Agora sim eu me mato, ou melhor, mato a Carolina por esse constrangimento o qual eu estou passando. Ao vê-la desse jeito, no chão, faz eu ter muita vergonha de ser dessa família.
- Levanta do chão, Carolina! - peço, já envergonhada pela cena que ela faz.
- Eu não levanto enquanto você não me disser que aceita ser minha madrinha de casamento.
Odeio ser o centro das atenções e a Carolina sabe disso. Que merda! Eu não acredito nisso. Vou ter que ceder a essa bendita chantagem.
- Ok, ok! Eu aceito a ser a sua madrinha. Agora, por favor, levanta do chão. Você sabe muito bem que eu odeio ser o centro das atenções.
Depois da cena mais constrangedora do mundo, fui embora, já me arrependendo de ter aceitado ser madrinha do casamento deles. Os dias foram passando e as coisas entre eu e a minha família mudou completamente.
Os preparativos do casório começaram e um tempo sem brigas entre a gente, ou melhor, com briga. Pelo amor de Deus, eu estava já querendo matar a todos. Na verdade me matar, por ter aceitado isso.
Agora eu me encontro aqui, deitada neste bendito hospital, querendo sair o mais depressa possível. Estou cansada e irritada já. Eu quero a minha casa. Olho para o relógio e vejo que o dia já passou. Nessas horas que eu gostaria de estar com o meu celular para me distrair. Procuro minha bolsa, mas não a encontro, ou seja, pesadelo no ar.
Ah, que merda, perdi tudo! Quem sabe os policiais não tenham a achado. Seria uma benção!
Ouço baterem na porta e fico pensando se os médicos entraram em contato com a minha família. Esperava que não, porque do jeito que a minha mãe é dramática, ela iria colocar a culpa em quem? Isso mesmo, em mim!
Lembro-me que eles não tinham como em contato com ela e dou graças a Deus por isso. Contaram-me que um homem chamou o resgate ao ver que eu tinha sido atropelada.
- Pode entrar - eu peço depois de ver que a pessoa não tinha entrado ainda.
Fico de lado, imaginado que fosse uma enfermeira querendo saber como eu estava! Sinto um aroma de um perfume delicioso e fico curiosa para saber o nome desse perfume.
- Oi, como você está, senhora Alencar? - Ouço a pergunta e olho rápido. Que voz é essa, senhor amado? Deixou-me completamente molhada.
Ficamos assim nos olhando e eu ali toda excitada pela primeira vez na minha vida por um completo estranho.
Será que eu morri e fui para o céu? Se bem que do jeito que eu estou olhando para esse homem, quase babando nele e com imagens de nós dois rolando na cama que não eram nada santas...
Acho que posso dizer com certeza que morri e fui encontrar com Hades, o deus do...
- Inferno! - eu solto sem perceber que tinha falado em voz alta.
- Desculpe! O que a senhora disse? - ele me pergunta, curioso.
- Nada não, desculpe! Eu sei que vou falar uma besteira e com certeza você deve ter ouvido, mas a gente se conhece?
Claro que eu não vou dizer que estava o comparando com Hades, o deus do inferno. Pode se ver que eu amo história grega, ainda mais o Hades, que sempre me deixou excitada. Igual a esse homem aqui bem do meu lado.
- Senhora Alves? - ele me chama e me tira dos meus pensamentos.
- Oi, desculpe-me distrair novamente! - repondo envergonhada.
- Então, senhora Alves, a gente se conheceu. Eu estava indo até meu clube e a senhora estava sendo jogada no chão.
Ele começa a me contar como foi que nos conhecemos.
- Ahhh, agora eu lembrei. Desculpe, estou um pouco confusa. Eu vi você perto de mim? - Sorrio ao me lembrar desse homem gostoso.
- Sim, fui socorrê-la. Vi você sendo jogada e logo em seguida atropelada. Ambos fugiram e quando vi a cena, corri até você, mas lodo desmaiou.
- Me desculpe mesmo, mas estava sentindo muitas dores. - Era verdade, nunca tinha sentido tantas dores juntas. Achei que eu tinha me quebrado toda.
- Por que você está se desculpando? Não tem culpa pelo aconteceu. Eu gostaria de ter entrado antes, mas a senhora estava fazendo os exames - ele me fala.
- Eu fiz tantos exames que a única coisa que eu quero é sair daqui, senhor! - confesso.
- Não me apresentei. Meu nome é Mauricio de Carvalho, ao seu dispor.
Ele estende a mão e sinto aquele pequeno choque, como os que lemos nos romances de banca de jornal.
- Prazer, senhor Carvalho, pode me chamar de Joana. - Eu também me apresento com um sorriso e ainda sentindo a mão dele na minha.
A mão dele era enorme e macia, forte. Como seria sentir ela em mim? Me sinto vazia quando soltamos as nossas mãos.
- A senhora está se sentindo bem? - ele me pergunta, preocupado.
