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Ayla Bianchi
A momentos na vida em que se você parar para pensar de mais, você acaba por perder a coragem que lhe resta para enfrentar o que vem pela frente. Uma lagrima boba escorrer por minha face e eu logo trato de limpa-la.
- Ora criança, não chore. - Ele fala sorrindo para mim.
- Porque o meu papai e a minha mamãe não vieram? - Pergunto inocente.
- Ayla, prometa que será uma garota forte? Prometa que nunca ira deixar seu medo lhe abater? - Indaga estacionando o carro em frente a uma lanchonete. Após prometer o que ele me pediu, descemos do carro e ele caminhou junto comigo para dentro do estabelecimento, pedimos milk-shake e batatas fritas e quando terminamos de comer ele recebeu uma ligação, pagou a conta e me deixou na frente de casa. - Seja forte minha menina. - Foi tudo que ele me disse após me deixar sozinha em frente a minha casa.
Afasto essas lembranças tentando controlar as lagrimas, corro para o banheiro e ligo o chuveiro, deixando a água gelada escorrer pelo meu corpo, sem me importar por esta molhando meu pijama preferido.
Porque não consigo lembrar da face daquele homem? Porque eles mataram logo os meus pais?
Me acoco no chão chorando ainda mais, porque essa merda de lembrança tinha que voltar?
- Tento ser forte mais não sou. - Sussurro entre as lagrimas.
Não sei se foram segundos, minutos ou até mesmo horas, mas sei que fiquei tempo suficiente de baixo do chuveiro para que meus dedos se enrugassem. Desligo o chuveiro e tiro a roupa molhada, voltando para o boxe e tomando banho, saio do banheiro, enrolada em minha toalha e olho para o relógio sobre o criado mudo, marcando exatamente cinco horas da manhã.
Caminho até o meu closet, separo um top e uma calça leggings meu sapato de corrida preto e descido sair um pouco para correr.
Seja forte.
- Ser forte. - Repito para mim mesma após me vestir e prender meu cabelo em um rabo de cavalo.
Pego meu celular e abro o mapa, não moro muito longe da praia.
- Barra da Tijuca, ai vou eu. - Digo me preparando para sair de casa.
Saio de casa passando pelos enormes portões já pensando no que me espera fora desse condomínio, corro por longos minutos refletindo sobre tudo que tem acontecido em minha vida, pensando na Melinda, em como ela deve esta e logo uma pontada de saudade me atingi, sinto falta de seus abraços, de quando eu estava mal e ela cuidava de mim, de quando as lembranças ruins me afligiam e ela me acalmava, Melinda sempre foi minha calmaria.
Acelero meu ritmo, vendo o sol nascer, tento me concentrar na letra da música que tocava em meu MP3, mas as perguntas que tem me rondado nos últimos meses gritam mais alto em minha mente.
Porque a Lia odeia o meu pai? Porque ela nunca fala neles? Porque tanta frieza em seu olhar? Porque me trouxe para esse país se não tem intenção de ser minha amiga, minha avó?
Muitas perguntas sem respostas que fazem minha cabeça rodar, afinal, sempre que tento conversa, ela me ignora, desliga o telefone sem explicações ou envia apenas a sua mensageira para falar comigo.
Saio dos meus devaneios quando esbarro em algo rígido, que me faz cair no chão com tudo, batendo em cheio minha bunda no chão duro.
- Qual é a droga do seu problema? - Alguém me pergunta com uma voz rouca, firme e irritada. Tento me levantar, mas sou atingida pela dor, abro meus olhos e tento me levantar novamente, pronta para discutir seja lá com quem for.
- Qual o seu problema, se viu que eu estava vindo porque não saio da frente porra? - Indago limpando a areia da minha calça e só levanto meus olhos para olhar a pessoa quando alguém chama por um sobrenome.
- É González, o seu dia hoje esta realmente sendo péssimo. - Olho para o homem que se pronunciou e mordo meu lábio inferior.
Deus eu acabei de xingar um policial. - Falo mentalmente para mim ao ver os dois homens fardados a minha frente.
- Me desculpe. - Peço em um fio de voz.
- Que se foda garota. - O tal González, passa por mim irritado me fazendo cair novamente, enquanto o outro homem me ajuda a levantar e se desculpa, por a atitude do colega.
Tento ignorar a dor e volto para casa caminhando mais devagar que tartaruga e assim que passo pela portaria do condômino sinto um imenso alivio por saber que só faltam mais cinco casas e logo chego a que eu moro.
Entro em casa sendo surpreendida por um olhar irado da Lia.
- Onde você estava sua garota irresponsável? - Indaga-me. - Você esta agindo igualzinho a idiota da sua mãe, só falta chegar em casa falando que esta gravida, como uma vadia qualquer. - Suas palavras acertam em cheio o meu coração.
- Você não tem o direito de falar dessa forma da minha mãe. - Grito com ela e corro para o quarto em que ocupo tranco a porta e fico o resto do dia sem sair, abrindo a porta somente para a emprega que trouxe comida para mim.
Observo pela janela, a hora exata que a Lia sai com seu motorista, pego meu celular e mando mensagem para a Maria confirmando a balada que eu havia dito que iria.
Chega de me prender por medo, já fazem cinco meses que estou nesse país, cinco meses que não sei o que é realmente viver, esta mais do que na hora de agir como uma garota da minha idade e curtir tudo o que tiver de curtir.
Entro em meu closet e separo uma roupa, separo meu par de saltos, olho no relógio e vejo ser oito e meia, vou para o banheiro e todo um banho calmo, lavo meus cabelos e logo termino o banho, como sempre perco muito tempo arrumando meu cabelo, o seco antes de sair do banho, penteio e passo creme, saio do banheiro me secando e logo me arrumo. Estava terminando a maquiagem quando meu celular toca.
- Ayla, estou te esperando na frente do condomínio, não demora muito porque o vigia ta de olho em mim. - Maria informa.
- Dez minutos e estou ai. - Digo desligando sem esperar resposta.
Termino minha maquiagem na velocidade da luz, pego minha bolsa e verifico se minha identidade esta na mesma, coloco um batom, meu celular e saio de casa com cuidado para não ser vista por nenhum dos empregados.
Missão comprida com sucesso. - Falo para mim mesma ao sair do condomínio e entrar no carro da Milena.
- Estou bem para uma balada? - Indago me referindo à blusa branca que estou vestida, o short preto e o salto.
- Esta um arraso. - Milena fala sorrindo e dando partida no carro em direção a tal balada.
Vamos ver o que o destino me reserva.