Eu estava sentado em minha sala enquanto flashes da noite passada atormentavam a minha mente. Pensei naquela mulher tão misteriosa e decidida, no gosto, no olhar, no rebolado. Ela tinha me enfeitiçado e eu precisava encontrá-la novamente. Eu não sou do tipo que me apego e só queria encontrar ela mais uma vez para termos mais uma noite como essa. Ela de fato era diferente das outras e eu precisava ter aquela mulher na minha cama gemendo o meu nome. Precisava saber o nome dela e tê-la mais uma vez. Começo a lembrar dela e acabo me empolgando um pouco demais. Sou tirado de meus pensamentos quando o Daon entra na sala. Ele já estava há três meses fora e havia voltado hoje pois à noite teríamos um show. Ele estava muito misterioso e disse que iria surpreender a todos quando voltasse.
- Olha só, quem é vivo sempre aparece! - disse Jaehoon.
- Claro! Mas o que é isso? Isso é uma lanterna no seu bolso ou você está feliz em me ver? - respondeu Daon, rindo.
Eu acabei rindo e ajeitei minha calça tentando disfarçar.
- Foi mal, quando você entrou eu estava pensando em uma gostosa que eu fiquei essa noite - expliquei.
- Ah, qual delas? - perguntou Daon, curioso.
- Não sei, ela não quis dizer o nome dela, mas era uma mulher totalmente diferente de todas que já vi - respondi, ainda intrigado.
- Como assim? - perguntou Daon, surpreso.
- Essa era decidida, sabia o que queria e era tão safada que me deixou louco. - respondi, com um sorriso malicioso.
- E qual a diferença? Todo dia você está transando com uma diferente. - comentou Daon, levantando uma sobrancelha.
- Não. Nenhuma foi tão boa quanto com ela. Eu preciso achar aquela mulher! - disse, determinado.
- Bem, boa sorte! Eu também achei uma mulher especial - confessou Daon, sorrindo.
- Logo você que é todo seletivo e não pega ninguém? - perguntei, surpreso.
- Também não é assim. Enfim, todo mundo está me julgando mas eu espero que você não faça o mesmo, você é o meu melhor amigo e eu espero que me apoie. - disse Daon, sério.
- Claro, espera, apoiar em que? - perguntei, curioso.
- Eu me casei. Em Vegas. - respondeu Daon, com um sorriso tímido.
- O quê? - perguntei, incrédulo.
Eu estava surpreso, porém fiquei muito feliz por ele. O Daon era do tipo que pensava demais e acabava sempre ficando sozinho, ele dizia que não queria transar com qualquer uma e sempre se magoava por valorizar demais as mulheres com quem ele se relacionava, mulheres essas que brincavam com os sentimentos dele.
- Sério? - perguntei, ainda surpreso.
- Sim, eu conheci ela no meu primeiro dia nos Estados Unidos, naquela festa em que eu fui participar. Nós saímos de lá juntos e passamos a noite inteira conversando. Eu me abri com ela e contei coisas que acho que nem você sabe. Fizemos amor sob a luz das estrelas e depois daquela noite não nos desgrudamos mais. Na hora de vir embora eu não consegui me despedir, então pedi ela em casamento e nos casamos em Vegas. - explicou Daon, com um brilho nos olhos.
- Nossa, isso é, surpreendente! - respondi, ainda assimilando a informação.
- Eu sei que foi loucura, mas eu estou muito feliz! - disse Daon, sorrindo.
- Bem, eu tô chocado, mas se você está feliz então eu também estou feliz e hoje à noite depois do show vamos comemorar o seu casamento! - declarei, animado.
Somos interrompidos por uma batida na porta e o Daon dá um sorriso bobo.
- Entra amor! - disse Daon, alegre.
