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Eu perdi a noção do tempo, conferi em meu relógio o horário. Já estava bem atrasado.
Me despeço da lápide de Angel mais uma vez com o sol cortante no céu e a promessa de que no outro dia voltaria.
Enquanto me dirijo a caminho do carro, ligo o celular e não demora para que uma enxurrada de mensagens fossem surgindo na tela.
Mamãe, irmã, Ricardo...
Seguido de uma ligação.
Me certifico de quem possa ser, mas não estava preparado para receber essa ligação, não neste momento.
Bufo irritado.
Penso em ignorar ao seu chamado, mas sei de que de nada adiantaria, ela é irritantemente insistente.
- Oi, Leila. - atendo completamente sem ânimo.
- Gabriel. - sua voz soa melosa de uma maneira exagerada, o quê me deixa ainda mais irritado. - Como está querido?
Respiro fundo.
- Estou bem, Leila, e você? - digo enquanto tomo meu lugar ao volante.
- Melhor agora falando com você.
- Claro. - reviro os olhos - Aconteceu algo? - digo sério para que ela sinta na minha voz que desaprovo sua atitude em me ligar. Ainda mais em um dia como hoje. Já lhe pedi inúmeras vezes para que aguarde o meu contato, mas é inútil.
Leila é como um carro sem freio, não tem como controlar.
- Sei que você pediu para que eu não ligasse, mas é que... Bom, eu gostaria de saber se nós, eu e você, vamos nos ver hoje. Porque estou em uma loja de lingerie e vi uma peça que tenho certeza que ira adorar tirá-la. - sua voz de ninfeta é a sua arma de sedução. E confesso que já me deixei seduzir por ela. E quem não deixaria? É uma linda mulher, inteligente, além de ser muito gostosa.
Mas tem um grande defeito, é muito impulsiva.
Raiva é o quê sinto por ela ser tão incoveniente, esse não é o momento, hoje não é a porra do dia para ter a merda dessa conversa.
- Não! - digo mais ríspido do que gostaria.
Sei que as pessoas não são culpadas da droga que minha vida se tornou, e Leila é uma delas. Há um tempo que nós nos conhecemos que deixei claro que nada eu poderia lhe oferecer além de sexo. Mas ela parece não se esforçar para entender.
Um silêncio sepulcral se instalou entre nós, e só então eu me dei conta de que havia passado dos limites no momento em que ela se calou. Logo ela, que era sempre tão falante.
Nervoso passo a mão livre sobre os cabelos.
Porra, Gabriel, o quê há com você?
- Leila está aí? - respiro fundo retomando o auto controle. - Desculpe, não foi a minha intenção ser grosseiro. Eu estou muito ocupado no momento e...
- Ah, claro, me desculpe, não quis lhe incomodar. - me sinto culpado ao ouvir sua voz soar baixa, visivelmente entristecida. Mas nada poderia fazer, hoje não.
- Ei, princesa, não fique chateada. Lhe prometo que assim que possível, vou até você, eu a recompensarei da melhor maneira possível. Você se importaria
de nos falarmos depois? Não nos veremos, hoje é o aniversário de Luna e serei somente dela, podemos marcar algo para amanhã. - um minuto de silêncio é o suficiente para fazer com que sentisse o quanto ela ficou decepcionada. - Leila, meu bem, eu...
- Claro, Gabriel, quando você quiser. - sua voz soa serena, mas pelo que conheço de sua personalidade, está incendiando.
- Está bem. Nos falamos depois.
Boa tarde.
- Boa tarde, Gabriel. - encerro a ligação e sou tomado por um grande alívio que percorre meu corpo.
🌻🌹💐
Estaciono o carro na garagem e saio a caminho do salão do condomínio, onde as três mulheres da minha vida se encontram à minha espera juntas à equipe de decoração.
A movimentação é grande em volta do lugar. Aceno com a mão para Roberto, um dos seguranças responsáveis, e volto a minha atenção para um pequeno ser de cabelos loiros, - como os de sua mãe, - balançando ao toque suave do vento correndo descalça em minha direção.
Ela ainda é tão pequena e não sabe o poder que tem de trazer um homem como eu a vida.
- Papai! Papai! - ao se aproximar, a tomo nos braços. Elevo o seu corpo para o alto acima da minha cabeça e a giro no ar, uma, duas, três vezes, lhe arrancando sua costumeira gargalhada, revelando os seus pequeninos dentes brancos e o sorriso largo que tanto amo.
