Capítulo 5 Passarinho

Me senti mal pelo o que disse ao Chris e Brit, eles só estavam tentando me ajudar..., porém o que me ajudava agora era ficar sozinha...

Órfã.

Eu era isso.

Mas não porque fui abandonada. Simplesmente meus pais não tiveram escolha quando me deixaram. Quando seus corpos queimaram. Quando eu sobrevivi como um "milagre". Uma maldição.

E poucas pessoas sabiam disso. E com certeza meus amigos não falariam esse meu ponto fraco a ninguém.

Mas o William, com certeza sim. O que ele fez ontem foi um joguinho. Ele brincou comigo. Fingiu que estávamos nos dando bem. Buscou meu ponto fraco com aquelas perguntas, arrancou o que queria de mim e quando teve chance, simplesmente espalhou.

Ele me enganou.

Eu devia ter percebido que ele não era uma pessoa confiável. Ele mesmo disse isso, disse para eu ficar longe.

Sou tão tola.

Devia ter escutado ele.

Então talvez a culpa não era totalmente dele, mas minha. Minha por ser ingênua. Por ter confiado.

Só queria me enfiar dentro do quarto e não sair de lá nunca mais.

Órfã.

Isso me traz péssimas lembranças. Péssimos pesadelos.

Aumentei os passos e quando estava passando pela ponte que levava até minha casa, vi um passarinho cair e se chocar no lago congelado. Era um filhote que provavelmente caiu do ninho.

Ele estava sozinho e continuaria se ninguém o colocasse no ninho. Junto de sua mãe que logo voltaria para o aquecer por debaixo de suas asas.

Fui até o lago, primeiro pisei na borda checando se o gelo estava firme, porque pelo o que escutei, Seattle nem sempre congela bem os lagos, por isso as pistas de patinação são os lugares mais seguros para quem quer pisar no gelo.

Vi que estava firme então caminhei até o meio que era onde ele estava, quando tentei o pegar ele correu - escorregou - de perto de mim. Fui atrás dele até conseguir pegar. Mas então ele simplesmente virou fumaça nas minhas mãos e sumiu, simplesmente sumiu, olhei minhas mãos vazias. Impossível!

Boquiaberta continuei olhando minhas mãos vazias que em um minuto o passarinho estava e no seguinte minuto... nada. Ele simplesmente desapareceu como se tivesse feito mágica.

Então tirei a atenção das minhas mãos quando escutei um barulho horrível do gelo debaixo de mim. Olhei para abaixo dos meus pés, o gelo rachando!

Em um minuto eu estava em cima do gelo, e no outro caindo quando o gelo de baixo de mim quebrou.

Com o corpo congelando estava abaixo da superfície. Meus olhos ardiam com a água gelada.

Tentei voltar a superfície mas minhas mãos se depararam com gelo. Eu estava de baixo do gelo, sem saída.

Precisava achar o buraco por onde eu caí, ou eu morreria afogada e congelada!

Não, hoje não morreria!

Tentei me acalmar para pensar melhor, para raciocinar.

Tentei me lembrar em qual sentido ficava a abertura. Mas nem lembrava para onde eu estava virada quando caí! Norte, sul, leste, oeste. Não fazia ideia, dentro da água é um mundo sem direção.

Ok, tinha que começar por um lugar. Esquerdo.

Tateei o gelo. Gelo. Gelo. Gelo e mais gelo. Nada da saída.

Comecei a me desesperar quando senti que logo precisaria de ar. Tentei quebrar o gelo acima de mim. Com socos, cotoveladas. Mas a água fazia meus movimentos serem lentos, sem velocidade o suficiente para dar pressão aos socos.

Ninguém saberia que estava ali. Ninguém me veria. Ninguém me ajudaria. Eu morreria.

Comecei a tatear para o lado direito dessa vez, meu corpo estava precisando de oxigênio.

Mas só encontrava gelo. Eu definitivamente morreria. É a maldição da família, terminaria comigo.

Mas então ao meu lado vi claridade quando gelo acima de mim se partiu e logo senti uma coisa agarrando meu braço. Quando percebi já estava fora do lago e deitada na pouca neve do chão.

