/0/11955/coverbig.jpg?v=58840ab73f601808dcf377e4d410edb0)
Anna...
Alguns dias se passaram e consegui acalmar meu coração, sabia que seria impossível esquecer de Karl, mas essa distância estava fazendo as coisas voltarem ao seu lugar, mesmo sem conseguir esquecê-lo, pois bastava desocupar a minha cabeça que a sua lembrança vinha com toda força. Era como um vício, sentia que precisava viver um dia após o outro e tentar esquecer.
Mas o destino parecia estar contra mim, tentava fugir de todas as formas dos encontros com Karl, até que certo dia, ao chegar na ONG me deparo com uma organização de festa de aniversário, com direito a bolo e balões verdes. As crianças estavam eufóricas e Thyna logo veio me explicar.
_ Oi Anna, estamos organizando uma festinha para o Karl, hoje é seu aniversário e uma das crianças trouxe bolo.
Assustei na hora, pois pelas minhas contas Karl tinha que ir à ONG somente amanhã. Foi quando Thyna continuou.
_ Lucas descobriu que hoje seria o aniversário de Karl e o convenceu a mudar o seu dia, pois queria comemorar o seu aniversário com ele. E como Karl tem um carinho muito grande por Lucas e não recusou o seu pedido. Não pensei que isso fosse te incomodar, por isso não te avisei.
_ Nossa Thyna, devia ter me avisado.
_ Como eu poderia Anna, não sabia que estava com algum problema com Karl. Aliás, você está? Me desculpe, mas nem passou por minha cabeça.
_ Não é nada demais, mas acho melhor eu ir.
Mesmo sabendo que era seu aniversário não estava preparada para encontra-lo ainda. Precisava ir antes que ele chegasse, mas antes que pudesse me aproximar da porta, senti meu coração disparar e logo em seguidas as crianças começaram a bater palmas e vi Karl entrar na sala. De farda como de costume e com um sorriso largo e com uma alegria que fez seu coração pulsar. Lucas correu em direção a Karl, mesmo sem abraçá-lo demonstrou toda sua empolgação.
Lucas era uma das crianças que Karl cuidava e desde que começou o seu trabalho com ele, a sua evolução foi enorme. Lucas era muito retraído, não gostava de aproximação, mas ele tinha uma cumplicidade com Karl e isso fazia com que conseguisse se envolver mais com as pessoas e mesmo sem permitir toque, ele conseguia estabelecer uma relação de confiança com Karl. Lucas chamou atenção de Karl para que pudesse ver o bolo que ele havia levado, era um bolo todo decorado com tema militar, além dos balões verdes do mesmo tom do bolo. Lucas começou a bater palmas indicando que queria que acompanhássemos com os parabéns para Karl. Que ficou maravilhado com tanto carinho. As crianças eram uma empolgação só.
Karl estava tão empolgado que não me viu, até que Nina o pegou pela mão e o trouxe até o meu lado. Nina também era uma das crianças que trabalhávamos e era incrível a sua sensibilidade, era como se soubesse que eu tinha sentimentos por Karl, pois sempre que podia ela nos colocava juntos.
_ Oi Anna, que bom que você também está aqui hoje.
_ Oi Karl, feliz aniversário para você! Que gracinha essa surpresa que Lucas preparou.
_ Ele é muito esperto, ele me ouviu falar sobre o meu aniversário e pediu que eu estivesse aqui hoje, não tive como recusar um pedido dele, mas nem passou pela minha cabeça que ele fosse organizar algo assim.
_ Ele gosta muito de você Karl, e essa foi a maneira que ele encontrou para dizer o quanto você é importante para ele.
_ Sim eu sei. Fiquei muito feliz e mais ainda por ver você aqui também. Fiquei preocupado com você Anna, a última vez que nos vimos você foi embora sem dizer nada, aconteceu alguma coisa?
_ Não, nada de importante. Desculpe eu ando muito apertada com esse período da faculdade, preciso focar em meu TCC pois minha bolsa na pós está dependente da minha nota final.
_ Entendo. E foi por isso que você mudou os seus dias aqui na ONG?
_ Sim, precisei mudar.
_Anna...
Antes que Karl pudesse continuar Lucas chamou por ele e aproveitei para sair. Dessa vez Karl não mandou mensagens e não precisei me explicar. No caminho para a faculdade pensei em Karl, era seu aniversário e não pude lhe dar nem um abraço. Como queria ter ficado e comemorado com ele esse dia que é tão especial. Como as crianças gostam dele, foi lindo ver o sorriso de Karl ao perceber a festinha surpresa. Infelizmente esse encontro me fez perceber que essa distância não mudou em nada o que sinto por ele e bastava ele se aproximar para meu coração disparar. Não vai ser nada fácil continuar.
Primeiro Beijo
Anna...
