Capítulo 5 5º capítulo – Coisa Certa

Raul...

_ Karl, cara! Achei que você ia perder o voo. Viu as horas? Se não desse tempo, estávamos ferrados, como iríamos explicar? Seria punição na certa. Vem, vamos logo fazer o 'check-in' e me conta o que aconteceu. Pela sua cara já vi que aquela ela não aceitou fácil. Mas não é de hoje que te aviso, se tivesse me ouvido há 7 anos, hoje não estaria passando por isso.

Karl...

Raul é um grande amigo, estudamos juntos, servimos o exército juntos e ele esteve ao meu lado nos meus piores dias. São 12 anos de amizade e sem ele, não teria passado tudo que passei. Quando Cauã morreu ele se virou em mil para segurar a minha barra no quartel, se não fosse ele, não teria chegado onde estou hoje. Devo muito a ele, Liana acha que sem ela não teria conseguido, mas grande parte de ter superado foi graças a Raul. Só não falo isso com ele, pois ele se acha.

_ Cara, a Liana é difícil para caralho, nunca pensei que fosse tão difícil terminar com ela.

_ Quer dizer então que vocês terminaram?

_ Eu, sim, mas ela disse que não. Por um lado, me sinto mal por ela, afinal são sete anos de relacionamento e sei que ela tinha expectativas. Tanto que ela me cobrou isso hoje.

_ Cobrou, como assim cara? Você foi terminar com a menina e ela cobrou casamento? Essa mina é doida mesmo.

_ Para você ver como foi. Nunca chegamos a falar sobre casamento, mas sei que ela estava esperando meu pedido. Gostava dela, mas nunca senti que seria com ela que quisesse passar toda a minha vida. Sei que a culpa é minha por deixar que ela alimentasse esse sentimento, mas, por mais que eu seja grato por tudo que ela fez, não dava mais. Eu já não queria mais estar com ela e depois que conheci a Anna, tive certeza que não era ela a mulher da minha vida.

_ Nunca foi ne cara, você que não via. Vocês não tinham nada a ver, Liana é fútil para caralho, mas não é isso que quero saber. Como ela reagiu, quebrou um vaso na sua cabeça? O que você falou com ela? Falou sobre a Anna? Falou que está apaixonado por outra?

_ Raul você tá igual uma velha fofoqueira cara. _ Raul ficava igual uma velha querendo saber detalhes de tudo.

_ Cara, claro que não envolvi a Anna nesta história? E outra, quem te falou que estou apaixonado? A Anna mexeu comigo, sim, mas eu estar apaixonado, você está doido?

_ Conta outra, Karl, para cima de mim irmão, quantos anos sou seu amigo, te conheço bem. Claro que você está apaixonado, só não quer admitir. Mas está bom, para de enrolar e me fala como foi.

_ Então cara, depois que conversamos ontem eu praticamente não dormi, fiquei pensando que o melhor a fazer era realmente terminar com ela. Fui para casa dela cedinho hoje, e quando cheguei ela agiu daquela forma que você já sabe, como se estivéssemos bem, como se não tivesse acontecendo nada. Ela já sabia o que estava fazendo lá, mas era como se não soubesse.

_ Normal, sempre foi assim. Era só alguma coisa acontecer que ela agia como se nada tivesse acontecendo.

_ Pois é. Falei que precisava falar com ela, ela ignorou, me chamou para tomar café, falou que a minha sogra tinha feito bolo que eu gostava. Tudo para mudar o foco. Falei que tínhamos que conversar e ela me ignorando. Até que puxei ela pelo braço e a sentei no sofá. Sabe que não gosto de ser grosso, mas não tive jeito.

_ Você sempre foi paciente com ela e ela sempre testou você.

_ Então, eu sentei ao lado dela e falei que sabíamos que as coisas não iam bem, ela falou que não tínhamos problema nenhum e começou a falar que eu estava mal ainda devido à morte do Cauã.

_ Porra, cara. Ela sempre faz isso, é só o caldo engrossar para o lado dela que é sempre o mesmo. Já te falei o quanto ela te manipula com isso. Essa ferida fica sempre aberta por isso cara, como pode, ela sabe tudo que você passou e ainda assim usar a morte do seu irmão. Eu falo que você tem paciência demais com ela. Mas e aí.

_ Aí eu falei que chega, que eu não ia deixar ela usar mais a morte do Cauã para me manter ao lado dela. Que eu era grato por tudo que ela fez por mim e por minha mãe, mas que não dava mais. Aí ela surtou, falou que eu não podia falar com ela dessa forma, que eu sabia tudo que ela tinha feito por mim e que eu não podia simplesmente dizer que acabou. Te confesso que quase voltei atrás, cara pensar em tudo que vivi com a morte do Cauã, se não fosse a Liana e você eu não teria me levantado. Foram meses na sarjeta e ela estava lá do meu lado. E além do mais ela está segurando uma barra agora com a doença da mãe.

