda atrás dela e meu irmão apoia o quadril na minha mesa e cruza os braços.

Conto tudo o que tenho planejado.

- Parece um bom plano - ela fala - sabe que pode contar comigo, não é.

- Eu sei que posso contar com todos vocês - falo encarando a minha família que está toda na minha frente.

Depois da morte de meu pai, parece que nos unimos ainda mais. Jairo que não trabalhava na empresa, veio para cá para ajudar a dar continuidade ao projeto do papai, só Ariane que decidiu continuar sua carreira de designer que por sinal estava indo muito bem.

- Mas é verdade, mesmo? - meu irmão ainda questiona.

- Sabia que você era lerdo, mas nem tanto - fala Ariane para Jairo.

- Cala a boca, fedelha.

- Fedelho é tu. Eu sou mais velha que você, e mais nova que Adrian só três minutos.

- Parem já! - minha mãe chama a atenção deles - Caramba! Parece que tem três anos de idade!

Os dois bufam.

- Para esclarecer, sim, é verdade. Mirela disse que vou ser pai, tudo indica que é verdade, mas vou pedir o DNA pra confirmar. E agora, por favor, preciso começar a trabalhar em cima da minha viagem em poucos dias. Tenho que deixar tudo aqui em ordem, e não é com vocês no meu ouvido que vou conseguir.

Eles entendem a mensagem e deixam minha sala. Ariane me dá um beijinho na bochecha antes de segui-los.

Não é pouco o que preciso organizar.

Passo o resto do dia no escritório, mas ainda tenho muita coisa pelos próximos dias. Quando finalmente dá a hora do fim do expediente, Antonela se despede e eu fico ainda por mais meia hora, antes de desligar o computador e sair da minha sala.

Os corredores da empresa já estão vazios. Desço pelo elevador até o estacionamento e pego meu carro, havia poucos carros em sua vaga, a maioria já foi embora.

Quando meu carro se aproxima da saída do prédio, vejo uma comoção grande do lado de fora e não faço a menor ideia do que pode ser. Saio devagar, mas as pessoas começam a cercar meu carro.

"Que diabos está acontecendo?"

A jornalista ruiva da Maior TV da cidade vem na direção do meu carro. Ela trabalha naqueles programas de fofoca e já deve estar sabendo sobre a gravidez de Mirela, se bobear, foi ela que chamou a imprensa para me pressionar. E a jornalista já não gosta, né. Jade me persegue há alguns anos, sempre que surge qualquer historinha sobre a minha vida ela vem me cercar, nem sei porque não a esperava no dia de hoje.

Abro a janela, pronto para confirmar a suspeita de que serei pai, mas não é isso que ela pergunta e seu real motivo por estar aqui no dia de hoje é uma surpresa para mim.

- Senhor Adrian Brandão, é verdade que sua empresa está sofrendo rombos misteriosos e que o senhor vai embarcar no próximo cruzeiro apenas para investigar possíveis fraudes?

Ela estende o microfone na minha frente e eu não sei o que responder, afinal, como ela soube de tudo isso?

            
            

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