- Que bagunça! - Com um suspiro de desgosto, Kyle olhou para o livro-caixa escrito à mão. O diário estava aberto sobre a antiga mesa de carvalho que ficava no escritório desde que Kyle podia se lembrar. A grande escrivaninha de carvalho pertencera a Ben Fortune, avô de Kyle e marido de Kate, embora Kyle não conseguisse se lembrar de Ben sentado na cadeira de couro. Esta fazenda era o refúgio de Kate do ritmo agitado da cidade, mas esses malditos livros-caixa eram um mistério. Por que não havia nenhum sistema de computação? Nenhuma conexão com a Internet? Nenhum modem? Nenhum programa de contabilidade? Isso não se parecia com sua avó, uma mulher a frente de seu tempo, uma mulher que usava um telefone celular ou um aparelho de fax com a mesma facilidade com que se perfumava. Kate Fortune estava conectada por computador a todas as empresas de seu marido, incluindo fábricas em Cingapura e Madri. Capaz de falar a língua dos acionistas das empresas petrolíferas de Ben, e de pilotar seu próprio avião. Se alguma fazenda em Wyoming deveria ter um computador ou um modem, era a de Kate. A falta de telecomunicações simplesmente não fazia sentido.
A não ser que Kate viesse para cá a fim de fugir do corre-corre do dia-a-dia e preferisse o ritmo lento dos fazendeiros que funcionavam assim há décadas.
O telefone tocou e Kyle atendeu, meio que esperando ouvir a voz rouca de Samantha do outro lado da linha. Ele ficou tenso.
- Kyle Fortune.
- Quem diria?! - A voz de Grant veio através dos fios enquanto Kyle se acomodava na cadeira. - Ouvi rumores de que estava de volta à cidade.
- Notícias ruins correm rápido.
- Principalmente nesta família.
Amém, pensou Kyle. Os Fortune sempre foram um grupo unido, mas desde a morte de Kate, Kyle sentira uma recém-descoberta afinidade com os primos e parentes - uma camaradagem nascida da dor compartilhada de perder um ente querido.
- Mike ligou e disse que você pegou um avião da empresa para Jackson, então desconfiei que mais cedo ou mais tarde apareceria.
- Bem a tempo de dar uma olhada na fera que você herdou.
Grant deu uma gargalhada.
- A Paixão dos Fortune.
- A Loucura dos Fortune, eu diria.
- Livrarei você dele assim que ele entrar em um trailer. Parece que Samantha vem trabalhando com ele.
- Parece que sim.
Sam. Por que ele não conseguia parar de pensar nela?
- Você já deve saber que Rocky está pensando em se mudar para cá?
- Rocky? Quer dizer Rachel?
- Nossa prima.
Kyle não via Rachel desde a leitura do testamento de Kate no escritório do advogado. Costumava ser aventureira, com sorriso fácil, mas naquele dia estava tão melancólica quanto o resto da família. Círculos escuros sombreavam seus olhos castanhos e, mesmo nervosa, segurava o amuleto herdado da avó. Ela parecia perdida naquele dia, mas todos estavam.
- Então, meu cavalo está bem?
- Encontrei Sam quando ela estava trabalhando nele. O garanhão parecia endiabrado.
- Ele é assim. - Grant deu outra gargalhada. Olhando pela janela enquanto o crepúsculo caía sobre a terra, Kyle disse:
- Sam tem uma filha.
- Eu sei.
- Disse que o pai estava fora de cena. Não sabia que ela tinha casado.
- E não casou.
- Então onde está o cara?
- Você me pegou. Nunca perguntei. Não era da minha conta - disse Grant, que não falou mas deixou subentendido: e também não é da sua.
Kyle percebeu o tom de reprovação de Grant, mas ignorou.
- Ninguém sabe?
- Bem, acredito que Sam saiba, e Bess, a mãe dela. Os fofoqueiros da cidade dizem que pode ser Tadd Richter. Você se lembra dele?
- Lembro, nunca o encontrei, mas ouvi dizer que era um delinqüente local.
