Capítulo 2 Anny

Cinco anos depois

Olho para a parede, a minha frente, meu paciente das 14h não veio, de novo, mas tenho restrições a não procurar por ele caso este sumir, sou apenas a psicóloga, nada, além disso, não posso interferir na vida pessoal dele, não mais, então bebo meu café e procuro observar minha sala durante essa próxima uma hora.

Os corredores estão vazios, quando caminho por estes, depois de ter ido buscar mais café, e por mais que as salas sejam feitas para abafar os sons no momento em que a porta é fechada, consigo escutar vozes vindo de uma ou outra sala onde as portas estão entreabertas, mas caminho para o final do corredor onde a sala de terapia em conjunto está acontecendo. Paro na porta desta e observo enquanto Andrew conduz uma de suas sessões de terapia toda em libras.

São 5 pessoas, e todas prestam atenção na senhora que lhes conta algo que não consigo acompanhar tão bem, sei línguas de sinais, mas ela as usa com uma naturalidade tão rápida que não consigo acompanhar tudo.

Andrew olha para mim, mas não sorri, ele não demonstra emoções enquanto está trabalhando e isso o torna o profissional mais cobiçado da empresa, todos queriam ter a mesma capacidade que este de não expressar emoções.

A mulher termina sua história do dia e Andrew se volta para o menino mais novo do cômodo. Eu já havia visto Andrew tendo sessões a sós com esse jovem, mas nunca teve muito sucesso com ele.

Andrew ainda não havia falado desse menino, comigo e observando daqui, não podia dizer que ele era uma pessoa que gostaria de estar ali.

"Noah? Tem algo para a gente hoje?" Ele perguntou usando os sinais.

O jovem se manteve firme sem responder nem que sim, nem que não o boné tampava a visão completa de seu rosto.

Andrew olhou para mim mais uma vez e finalizou com um.

"Quem sabe na Sexta?" Ele pergunta para o garoto e depois se volta para todos na sala "Por hoje é só pessoal, obrigada por compartilharem hoje todos esses sentimentos e histórias, vejo vocês na sexta tudo bem?"

Todos se levantaram ao mesmo tempo.

Eles passaram por mim em sequência, apenas Noah não parecia se importar em correr para longe de Andrew, esperei que o menino saísse para falar.

- Novato? – Perguntei e ele apenas assentiu pegando o café de minhas mãos.

– Novato e complicado, até onde sei, foi embora da cidade quando ainda era muito novo e está de volta, mas não interage com ninguém a não ser o irmão mais velho.

Me sento em uma cadeira e olho para ele.

– Já deu seu horário que ainda está fazendo aqui?

- Meu último paciente resolveu não se juntar a mim hoje! – Confesso.

Ele sorri.

- Como sempre, acho que você o espantou, deveria voltar para o primeiro ano da faculdade, tem certeza de que está pronta para receber o diploma?

- Sem graça! – Digo pegando o café de volta.

Tomo um gole e devolvo para ele.

- Até amanhã! – Digo me levantando.

Deixo meu jaleco na minha sala e vou de volta para minha casa, do lado de fora, o menino Noah está encostado na parede com a mochila nas costas esperando, me aproximo, ele me olha pelo canto dos olhos e se arruma.

Antes que me aproxime mais dele, um carro buzina atrás de mim, me assusto brevemente e o menino leva rapidamente passa por mim sem olhar para mim uma segunda vez.

O carro é escuro, os vidros estão fechados e só vejo rapidamente o motorista quando Noah abre a porta e entra nesse, os olhos castanhos me encaram por um breve momento antes que a porta se fechar novamente e o carro saia com os dois.

Sigo meu caminho para o ponto de ônibus me preparando para a jornada até meu apartamento.

            
            

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