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Ayla Bianchi
A momentos em que o arrependimento bate em nossa porte e entra sem a nossa permissão, assim como o pânico nos domina sem que possamos controlar nossas emoções. As ruas movimentadas da grade Rio de Janeiro, junto ao céu estrelado, acaba por dar um tom diferente a tudo que eu me lembro.
Encaro a entrada da balada em que a Maria ficou de encontrar o amigo dela, torço por coragem e começo a caminhar atrás dela, entramos na boate após mostrarmos nossas identidades, assim que passamos pela porta, observo o ambiente tentando controlar o pavor.
O ambiente abafado, a musica alta, as pessoas dançando, algumas aparentemente lucidas e outras visivelmente fora de se, Maria me puxa pela mão ate um pequeno bar no centro do salão, ao mesmo tempo que parecia um pesadelo, aquele lugar me fazia ter certeza que aquela noite nunca seria perdoada por Lia Silva, se um dia ela viesse a descobrir minha folga de seu cativeiro.
- Quer beber algo? - Maria altera a voz para que eu possa ouvi-la.
- Nunca bebi nada alcoólico. - Confesso e ela sorrir, pedindo uma bebida rosa para ela e refrigerante para mim, a olhei revirando os olhos e peguei a bebida de sua mão, tomando um bom gole.
A bebida que antes parecia tão apetitosa, agora desce rasgando por minha garganta, o gosto de morango não chega nem perto do gosto horrível de álcool puro.
- Como é que você consegue beber esse negocio com uma boa cara garota? Isso é horrível. - Digo vendo Maria sorrir.
Passamos alguns minutos descontraída, apenas ouvindo a musica alta, a qual a letra é bem depravada, Maria disse que se chama funk e que é um ritmo bem comum aqui no Brasil.
Fiquei me perguntando se todos os brasileiros gostam dessas músicas falando sobre sexo, sobre partes intimas e outras coisas, ta que eu apronto bastante, mas nunca cheguei a ultrapassar meus limites, como ir a uma festa, ouvir músicas com letras tão depravadas ou até mesmo me agarrar no pescoço de um homem como vejo varias meninas ao nosso redor fazer.
- Que tal experimentarmos algumas coisas antes do Marcos chegar? - Indaga me olhando com um sorriso largo.
- Não sei não, eu nunca bebi antes amiga. - Digo. - Vem cá, cadê aquela mulher tão doce, gentil e inocente que você demonstra ser lá na empresa? - Indago querendo tirar os pensamentos que envolvem bebida alcoólica de sua mente.
- Essa é a boa funcionaria que sou e essa que esta a sua frente é uma pessoa descontraída com a vida, agora, cadê a menina corajosa que você demonstra ser?! - Indaga e eu a olha fazendo careta.
Talvez eu não seja tão corajosa como eu pensava, talvez aquela seja apenas uma mascara que uso para esconde meus medos e minhas incertezas.
- Bebi comigo. - Minha amiga insisti me estendendo um copo com um liquido azul, pelo visto brasileiro gosta de bebidas coloridas, tomo um pouco e novamente o gosto de álcool puro rasga minha garganta.
Depois de beber dois copos com ela, a bebida já não estava rasgando minha garganta como no inicio, ela me explicou que isso é vodka e que a bebidas mais forte que essa, mas como não podemos ficar bêbada, vamos ficar no básico, estávamos tomando a bebida cor de rosa quando dois homens se aproximam de nós, viro meu rosto sem olhar para os homens, sei bem que se der moral eles podem ser bem cruéis, já ouvir fala de meninas que foram numa balada, conheceram um cara e simplesmente sumiram, reaparecendo mortas.
- Ayla, esse é o Marcos Antonio, meu amigo que te falei. - Apresenta o homem moreno, de sorriso perfeitamente alinhado, alto, não sei bem descreve-lo por conta da pouca iluminação, murmuro um prazer e ele apenas acena com a cabeça. - E esse é o - Ela para de falar e olha ao redor. - Credo, ele sempre some, não sei nem porque tentei apresentar ele para você. - Fala sorrindo junto ao Marcos.
