Capítulo 8 Deite na cama

Bernardo

Ele hesitou, como se estivesse considerando a possibilidade de correr pelos corredores.

- Dios mio, - eu já estava perdendo a minha paciência. - Se você não entrar na porra desse quarto, então pode sair e dormir lá fora debaixo chuva.

Fiquei ali, esperando, e, quando ele não o fez o que pedi, peguei em seu braço, mas ela se recusou a voltar para o elevador. Sua cabeça virou-se em minha direção, os nossos olhos ficaram conectados. Pude enxergar o medo, não poderia dizer o horror que ela vivenciou, mas logo tudo desapareceu quando ela desviou o olhar.

- Eu sei que você passou por um momento complicado, mas lhe asseguro que estou cansado e não tenho muita paciência para cuidar dos problemas dos outros. - Meus dedos pressionaram a pele de seu antebraço. - Ou você entra, ou você vai embora e resolve os seus problemas sozinha. - Apontei para o elevador. - Decida-se, Antonella!

Antonella moveu o pé do outro e caminhou para o quarto. Ela não tinha os atrativos que eu procurava numa mulher, mas pela forma como agia, não havia entrado no quarto de outro homem. Inesperadamente, ela sobressaltou quando bati a porta com força. No guarda-roupa, eu peguei uma camisa de manga preta.

- Vista isso! - Lancei no ar e ela pegou, Ele a pegou no ar, mas não se apressou em vesti-la.

Obviamente, ela não estava confortável com aquela molhada, mas sim, bastante apavorada. A garota se encolheu quando ergui a mão para indicar o banheiro.

- Entre lá e tire essa roupa, - disse eu, enquanto abria os botões da camisa ensopada.

- O que está esperando? Por acaso você quer que eu te ajude a trocar de roupa também? - Pisquei.

As maçãs proeminentes de seu rosto assumiam um tom avermelhado quando ela negou com um movimento de cabeça. Até que ela ficou bonita quando enrubesceu.

- Cazzo, vai logo! - Bati o pé e Antonella correu feito um bichinho assustado.

Aproveitei para tirar a minha roupa depois que ela se trancou no banheiro. Alguém bateu na porta quando eu estava terminando de vestir a calça de moletom.

- Tomara que seja o Casimiro. - Girei a maçaneta.

- Onde está Antonella? - Monalisa apareceu com toalhas.

- Está se trocando.

- Essa menina não deveria estar no seu quarto.

- Por quê? - Eu ri. - Ela é virgem? - Ironizei.

A velha Monalisa não respondeu. Os olhos dela vasculharam o chão do meu quarto.

- Ah, não, está tudo molhado! - Ela entrou e começou a catar as roupas do chão. - O senhor vai se casar em breve, não deveria trazer mulheres para o seu quarto.

- Espera, você está preocupada comigo ou com Antonella?

- O seu avô não vai gostar disso. - A resposta foi lacônica.

- Calma, eu vou respeitar a jovem donzela.

- Estou falando do seu casamento. Se alguém souber que tem outra mulher no seu quarto...

- Não estou fazendo nada! - Aumentei a voz. - Saia daqui e não diga uma palavra sobre o que viu no meu quarto.

- Sim, senhor! - sussurrou ela num tom conspiratório.

Lançando um olhar reprovador, Monalisa levou as roupas molhadas e saiu.

- Avise ao Casimiro que ela está aqui.

- Não sei se ele voltará hoje, - ela parou no corredor. - O incêndio foi na casa de uma vizinha dele.

- Só dê o recado quando ele voltar. - Fechei a porta.

Exaurido, eu deitei na cama e a única coisa que eu conseguia pensar era que tinha uma virgem no meu quarto.

- Ah, Dio - pulei da cama, quando meu corpo reagiu ao pensamento.

Finalmente a garota saiu do banheiro. Apesar de minha camisa parecer um vestido em seu corpo delgado, ela puxava o tecido para esconder as coxas musculosas.

- Você se exercita? - Meus olhos ainda estavam fixados na parte que ela tentava esconder.

- Não.

- Nunca foi à academia? - Olhei os traços delicados de seu rosto.

Antonella negou com a cabeça, a face dela já estava corando.

- Onde está o Casimiro.

- A Monalisa disse que ele não chegou, - sentei na cama.

Reparei quando ela tocou no ombro ferido e franziu o rosto ao sentir a dor.

- Deixe-me ver isso. - Dei poucos passos, vencendo a distância.

- Não, - a garota recuou.

- Foi seu namorado quem fez isso com você?

Com um meneio de cabeça, ela negou.

- Quem fez isso?

Os lábios pequenos se comprimiam. Ela não queria falar.

- Eu posso dar um jeito no cara que te atacou.

A cabeça dela estava baixa, os olhos voltados para os pés descalços que tocavam o chão frio.

- Deite ali, vou pegar um par de meias.

Ela obviamente não estava confortável. Ao invés de se mexer, Antonella ficou parada, olhando para cama.

- O Casimiro não voltará hoje. - Entreguei as meias para ela.

Ouvi outro choramingo, ela cerrou os olhos com a dor. Deite na cama, vou olhar essa ferida.

- Não, - ela retrocedeu e acabou caindo sentada na poltrona.

Os cílios piscaram incessantemente sobre o olhar assustado quando toque na gola da camisa e puxei por seu ombro até revelar a ferida.