"Minha santa das solteiras, me segura"
Foi o que pensei quando a boca do boy supergato selou a minha. Deveria me afastar, me fazer de difícil, mas não consegui nem pensar naquele momento, reagir então, impossível.
Mas no fim pensei que esta seria a oportunidade perfeita de ficar com alguém lindo esses nove dias, então acabei aceitando o seu beijo gostoso e o aprofundando. Minhas mãos percorrem o peito musculoso e liso dele e sento algo em mim se animar, mas um beijo com um desconhecido é uma coisa, algo a mais não faz meu tipo, eu não sou assim, apesar que esse homem é uma tentação.
Encerro o beijo com um selinho e aguardo a reação dele.
Seus olhos escuros me encaram, seus lábios grossos estão entreabertos, posso jurar que ele queria mais daquele beijo.
- Tem certeza que dividirmos o quarto pode ser uma boa ideia? - questiona e eu sei que seus pensamentos tomaram o mesmo rumo que o meu. Se em nosso primeiro encontro já nos beijamos, como seria os próximos dias?
Me levanto e me afasto dele para ficarmos em uma distância segura para podermos conversar, pois a atração que se instalou não permite de forma alguma.
- Se mantivermos certa distância, sim - falo convicta. Me mantenho séria, mas o sorriso em seu rosto bonito se expande e eu acabo sorrindo de volta. - Tudo bem, distância segura só pra conversar.
- Bobagem. - Ele vem na minha direção e segura minha mão, levando-me novamente para a cama e me fazendo me sentar ao seu lado. - Somos dois adultos e não dois adolescentes. Podemos conversar perfeitamente e somos totalmente responsáveis por nossos atos.
- Eu não sou muito responsável - comento e começo a rir novamente e ele me acompanha. O que está acontecendo comigo que não consigo parar de rir ao lado desse homem?
- Vai me ajudar? - ele fala sério novamente e encara minha face que deve estar vermelha em vez de parda que é sua cor natural.
- É claro que vou, só não sei como.
- Pedindo comida pra mim já é um bom começo - Acabo rindo novamente, pois além do lindo sorriso em seu rosto, vejo a bandeja de comida sem um único grão de qualquer coisa, devoramos tudo e eles provavelmente vão pensar...
- Vão pensar assim: pra onde vai toda a comida que ela pede? - Ele completa meu pensamento.
- Você lê mentes? Estava pensando justamente isso. Bom, eu não me importo de ser chamada de comilona. Posso pedir a sobremesa, o que acha?
- Bolo de chocolate! - ele pede imediatamente.
- Sorvete! - complemento.
Pego o telefone e faço o pedido das nossas sobremesas. Adrian se escondeu no banheiro quando o rapaz trouxe minha sobremesa com um largo sorriso. Devem estar pensando que a pobretona tá tirando a barriga da miséria.
Enquanto comíamos, combinamos o que faríamos no dia seguinte. Terá um show ao vivo na área da piscina, com certeza as pessoas serão direcionadas para lá e os outros corredores ficarão livres para circularmos sem chamar a atenção.
Como medida de segurança, coloco travesseiros entre nós dois. Melhor ter uma barreira entre nós, pois não respondo por mim se acordar de madrugada com a mão acidentalmente na barriga definida desse homem. Adrian riu de minha atitude, mas compreendeu e até concordou.
Acordo com a luz do dia em meu rosto. Para a primeira noite que dormi fora de casa, até que dormi muito bem. Mas nosso propósito hoje era começar a investigação, quem diria que meu passeio se tornaria uma investigação ao lado de um homem tão lindo.
Coloco um biquine, uma saída de praia e óculos escuros sobre meus cabelos cacheados. Uma bolsa de palha no braço esquerdo carrega protetor solar, brilho labial, creme para os cabelos... essas coisas de mulher, mas era tudo mais um disfarce do que qualquer coisa.
Deixo meu quarto e dei meus primeiros passos analisando se os corredores para onde iríamos estavam vazios. Saí propositalmente atrasada para o tal show na piscina, assim teria mais chance de todos já estarem concentrados lá e meu palpite foi certeiro.
Depois de averiguar que boa parte do navio estava desértica, volto para o quarto e vejo Adrian sentado sobre a cama balançando as pernas, ansioso.
- Vamos! - falo e ele imediatamente se levanta.
Como tudo está vazio, passamos a passos rápidos, quase correndo, para o setor que ele quer atingir. Infelizmente a área de diretoria não está tão tranquila assim, tem muitas pessoas circulando e tentamos evitar a todos nos escondendo nos cantos.
- Como vamos entrar na sala do diretor? - questino, pois esse era o objetivo de Adrian.
- Ainda não sei. Preciso ter certeza de que a sala está vazia, mas como? - Ele para e analisa os corredores. Está vazio. Mas, e dentro da sala?
- Já esteve aqui antes? - pergunto.
- Estive ontem.