- Outro dia ela o conhece, ou melhor, não. - Marcos fala se sentando ao lado da Maria
Fico calada apenas observando os dois seres a minha frente, esta claro que eles se gostão, mas não admitem, vejo o Marcos sair e ir até uma morena, ele se aproxima da mulher e logo esta trocando beijos com ela, deixando a Milena visivelmente triste, ela se vira e pede mais uma dose de vodka.
- Porque não fala para ele que você gosta dele? - Pergunto e ela se engasga.
- Como você sabe? - Indaga gaguejando, seria efeito da bebida ou da vergonha visível em sua face?
- Visível pelo seu olhar triste. - Digo. Sinto meu celular vibrar na bolsa e o pego, assim que olho no visor meu coração falta parar.
Saio correndo entre as pessoas, ouvindo a me chamar, mas ignoro totalmente, quando finalmente consigo sair da boate, procuro por um taxe e não vejo nenhum.
- Ei o que foi? - Milena indaga.
- Preciso ir para casa agora. - Digo e ela pega o celular, digita algo e me olha. - Pera já chamei um uber. - Fala e eu arqueio a sobrancelha esquerda. - Taxe se achar melhor. - Se explica.
Assim que o carro chegou, nos despedimos e eu já sentia um frio na barriga.
Ai meu Deus estou morta. - Penso ao ignorar a decima ligação da Lia.
Todo o caminho ate em casa fico pensando nas merdas que eu irei ouvir, sofrendo antecipadamente com as palavras duras que sei que irei ouvir da Lia, sinto meus olhos arderem e logo a primeira lagrima já escorre, as luzes dos portes começa a se transforma em borrões.
- Senhorita, chegamos. - O motorista fala estacionando em frente ao portão da casa da Lia, seco minhas lagrimas e pergunto quanto deu a corrida e ele informa que o pagamento foi realizado por meio de cartão de credito, agradeço e saio do veiculo fazendo uma nota mental de pagamento para a Milena.
Assim que entro em casa, encontro uma Lia furiosa na sala de estar da casa, ela me analisa de cima a baixo e antes de abrir a boca para falar algo, sinto a ardência em meu rosto e acabo me desequilibrando, coloco a mão sobre a minha face sem acreditar que a Lia acabou de me acerta um tapa.
- Se você quer se tornar uma vadia, se torne fora da minha casa, desde que chegou nunca lhe faltou comida, nunca te faltou uma boa cama para dormir, mas esta na hora de corrigir o erro enquanto a tempo. - Ela fala como se eu tivesse cometido um crime. - A partir de hoje, você não ira mais morar na minha casa. - Fala tentando se recompor.
- Lia, a garota só saiu pra uma dessas festinhas de jovem, isso não é o fim do mundo e nós duas sabemos que não esta na hora dela sair daqui. - Disse alguém com a voz doce e tão calma que finalmente sinto coragem de levantar minha cabeça e me levantar do chão.
- Sinara, eu decido a hora que ela sai da minha casa. - Responde seria, olhando para a mulher de postura ereta, trajando um vestido branco, seus cabelos acompanhando o tom do vestido, sua pele branquinha com algumas sardas pelo rosto e pela mão. - Ela terá que trabalhar para se manter, por ser filha daquela desnaturada, tem sem lugar garantido na empresa, mas na minha casa eu não a quero mais. - Diz sem olhar para mim ou para a tal Sinara. - Pelo visto aquele lixo nem se quer soube me dar uma neta que se prese, puxou a total idiotice da mãe e a sem-vergonhice do pai. - Porferio suas palavra sujas e subiu as escadas rápido.
Choro baixinho por suas palavras tão duras, eu não pedi para esta aqui, não pedi para nascer nem para ser neta de uma velha tão asquerosa assim. Sinto mãos macias acariciarem meus cabelos e uma paz tão grande me ronda.
- Vamos querida. - A tal Sinara abraça-me, antes de abrir a porta se vira para uma das empregadas que me olhava com pena. - Por favor, arrumem tudo dela e manem para o apartamento. - Pedi docemente e se despede com um boa noite.
Eu nada falo, apenas volto a chorar ainda mais, eu só quis me divertir um pouco, ta que eu fui errada em não ter contado a ela que eu iria sair, mas porque eu sinto que mesmo se tivesse falado ela iria arrumar uma desculpa para me por no olho da rua?
Lia Silva com certeza é uma mulher para se manter longe.