Quando a porta se abriu eu fiquei completamente estático. Eu estava sem saber o que fazer ao ver a mulher em quem eu havia pensado a noite toda em pé na minha sala nos braços do meu melhor amigo. Ela me olhou e parecia estar tão perdida quanto eu. Ele a beijou e a apresentou como sua esposa e naquele momento meu mundo caiu. Como assim a mulher que eu queria era a esposa do meu amigo? Ela pareceu sair do transe e forçou um sorriso logo estendendo a mão para mim enquanto fingia que não me conhecia.
- Oi, prazer em conhecê-lo, o Daon falou muito sobre você! - disse Keila, tentando soar casual.
Eu me levantei pegando a mão dela e senti uma eletricidade percorrer o meu corpo quando minha pele tocou a dela.
- O prazer é meu! - respondi, com um sorriso forçado.
- Amor, o Jaehoon falou que depois do show vamos sair todos juntos para comemorar o nosso casamento. - disse Daon, animado.
Ela olhou para ele e seus olhos brilharam. Não sei dizer o porquê, mas aquilo me irritou de uma forma que eu não estava sabendo explicar.
- É amor? Que bom! Eu sempre quero comemorar nosso casamento pois foi a melhor coisa que me aconteceu. - respondeu Keila, sorrindo.
Ele beija ela carinhosamente e meu sangue ferve. Aquela boca que a poucas horas atrás estava chamando por mim e implorando por mais.
- Eu tô muito animado pois esse vai ser o primeiro show meu que a Keila vai assistir. - disse Daon, orgulhoso.
- E eu tô mais empolgada ainda, tô doida para ouvir meu marido cantar. - respondeu Keila, animada.
Alguém bate na porta e logo o Simon entra na sala. Quando ele vê o Daon, vai até ele o cumprimentando e o puxando para um abraço.
- Caramba, pensei que não voltava mais! - disse Simon, sorrindo.
- Eu sempre volto! - respondeu Daon, rindo.
- Olha e voltou bem acompanhado hein! Que moça bonita é essa? - perguntou Simon, curioso.
- Simon, essa é a Keila! Minha esposa! - respondeu Daon, orgulhoso.
- Esposa? Esposa? Ouviu isso Jaehoon? Nosso filho cresceu! - brincou Simon, rindo.
- Para de bobeira! - respondeu Daon, rindo.
- Olha só! Escolheu bem hein Daon? Olha só que linda! Ela não é linda, Jaehoon? - perguntou Simon, sorrindo.
Nossos olhares se cruzaram por um instante e ela corou levemente, me lembrando de seu rosto totalmente vermelho após todo o prazer da noite passada.
- É sim! - respondi, tentando manter a compostura.
- Olha, é um prazer conhecê-la, viu? Eu sou Simon e se você está fazendo meu amigo feliz eu já gosto de você de graça! - disse Simon, simpático.
- Muito obrigada! Também é um prazer conhecê-lo! - respondeu Keila, sorrindo.
- Agora, Daon, eu precisava mesmo da sua ajuda com urgência para uma nova música. Você teria um minuto agora? - perguntou Simon, sério.
- Agora, cara? - perguntou Daon, surpreso.
- É rapidinho! Keila, você me empresta o seu marido um pouquinho? - pediu Simon, rindo.
- Contanto que você devolva depois - respondeu Keila, sorrindo.
Ela sorriu e o Simon devolveu o sorriso.
- Aí eu já não prometo, acho que vou roubar esse gostoso para mim! - brincou Simon, rindo.
Todos riram e somente eu ainda estava confuso demais para achar graça em alguma coisa.
- Tudo bem mesmo se eu for, amor? - perguntou Daon, olhando para Keila.
- Claro, eu vou indo então - respondeu Keila, hesitante.
- Não, amor, me espera aqui só um pouco, em uns vinte minutinhos eu estou de volta. Aproveita para conversar com o Jaehoon para vocês se conhecerem um pouco mais! - disse Daon, sorrindo.
Mal sabia ele que eu já conhecia mais da mulher dele do que ele imaginava. Ela olhou para mim de relance e pude perceber que ela não queria ficar sozinha comigo. Ela concordou e ele deu um beijo nela logo saindo dali com o Simon. Quando eles fecharam a porta, o semblante dela mudou totalmente e ela escondeu o rosto entre as mãos.
