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✦*:. Capítulo 4 .:*✦
...
Esse dia parece sem fim e assim como a noite em claro, passei a madrugada toda sentada sobre o baú olhando a casa de Kyle pela janela do segundo andar, enxugando as lágrimas que escorrem a todo momento pelo meu rosto, assim como os pingos de chuva escorrem pela vidraça.
...O que ele estará pensando de mim? Me odiando com toda a certeza, pensar nisso dói tanto...
Pela manhã os vejo carregando as coisas no carro, observo Kyle andar pelo seu quintal carregando os pertences e a todo momento enxugar seu rosto, até que desfere de repente um soco no carro e sua mão treme reprimindo a dor.
Ele se apoia no mesmo parecendo estar sem chão, seu olhar se volta a mim na janela e o que vejo, é uma profunda mistura de mágoa e ódio.
...O olhar doce e brilhante foi embora dando lugar a esse olhar que parte meu coração...
Noto que seu pulso está nu, ele não usa mais a bandana. Encaro o tecido que envolve meu pulso e o retiro olhando-o, deixo algumas lágrimas caírem sobre o mesmo já um pouco desbotado e o aperto em minhas mãos.
...Eu nunca quis quebrar nossa promessa, mas precisei...
Fico lembrando das suas profundas e sinceras palavras quando disse estar apaixonado por mim, de como aquele momento foi importante e único para nós dois.
...Devo ter esmagado qualquer tipo de afeto que ele tinha por mim...
Quando o carro parte, vejo Liz me chamando abaixo da minha janela. Sem pensar duas vezes, corro lá para baixo e a abraço apertado.
- Claire, por que você disse aquilo aos policiais? - pergunta com tom magoado. Olho em volta verificando se minha mãe não está por perto antes de respondê-la.
- Jenna não está em casa.
- Ela me obrigou, Liz. - começo a dizer sem poder me conter.
- Ela disse que se eu não fizesse o que ela pediu, ia fazer o Kyle sumir. - ela me encara com horror.
- Eu disse aquilo porque tive medo que ela o machucasse.
- Ah, Claire. - ela me abraça forte.
- Então podemos contar a verdade pra ele agora.
- Não, ele vai querer voltar e eu não sei o que ela é capaz de fazer. - digo com medo e seu olhar é angustiado no meu.
- Ele nunca vai me perdoar, não é? - ela apenas me abraça e isso responde a minha pergunta.
Tantas coisas mudaram depois desse dia, mas eu nunca mais pude ser a mesma. Liz teve que se mudar da cidade e vem me ver aos finais de semana, mas não é a mesma coisa. As únicas pessoas que me significavam algo foram tiradas de mim e eu nunca estive tão sozinha antes.
Essa solidão e essa culpa pesam sobre mim dia e noite e parece que nunca terão fim. Eu nunca mais soube nada sobre Kyle, só sei que ele se mudou para outra cidade, mas eu ainda tenho a esperança de um dia encontrá-lo novamente.
...Eu não quebrei a nossa promessa, eu não te esqueci, você ainda mora em meu coração mesmo distante, mesmo que me odeie, você ainda habita meu interior...
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[5 anos depois...]
Hoje aos 21 anos, cinco anos depois da desgraça que me afundou na amargura, finalmente veio uma luz para minha tristeza, mesmo que pequena.
Minha mãe me matriculou no curso de Administração da Universidade que fica na mesma cidade de Liz, alugou um apartamento e quitou todas as despesas pelo tempo que eu permanecer lá.
...Mesmo que não seja o que desejo cursar, ao menos estarei mais perto de Liz e poderei me distrair um pouco...
Jenna me matricular sem mais nem menos na Universidade me dá a vívida sensação de que ela quer se livrar de mim por um bom tempo, o que não me surpreenderia, mas que até me deixa um pouquinho alegre.
- A universidade é de dois anos, tudo está certo, você não vai precisar se preocupar com nada. - Jenna diz quando estou prestes a entrar no carro.
- Obrigada. - agradeço baixinho ao ir entrando, mas antes ela me agarra em um abraço frouxo e sem jeito que me surpreende.
- Boa sorte, se distraia um pouco. - assinto estranhando seu comportamento.
O carro segue por cerca de uma hora até a cidade vizinha e só para em frente ao luxuoso prédio de apartamentos.
O motorista me ajuda com as malas e quando entro no apartamento, derrubo o queixo apenas ao ver o luxuoso hall de entrada. Ao adentrar um pouco mais, me deparo com uma estilosa sala de estar, lindamente enfeitada e ocupada por mobílias refinadas.
Por sorte o prédio fica em frente a universidade, então não terei problemas.
...Em partes, agradeço essa decisão de Jenna, mesmo sozinha, estarei bem melhor tendo Liz mais perto de mim...
- Liz, pode me passar seu endereço? - ligo para ela enquanto guardo minhas roupas no enorme closet.
- Claro, onde está? - pergunta curiosa.
- Na cidade, Jenna me matriculou na universidade. - posso ouvir seu grito entusiasmado.
- Eu vou te mandar por mensagem, te espero logo.
- Só vou dar uma olhada na universidade para ficar mais habituada e não acabar perdida, ver como é, depois vou pra aí.
Desligo me sentindo animada pela primeira vez em tempos. Continuo organizando minhas roupas e, encaro minha bandana escondida em meio a elas, com os tons de rosa um pouco desbotados.
A pego em minhas mãos e sinto o macio e gasto tecido, minha mente se inunda com a lembrança de quando esse foi o selo da nossa promessa.
- Sinto tanta a sua falta... - sinto meu coração se estremecer ao pensar em Kyle. Amarro a bandana em meu pulso e sinto que uma parte do meu coração é reposto no lugar.
Um pouco abatida, saio do apartamento e vou até à universidade, encaro o enorme portão de entrada e sei o que me espera lá dentro, vou demorar me acostumar. Enquanto caminho pelo pátio de entrada, meus olhos se fixam em um rapaz que caminha na direção oposta a minha, cabisbaixo.
Seu cabelo cor de bronze ondulado e volumoso em um penteado moderno, a barba por fazer que dá um ar mais maduro ao seu rosto adornado pelos óculos de sol, corpo robusto e alto. Sinto uma coisa tão intensa se formar em meu peito ao vê-lo, mas não sei descrever o que é. Infelizmente não pude ver seus traços, ele passa por mim sem me notar e sigo um pouco confusa.
...Que coisa estranha...
Depois de alguns minutos agitada explorando os blocos do lugar, eu me sinto um pouco estranha e decido ir para a casa de Liz.
...Por que me sinto desse jeito?...
Checo o endereço da minha mãe de coração no celular que vem com um aviso.
"Pode entrar quando chegar."
Estranho seu pedido, mas não penso muito. Caminho vagarosamente pelas ruas, a curta caminhada me ajuda a relaxar, sinto a brisa fresca e suave contra meu rosto, os raios de sol atingindo minha pele e por alguma razão me sinto tão livre.
Ao chegar no endereço, uma casa pequena e rústica está a minha espera, bato duas vezes na porta e entro.
- Liz, sou eu. - aviso fechando a porta atrás de mim e quando me volto para frente fico atônita. Meu mundo parece parar e sinto o enorme calor envolver meu coração, acabando com o gelo de cinco longos anos.
...