- Como você está princesa? - beijo sua cabeleira de grandes fios dourados.
- Bem, papi. - diz ofegante, coraçãozinho acelerado. - Vamos lá, vamos ver minha festinha. - as suas mãozinha gordinhas apontam em direção ao salão onde tudo está sendo preparado. - Vamos, papi, vamos. - se remexe inquieta sobre os meus braços.
- Nós já vamos, meu bem, mas antes você precisa se acalmar - sorrio diante do seu comportamento serelepe.
Ver a felicidade estampada em seus olhinhos, satisfeita, é o quê me deixa feliz.
Mantenho Luna em segurança nos meus braços, seguimos até o salão onde a festa acontecerá logo mais a noite.
Adentramos o ambiente onde pessoas vão e vem desviando de grandes caixas espalhadas pelo caminho, inertes em seus afazeres.
- Boa tarde. - cumprimento a um dos homens vestido no seu uniforme escuro, qual faz parte da equipe ao passar por mim.
- Boa tarde, doutor. - diz gentil.
Caminho pelo lugar com Luna em meus braços, observando a cada detalhe de tudo o que está sendo feito.
Os personagens no qual a minha Luna escolhera estão lindíssimos, todos em tamanho reais. Tudo no modo havaiano, do jeitinho em que a pequena gosta. Tudo muito colorido, cheio de vida e alegria, assim como ela.
Flores, frutas, folhas, barcos, vulcões, tochas, máscaras e estampas tribais.
- Vamos ver o bolo, paiii! - bate palminhas eufórica.
- Vamos querida.
Seguimos até a mesa onde estava o bolo decorado também na temática.
Eu não sei o quê seria de mim se não fosse mamãe e Gio. Elas pensaram em tudo, desde da decoração aos doces.
As lembrancinhas também traz as imagens dos personagens do filme. Cada detalhe feito com muito carinho.
Não posso me esquecer de agradecê-las por terem cuidado de tudo enquanto eu estava trabalhando.
- Está tudo lindo, filha. - digo e fico feliz ao ver os seus olhos brilharem em satisfação.
- Você viu, Papi? Você gostou? Está tudo lindo, não está? - coloca uma mãozinha em cada lado do meu rosto e acaricia a minha barba por fazer.
- Sim, querida, está tudo lindo. - beijo sua cabeça inalando o seu doce perfume de maçã verde.
- Filho, que bom que chegou. - volto a minha atenção para mulher responsável pelo homem que sou, caminhando em nossa direção.
- Oi, mãe. - ela se aproxima e me abraça brevemente. Beijo carinhosamente sua testa.
- Como você está, querido? - ela se afasta e volta a me fitar.
- Exausto, hoje foi um dia tenso no grupo, alguns assuntos pendentes que sugaram minhas energias, mas estou bem, nada que um bom banho não resolva.
- Sei que sim. Logo você terá um bom tempo pra descansar.
- Essas férias veio em uma boa hora.
- Você e Luna estão precisando. - acaricia o rosto de Luna. - O seu pai não veio com você? - olha em volta a sua procura.
- Não, ele tinha uma reunião com alguns funcionários, mas pediu para que o senhor Ailton a levasse para casa, ele irá direto para lá, depois vocês vêm juntos para a festa. - ela assente com a cabeça em concordância.
- Irmãozinho querido. - me viro a tempo de ver Gio rebolando em cima dos seus saltos vindo em nossa direção.
- Como você está? - ela me abraça e eu a cumprimento com um beijo na cabeça.
O cansaço é visível em seu rosto. Luna desce do meu colo e sai correndo atrás de alguns balões que voam por ali.
- Estou cansada, mas bem satisfeita com o resultado final. - olha em volta visivelmente feliz. Ela ama cuidar de cada detalhe.
- Você está de parabéns irmã. Está tudo lindo, como sempre. Prova disso é a alegria visível nos olhos de Luna.
- Ela é a razão da minha vida, faria tudo novamente.
- Obrigada. Não sei o quê seria
de mim sem vocês. - as envolvo em meus braços carinhosamente, beijo a cabeça de uma seguido da outra.
- Agora me diga, por que demorou tanto? Luna já estava impaciente. Você foi ao túmulo de Angel, não foi?
