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Anna não parava de pensar no que aconteceu no jardim. Edward parecia magoado e furioso. Ela ficou apavorada quando ele começou a contar que havia descoberto a farsa de Alice. Ela não conseguia entender o que a irmã fez a ele, e só de pensar que ele seria o homem que dividiria a cama nos próximos meses, ficou devastada.
Anna estava do lado da mãe. Os convidados estavam dispostos ao longo da mesa. Edward e o irmão estavam numa ponta da mesa. Todos riam quando Edward contava seus grandes feitos, se divertindo e conquistando Londres. Edward lançava olhares para Anna e ela sentia-se sendo congelada pelo medo.
- Querida - disse Dayanna -, aconteceu alguma coisa? - Anna olhou para ela e foi tirada dos seus pensamentos. - Você parece estranha...
- Não - disse Anna rapidamente. - Não. Não aconteceu nada, mamãe. Eu apenas... apenas estou com um pouco de dor de cabeça.
Aaron olhava para Anna sem parar, como se tentasse chamar sua atenção. Depois do que descobriu sobre Alice, tudo parecia fazer sentido. Os dois tinham um caso. Mas ela não sabia que Alice tentou fugir com Aaron. Será que sua mãe sabia disso? Anna precisava contar sobre o que Edward disse.
O jantar correu bem. Edward parecia contente e todo mundo tinha se deliciado com suas histórias e aventuras. Depois do jantar, Anna se despediu dele e se dirigiu para seu quarto.
Deitada em sua cama, Anna pensou em tudo o que Edward lhe disse.
- Eu prometo, Alice, vou fazer da sua vida um inferno. - lembrou ela.
Anna suspirou e engoliu em seco.
Não havia nada que pudesse fazer.
Mas uma pergunta não parava de lhe atormentar: o que Edward faria quando descobrisse que, na verdade, ela era Anna?
***
Anna respirou fundo e olhou por cima da xícara para Polly, que estava à sua frente, bebendo chá e comendo biscoito. Ela a convidou para um chá. Anna percebeu que aquela era a primeira vez em algum tempo que saía de casa sem Dayanna a seguir por todos os lugares.
- Vamos, me conte - disse Polly -, o que vocês conversaram enquanto estavam nos jardins? - Anna bebeu um gole do chá e passou a língua pelos lábios. Ela olhou para Polly sem palavras. Anna piscou um pouco atordoada e colocou a xícara na mesa. - Vocês ficaram fora por algum tempo. Vamos, Alice... você não é puritana. E eu sei que o Edward não é. - Ela ergueu uma sobrancelha e sorriu confidencialmente.
Anna procurou algo para dizer. Simplesmente não conseguiu encontrar nada, e sua língua parecia estar rígida.
- Eu... - ela começou. Anna sabia o que havia acontecido no jardim naquela noite, mas não podia falar sobre isso para Polly, e de forma nenhuma poderia falar sobre o medo de Edward descobrir sobre sua verdadeira identidade. - Não aconteceu nada demais. - Ela disse, a voz doce e calma. Ela se esforçou para parecer tranquila, apesar de notar que seu coração começou a bater mais acelerado. Polly assentiu.
- Está bem... - ela bebeu um gole do chá e avaliou a expressão de Anna. - Você está preocupada, não está?
Anna ergueu o olhar para ela. Ela engoliu em seco. Não podia negar que estava. Embora mentir não parecesse a melhor opção, ela precisava saber mais sobre o que aconteceu entre Alice e Edward - ou melhor: o que aconteceu entre Alice e Aaron.
- Sim - admitiu ela. - Na verdade, aconteceu uma coisa... Edward me confrontou sobre Aaron. Ele descobriu. Eu tenho medo, Polly - ela levou as mãos ao rosto e o cobriu. Suas mãos delicadas estavam enluvadas. Pollyanna se inclinou na direção dela.
- O quê?
- Ele descobriu sobre o meu caso com Aaron.
Polly levou a mão ao peito e pareceu horrorizada.
- Oh, querida... - disse ela - eu sinto muito.
Faltava apenas algum tempo para o casamento, e descobrir que Edward não era o que esperava era desesperador. Anna não fazia ideia de que Alice podia ter tantos segredos, e agora todos eles iriam ricochetear e atingi-la em cheio.
- Eu estou com medo... - disse Anna - ele pode me abandonar... não sei o que devo fazer.
- Não devia se preocupar com isso - disse Polly -, eu conheço os Grayson. Eles podem ser perigosos. O que ele disse a você?
- Promete que não vai contar a ninguém? - Polly assentiu.
- Sim.
Anna ergueu os cantos dos lábios. Era bom ter alguém em quem confiar, alguém que pudesse ouvir toda aquela loucura.
- Eu percebi que Aaron não tirava os olhos de mim desde que chegaram. E quando Edward me levou para os jardins, notei que ele parecia... estranho. - Anna segurou a xícara. O calor envolveu seus dedos e ela ergueu os olhos para Polly, que tomou mais um gole do chá. - E depois, ele confessou que sabia sobre... sobre a minha tentativa de fuga.
