Nunca Te Esqueci
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Capítulo 5 |Corações Partidos|

...

- Kyle?! - o mesmo rapaz que vi na universidade.

Kyle está deslumbrante, meus olhos ardem em seu lindo rosto agora maduro e deixo escapar um largo sorriso. O impulso que tomo meu corpo tem é pular em seus braços e controlo o quanto posso essa imensa vontade.

- Você... - ele me fita surpreso, mas a expressão em seu rosto é fechada, ele não parece nada feliz em me ver.

Vejo Liz aparecer atrás dele com um pequeno sorriso, é aí que entendo sua mensagem.

- Eu... tenho que ir. - ele passa seco por mim e vai embora.

...Ao mesmo tempo que fico feliz em revê-lo, me pesa ainda mais sentir sua indiferença em relação a mim...

- Ele me odeia. - balbucio baixinho. Liz me olha aborrecida se aproximando e me abraça forte.

- Não pensa assim, ele acabou de te ver depois de cinco anos. - tenta me animar.

- Me conta, como estão as coisas?

- Minha mãe me despachou pra cá, estou em um apartamento não muito longe daqui. Apesar de tudo, eu estou feliz em ter vindo pra cá, tenho você por perto agora. - sorrio animada.

- Você não me disse que ele morava na cidade.

- Ele... me pediu pra não te dizer. - confessa sem jeito e abaixo o olhar.

...Por que estou tão surpresa? O que eu esperava? Que ele viesse de braços abertos ao me reencontrar?...

- Ele não quer mesmo saber de mim, nem posso culpá-lo por isso. - digo em meio a um amargo sorriso.

- Não fica assim, Claire. Pensa que vocês podem voltar a se aproximar, pode dizer a verdade a ele. - sugere.

- Será? - ela assente firmemente e considero por um momento.

Fico algumas horas desfrutando da companhia da minha mãe de coração até a tarde começar a cair e é imensamente bom tê-la por perto novamente, poder sorrir em sua companhia.

- Eu preciso ir. Me visite, é o prédio em frente a universidade, número treze.

- Eu vou sim. - ela me abraça alegremente.

Sigo vagarosamente de volta para o meu novo lar com os pensamentos mergulhados em Kyle, o rosto limpo e o corpo magro de adolescente sumiram completamente dando lugar a um corpo robusto e largo bem diferente do que me lembro e um rosto maduro, incrivelmente perfeito adornado pela barba.

Um rapaz lindo que é capaz de atrair qualquer mulher, me sinto tão bem em tê-lo visto novamente, isso alimenta o desejo de me aproximar dele. Encaro a bandana em meu pulso e sorrio ao pensar.

...Será possível nos reaproximarmos depois de tudo?...

Chego no meu enorme apartamento e quando fecho a porta o som ecoa por todo o ambiente.

- Isso é demais pra mim... - resmungo caminhando para o quarto.

Sigo para um banho bem longo, mergulho na enorme banheira da suíte e relaxo, passo as mãos pelo meu corpo e de repente começo a pensar.

- Será que eu também mudei assim?

Ao acabar meu banho, vou para a frente do espelho e encaro meu corpo nu me avaliando.

...O corpo magricelo e sem forma dos meus dezesseis anos não existe mais, tenho um corpo mais avantajado e definido agora...

- Por que estou tão animada com isso? - me pergunto estranhando a mim mesma e me enrolo em uma toalha dispersando os pensamentos.

Me deito para dormir cedo decidida que se eu vir Kyle pelos corredores durante as aulas, eu tentarei conversar com ele.

...Eu destruí tudo o que nós tínhamos, tenho que tentar consertar...

[Na manhã seguinte...]

Acordo pela manhã antes da hora para me arrumar, visto uma camiseta básica preta e um jeans claro, passo uma leva maquiagem no rosto e faço um penteado despojado no cabelo. Amarro a bandana em meu pulso novamente e respiro fundo em frente ao espelho, quem sabe ela me traga sorte.

...Me sinto tão ansiosa e nervosa, sei que tenho a chance de ser ignorada por ele, mas tento ser otimista...

Ao chegar a universidade, meu olhar paira por todos os lugares procurando por Kyle. Na sala de aula, me acomodo em uma mesa ao fundo e me sinto desapontada em não tê-lo visto.

- Bom dia, Sr. Menffs. - ao ouvir sua voz meu corpo se arrepia por inteiro e meu coração parece bater na garganta.

- Bom dia, Kyle. - ao ouvir seu nome meu olhar se volta instantaneamente para frente.

- Sobrou um lugar lá no fundo. - vejo que o único lugar vago é ao meu lado e meu coração dispara.

