Capítulo 3 II - PETER

Fui me encontrar com mamãe! Papai estava certo, ela estava no jardim, a encontrei regando as plantas com seu aventalzinho vermelho de flores, mas, ainda assim, ainda tinha o porte de uma rainha; assim que me viu, sorriu e me abraçou; depois, ficou séria e disse: você já deveria estar com a sua equipe, mocinho!

Minha mãe nunca foi muito boa em despedidas, ou chorava durante a despedida inteira, ou ficava séria até acabar; e para meu azar, aquela era uma despedida entre mãe e filho, então, seria praticamente uma mistura dos dois, ou então iria ficar séria na maioria do tempo.

Ela não parava de falar também, ficava fazendo uma nova pergunta a cada cinco minutos, tipo: já escovou os dentes? Colocou quantas peças de roupa? Está levando o suficiente? Afinal, você está levando a sua escova de dente? Vê se não esquecesse da sua escova de cabelo se não ele vai ficar com umas pontas duplas, e vê também se não esquecesse de pentear ou então ele pode ficar realmente difícil de pentear depois! Já sabe em que lugar vai ficar? O que vai comer lá? Está levando dinheiros dos mortais? Aonde está sua espada? Colocou roupas decentes? Vê se não me anda igual

um moribundo por lá! E várias outras perguntas que pareciam não ter fim;

- Afinal de contas, você arrumou ou não a sua mala?

- Não mãe! – murmurei – você me quer tanto assim fora de casa?

- Não diga bobagens! – disse minha mãe – é claro que não; só estava perguntando o que eu já suspeitava, sabia que iria deixar pra arrumar suas malas em cima da hora; foi por isso que a mamãe arrumou pra você!

- Não precisava mãe...- murmurei

- Ah não, eu faço questão! As malas estão bem ali – disse ela apontando para as suas costas, aonde estavam 4 malas, 1 bagagem e 2 mochilas!

- Mamãe!! Eu não vou dar conta de carregar tudo isso, esqueceu que os mortais não sabem da existência da magia?

- Ah não, eu não esqueci! – disse ela, depois pegou um cubinho do bolso apontou para as malas e elas simplesmente entraram lá dentro do cubinho! – tome, pode parecer pesado, mais tem o peso de uma pena! É só apertar nesse botão que elas vão para dentro, mais se quiser colocar mais algo aqui dentro, é só pressionar esse botão!

- Você é incrível mamãe! – disse eu - mais realmente não precisava!

- Já disse que não me importo com isso! – disse ela – ah, quase esqueci! – disse pegando um pote que era praticamente do tamanho do meu braço (no começo eu achei um exagero, mas assim que vi o que continha dentro eu pedi perdão e rezei para que os deuses não tivessem ouvido minhas reclamações!), dentro estava o camarão com chocolate! Tentei esticar a mão pra pegar, mais minha mãe me deu um beliscão.

- Aí

- São para os seus amigos também

- Ah, qual é mãe?

- Isso aqui dá para um batalhão inteiro!

- Então a senhora vai ter que fazer mais; porque eu valho por um exército!

- Mentira

- Como a senhora sabe?

- Porque eu conheço você! Sempre foi um menino ruim pra comer

- Quando se trata de camarão com chocolate as pessoas mudam os hábitos

- Quer dizer então que coisas saudáveis você não comer, mais besteiras você quer né mocinho?

- Podemos mudar de assunto?

- Tudo bem! – disse minha mãe – você foi ao treinamento especial com o mestre Jin?

- Sim! – disse eu – ele acabou comigo novamente, mas disse que estou chegando no seu nível; uma grande mentira da parte dele! De qualquer forma, preciso ir, ainda tenho coisas a resolver e estou devidamente atrasado.

