Capítulo 8 Fique longe

Nessas horas de silêncio.

De tristeza e de amor,

Eu gosto de ouvir ao longe,

Cheio de mágoa e de dor,

O sino do companaro

Que fala tão auto e solitário

Com esse som mortuário

Que nos enche de pavor.

Cassimiro de Abreu.

Odiava mentir, principalmente para a Brit que só estava tentando ser a minha amiga, assim como Christian, porém pedi a Brit que guardasse segredo do Chris, não estava querendo explicar a ninguém mais sobre do porque o William Stainfield ter o meu sutiã!

Brit acreditou na parte que eu quis cortar caminho por cima do lago mal congelado, mas desconfiou do Will estar passando por lá casualmente, se pelo menos tivéssemos vizinhos eu poderia dizer que ele foi visitar alguém, mas nem eu mesma sabia o que o William fazia na região para eu parecer convincente para a Brit. O que me faz pensar que eu não fazia mesmo ideia do que ele fazia lá, assim como no dia que ele me salvou do lobo.

- Não é porque você vê um lago aparentemente congelado que ele vai está definitivamente congelado! - Arqueou as sobrancelhas - Você podia está morta se não fosse pelo Stainfield! - Ela revirou os olhos - Talvez eu possa estar não o detestando tanto agora! Mas você precisa contar isso para a Lucy ou o Harry!

- Nem pense nisso! - Ameacei apontando dedo - Olha para mim, eu estou bem! Me descuidei um pouco, mas não vai acontecer mais. E não quero preocupá-los com isso já que não aconteceu nada comigo!

- Ok, ok! Mas por favor, tenha cuidado! Passe longe de lagos!

E lobos.

Se ela já ficou assim por causa de um lago, imagina se soubesse do lobo, ou do pássaro que desapareceu da minha mão...

- Tenho uma novidade! - Falou.

- Eu também, mas essa você pode espalhar por aí!

Contei a ela sobre a Lucy estar grávida e ela me contou que eu tinha uma festa para ir em uma boate.

Pela forma como ela disse eu não tinha a opção do não. Então balancei a cabeça dizendo que iria.

Ninguém nunca me convidou para ir a festas. Na escola quando menor eu era a garota estranha da escola, que não conversava com ninguém, que não deixava ninguém ficar perto, mas isso acontecia por um motivo, um motivo real e muito perigoso. O motivo que matou meus pais e os pais deles. O motivo que matou todos eles. Era perigoso ter a Brit e o Chris por perto, parecia que a qualquer momento uma coisa terrível podia acontecer, mas como afastar pessoas se é elas quem vem atrás de você?

Fomos embora assim que terminei meu trabalho de história em que a Brit ajudou.

Britney estava vestida com calças de couro, salto alto e jaqueta.

Eu vesti shorts jeans e por baixo uma meia calça escura por causa do frio, mesmo com a Britney falando que suaríamos que nem duas porcas dançando, por isso vesti uma blusa menor que mostrava uma faixa da barriga.

Christian esperava por nós do lado de fora dentro do carro, ele iria conosco.

- E quem está dando a festa? - Indaguei sentada no carro com aquecedor.

- Na verdade é apenas uma boate que funciona todas as noites. - Explicou Chris.

- Mas a Brit...

- Se eu dissesse que íamos curtir a noite numa boate você não teria aceitado! E o Harry ia achar que somos más companhias! - Deu de ombros.

- E não importa o que eu acho?

- Tudo bem você achar que somos más companhia, somos mesmo, mas já fisgamos você e agora não pode mais fugir!

Isso era verdade, eles me fisgaram. Me acolheram, me fizeram sentir o que nunca provara, os laços da amizade!

- Não me inclui nisso, Brit! - Foi o Chris.

- Chris, como não incluir você? É o mestre do bando! - Falou ela. Ele negou com a cabeça olhando para ela incrédulo.

Ri deles.