- Ele andava com uma turma, circulava com uma moto enorme, bebia e estava sempre encrencado com a polícia. Seus companheiros sumiram e ele terminou na prisão ou em algum lar juvenil perto de Caster, acho. De qualquer forma, Sam já tinha terminado com ele quando saiu da cidade e depois... bem, ela apareceu grávida. Não que isso seja da nossa conta. Ela nunca comentou sobre isso por todos esses anos e acredito que tenha as razões dela... Mas, só liguei para lhe dar boas-vindas ao Wyoming.
- Obrigado.
- Você sabe que não é um lugar ruim.
- Nunca disse que era.
- Mas não ficou feliz em ter de se mudar para cá. Kyle olhou através do vidro para o corredor de alamos que cercavam as margens do Stiller Creek.
- Não gosto que mandem em mim. Nem mesmo Kate.
- Não será tão ruim. Você vai acabar percebendo que gosta daqui e descobrindo do que está fugindo e o que está procurando. Nunca se sabe.
- É, nunca se sabe. - Kyle sentiu que estava ficando um pouco irritado. Do jeito dele, Grant disse que não aprovava o estilo de vida mundano que Kyle levava em Minneapolis.
- Talvez você tenha de diminuir um pouco o ritmo.
- Talvez - Kyle ficou tenso. Ele não precisava de um sermão. Sabia que jogara fora alguns anos de sua vida, às vezes trabalhando num negócio e ganhando um pouco de dinheiro, outras perdendo muito. Casara com a mulher errada. Trabalhar para a família e ser despedido fora o último desastre. Ele não queria ser lembrado do fracasso, nem conseguia explicar a inquietação que o perseguia desde a época de menino, a sensação de que não poderia permanecer em um lugar por muito tempo.
E ele suspeitava que seis meses em Clear Springs, tão perto de Samantha, seria muito tempo.
- Aparecerei aí para ver se você não está maltratando o Curinga.
- É mais provável que aquele garanhão seja o meu fim.
- Ou Sam. Amém.
- Ela é mandona, gosta das coisas do jeito dela.
- Já percebi isso.
- Preste atenção. Ela vai infernizar a sua vida, mas sabe muito mais sobre fazendas do que você.
- Vou me lembrar disso.
- Faça isso. Até amanhã.
Kyle desligou, olhou com mau humor para o livro-caixa sobre a mesa e o fechou. Sam. Não pensara nela por anos, não se permitira, mas desde que chegara a Wyoming não conseguia fugir dela.
- Droga, vá tudo para o inferno. - Girou o pescoço tentando relaxar os músculos. Tadd Richter, o que Sam vira naquele perdedor? E por que Kyle se importava? Isso já era passado.
O café, que já era ruim quando quente, agora estava gelado e insuportável. Ignorou a xícara. A velha cadeira rangeu quando se levantou e caminhou até o armário onde Ben costumava guardar as bebidas. Vazio.
- Segundo choque. - Sem computador e sem bebida, neste escritório com paredes de madeira amarelada, cartazes de rodeio desbotados e um tapete trançado no chão de tábuas. Era como se a vida neste Wyoming esquecido por Deus não tivesse mudado nos últimos cinqüenta anos.
- Muito obrigado, Kate - resmungou, apesar de o verão na fazenda sempre ter sido uma recordação especial, um lugar que preferia não lembrar.
Ainda não descansara do vôo. A viagem de avião de Minneapolis até Jackson não fora de todo ruim, nem a viagem até a fazenda na caminhonete usada comprada às pressas. Não, a viagem não o aborrecera tanto quanto a sensação de estar sendo manipulado. De novo. Por sua avó. De seu túmulo.
Esbarrando na mesa e deixando o abajur cair, ele foi andando pelo corredor que se estendia por toda a casa de dois andares, o lugar onde passara várias férias de verão. Às vezes a família viajava para lugares exóticos como México, Jamaica, Havaí ou índia. Mas os melhores verões, aqueles que ele guardava com carinho, não eram aqueles em que ficara hospedado em algum luxuoso hotel com restaurantes cinco estrelas, fontes minerais e piscinas. Não, os melhores verões de sua vida foram aqui, aprendendo a laçar bezerros, selar cavalos, marcar o gado, nadando pelado no Stiller Creek e dormindo embaixo do cobertor sob as estrelas do enorme céu do Wyoming.