Os dias se passaram e Karl respeitou a distância que impus mesmo sem saber o motivo. Não tentou mais se aproximar, não ligou, não enviou mensagens, apenas aceitou a situação e quando nos víamos na ONG era apenas um olá, o velho e seco olá. Por mais que aquela situação me incomodasse, era assim que tinha que ser, não podia estar perto dele, pois o meu coração queria mais e eu sabia que o que eu queria não poderia existir. Não tentei saber o que Liana era de Karl, pensar que ela era sua namorada me fazia seguir adiante sem querer me aproximar. Precisava tirá-lo do meu coração e a distância era a forma que encontrei para isso acontecer.
Resumi os meus dias ao estágio, faculdade e o meu trabalho com as crianças na ONG, até receber um convite na faculdade para comemorar o aniversário de uma colega de turma, a Carla. Festas não era o meu estilo e eu não estava animada, mas insistiram tanto que me convenceram, afinal eu nunca participava de nada e talvez eu estivesse realmente precisando de me distrair um pouco.
Era sexta – feira e o pessoal ficava super agitado com essas comemorações, seria num Lounge próximo de casa e como eu não estava em condições de balada, aproveitei para correr em casa e melhorar um pouco a minha imagem. Afinal eu havia corrido o dia todo e não tinha condições de sair como estava. No caminho para casa pesquisei no Instagram e vi que realmente era próximo de casa, além de ser um lugar muito elegante.
Cheguei em casa, tomei um banho rápido e aproveitei para lavar os meus cabelos, a noite não estava fria então não teria problema em deixá-los molhados. Os meus cabelos eram longos e cacheados e na maioria das vezes ei os mantinha presos, pois facilitava o meu dia a dia. Hidratei o meu corpo, vesti um vestido preto frente única que dava uma boa realçada nas minhas curvas, fiz uma maquiagem leve, passei um perfume e fui ao encontro da turma.
Carla conseguiu entradas VIP então por isso não precisamos esperar na fila para entrar. O fato de ser perto de casa me animou, pois poderia ir embora sem problemas independente do horário. Não que eu estivesse pensando em ficar muito tempo, mas vou me permitir aproveitar um pouco já que estou aqui. Ao chegar fiquei um pouco desconfortável com o pessoal, não me sentia 'sexy', mas os meninos estavam um pouco saidinhos para o meu gosto. Talvez a roupa que pus tivesse despertado um pouco mais de atenção do que eu imaginada e foi impossível não perceber os olhares quando cheguei. Até Hugo se aproximar;
_ Uau Anna, com certeza vamos insistir mais vezes para você sair com a gente. Você nem parece a mesma pessoa, puta que pariu, como você fica diferente fora da sala de aula, você deveria sair desse papel de aluna dedicada mais vezes e assumir esse lado mulherão, você está uma gata.
Apenas sorri, pois não me sentia bem com esses elogios. De certa forma esse assédio me incomodava e me trazia lembranças que pretendo deixar bem guardadas no meu passado. Hugo ficou ao meu lado o tempo todo, Carla estava animada e não saia do lado de Marcelo, não sei se está rolando alguma coisa entre eles, mas era nítido que Carla estava interessada. A noite estava agradável, no bar tinha uma banda com música ao vivo, mesmo sem jeito aproveitei para dançar um pouco com o pessoal, estava conseguindo me divertir, até bebi um pouco, a casa tinha uns drinks maravilhosos, mas não exagerei, pois não sou muito resistente a álcool. Estava tudo indo bem, até que senti o meu coração disparar, as minhas mãos suavam frio e Hugo que estava próximo de mim percebeu que não estava bem.
_ Anna, o que foi? Você ficou pálida de repente.
Eu também estava sem entender, até que vi que Karl tinha acabado de chegar acompanhado de dois colegas. Não sei como o meu corpo reage assim a presença de Karl, antes mesmo de vê-lo, posso sentir a sua presença. Como sempre ele estava lindo, todo vestido de preto e com um sorriso maravilhoso. Ele não percebeu a minha presença e foi para o outro lado, o que me fez ficar mais tranquila. Hugo não percebeu o motivo da minha inquietação e insistiu que eu não estava bem.
_ Anna, quer se sentar um pouco? - Indagou preocupado com a minha reação.
Meio amém jeito tentei disfarçar.
_ Há, é. Sim, Hugo, vamos sentar um pouco. Acho que a minha cabeça girou, talvez tenha exagerado na bebida. - Tentei justificar o meu mal-estar.
_ Venha, vamos sentar ali com o pessoal. - Hugo me puxou pela mão e me acompanhou até a mesa onde estava algumas pessoas na turma, buscou um pouco de água para mim e ficou ao meu lado, até eu me sentir melhor.
