As lágrimas borram minha visão, transformando o mundo ao meu redor em uma confusão embaçada de formas e cores. Eu mal consigo enxergar conforme me arrasto para dentro do meu quarto, uma âncora de desespero me puxando para o fundo de um abismo de dor e desolação. A sensação de perda e abandono é avassaladora, como se eu estivesse sendo engolida por um vazio escuro que ameaça me consumir por inteiro.
Meu coração dói com a intensidade da minha tristeza, uma dor profunda que parece ecoar em cada batida. Eu me agarro à última lembrança dos momentos felizes que compartilhei com minha família, mas eles se desvanecem rapidamente como névoa ao sol. Estou sozinha, perdida em um mundo desconhecido que se estende diante de mim como um deserto árido e implacável.
Caio de joelhos no chão, soluçando silenciosamente enquanto as lágrimas continuam a escorrer pelo meu rosto. O silêncio do meu quarto é ensurdecedor, preenchido apenas pelo som angustiante da minha própria respiração entrecortada. Eu me sinto como um pássaro enjaulado, aprisionado pela cruel injustiça do destino que me arrancou do único lar que conheci.
Com um soluço sufocado, ergo o olhar ao ouvir os passos pesados do meu pai ecoando no quarto. Seu rosto está obscurecido por uma expressão sombria, os traços tensos denunciando a dor que ele também carrega. Meus olhos turvos de lágrimas encontram os dele, buscando desesperadamente por algum sinal de conforto ou redenção.
Ele joga minha mala no chão com um estrondo surdo, uma demonstração física do abismo que se abre entre nós. O impacto reverbera pelo quarto, ecoando como um trovão silencioso em meio ao turbilhão de emoções que nos envolve. Eu mal consigo conter outro soluço, minha voz travada na garganta enquanto as palavras do meu pai caem sobre mim como pedras pesadas.
- Mariana, você precisa empacotar suas coisas. - sua voz é áspera, carregada com a tristeza de quem sabe que está rasgando o coração da própria filha.
Cada palavra é um golpe doloroso, um lembrete cruel da crueldade do destino que nos separa. Eu me movo mecanicamente, meus dedos trêmulos se fechando em torno dos objetos que representam os fragmentos frágeis da minha vida. A sensação de desamparo é avassaladora, como se eu estivesse mergulhando em um abismo de desespero sem fundo.
Meu coração se aperta de dor e desespero, uma sensação sufocante que ameaça me arrastar para as profundezas do abismo emocional. Cada batida é como um eco do meu sofrimento, uma triste melodia que ressoa em cada fibra do meu ser. Eu luto para manter as lágrimas contidas, sabendo que preciso ser forte, mesmo que por fora meu corpo esteja tremendo de angústia.
Ao encarar a realidade iminente da minha partida, viro-me lentamente para olhar para meus irmãos, que estão parados na batente da porta. Seus rostos inocentes estão marcados pela confusão e preocupação, uma reflexão espelhada da minha própria agonia. Eu sinto o peso da responsabilidade sobre meus ombros, a necessidade urgente de protegê-los e confortá-los, mesmo quando minha própria alma está em frangalhos.
- Não se preocupem, pequenos. Eu... Eu estou bem. - minha voz sai em um sussurro trêmulo, carregado com a promessa vazia de um conforto que eu mesma não posso oferecer. Eu tento sorrir, mesmo quando minhas entranhas estão retorcidas de dor, esperando transmitir uma sensação de calma que eu não sinto.
Eles olham para mim com olhos grandes e assustados, suas mãos se agarrando uma na outra em um gesto de apoio silencioso. Eu me sinto como um farol solitário em meio à escuridão, lutando para manter a chama da esperança viva em um mundo que parece cada vez mais sombrio e hostil. Mas mesmo enquanto me preparo para partir, prometo a mim mesma que encontrarei uma maneira de voltar para eles, não importa o que aconteça.
Minhas mãos tremem enquanto tento conter as emoções que ameaçam transbordar a qualquer momento. Meus irmãos, com os olhos marejados de lágrimas, me encaram com uma expressão de confusão e medo estampada em seus rostinhos inocentes. Eu luto para manter a compostura, forçando um sorriso trêmulo em meus lábios enquanto tento tranquilizá-los.