_ E isso é motivo para viver ao lado de alguém, por gratidão? Você acha que isso faz bem para ela? Por mais que ela não queira enxergar, não faz. Olha cara, não queria estar na sua pele, sei tudo que você passou, sei tudo que ela passa também com a doença da mãe, mas vocês não vivem um relacionamento há muito tempo, tem meses que vocês nem fazem sexo, que relacionamento é esse? Ela é maior gata e mesmo assim você não tem tesão nela. Enquanto a Anna, você jogou a mina no chão e o seu pau só de encostar na garota acordou na hora.

_ Porra, Raul, precisa falar assim? Não sei ainda porque te conto essas coisas.

_ Foi mal cara, mas é para você acordar. Olha o estado do seu namoro.

_ Sei que você tem razão, mas mesmo assim é foda. Mas eu falei que quase voltei atrás, mas não voltei. Fui firme, falei que não tinha mais conversa e que eu já tinha decidido e que tinha acabado. Mas sei que não vai ser fácil assim, virei as costas e ouvi ela gritando que isso era o que eu pensava. A reação dela não foi boa, por isso acho melhor ela nem pensar que a Anna está na minha cabeça, pois não sei o que ela pode fazer.

_ Ela é baixinha, mas é perigosa. Você está é fudido. Vamos cara, chamou o nosso voo.

Decisão

Karl...

Embarquei com Raul e como era de se esperar o avião nem decolou e ele já estava dormindo, ele não admite, mas morre de medo de voar, já percebi até que ele toma remédio, mas ele nunca vai admitir isso para mim.

Ficar um tempo longe vai ser bom, espero que Liana coloque a cabeça no lugar e perceba que foi o melhor. Não dava mais para continuar e Raul como sempre tem razão, já tem meses que nem encosto nela e no começo não podíamos, nem ficar perto que já soltávamos faísca. Estávamos juntos desde o ensino médio e ela sempre demonstrou interesse em mim e foi ela que fez de tudo para ficarmos juntos, ela é linda, sempre foi, era popular e isso acabou me chamando atenção nela. Sei que sempre foi manipuladora, tanto que Raul nunca gostou dela, mas ele nunca atrapalhou o meu relacionamento, apenas me pedia para abrir o olho. Depois da morte de Cauã, ela esteve sempre ao meu lado, mas mesmo antes eu já não estava tão bem com ela, já não queria mais estar junto e nos últimos meses nem se quer a toquei, não sentia mais nada e agora percebo que essas mudanças foram logo depois que vi a Anna na ONG.

Como ela é linda, foi o que disse a primeira vez que a vi, neste dia cheguei a ONG e logo quando entrei no espaço de recreação, Nina me abordou, levando-me até Anna. Nunca entendi essa ligação que Nina tem conosco, pois ela sempre tenta nos colocar juntos. Quando vi Anna sentada com as crianças percebi o quão linda ela era, Lucas estava encantado com os seus cabelos, pois pareciam molas, ela estava tão entregue àquelas crianças que parecia que já trabalhava com eles a anos. Fiquei parado ali admirando a sua beleza e o carinho que ela oferecia às crianças. Desde então sinto algo diferente toda vez que a vejo. Nunca havíamos conversado, no máximo nos cumprimentávamos e nada mais, eu faço a admirando e percebia que o meu corpo reagia a ela, mesmo à distância. Além dos cabelos cacheados que eu achava lindo, Anna tinha um corpo maravilhoso, a sua cintura fina acompanhava aquela bunda arredondada e muitas vezes me peguei pensando como seria tê-la na minha cama, um pensamento que não era comum para mim, pois nunca vi uma mulher como objeto ou apenas como satisfação sexual, mas Anna mexia comigo em todos os sentidos, mas não era só sexual, o meu corpo reagia de uma forma diferente a presença dela.

Agora sei que só consegui manter a minha relação com Liana até agora porque nunca havíamos nos falado, nunca tive a oportunidade de me aproximar dela para conversarmos, na ONG o seu tempo era exclusivo para as crianças. Mas quando a vi correr naquele dia, confesso que nos trombamos e a culpa nem foi dela, eu estava tão fissurado nela que nem percebi o quão próximos estávamos. Quando nos chocamos, senti o meu corpo queimar, o meu pau enrijeceu instantaneamente e a minha vontade foi de beijá-la ali mesmo, mas ela ficou tão assustada, que pensei que estivesse sentido algo, mas ela fugiu de mim, nem quis que eu a acompanhasse na enfermaria. Só sei que senti o meu corpo reagir na hora que encostei nela, incrível como o contato com ela eletrizou todo o meu corpo. Depois disso não consegui mais tirá-la da minha cabeça. Poder estar perto dela era como se um fôlego novo de vida tivesse soprado para mim, fazer as atividades da ONG com ela e as crianças era ainda mais satisfatório. Até ela se afastar. O que me fez pensar que ela também sentia algo por mim.

