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Dei bom dia para o Harry e a Lucy quando desci para o café da manhã, mas antes lembrei de pegar o moletom do William na secadora, mas ainda assim estava úmida, teria que entregar assim mesmo.
Lucy fazia panquecas e Harry lia o jornal tomando café.
- Mais uma morte - falou ele para si mesmo e sacudindo a cabeça como de reprovação.
- Quem morreu? - Perguntei colocando duas panquecas no prato.
- Um alpinista, foi aqui perto, ontem estive lá com a equipe.
- Morreu de quê? Caiu da montanha? - Enfiei um pedaço generoso da panqueca na boca.
- Não. Um lobo estraçalhou o pescoço dele.
Fiz uma careta de dor. Principalmente pensando que podia ser o mesmo lobo que queria me estraçalhar ontem à tarde. Mais uma vez senti uma gratidão muito grande pelo William, ele realmente me salvou, se não fosse por ele com certeza estaria morta.
Escondi a tremedeira das mãos dentro dos bolsos do casaco.
- Ai gente, isso não é assunto para o café da manhã - reclamou Lucy.
- Desculpe amor.
- Também achamos um lobo morto não muito longe de casa.
- Briga por território. - Odiava mentir principalmente com coisas sérias, mas tecnicamente não é mais um problema para se preocupar como o lobo está morto.
Harry concordou com a cabeça.
- Alguém viu meu moletom caqui?
- Não. - Respondi junto da Lucy, uma pequena mentirinha que não faz mal.
Hoje a Lucy me levou para o colégio, ela ficaria o dia inteiro em casa e aproveitaria para fazer algumas compras no supermercado da cidade.
- Se cuida, e não se esqueça de pedir o Christian para te acompanhar hoje até em casa, não podemos ficar sozinhas até ter certeza que o sujeito que você viu ontem não volte.
A primeira aula foi de matemática.
- Bom dia Chris! - Cumprimentei sentando ao seu lado.
- Oi, bom dia!
- Você se importaria muito se me acompanhasse...
- Te acompanho! - Me interrompeu - Não me importo de te levar para casa, Harry me contou tudo sobre a noite passada e me pediu para te levar em casa depois da sua psicóloga.
- Obrigada por esse favorzinho!
- Você poderia me agradecer saindo comigo, me prometeu que íamos em uma pista de patinação. Poderia ser hoje.
- Sair com você? - Tentei sair casual, não faço ideia se deu certo.
- Sim, comigo e a Brit.
- Claro, vamos lá! Vai ser divertido.
Depois da aula de matemática fui trocar os livros para o próximo horário que seria espanhol.
O corredor estava cheio e pude achar o William não muito longe, lembrei de entregar o moletom, mas então vi a Nina oxigenada se aproximar dele.
Podia entregar no final da aula quando ela desgrudar dele. Fui para a aula.
Deu a hora do intervalo e Chris me esperava na porta da sala, fomos para o refeitório.
- Então depois de estudarmos vamos para aquela academia de patinação. - Christian falava para a Britney que iria conosco - Você nos encontra lá.
- Ok! - Então ela se virou para mim - Então você vai mesmo dar aula de reforço para o Christian?
- Vou, ele precisa e é um agradecimento por ele ficar essa semana me acompanhando até em casa.
- Eu ainda estou incrédula com a história bizarra desse cara rondando sua casa à noite.
- Nem me lembre... - me arrepiei só de lembrar do vulto pulando do telhado.
Vi William e a Nina entraram no refeitório juntos, ele estava com o braço em volta dos ombros dela e ela não parava de tagarelar.
Pelo o pouco que conheci ele ontem, estava entediado e não escutava metade do que ela falava. Coitada.
Preferi não contar sobre ele nem para a Britney ou para o Christian.
- Eles até que combinam. - Disse Britney observando Nina e William.
- Eu não acho isso - discordei - Da para ver a cruz que ele carrega por ter ela ali e por ela não calar a boca por um minuto sequer.
E de repente William me pegou o espiando e sem se preocupar com olhares ele sorriu e lançou uma piscadela, do lado dele a Nina estava com o rosto vermelho fervendo de raiva por ele ter feito isso descaradamente na frente dela. Achei graça e quando voltei os olhos para o Chris e Brit eles me encaravam, Britney boquiaberta.
- O que foi isso? - Indagou ela.
- Não liga, ele só está provocando.
- A cara da Nina foi a melhor!
- Eles têm alguma coisa? - Aproveitei a deixa - São namorados?
- Não, mas todo mundo sabe que ela quer alguma coisa com ele, ou melhor, muitas coisas... - ela fez careta e eu acompanhei.
- Não que isso importe, não é? - Agora foi o Chris.
- Claro que não importa. - Falei e Brit acompanhou com um aceno.
Depois da aula fui para a psicóloga e Chris ficou na sala de espera.
- Lucy disse que pode ser mesmo uma lembrança da minha infância, porque eu adorava brincar no jardim. Mas e os olhos vermelhos?
- Os olhos vermelhos pode representar alguém ruim. - Falou a Dr. Miller - Mas o estranho foi que essa pessoa te salvou, alguém ruim não faria isso. Quem você acha que pode ser?
- Minha família éramos apenas nós três e tínhamos apenas a Lucy que era melhor amiga da minha mãe, mas morava em Miami, então de vez enquanto vinha nos visitar. Sem contar que sempre mudávamos.
- Seu pai era militar?
- Não, mas nem adianta me perguntar porque mudávamos, eu não faço ideia!