Kyle não parece me notar enquanto caminha em minha direção, mas ao perceber, ele para abruptamente me encarando, olha em volta procurando por outro lugar e se senta ao meu lado quando não encontra, seu olhar concentrado para frente.

- Oi. - digo baixinho. Ele apenas me olha de canto e não responde me ignorando completamente. Me sinto horrível a isso e não tento falar com ele mais durante a aula.

- Vai ser mais difícil do que esperava, Claire.

Durante a aula, sua inquietude é evidente ao meu lado, ele parece tão incomodado e assim que a aula termina ele se levanta apressado, vou atrás dele não querendo desistir de conversar e tomo uma coragem que não é de mim.

- Espera, Kyle. - seguro seu braço o parando e ele se volta a mim se livrando do meu toque imediatamente.

- Olha, já tem cinco anos, Claire. - começa a falar irritado.

- Já somos adultos, você fez suas escolhas e seguiu sua vida como quis. Então, me deixa em paz. - ele me dá as costas e segue em frente, me deixando ali inerte sentindo toda a culpa revirar em meu peito.

...Ser apaixonada por ele com a mesma força de cinco anos atrás faz essa indiferença doer tanto. Como me reaproximar dele dessa forma?...

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✦*:. KYLE O'BRIEN .:*✦

Por que tem que ser tão complicado? Por que não pode tudo ser um simples e tenebroso pesadelo? Queria tanto poder acordar e voltar a realidade dos meus dezessete anos, quando a tinha próxima a mim, quando por um curto momento a tive em meus braços não como uma simples amiga, quando tive seus doces lábios junto aos meus.

...Quando nossa promessa ainda estava intacta e tudo que eu sentia ao seu lado era uma imensa alegria, e não a tristeza e o rancor que sinto hoje...

É um fato que Claire chegar na minha vida na infância foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido, eu estava sozinho, sem um pai e com minha mãe sempre no trabalho.

Tanto que sem mal nos conhecermos, selei uma promessa com ela. Mesmo sendo apenas crianças, essa promessa nos seguiu firme e forte. A necessidade de ter uma companhia sempre me rondava e quando a tive, fui o garoto mais feliz do mundo.

Essa foi a maior razão para que eu me apegasse tanto a ela, mas... com o tempo passando, crescemos, mudamos e eu pude ver com mais clareza a tristeza que aquela garota escondia.

Eu sentia que tinha que protegê-la, não importava do que fosse, ela foi a minha companhia e minha alegria, estava na hora de fazer o mesmo por ela.

Eu demorei, mas com o tempo entendi que aquele sentimento de proteção não era apenas proteção, eu queria protegê-la porque me apaixonei por ela, tão perdidamente.

Comecei a observar cada traço de Claire como a mais perfeita obra de arte, tão linda, meiga e tímida de um jeito que só me fez querê-la cada vez mais em meus braços, mas escondi isso por tanto tempo com medo de não ser correspondido ou que acabasse estragando nossa amizade.

No dia em que me confessei a ela e a beijei foi o dia mais feliz da minha vida, me senti liberto ao senti-la tão perto de mim, sentir seus lábios doces e quentes junto aos meus com os quais eu tanto sonhei beijar.

Ouvir da boca dela que estava apaixonada por mim, não há palavras para descrever como eu me senti naquele dia. Claro que... até Jenna nos surpreender e arrastar Claire com ela.

Apesar das inúmeras ligações, nenhuma era atendida, tive medo que Jenna a machucasse pelo modo que saiu da minha casa. Não consegui pregar os olhos a noite pensando nela, naquele momento quando finalmente nos confessamos.

Foi na manhã seguinte que vi a enorme ilusão que eu havia criado na minha cabeça e em meu coração. Ouvir Claire dizer com todas as letras que eu havia tentado abusar dela, esmagou tudo que eu sentia por ela, no começo eu pensei que fosse um pesadelo e a qualquer momento eu acordaria, mas... não.

Minha mãe ficou furiosa comigo e eu não sabia o que fazer, apesar dela acreditar que eu não havia feito nada. Aquele dia eu me tranquei no quarto e chorei dia e noite sem conseguir fazer aquela dor parar de me machucar.

...Não consegui entender por que ela fez aquilo, foi tão sincera comigo antes e depois... simplesmente me humilhou daquela forma...

Nada me tira da cabeça que ela fez isso tentando ficar bem com sua mãe colocando a culpa em mim, mas... ainda foi difícil acreditar, depois de fazer tanto por ela, simplesmente pisou em mim.

Todo o carinho e amor que eu sentia por ela se transformaram em ódio naquele dia, ela só me usou, tive que me mudar do lugar em que eu vivi minha vida inteira e ainda carregar aquela mancha da acusação sobre mim.