- Eu estou ótima! - Acho que não ficaria bem se ele descobrisse que tipo de pensamento estava tendo.
- Joana, você quer que eu avise ao seu marido ou alguém de sua família? - ele me pergunta demonstrando preocupação , e acho muito doce.
Mal o vi e sinto como se já o conhecesse. Sou brega, mas me sinto dessa forma.
- Não tenho nenhum marido - esclareço e a expressão dele era de alívio, só que da mesma forma que apareceu, sumiu. Esse homem era um enigma.
- Alguém de sua família? - ele pergunta de novo e continua: - Me desculpe, não quis ser indelicado.
- Não, imagina! Você está sendo um doce de pessoa. Muito obrigada, mesmo. Acontece que eu e a minha família não nos damos bem. Não se preocupe, você não teria como saber - o tranquilizei. - Mas uma coisa é certa. Eu gostaria de saber quem era o corno que me atropelou - brinco com ele.
Sinto que esse homem é especial, mas ainda tenho medo de relacionamentos.
Mauricio era um belo homem, daquele tipo que você pega e não larga mais. Claro que ele não era de se jogar fora e sortuda da mulher que fisgá-lo.
No mínimo ele deve ser casado. Com esse corpo, essa aparência de homem que fodeu a noite toda. Sortuda da vaca que se deu bem. Estava morrendo de inveja.
- Joana... Posso te chamar assim? - meu gostoso me pergunta e eu aceno em concordância. - Você tem algum inimigo? Alguém que queira fazer mal a você?
- Sim! - confesso.
Eu já tinha uma ideia, só achava que ele não tinha coragem. Mas do jeito que Leonardo era louco.
- Me passa o nome que podemos entregar para a policia? - ele me pergunta, bem animado. Vejo-o olhando para uma cadeira e digo:
- Senta aí na cadeira. Bem melhor que ficar aí de pé - eu brinco, querendo esquecer tudo que me aconteceu.
- Você tem razão! Estou velho e preciso me sentar um pouco - ele comenta, brincando também.
- Velho?
Para mim ele era delicioso desse jeito.
- Ah, Joana, sou um homem mais velho que você...
- Nossa, não acredito! Você já é idoso? - Faço careta de chocada.
- Boba! Adoro isso em uma mulher! - ele diz e fico sem reação.
- Isso o quê? - pergunto, curiosa, tentando saber o que era que ele gostava numa mulher. Eu queria ser essa mulher. A mulher perfeita para esse homem lindo e gostoso.
- Você! - meu gostoso responde e eu não entendo nada do que ele está falando. - Quero dizer, nossas brincadeiras, seu humor. Você é uma bela mulher! Vai me desculpar pelo que eu vou te dizer, mas eu estou completamente feliz em conhecê-la. Mesmo sendo nessas circunstâncias.
- Você também é um belo homem - digo, ainda vermelha com o elogio que ele me fez. O Mauricio fica vermelho com a retribuição do elogio que fiz para ele.
- Obrigado! Agora, mocinha, que tal você passar o número do telefone da sua família para eu chamá-los aqui? - ele me pede com carinho.
- Mauricio, me desculpa, mas eu não quero a minha família aqui. Não nos damos bem! - confesso.
- Nossa! Então vamos mudar de assunto. Que tal me contar um pouco sobre a Joana? Você tem alguma previsão de quando vai sair de alta?
- Ainda não sei quando vou sair, mas espero que não demore - respondi. - O que você gostaria de saber sobre mim?
- Eu imagino que queira logo sair! - Mauricio comenta e ouvimos baterem à porta. Peço para entrarem e vejo que é o enfermeiro, que começa a falar com a gente.
- Senhora Alves, desculpe interromper, mas tem dois policiais que gostariam de falar com vocês dois. Posso pedir para eles entrarem?
- Sim - respondemos juntos e demos risada com isso.
Os policiais se apresentaram e começaram a fazer perguntas pra gente, eu conto como vi o acidente e como chamei o resgate e foi à vez da Joana, a responder as perguntas deles e eles fizeram uma pergunta que eu tinha feito antes:
- Senhora Alves, a senhora sabe quem pode tê-la atropelado? A senhora tem algum inimigo?
Fiquei em dúvida do que responder, mas a verdade seria o melhor caminho.
- Sim eu, tenho uma leve desconfiança de quem seria - digo.
- Quem seria? - o policial pergunta.
- Meu ex- noivo! - solto e começo a contar tudo desde o momento em que eu conheci o Leonardo.
Contei sobre as brigas entre a minha família e acabei confessando sobre eu ter sido agredida por ele.
Eu sei que deveria ter ido logo para a delegacia, mas a vergonha era maior.
Não sabia o que tinha acontecido. Tinha sido sim, empurrada e atropelada, mas por quem?
Mauricio estava com a cara fechada, seu semblante estava bem carregado conforme eu ia contando sobre a minha suspeita.
Senti suas mãos tocando nas minhas, me dando apoio, e me senti segura e confiante.