Dei a distância que ela impôs, pois mesmo não falando sabia que ela sentia alguma coisa, dava para ver nos seus olhos, além disso sentia que o seu corpo também regia a minha presença, via ela se contorcer ao meu lado. Eu até tentei me manter distante, pois não queria deixá-la desconfortável, mas o destino nos colocava frente a frente, vê-la ao chegar no bar aquele dia foi demais para mim, ela estava mais linda ainda, não parecia uma menina, era uma mulher e que bela mulher, aquele vestido preto justo que modelava o seu corpo, e eu não consegui tirar o olho dela a noite toda. Vi que estava acompanhada e confesso que o meu sangue ferveu quando vi a cara do babaca, parecia que ele queria despi-la ali mesmo, eu nunca fui de sentir ciúmes, mas quando vi a maneira que ele olhava para ela, senti vontade de arrancar os olhos dele, Anna despertou um sentimento em mim, que jamais tinha sentido.

A minha vontade era tirá – la dali e levá-la para longe de todos aqueles olhares, que não podiam ser de outra coisa, se não desejo.

Foi difícil para mim esperar o momento certo para me aproximar e nada foi mais propício do que a mudança de música, o cara que estava com ela afastou-se, deu mole e perdeu terreno. Somente um idiota se afastaria naquela hora, mesmo que não fosse intenção dele dançar aquela música, deixá-la sozinha ali é pedir para perder a garota. Não pensei duas vezes e cheguei perto dela, percebi que ela ficou incomodada ao ver-me, mas mesmo assim a chamei para dançar, não deixei que ela respondesse e logo a puxei para meus braços. Senti-la tão perto de mim foi uma agonia, pois só do contato com o corpo dela meu pau acordou, senti arrepios por todo o corpo e agradeci por estar com uma calça justa, que apesar do volume, dava para disfarçar a minha ereção, mas tenho certeza que ela sentiu. O meu corpo queimava sentindo o dela, o seu perfume era adocicado, mas não era um doce enjoativo e o cheiro do seu cabelo tudo combinava fazendo aquela menina ser ainda mais perfeita. A minha vontade era levá-la dali, mas sabia que não estava certo. Então me contive e me concentrei naquela dança, não sei quanto tempo dançamos até ver o cara que estava com ela se aproximar e fazer novamente o meu sangue ferver, mas eu estava determinado a não deixar ele afastá-la de mim.

Ele chegou com cara de poucos amigos e tentou levá-la para perto de outras pessoas que estavam com eles com a desculpa de cantar parabéns, me convidei para ir junto para não me afastar dela, eu precisava do seu contato, precisava da sua presença e não estava disposto a me afastar tão cedo dela. Ela falou que não queria, que precisava ir embora e quando viu o meu telefone tocar, aproveitou para sair. Quase a perdi de vista quando o meu telefone tocou e apesar de ver que era Liana, a ignorei pois queria estar com a Anna e por isso consegui a alcançar quando saia do bar. Custei convencê-la que poderia levá-la em casa, mas apesar de ter aceitado não quis conversar, ficou em silêncio durante todo o caminho, limitando -se apenas a me dizer o caminho. Ela estava nervosa, suas mãos tremiam e apesar de dizer que não estava com frio, imaginei que ela talvez pudesse estar reagindo a minha presença da mesma forma que eu reajo a ela.

Tentei conversar, mas ela não me respondeu e quando paramos em frente ao prédio que morava não resisti e acabei fazendo o queria desde a hora que a vi naquele bar, não permiti que ela saísse do carro e a beijei. Beijei como nunca havia beijado alguém nestes 25 anos da minha vida, mas não foi um primeiro beijo, era como se já tivéssemos vivido aquele momento, o nosso beijo pareceu mais um reencontro.

Anna tinha os lábios tão macios e se entregou naquele beijo com a mesma necessidade que eu. Não sei porque, mas precisava estar com ela e depois desse beijo tinha certeza que nada mais na minha vida seria igual, por isso Liana precisa entender que acabou, tenho que seguir firme com a minha decisão e para isso Liana precisa entender que não existe mais nós. Preciso da Anna e par que ela fique aí meu lado, Liana não pode ser obstáculo.

É acho que mais uma vez Raul tem razão, estou apaixonado por Anna.

                         

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