Capítulo 4 De volta ao lar

Já no aeroporto do Rio, Cecília desembarcou, passando pelo saguão seu coração acelerou com o pensamento reencontrar Diogo ali. Será que ele seria capaz de ir buscá-la, seus últimos encontros foram péssimos. Não se viam a quase um ano, a última vez foi no aniversário do pai, quando apresentou Lucas para a família. Diogo como sempre destratou Lucas na frente de todos, tomou um porre e quase estragou a festa do pai. Seu pai adorava as festas de aniversário, para ele, eram um acontecimento, suas festas eram badaladíssimas.

Seu aniversário de 60 anos seria em três dias, no próximo sábado, e teria uma comemoração à altura.

Cecília avistou seu irmão Francisco, um misto de alívio e decepção se passaram por seu coração. Diogo não tinha vindo.

- Ei maninha! Que saudades! - Disse Francisco já a envolvendo em um abraço.

- Também estou com muitas saudades seu moleque! Deixa pra eu te ver- disse se afastando do irmão.

- Nossa você cresceu desde a última vez que te vi, pra cima e para os lados. Que músculos são esses? - perguntou rindo e apalpando os braços do irmão.

- Estou treinando bastante maninha, já estou quase do tamanho do Diogo. - informou Francisco.

Cecília soltou um suspiro ao ouvir aquele nome e perguntou.

- E cadê ele? Papai disse que meu irmão iria me buscar, pensei que fosse ele.

- Ah qual é Ceci? Eu não sirvo? - disse rindo

- Claro que serve! É que nem sabia que já tinha carteira.

- Tenho carteira e carro, papai me deu de aniversário. Olha era para o Diogo ter vindo, mas ele arrumou uma viagem de última hora. Eu mesmo trouxe ele, entrou na área vip de embarque pouco antes de você chegar.

- É mesmo? Não quis nem me receber? - Disse Cecília tentando demostrar indiferença, mas com uma tristeza nos olhos.

- Sabe como ele é. Disse que estava atrasado e depois te dava as boas vindas.

- Tudo bem meu maninho preferido! Vamos logo que estou morrendo de saudades de casa. - Disse Cecília ficando na ponta dos pés para dar um beijinho na bochecha do irmão que abaixou um pouquinho para receber o carinho.

- Claro que sou o preferido, sou o único! Diogo não é seu irmão, esqueceu? - disse zombando

- Não, não esqueci. Mas gostaria.

- Não entendi Ceci.

- Ah deixa pra lá. Vamos logo, me ajuda com a bagagem, usa esses músculos pra alguma coisa útil.

Francisco levou as malas de Cecília e as colocou no porta-malas.

Seguiram para casa colocando o papo em dia.

Como aquele menino havia crescido, estava tão bonito, alto, loiro, com os olhos amendoados...

- Tão parecido com Diogo - disse em voz alta sem perceber enquanto observava o irmão.

- Todo mundo fala isso - disse Francisco rindo. - Mas eu sou mais bonito, não sou?

- Claro que é maninho. Mais bonito, mais simpático, mais alegre, mais extrovertido... - disse Cecília rindo. - Mas na verdade, pensou que ninguém era como Diogo.

- Não exagera! Mas vou chegar lá. Já já vou fazer tanto sucesso com as gatas quanto ele.

- Ah é? Ele tem feito muito sucesso com as gatas? - perguntou zombando.

- Sabe come ele é né?! E desde que terminou com a Laura, não para com mulher nenhuma. Você lembra dela? Aquela loirinha que morria de ciúmes de você.

- Lembro sim, como lembro. - respondeu ao irmão.

- Garota sem noção, muito ciumenta, tinha ciúmes da própria irmã de Diogo. Uma doida.

- Verdade, uma doida. - disse Cecília sem graça.

Na verdade Laura havia pego Diogo e Cecília aos beijos no orquidário da Carmen. Tentou armar um escândalo, mas Diogo conseguiu controlar a situação. Cecília ficou com tanto medo que descobrissem que resolveu ir para São Paulo fazer o mestrado que estava sempre adiando. Depois ficou sabendo que eles terminaram.

Chegando em casa Cecília foi recepcionada pelo pai e pela madrasta. Com um abraço bem apertado do pai, seu coração sentiu tanto amor.