Ficamos um tempo conversando, até ele me chamar novamente para dançar. Estava um pouco incomodada com a presença de Karl, mas acho que ele realmente não me viu, como fui para me divertir um pouco, tentei não me abalar com a sua presença. Hugo não parava de me elogiar, não tentou nada comigo, mas ficou todo tempo ao meu lado. Estávamos todos dançando, até Carla pedir a banda para tocar algumas músicas em homenagem ao seu aniversário, ela era vidrada em bandas internacionais dos anos 90 e como eram músicas românticas, os casais foram se formando de imediato, mas Hugo afastou-se, disse que não era o tipo de música que curtia dançar e ia aproveitar para ir ao banheiro. Eu estava me preparando para sair, quando ouvi o meu nome.
_ Anna...
Nem precisei virar para saber de quem se tratava, pois a reação do meu corpo era automática. Senti um arrepio quando o ouvi falar;
_ Eu estava esperando o momento certo de me aproximar de você, vi que estava acompanhada e não quis causar nenhum mal-estar. Esperei a noite toda para me aproximar e agora que vi que ele se afastou logo nessa música, imaginei que não tivessem nada e deduzi que fosse apenas um colega, afinal se tivessem algo ele não te deixaria sozinha logo agora, não é mesmo.
_ O quê você acha, podemos dançar essa música?
Eu estava perdida com aproximação e tentei me desculpar para ir embora;
_ Desculpe Karl, mas ia aproveitar para ir embora, já esta tarde. Acho melhor...
Antes que pudesse terminar a frase Karl interrompeu-me;
_ Uma única música Anna, apenas uma música. Para me compensar todo tempo que fiquei a admirar você. Vi você quando cheguei, mas percebi que você ficou sem graça com a minha presença, por isso dei-lhe espaço. Mas dançar essa música comigo não deve ser assim tão mau, ou é?
Fiquei sem reação e quando percebi Karl já estava me envolvendo no seu abraço e me puxando para junto do seu peito e me conduzindo ao ritmo da canção (As Long as You Love Me dos Backstreet Boys). Ele cheirava maravilhosamente bem e não resisti, naquele momento tive certeza que todo esforço que tinha feito até hoje para ficar longe dele foi em vão. Definitivamente era impossível tirá-lo do meu coração, seu toque, seu cheiro, eu estava entregue. Fui envolvida num abraço firme, mas, ao mesmo tempo suave, Karl me conduzia como se naquele momento fossem apenas os dois. Permiti me levar, estava embriagada por seu perfume, durante toda canção fiquei em transe, era como se tivesse saído do meu corpo, não sei quantas músicas dançamos, só voltei a mim quando ouvi Hugo chamar.
_ Anna, iremos cantar parabéns para Carla. Você vai?
Hugo falou sem ao menos olhar para Karl, parecia desconfortável. Aproveitei para me soltar dos braços de Karl, era o momento perfeito para voltar à minha realidade. Mas antes que pudesse dizer algo, Karl se antecipou.
_ Algum problema se eu for com vocês?
Hugo pareceu irritado, mas sinalizou que tudo bem e foi em direção a mesa onde todos estavam reunidos. Não podia continuar tão próxima de Karl e tentei sair.
_ Desculpe, mas eu preciso ir, já está muito tarde.
Mas Karl não permitiu que saísse, segurou no meu braço e antes que pudesse dizer algo ele falou.
_ Anna o que foi?
Respirei e tentei parecer o mais convincente possível.
_ Não houve nada, estou apenas cansada, por isso prefiro ir embora.
Queria explicar a situação para Karl quando pudesse, mas aquele não era o momento por isso queria ir embora. O seu telefone tocou e aproveitei para sair. Corri em direção a portaria com o celular na mão na tentativa de encontrar um Uber, mas fui alcançada por Karl.
_Desta vez você não vai embora, espera um pouco. Falou Karl segurando – me mais uma vez pelo braço.
_ Karl, por favor preciso ir. -Tentei me soltar e sair, mas ele me puxou mais para perto.
_ Tudo bem, mas me deixa pelo menos te levar, está tarde para você ir para casa sozinha.
_ Obrigada Karl, mas não estou longe de casa, já estou pedindo um carro aqui, não quero incomodar você
_ Anna, não vou deixar que você vá sozinha, você bebeu, já são quase três horas da manhã e nesse horário duvido que consiga um carro tão fácil assim. Vamos eu levo você.
Ainda me segurando pelo braço, Karl me conduziu até o estacionamento.
_ Só um minuto, vou pegar meu carro. E por favor não fuja.