- Não achou nada?
- Não. Mas fiquei com medo de que me pegassem, acabei não olhando tudo.
Estamos em um canto que dá para o corredor lateral do navio, onde temos uma bela vista do Oceano em que navegamos. E deste canto, temos uma boa visão da porta da sala da diretoria.
- Não podemos ficar aqui parados a manhã toda - falo - Eu vou lá bater na porta, na hora eu invento o que falar - Dou os primeiros passos decidida a fazer exatamente o que falei, quando a porta da sala se abre e Adrian me puxa na sua direção.
Felizmente o homem estava tão distraído com o celular em seu ouvido que não nos notou. A porta de sua sala ficou meio aberta, seria a nossa chance, mas os olhos de Adrian seguem o homem.
- Adrian, vamos logo, a sala está vazia. É nossa chance - sussurro desesperada para que ele entre logo naquela sala.
- Não, espera...
- Esperar o quê, homem? Vamos logo.
- Preciso ouvir o que ele está falando ao telefone - ele afirma e vai atrás do cara.
- Você está doido, Adrian! - Fico desesperada, olhando para os lados.
Ele coloca o dedo na boca em sinal de silêncio e me puxa para a grade do corredor lateral do navio. Fico com o corpo espremido por ele e pela grade. Percebo que o que ele fez é um disfarce. De onde estamos é possível ouvir o diretor falar ao telefone, pois ele também parou a diante.
- Eu quero que vocês vejam isso agora mesmo, seu bando de incompetente - o homem fala bravo ao telefone.
Encaro Adrian, que finge estar namorando comigo no cantinho discreto. Difícil é fazer meu corpo entender que no momento é só cena.
- Não é daqui a pouco, é agora! - fala exasperado - Já imaginou o que ela vai dizer se tudo isso for pro espaço?
O olhar de Adrain na minha direção é confuso. E o homem continua a falar alto ao telefone.
- Se for verdade estamos todos ferrados. Vocês precisam descobrir o paradeiro dele, agora mesmo... como um homem como ele some e ninguém sabe pra onde foi?... não sei, dá seu jeito... tenta a mãe, aquela mulherzinha idiota vai te entregar tudo, Carla, só saber tirar dela.
O imbecil acabou de nos dar um nome: Carla. Vejo um sorrisinho na face de Adrian.
O homem volta a andar e nós nos desgrudamos da barra para nos mover junto com ele.
- Você precisa descobrir, cuidado pra não deixar transparecer nada. Lembre-se: se eu cair, todo mundo cai junto.
***
Adrian
- Filho da mãe - resmungo sem olhar para onde ele está, só o escuto.
- Adrian, Adrian... ele está indo - Geovana fala alarmada.
- O quê?
- Ele está indo... - diz me arrastando, mas quando vou protestar que ele iria me notar, percebo que ele já está longe e que se quisermos ouvir mais alguma coisa, teremos que andar logo. - Vamos perdê-lo de vista... - Ela apressa o passo e me arrasta consigo.
O diretor do cruzeiro guarda o telefone no bolso e continua andando. O seguimos.
- Droga, ele guardou o telefone. - Geovana parece mais empolgada com a investigação do que eu. Com certeza em seu lugar iria estar na piscina assistindo ao show.
- Vai pro show, Geovana, aproveita seu passeio.
- Mas eu prometi te ajudar - reclama encarando meus olhos, putz, como a garota é bonita.
- Já me ajudou...
- Nem vem tentar me dispensar, vamos seguir o canalha. Se começamos, vamos terminar - fala decidida e nem me dá tempo de resposta, volta a me arrastar pelos corredores do navio e quando percebo estamos indo para a área da piscina.
O que o imbecil vai fazer lá? Assistir a um showzinho pra relaxar? Só se for.
- Alguém vai acabar me reconhecendo aqui, Geovana - falo me escondendo atrás de um guarda-sol.
- Tá todo mundo ligado no show, ninguém nem vai olhar na sua cara - ela me puxa para longe do meu esconderijo e sinto um medo me percorrer quando vejo os caras da cozinha servindo petiscos para as pessoas.
- Pelo amor de Deus, Geovana, se os caras da cozinha me reconhecerem, vão avisar o supervisor da cozinha e ele vai se lembrar de mim. Vai perguntar por que não fui trabalhar e vai me arrastar daqui. Como vou investigar se estiver ocupado carregando saco de batatas?
Ela faz uma cara engraçada, parece que está pensando. A mulher pega seu óculos que estava sobre seus lindos cabelos cacheados e coloca em minha face. Abre a bolsa e tira um chapéu flexível que estava praticamente dobrado lá dentro, mas ao ser retirado vejo que o objeto é bem grande. O sorriso em seu rosto me diz que o resultado final ficou ridículo.
- Está lindo.
- Estou não.