- Que saudade meu amor. Você é uma malvada comigo, ficar longe todos esses meses e nem sequer me visitar. - reclamou o pai

- Mas papai a distância era a mesma, o senhor também pouco foi me visitar. - respondeu

- Mas eu detesto avião, e você sabe. E tenho trabalhado muito.

- Eu seu papai. Mas agora tudo vai ficar mais tranquilo, estou aqui para ficar. Vou te ajudar na empresa e a distância acabou.

- Espero que seja tranquilo mesmo. - deixou escapar Carmen.

- O que disse Carmen? - perguntou Cecília encarando a madrastra.

- Eu disse que espero que você fique pra sempre porque seu pai morre de saudades de você. - disse disfarçando a gafe cometida.

- Pensei que todos vocês estavam com saudades. Não está com saudades da sua filhinha? - perguntou Cecília sendo sarcástica.

- É claro que estou. Venha aqui e me dê um abraço.

A relação de Cecília e Carmen sempre foi muito boa, ela ajudou a criar a menina a tratando como uma filha. Mas a relação foi mudando quando Carmen começou a desconfiar do comportamento de Cecília e Diogo, quando as brigas se tornaram mais frequentes, Carmen sempre ficava ao lado filho. Eles nunca assumiram e ela nunca teve coragem de perguntar o que se passava entre eles. Mas notava o tratamento que se davam, hora de muito carinho, muito cuidado, os ciúmes exagerados, hora de brigas sem fundamento aparente, sempre que um arrumava relacionamento. Carmen tinha medo só de pensar no que se passava às escondidas naquela casa, pensava no marido que teria um infarto se suas desconfianças forem certeiras.

- Vem vamos entrar! Francisco leve as malas da sua irmã para o quarto dela. Está do jeito que você deixou meu bem.- Disse Martim ao filho e a Cecília.

- Que bom papai, estou doida por um banho.

- Então suba, tome seu banho e desça para jantarmos todos juntos.

Cecília subiu, passando em frente ao quarto de Diogo, não resistiu e entrou. Estava do mesmo jeito que se lembrava, o quarto tinha um estilo moderno , tudo era em tons de cinza e preto. Sentou-se na cama king sise, passando a mão pelos lençóis macios esticados sobre a cama. Pegou a travesseiro e cherou, sentindo o perfume masculino que tanto gostava. Acordou de seu devaneio e saiu dali rapidamente antes que alguém a visse.

Já no seu quarto se repreendia por ter entrado lá. Pensava que não poderia mais se deixar levar pelos seus desejos, por esse amor sem fim. Já não era mais uma menina, era uma mulher adulta. Esse sentimento tinha que acabar, ele só fazia mal a ela e a Diogo. E acabaria fazendo mal a todos em volta deles, se algum dia descobrissem o que já se passou naquela casa.

Tomou seu banho, depois vestiu uma roupa leve, era final de junho, o outono estava terminando, mas estava no Rio e nessa cidade o calor acontece o ano todo. Estava uma noite quente. Desceu e encontrou sua família já na sala, sua avó e avô haviam se juntado a eles.

- Vovó e vovô que saudades. Não esperava vê-los hoje. - disse correndo em direção aos idosos sentados no sofá.

- Minha linda eu não queria esperar até amanhã. Seu pai avisou que viria hoje então nós nos convidamos para o jantar. - disse a avó rindo.

- Vocês são sempre bem vindo mamãe. - falou Martin.

Cecília deu abraços calorosos em seus avós, sentia muita falta dos dois, sempre foi muito apegada à eles.

- Como você está linda meu bem. - disse o avô a analisando. - Aquele seu namorado deve passar maus bocados com você, deve chover concorrência para aquele branquelo azedo. - completou rindo.

- Não é bem assim vovô- riu Cecília.

- Falando nele, pensei que ele viria com você Ceci. - disse o Martin.

- Nós terminamos papai. - disse Cecília suspirando, e continuo explicando - A gente não estava mais dando certo, decidimos acabar.

- Mas vocês pareciam tão apaixonados - disse Martin surpreso.

- Ele estava apaixonada, mas ela nunca transpareceu isso, conheço minha neta. Aff, sabia que não duraria. Rapaz pegajoso. - disse a avó de Cecília.

- Dona Ana, não fale assim. Ele é um bom rapaz, seria um bom marido para Cecília.