Esbocei um sorriso e Karl saiu apressado para pegar o carro. O seu carro era preto e brilhava como os seus olhos, não sei qual modelo, pois entendo pouco de carro, mas era imponente com Karl. Entrei no carro e o perfume de Karl se espalhou por todo carro, meu corpo que reagiu na mesma hora, me fazendo tremer. Karl percebeu e perguntou se estava muito frio e apenas acenei que não. Expliquei onde morava e o restante do caminho fiquei em silêncio. As minhas mãos ainda suavam frio, as minhas pernas tremiam e era óbvio que Karl percebia aqueles sinais, tentei disfarçar, mas era em vão. Até que o silêncio foi quebrado por ele;
_ Anna você se afastou de mim e se foi algo que fiz, peço que me desculpe.
Não conseguia entender como Karl mexia tanto comigo, algumas palavras eram com uma faísca prestes a incendiar o meu coração, me sentia acuada e não sabia como explicar os meus sentimentos, não sabia o que dizer e preferi ficar em silêncio. Karl não insistiu, para quebrar o clima que ficou ligou o som do carro e por coincidência tocou a música que havíamos dançado, e eu apenas me concentrei na letra;
"Não me importa quem você é
De onde você veio
O que você fez
Desde que você me ame
Não me importa quem você é
De onde você veio
Não me importa o que você fez
Desde que você me ame"
Sabia que essa música era de uma banda dos anos 90 e apesar de já tê-la ouvido nunca tinha parado para prestar atenção na letra, até hoje. Os meus pensamentos ficaram presos na letra da música e eu estava tentando entender como tinha me tornando tão dependente dele. Eu sabia que precisava me afastar, mas não sabia como, como dizer que estava me afastando porque estava apaixonada, como dizer que não sabia o que fazer com esse sentimento, como dizer que tudo isso era por medo e por saber que ele tinha alguém na sua vida, eu realmente não sabia o que fazer, a não ser, tirar esse sentimento do meu coração antes que fosse tarde demais. Inerte nos meus pensamentos nem percebi que já estava em casa, até ouvir a sua voz que penetrava na minha alma;
_ Chegamos! E, desculpe-me mais uma vez. Não sei o que fiz que para ter deixado você tão chateada comigo, queria muito que pudéssemos voltar a ser amigos, sinto falta de conversar com você e as crianças sentem falta das atividades que fazíamos juntos na ONG.
Não estava preparada para ouvir isso de Karl, e a minha única opção foi dizer que estava apertada com a faculdade.
_Karl, acho melhor deixar as coisas como estão, estou muito ocupada e não posso perder o foco da faculdade nestes próximos meses. Agora preciso ir, obrigada pela carona.
Sei que não fui convincente, mas era isso que podia dizer. Fiz menção de sair do carro e antes que pudesse abrir a porta, senti as mãos de Karl, segurando mais uma vez o meu braço, me impedindo de descer, virou – me para o seu lado e antes que pudesse esboçar qualquer reação tomou os meus lábios num beijo necessitado.
Não estava esperando que Karl pudesse me beijar e quando percebi já estava envolvida naquele beijo, e mesmo que quisesse sair acabei me rendendo, pois, inconscientemente esse beijo era o que eu desejava. Os seus lábios eram macios, o seu beijo suave e apesar de toda confusão de sentimentos e todo arrepio que o seu toque me causava, Karl me trazia segurança.
Sonhei com esse beijo desde a primeira vez que o vi e foi exatamente como imaginei. Um beijo intenso, mas, ao mesmo tempo, suave, que demonstrava necessidade e, ao mesmo tempo, cuidado. Parecia que ele queria me dizer algo com aquele beijo. Ele segurava o meu rosto num gesto desesperado para que eu não me afastasse, mas não tinha força, apenas um sinal de que me queria ali ao seu lado. A proximidade do seu corpo só confirmava que eu estava entregue aquele sentimento, era como se já tivéssemos vivido aquele momento, não era um primeiro beijo, era mais um reencontro. Ficamos ali alguns minutos, até que o ar foi necessário e tentei me afastar, mas Karl não permitiu.
_Não foge de mim Anna, não agora.
Ele me envolveu num abraço que me fez sentir protegida e amada, e mesmo que a razão me dissesse para resistir, meu coração estava tão certo de que aquele era o lugar onde eu queria estar que mais uma vez eu cedi. Foi como se o tempo tivesse parado e tudo ao nosso redor desaparecido, era só eu e ele. Karl me abraçou ainda mais forte e sussurrou em meu ouvido que queria me ter por perto por muito tempo, e eu sabia que também queria o mesmo, mas a minha cabeça gritava que não estava certo. Por mais que eu o amasse, eu nunca o aceitaria sabendo que existe outra pessoa em sua vida, então reuni toda força que ainda me restava o afastei e disse que precisava ir. Karl relutou em me soltar, mas não me forçou, selou ainda minha boca com um beijo e se afastou, eu não tive forças para encará-lo, apenas me virei e sai. Sai consciente de que esse beijo não poderia ter acontecido, como eu ficaria a partir daquele momento?