- Eu tentei lhe avisar - disse Polly.
- Foi uma má ideia, eu sei. Ele gritou comigo e me fez me sentir horrível... - ela suspirou, relembrando o momento. Foi terrível. Ela sentiu medo dele. - Mas garantiu que não iria parar o casamento, que não passava de um acordo, e que apesar de eu tê-lo traído, eu poderia ser útil para ele.
- Um acordo?
- Sim - respondeu Anna.
- Eu lembro de você ter contado sobre isso. - Polly fez que sim com a cabeça e ergueu um canto do lábio, se inclinando e levando a mão até a de Anna. Ela a cobriu e disse: - Você o odiava por obrigá-la a se casar, mas não há como desistir agora. E sua família precisa disso, não precisa? Eu sei que deve estar apavorada, mas acredite em mim, Edward não faria nada de mal a você. - Garantiu.
Anna não tinha tanta convicção de que isso poderia ser verdade. Ele pareceu muito disposto a se vingar dela.
- Alice - Polly apertou os dedos em volta da mão de Anna -, eu sei que não deve ser fácil, e acredite em mim, eu a ajudaria se pudesse, mas acontece que... Acontece que você precisa fazer isso. Não tenha medo dele. Com o tempo, vocês podem se apaixonar.
Anna sabia que poderia ser verdade, e para ser sincera, ela torcia para que pudesse ser real. Sua mãe lhe disse isso quando chegara à Londres, que ela iria se apaixonar por Edward e poderiam ter uma boa vida juntos. Mas agora isso parecia incerto. Descobrir que Edward odiava Alice por ter mentido para ele era a prova convicta de que não poderia ser possível. Ela o temia. Temia que ele pudesse ser mais cruel do que imaginava.
- Obrigada - ela conseguiu dizer, mas sua voz parecia embargada e fraca. - Eu precisava contar sobre isso para alguém.
- Eu disse - Polly começou - que sempre estaria do seu lado sempre que quisesse.
- Sim, eu sei. Obrigada, Polly.
Algum tempo depois, finalmente Anna se acalmou um pouco. Joseph, o motorista, a levou de volta para casa. Durante o trajeto, Anna se encolheu no banco de trás e encostou a cabeça na janela, vendo a paisagem passando como um flash diante dos seus olhos.
- Srta. Wallace? - A voz do motorista chamou a atenção de Anna. - Eu gostaria de contar que a sua irmã estaria feliz.
Anna franziu a testa.
- Alice? - Ela deixou escapar.
- Sim.
- Por que ela estaria feliz? Eu vou me casar com um homem que não conheço, viver uma vida que não é minha.
- Justamente, senhorita. Ela gostaria de que fosse forte o suficiente para tomar decisões difíceis. Você não acha? - Anna engoliu em seco. Ela achava que seus pensamentos a respeito de tudo aquilo não precisavam ser ouvidos.
- Sim, Joseph.
Joseph era um velho amigo. Provavelmente o único que ainda restava. Por ser tirada muito cedo de sua família, Anna não encontrou muitas pessoas exceto os empregados da casa, e verdade seja dita, eram melhores que quaisquer amigos que pudesse encontrar. Anna não podia reclamar da vida que teve. Sua tia era extremamente carinhosa e muito adorável, ela sempre estava rodeada por amigas e amigos. Mas ainda sentia falta de Alice. Quando chegou na casa, Joseph a recebeu como um velho amigo receberia: um abraço apertado e várias histórias reconfortantes. Ele era como seu pai.
- Está insegura, não é? Sobre o casamento.
Anna abraçou o próprio corpo e suspirou, segurando uma lágrima que repentinamente ameaçou manchar seu rosto.
- Menina - disse Joseph -, minha doce menina, você é adorável. Qualquer homem se apaixonaria por você.
Anna não achava que Edward poderia amá-la se descobrisse que mentiu para ele. Ele parecia odiar mentiras, e era rígido, severo. Talvez ele não pudesse lhe fazer mal, mas nada o impedia de machucar as pessoas que amava.
- Joseph - Ele olhou para ela pelo retrovisor -, você acha que ele pode se apaixonar por mim? Eu não sou Alice...
- Sua irmã era uma boa garota - ele disse - que escolheu ajudar a família e abdicar de seus próprios sonhos. Você está fazendo o mesmo por ela. Alice deve estar feliz por você. Imagine, você vai se casar com um homem bom. Eu sei que ouviu histórias sobre ele, mas não as escute. O sr. Grayson não é o que pensa. Ele é um bom homem.
- Como pode ter certeza?
- Um velho como eu sabe de muitas coisas - confessou Joseph -, inclusive reconhecer pessoas boas e más. Ele pode não ser o homem que queria, mas isso não impede de ser o homem de que precisa.
Anna assentiu.
- Obrigada, Joseph. Foi muito gentil de sua parte.
- Estou aqui para ajudar.