- Pare com isso Carmen, está sempre tentando casar Cecília e Diogo. Deixe que eles sabem o que é melhor pra eles. Toda moça e rapaz que eles conhecem você acha que é pra casar. Eles tem que aproveitar a vida. - Dona Ana repreendeu a nora.

- Carmen tem razão vovó, o Lucas é um bom rapaz, um bom partido, mas não era pra mim. Eu não o amo. Não tem como casar com quem não se ama. - disse Cecília encarando Carmen.

Carmen revirou os olhos com o pensamento de quem realmente Cecília amava. Esse pesadelo não poderia voltar.

- Depois a gente conversa sobre isso minha filha, vem vamos todas jantar. Cecília vai ter muito tempo para contar tudo que se passou em São Paulo. - Disse Martin direcionando todas à sala de jantar.

- Espera. - disse Martin virando-se para Carmen. - Cadê o Diogo? Ainda não chegou?

Sentando-se a mesa, Carmen desviou o olhar e respondeu.

- Ele teve uma viagem de última hora e não vai poder vir.

- Como assim? Falei com ele hoje para buscar a Cecília, ele disse que não poderia pois tinha um compromisso, que pediria ao Francisco. Mas não falou nada de viagem. Não tinha nenhum compromisso da empresa agendado. - concluiu Martin.

- Ah não perguntei Martin, sabe como é o Diogo, não dá explicações pra ninguém. Deve ter sido compromisso do escritório de advocacia. - respondeu Carmen.

- O compromisso dele era bem boazuda. - Francisco deixou escapar.

- O que você disse Francisco? - perguntou Martin

- Nada pai, deixa pra lá. - respondeu com um sorriso malicioso no rosto.

- Fala logo garoto. - exigiu Martin

- Ele pediu para pegar a maninha, mas falou para pegar ele no apartamento antes, no caminho paramos pra pegar uma loira gostosa, vocês tinha que ver. - Disse Francisco empolgado.

Quando olhou para o pai e viu a cara de reprovação, tirou o sorriso do rosto.

- Pra onde ele foi Francisco ? - perguntou Martin.

- Não seu pai. Perguntei e ele me disse que estava indo se divertir.

- Que moleque! Como larga tudo assim no meio da semana pra vagabundar. Esse menino vai crescer quando? Ontem sumiu a manhã toda e só apareceu a tarde, e hoje faz isso. Quando eu penso que ele está tomando jeito ele me apronta uma dessa. - Martin estava revoltado com o filho.

- Calma Martin não é pra tanto. Diogo é um excelente advogado, trabalhador e responsável. Você não pode falar assim dele. - repreendeu Carmen defendendo o filho.

- É sim, bem sucedido na vida profissional, já na vida pessoal, um malandro. Não para com mulher nenhuma. Você sabe quantos amigos já vieram se queixar comigo por causa dele? Ele vive arrumando encrenca com a filha dos outros. Tá na hora desse menino arrumar uma mulher que coloque juízo naquela cabeça.

- Ele vai arrumar. - Disse Carmen olhando de canto para Cecília.

- Vamos parar com isso, deixa o Diogo pra lá. Vamos comer que estou morrendo de fome. - disse Cecília tentando terminar esse assunto.

- Vamos sim, mas assim que acabar de comer vou ligar pra ele. - concluiu Martin.

Eles jantaram e colocaram o papo em dia, seus avós estavam tão animados por ter a neta por perto.

- Nossa parece até que Ceci morava em outro país. Vocês mimam muito essa menina. - Disse Francisco enciumado.

- Para de bobeira moleque, a gente te mima muito também. E a Ceci morava perto mas não vinha nunca aqui. - disse vovô Mário.

Após o jantar Martin se retirou e foi para o escritório, Cecília o seguiu com os olhos até ele entrar. Ali ele permaneceu por muitos minutos.

Eles foram todos para sala, conversavam e riam muito das histórias dos avós. Martin logo se juntou a eles com uma cara séria.

Cecília ouviu o pai falando baixinho com Carmen sobre Diogo. Havia ligado para ele para tirar satisfação da sua ausência, discutiram e Diogo prometeu que estaria lá no sábado para o aniversário de Martin.

A noite foi muito boa, mataram as saudades. Cecília já estava exausta e foi dormir, havia sido um longo dia.

            
            

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