Me afasto. Bufo incomodado seguido de revirar os olhos. Eu a amo, mas fico furioso quando ela se mete na minha vida.
- Como todos os dias. - digo entre os dentes enquanto aceno com a mão, acompanhado de um largo sorriso para Luna, que sorri feliz acenando de volta.
- Por Deus, Gabriel, até quando você vai se martirizar com isso? Freud já dizia que o quê resolve o luto é voltar a amar. Eu...
- É sério isso? - lhe fito com os olhos cerrados - Hoje é o aniversário de morte da minha mulher e você quer mesmo discutir sobre um assunto que só diz respeito a mim?
--Agora é um assunto que só diz respeito a você, mas sou eu e a mamãe quem cuida da sua filha quando você não está, ou seja quase sempre. - lhe fito com o cenho franzido.
- Giovana. - mamãe lhe adverte. Com um breve gesto com a mão, peço para que mamãe a deixe continuar. É como dizem: "a boca fala do que o coração está cheio."
- Não se preocupe, minha filha não tomará mais o precioso tempo de vocês. - finjo uma falsa irritação, porque mesmo que suas palavras tenham me irritado, ela tem razão. Luna tem passado mais tempo com elas do que comigo.
- Gabi, desculpa, só pensei que se você fosse menos ao cemitério, teria mais tempo para... - lhe interrompo.
- Dane-se o quê você e todos acham, nesses cinco anos eu nunca falhei um dia de ir no cemitério e não falharei.
- Não estou pedindo para que você a esqueça, isso jamais irá acontecer, ela nos deixou Luna, que é a razão de nossas vidas. Mas você tem que seguir sua vida, Luna precisa de você e de uma imagem feminina dentro daquela casa. Você é um egoísta, Gabriel, por pensar só em si mesmo.
- Não diga bobagens, porra. - esbravejo.
Ela dá um passo para trás, mas não demonstra medo. Todos a nossa volta nos olham assustados.
- Cuide da porra da sua vida. Não me meto neste amor ridículo que você nutre por Ricardo, não se meta comigo, e me deixe em paz.
- Gabriel, se acalme. - mamãe intervém.
- Desde quando a sua filha se tornou intrometida? - Gio me fita com os olhos cerrados, visivelmente irritada
- Mas do quê você está falando?
- O seu filho que se tornou um grosso.
- Ah, claro! - rio em deboche.
- Mas...
- Papai, papai. - Luna corre em minha direção.
- Essa conversa para mim já acabou, vou levar Luna para tomar banho e se arrumar.
- Precisa de ajuda, querido?
- Faço isso há cinco anos, mãe, me viro. Obrigado! - saio a caminho da nossa casa, mas ainda ouço Giovana reclamar de algo que não me dou ao trabalho de tentar entender.
🌹🌻💐
Nunca planejei isso e todo ano é a mesma frustração.
A cada festa: tristeza.
Comemoração e conquistas, sim, em cada momento, ela deveria estar aqui, desfrutando ao lado dos que a amam.
Era o quê nós havíamos planejado, vivermos uma vida feliz entre família e amigos. Mas isso nos foi roubado, a flor do meu jardim me foi arrancada e com sua partida toda a minha vida.
Não entendo o por quê Deus fez isso comigo, há quatro anos que espero uma resposta sua, uma explicação, algo que conforte o meu coração, mas nada obtenho além do seu silêncio.
É pique, é pique. É hora, é hora. Rá, tim, bum. Luna, Luna, Luna!
- Assopre a vela, querida. - Gio lhe alerta. Afoita, ela balança a cabeça em concordância faz um enorme bico.
- Não esqueça de fazer um pedido. - completo. Eu lhe dou uma piscadela.
Ela assente com a cabecinha fazendo os seus grandes cachos dourados balançarem como se fossem molas. Fecha os olhos por alguns segundos e por fim assopra a vela, levando a todos ao delírio.
- Vem titia, vem cortar o bolo. - a minha cunhada, de quem fiquei fugindo de suas investidas descabidas, se aproxima da minha princesa que a cada dia cresce mais linda, saudável e inteligente.
- Me permite, Gabi?
- Fique a vontade. - enquanto ela se aproxima de Luna, esfregando provocante o seu quadril sobre a minha virilha, me afasto rapidamente incomodado.
- Filho.