Chegando na tal boate, para entrar tinha um tipo de senha que o Chris sabia, nem pediram nossa identificação com essa senha. Talvez ele fosse mesmo o mestre do bando. Entramos e o nevoeiro de gelo seco me cegou, não conseguia ver muita coisa além das sombras de pessoas se mexendo, só senti uma mão segurando meu pulso e me puxando, com certeza era o Chris por causa do tamanho da mão, não vi Brit, talvez foi na frente, me deixei ser guiada. A música era ensurdecedora, mas ao mesmo tempo um êxtase subia por minha garganta, nunca me senti assim antes, eu queria pular, dançar, me divertir com meus amigos. Quase não tinha iluminação, a que tinha ficava piscando, mas do outro lado da pista era iluminado por luzes vermelhas do bar.

Atravessamos a pista parando de frente a uma porta. A porta abriu e então olhei para o Chris quando fui puxada para fora da boate.

Mas não era o Christian que me levou para um beco escuro.

- O que está fazendo aqui? - Perguntou William fechando a porta atrás de si.

Porque ele estava em todo lugar em que eu estava?

- Não acredito que está me seguindo! - Fechei os punhos ao lado do corpo - Não vem me dizer que é coincidência você ir em todos os lugares que eu vou!

- O quê? Eu sempre venho aqui, não estou seguindo você! Você está se sentindo muito especial! - Franziu o cenho - E esse não é um lugar para você frequentar. - Cruzou os braços.

- Você não pode dar um de juiz, está aqui também.

- E eu disse que é um lugar que você não deve frequentar! - Sorriu torto.

Ele queria me provocar. Como o de costume.

- Por que sou mulher?

- Claro que não! Mas você é um imã ambulante que atrai o perigo. - Imã ambulante, isso cutucou uma ferida profunda como a ponta de uma faca quente, eu era isso, onde eu passava a dona morte me seguiria, assim como seguiu meu pai quando toda a família da minha mãe morreu - Por favor, vá para casa, lá estará mais segura. - Seus olhos brilhavam penetrantes.

Fiquei calada por um momento, eu não precisei olhar para ele quando vi que ele me fitava. Respirei fundo e pisquei ao encarar seus olhos safira.

- Eu não entendo. - Comecei devagar - Se eu fosse outra pessoa, você faria a mesma coisa? Não vi você puxando a Brit por exemplo e mandando ela ir para casa! - Falei agora mais calma, só queria entender toda essa preocupação, ninguém normal agiria assim, em uma ocasião normal ele me veria na boate e só isso - Porque parece que você está cuidando de mim o tempo todo? Você nem me conhece para se preocupar assim.

- Já ouviu a palavra empatia?

Fechei os olhos tentando me manter paciente. Odiava os joguinhos dele, só serviam para me irritar e fazer eu perder tempo.

- Você sabe muito bem o que eu quero dizer com isso tudo! Não vem me dizer que estava passando casualmente pela floresta quando me viu perdida e com o lobo! Ou que depois foi atrás de mim depois do meu encontro nada caloroso com a Nina e que você me salvou do lago! E agora isso! Você sempre aparece quando eu mais preciso!

- Então acredito que você deva rezar pela sua boa sorte, se é que podemos chamar de sorte, e me agradecer não seria nada mal.

Revirei os olhos balançando a cabeça.

- Tudo para você não passa de brincadeiras, não é? - Fiz menção de voltar para a boate, mas ele se colocou na frente.

- Casa. Nem que eu precise te arrastar.

Não me segurei. Explodi.

- Você nunca me leva a sério e você foi tão baixo quando contou para a Nina o meu ponto fraco, eu não preciso da pena de ninguém, eu não preciso que ninguém me proteja e certamente não preciso de você! Então fica longe de mim!

No final das contas eu fiz o que ele pedira a princípio, ficar longe dele.

Ele não se mexeu quando o contornei e voltei para a boate.

                         

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