- Está sim. Ninguém vai te reconhecer assim. - Ela volta a andar mas olha para os lados e percebe que perdeu o diretor de vista. - Está vendo o que você fez? Ele sumiu e não sabemos para onde ele foi.
O biquinho de irritação que ela faz é lindo demais e tenho vontade morder. Preciso me controlar.
- Perdemos não, eu vi para onde ele foi - respondo e seu sorriso amplia. Isso está sendo divertido para ela, e por algum motivo isso me faz sorrir também.
Agora é minha vez de arrastá-la. Passamos beirando a piscina, onde as pessoas estão se balançando ao som animado da banda. A beira da piscina está bastante escorregadia, mas tomo todo cuidado ao passar por ali para não escorregar. Me espremo entre as pessoas, arrastando Geovana atrás de mim.
Paro bruscamente ao ver o diretor com o celular no ouvido novamente e seus olhos parecem procurar por algo em torno da área da piscina. "Será que já descobriram que vim para o navio?"
"Será que ele seria capaz de me reconhecer mesmo com esse chapéu enorme na cabeça e óculos escuros?"
A resposta é "sim, claro". Quem não se lembraria do seu chefe?
O problema é que ao parar, percebo que o homem olha ao redor, então meus pensamentos correm rápido demais para perceber que Geovana havia se chocado contra mim, se desequilibrado e caído na piscina.
Ao escutar os gritos de socorro, percebo o alvoroço em torno da piscina e somente então vejo Geovana bater os braços na água, afundando e reaparecendo.
Puta merda! Ela não sabe nadar.
Mergulho imediatamente, sem retirar os assessórios que boiam na água quando ressurjo, nadando na direção de Geovana. Os babacas ao redor estão paralisados, vendo a garota se afogar, somente quando cheguei perto dela que percebo outro homem mergulhando e vindo na nossa direção, mas faço um sinal de dispensa.
Ergo seu corpo e ela envolve seus braços ao meu redor com força, sua pernas também me envolvem.
- Geovana, se não me largar, vamos nos afogar aqui. Apenas se apoie, eu não vou te deixar afundar.
Ela desfaz o laço com as pernas e apenas apoia os braços em meus ombros, sem me apertar.
- Droga, Adrian, perdemos o... - ela para de falar e seus olhos fixam em um ponto distante. - É impressão minha ou aquele helicóptero está vindo para cá?
Obeservo na direção que ela aponta e noto que realmente tem um helicóptero vindo na direção do navio e quando olho para onde o diretor estava, ele não está mais lá.
- Se estiver acontecendo o que estou pensando, a gente pode ter uma chance a noite - comento olhando a aeronave que se aproxima rapidamente.
- O que... entendi nada, Adrian - comenta confusa e sua feição daquele jeito, toda confusa e molhada, me deixa animadão na mesma hora. Seu corpo grudado no meu, com seus seios saltando do biquini também não ajuda.
Me afasto um pouco para que meu amigo aqui em baixo se acalme e felizmente ela não percebe.
- O babaca está saindo do navio. - O Helicóptero se aproxima cada vez mais e agora o barulho chama a atenção dos outros ocupantes da área - Não sei se está fugindo, se está indo atrás de alguma pista... só sei que ele está saindo e isso deixa sua sala livre para nós esta noite.
Seu sorriso se expande e vejo que ela se anima com o fato de que invadiremos a sala esta noite.
O helicóptero faz a volta para não agitar ainda mais as pessoas do navio e segue para o heliporto instalado no navio pelo lado oposto. Não preciso olhar para saber quem saiu voando naquele veículo.
- Então nós vamos investigar o sala do diretor esta noite? - fala empolgada.
- Sim.
Ela dá um gritinho que chama atenção das pessoas ao redor, mas elas logo desviam sua atenção para o helicóptero que se vai e permite o retorno do show.
- E agora, o que a gente faz até a noite? - pergunta.
- Que tal a gente aproveitar o dia?
Respondo e ela se anima, quase me soltando, mas ela se agarra novamente.
- A Naty vai enlouquecer.
- Quem é Naty?
- Minha amiga Nataly. Eu terminei um namoro recentemente, depois te conto a história, e ela me incentivou a vir, disse que eu encontraria um boy gato pra passar os nove dias. - Ela riu meio constrangida. Sorri com a revelação.
- E Você encontrou esse boy gato? - falo incitando-a e ela gargalha.
- Tá brincando, Adrian. - Ela enlaça seu braço redor do meu pescoço, agora de uma maneira mais sensual e se aproxima mais. O meu amigo que já tinha abaixado, volta a se animar, ela quer me deixar em uma situação complicada aqui. - Encontrei você e quando eu contar a ela, Naty vai dizer: Viu. Eu te disse.
Ela riu, mas em torno de nós dois já tinha se formado uma bolha sensual que eu não estava notando mais ninguém ao redor, só havia nós dois ali.
Tomei seus lábios em um beijo ardente, esquecendo completamente que estávamos em público, dentro de uma piscina.