- Claro... – disse minha mãe, sua voz começou a falhar, percebi então que já estava chegando a sua fase 2 de despedidas, chorar! Ficamos abraçados por longos segundos até que, como eu já suspeitava, senti minha camisa molhada, ou melhor ''ensopada'' de lágrimas, e o pior era que eu ouvia soluços de minha mãe, soluços de partir o coração (apesar de eu já estar acostumado com isso, minha mãe sempre foi uma mulher chorona, chora até se ver uma formiga morta na sua frente).

- Mamãe, assim a senhora vai me fazer ficar!

- Eu sei, desculpe-me! – disse ela ainda soluçando – mas não consigo acreditar no quanto você cresceu, me lembro como se fosse ontem...

- Mãe...

- ...você era uma criança muito travessa...

- Mãe!!

- Ah! Desculpe; sentirei tantas saudades suas, Peter!

- Eu sei mamãe; mas realmente tenho que ir! – disse eu; como sabia que ela não pararia de chorar e nem de falar, dei um beijo em sua testa, a abracei uma última vez e fui me encontrar com minha equipe.

...

Jackie estava parado na frente da porta parecendo querer dar uma surra em alguém; quando me viu, me avaliou, fez uma careta e disse:

- Sortudo!

- O que foi?

- A ''senhorita'' Cibele Martins insistiu que eu usasse essa roupa ridícula! – disse ele; só então percebi que Jackie estava usando um terninho azul-marinho com gravata borboleta.

- Sua mãe tem bom gosto! – zombei

- Isso não tem graça Peter! – disse ele

- O que fazemos agora?

- Entramos?!

- Entramos! – concordei

Abrimos a porta e nos deparamos com dois garotos de cabelo preto, um fazendo flexões e outro deitado no banco com um braço cobrindo o rosto. Jackie apontou para o garoto fazendo flexões: Aquele é Alex, é o cara que eu te falei, ele é filho da nossa professora de mágica avançada para iniciantes

- Então ele deve ser muito bom é magia.

- Isso porque você ainda não o viu praticando; parece um magico treinado e especializado, sabe, aqueles que praticam magia a mais de mil anos?

- Sim... – disse eu – então ele deve ser bom em lutar também, o pai dele não é Hamilton alguma coisa?

- Hamilton gomes!

- Achei que nossa professora que tivesse o sobrenome gomes!

- E tem! Esqueceu que depois do casamento os sobrenomes das mulheres mudam?

- Antigamente era assim!

- Nossa professora ''tinha'' o sobrenome de ''Young''! hoje ela está com o ''gomes''.

- A professora Silena tinha um sobrenome estranho!

- Isso não vem ao caso! – disse Jackie – o outro garoto é o Jonathan Paiva, os pais dele lideram a organização.

- Organização? Que organização?? – perguntei

- Você não leu a matéria que o exército colocou no jornal?

- Ah... – disse eu – era tão importante assim?

- Francamente Peter!!

- O quê?

- A organização que se juntou ano retrasado pra tentar reerguer o campo de força, estão trabalhando junto com o exército para o rei! Vão tentar proteger as fronteiras enquanto o campo de força está instável.

- Ah

O cara que se chamava Alex deixara de fazer flexões, e agora amolava uma adaga, e por algum sinistro motivo estava olhando fixamente para mim! Deduzi naquele momento que o garoto era algum tipo de sociopata e preferi manter distância; Mas Jackie atrapalhou meus planos

- Vá falar com eles!

- O quê? De jeito nenhum!

- Estamos na mesma equipe, ''todos'' nós! E não sabemos quanto tempo vai levar até terminamos essa missão e voltarmos para casa, então trate de se enturmar!

- Ok! Estou indo; - disse eu; (Durante toda a minha longa e estúpida vida, eu nunca havia passado tanta vergonha como nesse dia) – Você é o filho de Silena gomes certo? Ela é minha professora de mágica avançada;

- Hum

- É... bonita adaga!

- Hum

- Será que dá pra falar algo além de ''hum''?