Kyle subiu as escadas para o segundo andar onde estavam os vários quartos. No final do corredor, ficava o quarto dos beliches em que ele e os primos dormiam. Sentiu a madeira gasta da porta e tocou na ferramenta que Michael usara para quebrar a fechadura quando Kyle e Adam o trancaram do lado de fora. Kyle tinha uns doze anos na época. Michael era um ano mais velho e não permitiria que um simples trinco o impedisse de abrir a porta e tentar se vingar do irmão por tê-lo pego desprevenido e o atingido com um jato de água fria da mangueira do jardim.
Sorrindo, Kyle se lembrou de quando Michael, molhado da cabeça aos pés, entrou correndo pelo quarto e bateu a cabeça em um dos beliches, quase indo a nocaute.
Isso parecia ter acontecido em outra vida. Antes de ele começar a se barbear, antes de começar a reparar nas meninas. Antes de Sam.
Acendendo a luz, ele entrou no quarto e olhou os três beliches, sem lençóis, o tecido dos colchões desbotado. Não conseguia ver o maço de cigarros que roubaram do avô, as revistas Playboy emprestadas por alguém da fazenda, nem as garrafas de bebidas que esconderam no fundo das gavetas dos armários quando um vaqueiro local as comprara por um preço alto, sem se importar com a qualidade do uísque.
Passando as mãos pela cabeceira de uma das camas, parou na janela que costumavam usar para fugir. A borda ficava perto de uma velha macieira com galhos grandes, e os meninos elaboraram um sistema de cabos e roldanas que os levava para baixo e os trazia de volta. Eles se acharam muito espertos, mas Kyle suspeitava que a avó provavelmente sabia de tudo que estava acontecendo. Ela era muito inteligente para deixar passar qualquer uma de suas armações.
- Droga - ele resmungou, cerrando os punhos em agonia. Pensar que ela fora embora, de verdade, lhe causava um vazio profundo na alma. O que ela estava fazendo, voando sozinha naquele maldito avião, procurando por alguma planta rara na floresta Amazônica? Ela nunca fizera isso. Seu avião explodira em algum lugar do Brasil, caindo em terra em uma pavorosa bola de chamas. Seu corpo carbonizado fora trazido de volta para os Estados Unidos, onde seus filhos e netos atordoados lutavam com a incredulidade e tentavam lidar com o fato de que a força mais influente de suas vidas de repente se fora.
Abrindo a janela, Kyle deixou entrar a brisa da noite e observou todos aqueles hectares, seus hectares agora. Bem, seriam seus em seis meses se conseguisse suportar por tanto tempo. Não que estivesse triste por deixar Minneapolis; sua vida lá estava estagnada e ele nunca se encontrara, nunca tomara juízo, nunca ficara em um emprego por muito tempo. Não, ele era irriquieto por natureza, e talvez fosse por isso que Kate o tenha escolhido entre todos os netos para herdar a fazenda. Provavelmente, essa foi a maneira que ela encontrou de forçá-lo a criar raízes.
Mas que droga, se lembrou do funeral e do caixão fechado coberto de flores, da igreja cheia de pessoas de luto, dos familiares vestidos de preto e lutando com as lágrimas. Mais tarde, sombrios, quase incapazes de falar, se reuniram em volta de uma mesa enorme no escritório do advogado e escutaram enquanto Sterling Foster, sentado à cabeceira da mesa, olhava para todos eles com as mãos sobre os últimos desejos de Kate, seu testamento.