- Está tudo bem, pequenos. Não se preocupem. - minha voz sai num sussurro rouco, ecoando no silêncio carregado do quarto. Eu os abraço com força, desejando que minhas palavras possam oferecer algum consolo, mesmo que minha própria alma esteja dilacerada pela dor.
Com um nó na garganta, viro-me para encarar meu pai, implorando-lhe silenciosamente com os olhos para permitir que eu me despeça adequadamente dos meus irmãos. As palavras parecem travadas em minha garganta, mas eu sei que devo ser forte, tanto por mim quanto por eles.
- Pai, por favor... Deixe-me dizer adeus a eles. Eles merecem isso. - minha voz sai em um sussurro entrecortado pela emoção, minhas mãos tremendo enquanto eu tento transmitir a urgência do meu pedido.
Meu pai olha para mim, seu rosto marcado pela tristeza e pela indecisão. Por um momento, parece que ele vai recusar, mas então seu olhar amolece, e ele assente lentamente.
- Está bem, Mariana. Mas seja rápida. Temos que partir em breve. - sua voz é áspera, carregada com o peso da situação.
Eu assinto com gratidão, um suspiro de alívio escapando dos meus lábios. Eu sei que este será o último momento que terei com meus irmãos por um tempo indefinido, e eu farei de tudo para torná-lo memorável.
Corro para abraçar Gabriel e Sofia, meus braços os envolvendo com um amor desesperado e uma dor profunda que parece dilacerar minha alma. Eu os aperto contra mim, como se pudesse protegê-los do mundo cruel que nos separa.
- Prometo que voltarei para vocês. - minha voz sai num sussurro entrecortado pelo choro, minhas palavras ecoando como uma prece silenciosa. Eu os olho nos olhos, tentando transmitir a força que não sei se possuo.
Com um coração pesado, os coloco na cama, desejando que essa seja a última vez que os vejo dormindo em segurança. Um suspiro escapa dos meus lábios, carregado com a incerteza do que o futuro reserva. Mas mesmo na escuridão da noite, eu me agarro à esperança de que um dia, de alguma forma, eu possa retornar para eles.
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De pé diante da janela do quarto, observo as sombras dançando no jardim abaixo, como uma coreografia sombria que espelha a turbulência dentro de mim. Cada movimento é uma dança de desespero e incerteza, refletindo o caos que consome minha mente.
O eco das vozes do meu pai e de Pedro ressoa pelo andar de baixo, um murmúrio distante que se insinua através das paredes como um presságio sinistro. Meu coração bate descompassado no meu peito, enquanto a realização do que está prestes a acontecer me atinge como um soco no estômago.
Eu me agarro à moldura da janela, buscando algum tipo de apoio físico para sustentar meu espírito frágil. Minha mente está em tumulto, cada pensamento um redemoinho de medo e desespero.
O tempo parece ter perdido todo o sentido, como se estivéssemos presos em uma bolha suspensa entre o passado e o futuro. Eu me pergunto como chegamos a este ponto, como nossa família foi despedaçada tão cruelmente por forças além do nosso controle.
Mas mesmo em meio à escuridão que nos envolve, uma pequena faísca de esperança continua a brilhar dentro de mim, alimentando a chama da minha determinação de lutar até o último suspiro.
Sem olhar para trás, sinto a determinação tomar conta de mim enquanto me viro e abro a janela com um gesto firme. O vento noturno sopra em meu rosto, trazendo consigo o cheiro fresco da liberdade e o peso do desconhecido.
Com o coração batendo descontroladamente no peito, não hesito por um segundo sequer. Eu me lanço para o vazio, deixando para trás o conforto ilusório da minha antiga vida.
O impacto da queda reverbera através de cada fibra do meu ser, uma dor aguda que me faz gemer baixinho enquanto me levanto do chão. Meus músculos protestam contra o esforço, mas eu ignoro a dor, alimentada pela urgência de escapar do destino que me foi imposto.
Com passos rápidos e determinados, afasto-me da casa familiar e adentro a escuridão da noite.