- Melanie! Melanie! Você está bem? - Ele rolou meu corpo para ver meu resto, e pelo o seu vi preocupação - Precisamos tirar você daqui!

William tirou sua jaqueta e colocou sobre os meus ombros, depois me pegou no colo.

- Minha nossa, você está tremendo! - Falou, olhando o caminho percebi que ele estava me levando para o lado contrário da minha casa.

Mas eu estava tremendo demais e sentindo dores por todo o meu corpo que ardia, que congelava para me preocupar com isso.

Enterrei meu rosto no seu peito e ao mesmo tempo senti seu cheiro de perfume amadeirado masculino. Era bom.

Ele parou de andar, mas não quis tirar o rosto do seu peito para ver porque parou. Então percebi que ele abria a porta do seu carro e me aninhou no acento, não demorou muito para chegar na porta do motorista, nos trancou lá dentro e ligou o aquecedor.

Ele me abraçou, queria me afasta, mas ele não deixou.

- Fique quieta! Meu corpo vai ajudar a aquecer o seu.

Então parei de tentar me afastar e apreciei o calor do carro e do seu corpo macio.

Às tremedeiras não sumiram, mas meus músculos tensos relaxaram um pouco e o sono chegou, mas não dormi, estava bem acordada e bem ciente da aproximação do William.

- O que você estava fazendo naquele lago? - Quis ele saber quando viu que estava melhor - Não me diz que arriscou a vida para patinar!

- Você não acreditaria se eu contasse o que realmente aconteceu.

- Tente.

Engoli em seco ainda tremendo e com os dedos das mãos roxos.

- Fui salvar um filhote de pássaro que caiu no lago congelado. - Não contei a parte que o passarinho virou fumaça e desapareceu, ele me acharia uma louca!

- Eu não vi ele lá.

- Você não acredita em mim? - Nem eu mesma acreditaria.

- Você está dizendo que se arriscou caminhando em cima do gelo para salvar um pássaro de simplesmente sumiu! - Ele dizendo assim já parecia que eu era uma louca.

Então:

- Ele sumiu! Não sei para onde foi! - Isso era verdade, não precisa contar que ele desapareceu como mágica - Eu não sei o que aconteceu, foi tudo tão rápido e agora só quero ir para casa!

- Tudo bem, vou te levar até lá.

- Posso ir sozinha! - Tentei abrir a porta me esquecendo que estava trancada.

Olhei para ele, para que entendesse que devia abrir a porta para que eu saísse.

- Não, eu vou te levar, você vai pegar uma hipotermia se sair nesse frio, suas roupas estão simplesmente molhadas demais, deve tirar! Olha como está tremendo!

- Não vou tirar aqui!

- Sabe que meu carro não passa pela ponte de pedestres, isso significa que teremos que ir pelo caminho mais longo. - Ele ligou o carro - Use o moletom do Harry que está dobrado no banco de trás.

- Isso é sério? - Indaguei, ele não respondeu, estava concentrado dando a ré no carro.

Revirei os olhos e me espremi para conseguir passar para o banco de trás. Chegando lá encontrei o moletom caqui.

- Chama isso de dobrar?

- Vai logo! - Reclamou.

- Olha para a estrada! - Avisei enquanto tirava sua jaqueta agora molhada, depois tirei meu casado encharcado tirando do banco de couro e jogando no chão, olhei no retrovisor para ter certeza que ele não olhava quando tirei a última blusa, depois tirei o sutiã e o mais rápido possível vesti o moletom do Harry e tenho quase certeza que William não olhou enquanto enfiava a cabeça pelo moletom e meus olhos não puderam mais vigiar os seus.

Ele tinha razão, não demorou muito para as tremedeiras sumirem apenas por trocar a blusa.

- Pode melhorar se tirar as calças, mas infelizmente não tenho nenhuma aqui, seria um show ver você tirando a calcinha.

- Porco! - Xinguei. - Espera, você não...

- Não, pode ficar tranquila que quando você começou a tirar o sutiã eu parei de olhar. Sou um cavalheiro!

- Quer dizer que antes disso você estava expiando?

- Sou um cavalheiro, mas não um santo, Melanie.

- Nojento.

            
            

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