- Kate Fortune foi uma mulher memorável, mãe de cinco filhos, porém só quatro criados por ela - começou ele, olhando lentamente em volta da mesa. - Avó de... quantos? Doze? E bisavó também. - Ele sorriu com tristeza. - Apesar de viúva há dez anos, ela ainda era a força condutora da Cosméticos Fortune. Ela sobreviveu à morte do marido. Assim como à perda de um filho... Primeiro, ela me instruiu a entregar a todos os amuletos que comprara quando nasceram. Peguei-os no vaso da sala de reuniões em que estavam guardados.
Ele passou uma bandeja de prata com envelopes brancos ao redor da mesa, e quando a travessa chegou nele, Kyle encontrou seu nome datilografado com nitidez em um dos pacotes. Ah, Kate, pensou com tristeza enquanto rasgava o envelope e retirava uma objeto de prata.
O advogado limpou a garganta e levantou os papéis datilografados a sua frente.
- Eu, Katherine Winfield Fortune, estando em meu juízo perfeito...
Todos prestavam atenção ao advogado, e Kyle sentia os músculos tensos. Tudo isso estava tão errado. Era como se o mundo tivesse parado de repente e ele tivesse perdido o chão.
Sua irmã Jane sentou-se ao seu lado, os dedos apertando a manga do casaco dele, a renda do punho do vestido, em que enxugava os olhos, manchada de rimel. Ela tentava ser forte, mas seu lábio inferior continuava a tremer e ela o segurava pedindo apoio. Mãe solteira, esperava-se que ela conseguisse suportar sozinha, encarar os desafios que a vida impôs. Mas nenhum deles - filhos, filhas e netos - conseguia acreditar que perdera uma pessoa tão íntegra e querida, a base de suas vidas.
- Ah, meu Deus - gemeu ela, uma mecha de cabelo cor de canela caindo sobre o rosto.
Ele deu as mãos a Jane e encontrou o olhar desconsolado de Michael. Os olhos dele refletiam seu tormento. Michael. Sempre responsável. Enquanto Michael sempre fazia tudo certo, Kyle fracassava. Michael carregava a responsabilidade em seus ombros; Kyle fugia dela.
Parecia que Jane tinha conseguido um pouco de força. Piscando e endireitando os ombros, pegou a jarra d'água e se serviu. A um sinal de Allison, serviu um segundo copo. Allie, a bela, modelo e porta-voz da Cosméticos Fortune, a menina rica com um sorriso encantador. Agora, seu lindo rosto estava contraído e pálido, sentada entre seu irmão e sua irmã gêmea, Rocky. Até a expressão normalmente animada de Rocky estava sem vida.
Rocky parecia conseguir alguma força de seu único irmão, Adam, que lhe afagava o ombro enquanto Sterling continuava a leitura. Adam era o mais velho e o único filho de Jake e Erica Fortune. Cercado por irmãs, Adam era alguém que Kyle costumava procurar, um espírito afim, um filho rebelde. Adam virara as costas para a fortuna da família, viajando pelo país por alguns anos antes de se tornar militar e desistir quando a esposa morreu. Agora, Adam era um pai solteiro de três filhos tentando seguir em frente.
Kyle não o invejava. Droga, ele não invejava ninguém que estivesse aqui hoje. Brincando com o cordão em seu pescoço, ele tentava se concentrar.
Prendendo os olhos por uns instantes, Sterling virou a página e continuou sua monótona leitura. Kyle gostava dele. Parecia falar sem pensar e não fazia rodeios. Os óculos de leitura estavam na ponta do nariz, e o cabelo branco, impecavelmente penteado, parecia prata sob a luz.
- E para meu neto Grant McClure, deixo A Paixão dos Fortune, um garanhão Appaloosa registrado...
Kyle observou a reação do meio-irmão, mas Grant continuou a olhar pela janela, nem piscou ao ouvir o próprio nome. Grant parecia fora de lugar aqui usando jeans, jaqueta e chapéu Stetson e com sua caminhonete estacionada junto a BMWs, Cadillacs e Porsches. No íntimo, Kyle apostava que o meio-irmão cowboy estava doido para entrar em um avião, apagar as luzes da cidade e voar de volta para a vida rústica que tanto amava no meio do nada: Clear Springs, Wyoming.