Minha mãe e eu moramos de favor por quase um ano sem ter condições de comprar uma casa na época, tive que vê-la trabalhar dia e noite, chegar em casa exausta para podermos comprar um novo lar e apesar de ajudá-la, não foi nem um pouco fácil e... tudo por culpa da Claire.

Eu nunca mais fui o mesmo depois disso, tem um rancor tão grande alojado em meu coração que... eu não consigo esquecê-la, mesmo depois de cinco anos, ela ainda assombra minha mente constantemente.

Hoje aos 22 anos, comecei a universidade cursando Administração, quero seguir esse ramo e isso me ajudará a me distrair, pelo menos todos os cinco anos do meu trabalho estão valendo a pena.

Mais cedo fui visitar a faculdade e quando estava saindo, senti uma coisa estranha em meu peito e meu ar foi invadido por um peculiar perfume, um que eu jamais vou poder esquecer.

- Para de pensar nela... - resmungo comigo mesmo.

Tia Liz me ligou me pedindo para visitá-la, mas... tudo que eu não esperava era encontrar Claire lá. Ver aquele lindo sorriso nascer em seus lábios quando me viu fez meu coração disparar, mas... não, eu não sinto mais nada por ela, apenas raiva!

Saí de lá as pressas, atordoado, um filme passou na minha cabeça e me deixou tão agitado.

...Ela mudou nesse tempo, está tão linda quanto antes, mas eu não posso, eu não quero!...

Foi difícil dormir a noite, ela não saiu da minha cabeça, eu fiquei tão instável ao vê-la e me odiei tanto por isso, eu não posso ser fraco assim, não posso!

Acordei de manhã com o pensamento de que não a veria mais, mas minha relutância foi esmagada quando na sala de aula, eu tive que me sentar justamente ao seu lado.

...Não esperava que ela estivesse na universidade, isso vai ser mais difícil do que eu pensei...

Foi insuportável estar ao lado dela, seu perfume ainda é o mesmo de antes e invadiu minhas lembranças com força, tentei ignorá-la o quanto pude, mas... fiquei tão inquieto, me incomodou tanto. Me vi em meio a um turbilhão de emoções e não consegui encontrar um ponto de equilíbrio.

...Por que ela ainda usa a bandana? Sua promessa foi em vão, isso agora é só um pedaço de pano velho sem importância...

Dou graças aos céus quando a aula acaba e sem pensar duas vezes, me levanto apressado indo em direção a porta.

- Espera, Kyle. - o toque dela ao meu braço parece fazer uma corrente elétrica passar pelo meu corpo, me arrepiando e me solto imediatamente.

- Olha, já tem cinco anos, Claire. - me volto a ela encontrando aquele olhar triste e esperançoso, mas... não me deixo levar.

- Já somos adultos, você fez suas escolhas e seguiu com a sua vida como quis. Então, me deixa em paz. - dar as costas a ela e sair foi mais difícil do que eu pensei.

Ao sair do portão para a rua dou de cara com minha tia.

- Oi, Kyle. Como vai? - pergunta animada e curiosa, com certeza ela quer nos aproximar de novo.

- Estaria melhor se a senhora tivesse me dito que a Claire está aqui.

- Por quê? Se eu tivesse te contado iria fugir dela como fez ontem na minha casa? - ela cruza os braços, indignada.

- Ainda gosta dela, Kyle. Por isso quer fugir dela, mas está negando isso a si mesmo.

- Não... - me aproximo dela e encho o peito de ar.

- Eu odeio ela, tia. - digo com rancor, o semblante triste toma seu rosto e seu olhar volta para trás de mim. Por cima do ombro vejo Claire se aproximando e saio no mesmo instante.

Sigo para o meu apartamento rapidamente e chego no mesmo tão frustrado.

- Por que você tinha que aparecer agora? - esbravejo atirando a mochila no sofá.

A quem eu quero enganar, minha tia tem razão no que disse, mas isso não quer dizer que eu vou ir atrás dela.

...Não, é exatamente por isso que eu tenho que manter distância, ela já me usou uma vez, pode muito bem fazer de novo e eu não vou ser um fantoche de novo, não vou!...

Vou para o meu quarto e vasculho meu guarda-roupa por roupas casuais.

- Preciso sair, espairecer um pouco. - penso revirando uma gaveta.

No meio das roupas encontro nosso selo, a bandana de diversos tons de azul desbotada e gasta. A pego em minha mão e me sento no chão encarando o tecido, me lembro como se fosse ontem de quando nos conhecemos.

- Eu não te entendo, Claire... não te entendo. - sinto meu coração estremecer em meu peito ao me lembrar daquela manhã chuvosa.

...O que realmente sentia por mim?...

...

            
            

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