- Hm... - Dr. Miller empurrou os óculos nariz acima - A família era pequena, tinham apenas uma amiga e se mudavam muito... sabe se eles tinham inimigos?
- Não, com certeza não!
- Porque talvez eles se mudavam muito para fugir de alguém. Isso explica o incêndio... talvez foi proposital... - falava em um tom surpreso como se estivesse juntado peças de uma charada - Minha nossa... se for isso... é muito sério...
- Meus pais eram pessoas boas, não tinham inimigos! - A interrompi antes que sonhasse longe.
- Melanie se abre, não tenha medo de dizer - eu não sabia o que ela queria dizer com aquilo - Talvez o incêndio não foi acidental. Pense bem Mell. Talvez seus pais mexiam com coisas ilícitas, não precisa ter vergonha em dizer, isso é normal, e se você não sabe pergunte para sua madrinha.
Fiquei chocada.
Então sem provas nenhuma ela afirmava que meus pais eram criminosos?
- Você não sabe nada sobre os meus pais. - Murmurei antes de me levantar e sair batendo os pés.
- O que aconteceu? - Perguntou Christian.
- Te conto no caminho, nunca mais volto aqui!
Depois do Chris e eu termos julgado o suficiente o comportamento da psicóloga e termos a condenado, passamos o resto da tarde resolvendo vários problemas fáceis de matemática - pelo menos fáceis para mim.
Depois de deveres feitos e completos, fomos nos encontrar na pista de patinação com a Britney.
Ela ainda não havia chegado, então ficamos a esperando.
- Nunca imaginei que ele viria a lugares como esse. - Disse Chris, segui seu olhar.
William e Nina estavam em uma arquibancada, ela se jogava de uma forma tão vulgar para ele que fazia eu sentir vergonha por ela.
Tenho certeza que falamos baixo dessa vez no refeitório de que viríamos para cá, então foi pura coincidência.
Dei de ombros. Então mudei meu foco para a entrada que era onde a Brit estava.
- Desculpa a demora, tive que esperar minha mãe chegar do trabalho para ficar com meus irmãos - ela seguiu nossos olhares - Eca! Olha só aqueles dois! Ficam tão bem juntos que me dá até nojo! - Ela fez cara de nojo.
- Como eu faço para patinar? - Mudei de assunto chamando a atenção deles para mim.
Alugamos os patins e fomos para a pista.
Como imaginei, eu era um fracasso na patinação, Brit e Chris me seguravam, um em cada braço porque sempre escorregava.
- Agora você consegue sozinha. - Falou Chris.
- Não! - Argumentei porque quando mal esperava eles me empurram para me dar impulso, não gritei para não perder o equilíbrio e concentração.
- Voltem aqui! - Falei para eles - Eu vou cair!
Eles riam do meu desespero.
- Você está indo bem! - Christian incentivou.
- Melanie desvia! - Gritou Brit.
- O quê? - Grite de volta.
Então senti o choque nas minhas costas. Quando estava derrubada no chão procurei em quem eu bati.
Era justamente a oxigenada que fazia cara de dor, mas se levantou facilmente.
- Me desculpa - falei com Chris e Britney me ajudando a ficar de pé.
- Olha por onde anda sua órfã! - Gritou ela e isso para mim foi como um soco no estômago, principalmente sabendo quem deve ter contando a ela - Aqui não é seu lugar, volte de onde você veio!
- Ei, vai com calma! - Foi o Chris civilizado.
Então Brit abriu a boca:
- Cala a boca oxigenada ridícula! - Gritou Britney.
- Ninguém te chamou na conversa sua gorda! - Xingou Nina.
- Não vamos perder a calma meninas! - Avisou Christian.
- Não se intromete idiota! - Gritou a loira.
- Cuidado em como fala comigo!
A discussão chamou a atenção de todos que agora nos observavam.
Sem dizer nada dei as costas e patinei segurando o corrimão até a saída enquanto escutava os outros discutindo.
Olhei para a arquibancada onde William estava imóvel, ou quase quando abriu a boca e formou palavras silenciosas perguntando se eu estava bem.
Ignorei e segui até a saída.
Não demorou muito para a Britney e Christian me acompanhar.
- Não liga para o que a oxigenada disse, ela é infantil e nada civilizada.
Olhei para a Brit de soslaio.
Depois ouvi Christian suspirar, então virei minha cabeça em sua direção.
- Como a Nina estragou nossa tarde de patinação, vamos parar em algum lugar e comer alguma coisa para recompensar...
- Podem ir vocês. Eu vou para casa, de qualquer maneira está ficando a noite e não posso deixar a Lucy sozinha depois do que aconteceu na última noite.
- Quer que eu vá com você?
- Não vai ser necessário, Harry está quase chegando.
- Você vai ficar bem? - Indagou ele.
Balancei a cabeça.
- Não liga para o que a Nina disse, ela não tinha o direito de falar aquilo. - Agora foi a Brit.
Balancei a cabeça.
O pior que a única pessoa que podia dizer a Nina que eu era órfã era o William. Ontem não disse com todas as palavras que meus pais tinham morrido, mas meu comportamento logo depois foi resposta o suficiente. Ele viu como esse assunto me deixou ontem e simplesmente não se importou por sair espalhando.
E depois ainda finge se preocupar querendo saber se estou bem.
- Acho melhor te acompanhar mesmo assim. - mais uma vez o insistente do Chris.
- Me deixa! - Falei ríspida - Eu. Quero. Ficar. Sozinha.
Os dois congelaram parando no lugar, já eu continuei meu caminho.