Capítulo 7 Uma ragazza arisca

Bernardo

Eu conduzi o Maserati MC12 preto pela propriedade de meu pai. Através do espelho retrovisor, dei outra olhada para o banco traseiro. Ela ainda estava deitada e quieta demais.

Estacionei na frente do palacete e desliguei os motores. Deslizei para fora do carro e me dirigi rapidamente à parte traseira, onde abri a porta do banco do passageiro.

- Hei, moça! - Toquei em seu braço. - Antonella.

Ela acordou sobressaltada, olhando ao redor com olhos assustados.

- Onde estamos? - perguntou, assustada.

- Nós já chegamos. Fique tranquila, você está segura comigo.

A chuva fina caía devagar, tocando em minha pele.

- Por favor, chame o Casimiro! - sussurrou Antonella.

- Ele está em algum dos aposentos para funcionários e eu não vou até lá. - Retruquei. - Você pode sair do carro e ver se ele está no quarto dos empregados.

A força dos pingos aumentou e a minha roupa estava ficando cada vez mais ensopada. Passei as mãos nos músculos dos braços para me aquecer.

- Saia logo do carro! - Olhei para a garota, que permanecia relutante.

Antonella se encolheu do outro lado do banco traseiro.

- Venha! - Segurei em seu braço fino.

A minha paciência exauriu diante da teimosia daquela garota.

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Antonella

Eu olhava aterrorizada para aquele homem petulante. Não sabia o que era pior: lidar com a fúria de Bernardo ou entrar na casa do homem mais poderoso da cidade.

- Sinto muito pelo incômodo que estou causando. Eu só te peço para chamar o Casimiro, eu espero aqui no carro.

- Não precisa esperar. - Um músculo contraiu-se no queixo de Bernardo.

Após entrar no carro, ele sentou bruscamente no estofado do banco ao meu lado. Encolhi os meus ombros, segurando o meu vestido.

Pegando-me desprevenida, Bernardo tocou em meu queixo e inclinou o rosto dele, quase encostando no meu.

- Você entrou no meu caminho duas vezes e estou muito, muito cansado para lidar com tudo isso. - A lufada do ar morno batia na pele do meu rosto enquanto ele falava. - Se me pedir novamente para chamar o motorista, eu vou te levar até os limites da propriedade e te largar embaixo da chuva. Tu Capisci, bella? - Perguntou ele, sem tirar os olhos dos meus.

Movendo minha cabeça, concordei. As pupilas verdes do italiano cravaram-se na ferida em meu ombro.

- Vamos, - ele soltou o meu rosto. - Vou te levar até o Casimiro, - disse em um tom de comiseração.

Cabisbaixa, eu continuei segurando o casaco para tampar o meu vestido rasgado. Eu fui atrás dele na chuva a caminho da casa com a pintura branca recente. Os balcões com grades de ferro batido do segundo andar e as varandas bem cuidadas dos três andares indicavam que o senhor Joaquim e o Dom Matarazzo não poupavam despesas para manter os luxos daquela propriedade.

Meus pés afundaram no gramado encharcado enquanto eu tentava acompanhar as passadas largas do homem à minha frente. Bernardo era bem mais alto do que eu. Devia ter cerca de um metro e noventa. As mechas castanhas escuras estavam úmidas e caiam displicentemente ao lado da testa.

- Coloque sobre a cabeça - apontou para o casaco molhado pela tempestade que caía sem dar trégua.

- Não precisa, nós estamos chegando - respondi com os lábios trêmulos, sentindo os golpes dos granizos que começaram a bater em meu rosto.

- Então, apresse os seus passos, - a mão direita pousou na parte inferior das minhas costas.

Corremos até o belo palacete ladeado por árvores floridas e cercado por gramas bem tratadas. Subimos os três lances de uma escada que dava para a varanda até pararmos em uma cobertura que nos protegeu da chuva de granizo. Enquanto Bernardo abria a porta, fiquei olhando para os pedacinhos de gelo que se lançavam contra os degraus.

- Venha! - Ele acenou.

No instante em que cruzei a enorme porta, senti o ar morno aquecendo a minha pele. Uma casa grande e confortável, dominando a vizinhança. Eu pensei, azeda.

Por onde passamos, deixamos um rastro de água devido às nossas roupas encharcadas. Atravessamos o hall e demos de cara com a idosa que estava prestes a apagar as luzes da sala.

- O que aconteceu? - A mulher perguntou, olhando acusadoramente em direção ao patrão.

- Encontrei essa moça no caminho, Monalisa. - Ele espremeu os lábios. - Antonella está procurando o Casimiro!

Não havia outra maneira de expressar como eu estava sem graça pela situação em que me meti.

- O Casimiro saiu. - A funcionária respondeu.

- Para onde ele foi?

- Teve um incêndio na aldeia e o seu pai chamou Casimiro para levá-lo até lá.

- Vou esperar lá fora! - Mordi meu lábio inferior.

- Não! - Monalisa impediu-me de sair. - Está chovendo granizo, menina. - Esperem aqui, vou pegar toalhas para vocês se secarem.

- Que ótimo, essa noite parece interminável! - Bernardo rosnou.

Apertando o tecido do vestido com a mão, eu desejei que não tivesse encontrado o filho do homem que atormentava a minha vida. Era uma questão de tempo até ele saber quem eu era. Ao vê-lo prestando atenção na tela brilhante do celular, eu recuei em passos lentos.

- Hei, fique parada! - Ele ordenou sem ao menos me olhar. - Você está com frio? - De repente, os seus olhos focaram nos meus lábios trêmulos.

Sim, eu estava! Eu só queria que Monalisa voltasse logo com as toalhas. Quando eu menos esperava, senti os dedos longos entrelaçando aos meus. Inesperadamente, ele puxou-me para um elevador do outro lado da sala.

- Vamos!

- A Monalisa pediu para esperar aqui. - Teimosamente, eu resisti.

- Está com medo de mim? - A boca se curvou em um sorriso, criando duas covinhas. - Não costumo atacar e bater em mulheres, a não ser que elas peçam. - A pele ao redor dos olhos se enrugou.

As minhas bochechas começaram a queimar diante do constrangimento. A porta do elevador ainda estava aberta quando, subitamente, eu senti meu corpo se curvando no momento em que os braços fortes pegaram-me. Ele me colocou no ombro direito e entrou no elevador.

- Solte-me! - Soquei as costas largas com todas as minhas forças.

- Você é uma ragazza arisca. - Ele me colocou no chão depois que as portas fecharam.

Engoli em seco, mas não consegui desprezar a sensação de borboletas voando em alguma parte do meu estômago. Quando o elevador chegou ao terceiro andar, ele foi à frente.

- Pode vir!

- Não, - fechei o casaco longo que mais parecia um vestido em meu corpo.

Meus olhos se perderam na camisa molhada com os primeiros botões abertos. O tecido branco grudava no peitoral forte e a calça jeans preta aderia aos músculos das coxas.

- Se você não sair daí, eu vou te carregar no ombro outra vez. - A voz rouca ameaçou num tom zombeteiro.

Bernardo tinha sangue ruim dos Matarazzo e isso explicava a razão pela qual se divertia com o sofrimento alheio. O homem comprido tirou as mechas molhadas da testa e deu um passo à frente. Antes que ele me tocasse, eu saí.

- Boa menina! - disse ironicamente. - Vamos, vou te arrumar uma roupa seca e limpa. - No meio do corredor, ele tocou na maçaneta da porta. - O seu olhar latente pairou sobre mim. - Entre, garota!