- Hum... não! – disse ele, depois largou a amola e apontou a adaga pra mim. – Não pense que só porque seu papaizinho é o rei e dono de tudo isso daqui que vou obedecer a suas ordens, vossa estranheza real!

- Aí, eu não sou estranho! E nem tenho medo de você.

- Deveria;

- Quer parar de apontar essa adaga pra mim?

- Não; minha voz interior diz que ela afasta idiotas.

- Olha aqui seu...

- Ah... porque nós não tentamos conversar com mais calma? – interveio Jackie

- Foi esse cara sem noção que começou! – disse eu

- Falou o que tem a mente perfeita; - disse Alex

- Ok; Chega – disse Jackie – se quiserem brigar vão lá pra fora e atrasem a nossa viagem, ninguém é obrigado a ficar vendo dois caras adolescentes se esmurrarem feito crianças!

- Acho melhor irmos para a ilha dos portais antes que eles tenham um ataque de novo! – disse Jonathan

...

Quando chegamos a ilha dos portais nossa surpresa foi pior do que imaginávamos! Meu pai enlouqueceu, literalmente, seria possível que esse tipo de coisa só acontecia comigo? Primeiro a incrível e esplendida inteligência de papai me colocou em uma equipe de apenas 4 integrantes, ficamos em tremenda desvantagem; segundo, a minha honorável burrice de querer me enturmar fez com que eu piorasse a situação; Terceiro, os portais eram uma total sujeira. Estavam completamente cobertos de musgos, e cheiravam a cocô de Dragão.

- Eu não sei vocês, mas isso definitivamente não se parece nada com um portal! – disse Jonathan

- Isso é bosta? – perguntou Alex

- Será que a terra é coberta com isso? – perguntou Jackie

- Não é terra! É o reino de Enguerrand dos mortais, nós já estamos na terra. – disse uma voz atrás de nós; me virei para ver de onde vinha o som e dei de cara com cinco garotos que pareciam ter mais ou menos minha idade!

Um na frente, que, deduzira eu, deveria ser o garoto que tinha falado! Ele tinha olhos verdes e um cabelo castanho-escuros, usava uma camisa quadriculada azul, calça jeans e um casaco amarelo; o outro reconheci de cara, era o garoto de cabelo verde que estava na reunião.

O outro era loiro dos olhos pretos, e estava com uma aparência tranquila; o outro não parecia nada normal, cabelos ruivos, usava óculos escuros, e por alguma estranha razão estava de armadura (se nós queríamos passar despercebidos pelos mortais com toda certeza esse garoto não iria ajudar).

O último era razoável, tinha sardas, cabelos azuis-marinhos e olhos pretos! Todos se apresentaram, o primeiro que eu batizei de ''O nerd'' se chamava Lion Abreu.

O segundo, o cara de cabelo verde, se chamava Miguel Tavares; o cara louro que eu decidi chamar de ''O pacifico'' se chamava David Alexander; O esquisitão da armadura era Gabriel Scapin; e o de cabelo Azul se chamava Benjamin Alves.

- É um grande prazer conhecer vocês! – disse Jackie

- Prazer? – questionou Alex

- Eu me chamo Jackie Martins! E esses são Alex gomes, Jonathan Paiva e o príncipe Peter Antoine.

- Vocês também notaram que esses portais estão bastante sujos? – Perguntou Miguel

- É meio obvio não? – resmungou Alex

- Já que estamos aqui, por que não vamos juntos? – perguntou Benjamin

- Você por acaso já ouviu falar da frase ''cada um no seu quadrado''? – perguntou Alex

- Eu acho que isso não é uma frase! – respondeu Benjamin

- Eu acho uma boa ideia irmos juntos! – disse eu

- Se vocês não ouviram... – interveio Alex – O rei disse que os grupos eram ''5'' e não ''9''!

- Consideremos isso como um sim! – disse Jackie

E assim, com muito nojo e ânsia de vômito, entramos no portal, e começamos nossa primeira aventura.

            
            

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