Ao lado de Grant, Kristina, a única filha de Nate e Barbara, o pai de Kyle e sua madrasta, estava nervosa na cadeira e mordia o lábio inferior enquanto tentava se mostrar interessada. Por incrível que pareça, ela jogou os cabelos louros por cima do ombro e pareceu não querer nada além de sair do escritório do advogado. Ela encontrou os olhos de Kyle, mandou-lhe uma mensagem silenciosa e então desviou o olhar.
Ele não a culpava. Eles tinham sofrido durante o funeral, o enterro e a reunião social que se seguiu com os familiares e amigos mais íntimos de Kate. Centenas de cartões de condolência, um legítimo jardim de flores e coroas e dezenas de milhares de dólares em cheques para as instituições de caridade preferidas de Kate chegavam o tempo todo. E havia a imprensa e a especulação sobre sua morte, como ela pilotara o avião da empresa sozinha pelas florestas da América do Sul, e de alguma forma perdera o controle e caíra para uma morte horrível...
Kyle ficou com o rosto tenso.
- ... E para meu neto Kyle, deixo a fazenda em Clear Springs, Wyoming, com todo o gado e equipamentos, com exceção do garanhão A Paixão dos Fortune... - Kyle não estava ouvindo direito até que a cláusula fosse lida - ... Kyle deve residir na fazenda por não menos do que seis meses antes que a escritura e todos os papéis sejam transferidos para seu nome...
Era típico de sua avó deixar a fazenda para ele - o oásis de sua infância - com algumas condições. Ele ouviu um rápido suspiro de seu irmão Michael, provavelmente por causa do valor da fazenda e do fato de Kyle nunca ter feito nada sozinho, não realmente.
Mais tarde, Michael conversara com ele sozinho, lhe passara um sermão sobre responsabilidade, governar a própria vida e aproveitar ao máximo a oportunidade que Kate lhe dera.
Kyle não escutou muito. Não precisava de sermões. Sabia que errara e não achava que era da conta de Mike o que faria com seu futuro. Era seu - para o sucesso ou o fracasso.
Mas seu irmão estava certo sobre uma coisa. Agora Kyle tinha a chance de se revelar morando na fazenda, fazendo os consertos necessários e finalmente vendendo tudo para obter um excelente lucro, apesar de isso provavelmente não ser o que a avó pretendia.
- O que você esperava? - ele disse para a sala vazia, como se a avó pudesse escutá-lo. - Realmente achou que poderia me controlar do túmulo? Achou? Bem, você está errada. Vou vender esse lugar assim... - Estalou os dedos e pegou o trinco da janela, mas ao fechar a vidraça, viu a noite estrelada, o velho pomar que se estendia até a fazenda vizinha, onde uma lâmpada brilhava em uma das janelas.
Sam.
Um inesperado turbilhão de emoções fez com que seu coração saltasse. Por um fugaz momento, imaginou se a avó planejara deixá-lo tão perto da única mulher que o fazia querer estrangulá-la em um segundo e fazer amor com ela no seguinte. Mas isso era impossível. Ninguém, ninguém mesmo, soubera de seu romance com Sam - bem, só ele próprio e Sam - e continuaria sempre dessa maneira.
Ele observou a aconchegante chama de luz, parecia dar-lhe boas-vindas, e rangeu os dentes ao perceber que o que mais desejava era andar por aqueles campos iluminados pela lua, bater na porta dela e tomá-la nos braços. Ele a beijaria como antes, com a mesma paixão que correu por suas veias e trouxe sua virilidade à tona anos atrás.
Mas cruzar a fronteira para a casa dos Rawlings era a última coisa no mundo que ele planejava fazer.
Virou-se e quase bateu com a cabeça em um lustre que pendia muito baixo. Sentiu-se encurralado, manipulado, frustrado quando pensou em Sam. Como se a avó pudesse escutá-lo onde estivesse, ele falou entre os dentes:
- Tudo bem, Kate. Você venceu. Estou aqui. Só me diga uma coisa: como devo agir em relação a Sam?