- Oi, mãe. - ela se aproxima e envolve seus braços sobre a minha cintura.
- Você sabe que a sua irmã não quis reclamar sobre ficar com Luna, nós a adoramos e...
- Mamãe, sei que não. - entrelaço sua mão a minha para lhe tranquilizar. - Mas ela tem razão, Luna precisa ficar mais tempo em casa e eu preciso me organizar com o trabalho e ter mais tempo com a minha filha.
- Como vai fazer com Luna quando voltar das férias?
- ão sei. Procurar alguém que cuide dela em tempo integral. - dou de ombros
- Você precisa dedicar mais do seu tempo para você. Já faz cinco anos desde a morte de Angel, e você vive apenas para sua filha e estar naquele lugar, faz isso sem nem mesmo perceber.
- Não preciso de ninguém além de Luna.
_ Cinco anos se passaram e nem mesmo sair com uma mulher você tem saído. - lhe fito com o cenho franzido.
- Minha vida sexual pertence unicamente a mim, mamãe.
- Está bem, querido, não quero me meter em sua vida, mas é...
- Obrigado. - a interrompo antes que ela continue.
- Vou levar Luna para a praia nas férias, vamos para Ilha Bela, aluguei uma casa com Ricardo. - mudo de assunto.
- Isso é ótimo. - diz visivelmente animada, e sei que ela torce para que eu encontre alguém com quem eu possa me casar novamente e que possa cuidar de Luna.
Mas elas não entendem que nada e nem ninguém tomara o lugar da única mulher que amei e amarei em toda a minha vida.
- Só preciso encontrar uma babá antes disso. Eu sei que já tomo muito do seu tempo e da Gio cuidando de Luna, mas prometo que será a última vez.
- Deixe de bobagens. Sabe que tanto eu quanto sua irmã adoramos cuidar de Luna e fazemos isso com prazer.
- Sei, mãe, mas não é justo com vocês. Consegue uma babá das boas pra mim?
- Pode deixar, vou entrar em contato com algumas agências e falar com Alda, ela parece que tem uma sobrinha que está desempregada e Alda é de confiança.
- Quero a carta de recomendação de todas, inclusive da sobrinha de Alda. Ela trabalha já faz algum tempo no banco, mas é a Alda, e não a sobrinha dela. Tenho que contratar alguém de confiança, afinal depositarei a segurança da minha filha em suas mãos.
- Está bem, vou fazer uma entrevista com elas antes de mandar pra você.
- Ótimo. Obrigada mais uma vez, mãe.
- Não por isso, querido. Sabe que pode contar comigo. - acaricia o meu rosto.
- Lá vem sua filha. - digo ao ver Giovana se aproximar. Ela ri divertida enquanto eu reviro os olhos.
- Seja mais paciente, ela só está preocupada com você.
- Como está a sua conversa com Carmem? - Geovana pergunta sem rodeios ao se juntar a nós.
Reviro os olhos fingindo um falsa irritação.
- Carmem é uma bela mulher, uma grande amiga, mas é só.
- Qual é, Gabriel? Você não pode simplesmente fazer a pobre moça de tola.
- Não estou fazendo de tola, eu realmente gosto de sua companhia. Mas não pense que vou ter algo com ela, nós somos adultos, e se ela não soube lidar apenas com uma noite de sexo, lamento. Mas foi uma foda e nada mais, não vou me casar com ela, porque só houve uma única mulher em minha vida e não haverá outra.
- Gabriel.
- Desculpe, mamãe, sua filha me deixa louco.
- Mas...
- Por favor, Giovana, não insista, não quero falar sobre este assunto, aqui não é hora e nem lugar.
- Você vai se arrepender, ela é uma mulher incrível.
- Talvez. Mas agora me deixe em paz, vou curtir a festa da minha filha. - bufo e saio para me juntar a Ricardo e alguns colegas que estão por ali bebendo e conversando.
Hoje o dia foi tenso demais eu vou precisar relaxar.
Saco o celular do bolso da calça e rapidamente digito uma mensagem para Leila.
Estarei aí em duas horas, coloque o vinho para gelar e me espere nua de quatro em cima da mesa. Vou comer você até que esqueça seu nome.
Envio a mensagem e antes mesmo que ela me responda, volto a guardar o celular no bolso.
- Gabi, chega aí cara! - Ricardo acena com a mão para me juntar a ele em um grupo de amigos.