- Que merda é essa? - perguntei, aproximando-me dela.
Eu levantei da minha cadeira indo até ela e ela ficou em pé na minha frente, seu perfume me inebriava e era surreal o quanto eu queria essa mulher mesmo sabendo que ela era de outro.
- Olha, eu posso explicar - disse Keila, nervosa.
- Eu espero que possa! - respondi, cruzando os braços.
- Eu amo o Daon! - afirmou Keila, com firmeza.
- Não foi o que pareceu quando você estava gemendo pra mim! - repliquei, irritado.
- Fala baixo! Isso foi um erro! - disse Keila, desesperada.
- Um erro? Eu fui um erro? - perguntei, incrédulo.
- O pior erro que eu já cometi na vida! Olha, ontem à noite aconteceu um mal-entendido entre o Daon e eu. Eu estava decidida a terminar tudo e voltar para os Estados Unidos. Eu só fiquei com você porque pensei que o meu casamento tinha acabado! - explicou Keila, desesperada.
- Foi só por isso? Não, não foi só por isso! Você quis ficar comigo. Você me desejou, eu sei disso, eu senti nos seus beijos, no seu olhar... - insisti, frustrado.
- Para! Para com isso! Aquilo não significou nada! Só o meu amor pelo Daon importa! - disse Keila, tentando manter a calma.
- Então o quê? Você enganou ele? Chegou em casa e disse que estava aonde? Na pracinha? - perguntei, irritado.
- Não! Eu não menti! Eu disse para ele que fiquei com um homem, mas que não tinha tido a menor importância. Eu contei a verdade e ele me perdoou! - respondeu Keila, tentando justificar.
- E você acha que ele vai te perdoar quando souber que o "homem" era eu? - perguntei, desafiador.
- Ele tem que entender, pois não significou nada - insistiu Keila, com os olhos cheios d'água.
- Como você pode dizer que não significou nada? - perguntei, perplexo.
- Jaehoon, eu nem sabia quem você era, nem sabia seu nome. Eu só transei com você porque estava muito triste com o Daon, além do mais eu tinha bebido - disse Keila, tentando se justificar.
- Não! Não joga a carta da bebida pois você sabia bem o que estava fazendo! - respondi, segurando seu braço.
- Me solta! Você está me machucando! - exclamou Keila, tentando se soltar.
Eu a soltei imediatamente, dando um passo para trás.
- E agora, Keila? Como é que a gente fica? - perguntei, com raiva.
- Não fica - respondeu Keila, tentando demonstrar frieza.
Ela tentava demonstrar frieza com seu olhar, mas seus olhos estavam cheios d'água.
- Olha, o Daon já me falou o suficiente sobre você para eu saber que você é do tipo que pega e não se apega, do tipo que fica com uma garota diferente todos os dias e depois nem lembra o nome delas. Não é mesmo? - disse Keila, com uma voz fria.
Ela estava descrevendo com precisão como era a minha vida e pela primeira vez isso me pareceu ofensivo. Eu sempre tive orgulho de ser como era, mas agora dei de ombros ao confirmar.
- É! - respondi, desanimado.
- Então pronto! Eu fui só mais uma das que você ficou por uma noite e não significou nada. Então vamos encerrar esse assunto e fingir que nunca aconteceu! - disse Keila, decidida.
- Se é assim que você quer - respondi, resignado.
- É melhor assim. Eu vou embora agora e quando o Daon voltar, por favor, diga a ele que eu fui embora pois estava com dor de cabeça - disse Keila, pegando sua bolsa.
Ela deu um último olhar para mim, cheio de dor e arrependimento, e saiu rapidamente pela porta. Eu fiquei ali, parado, sentindo um misto de raiva, tristeza e confusão. Meu melhor amigo estava casado com a mulher que eu não conseguia tirar da cabeça e que, pelo visto, também não conseguia tirar a mim da cabeça. E agora, como eu iria lidar com isso?