De volta ao meu estúdio, joguei-me no sofá, tentando processar o que havia acontecido. A mão ainda tremia de quando toquei Adrian, como se a energia dele ainda estivesse em mim. Peguei o telefone e disquei o número de Clara, precisando desesperadamente falar com alguém.
"Clara, você está ocupada? Preciso conversar," disse, minha voz carregada de urgência.
"Emily? O que aconteceu? Você está bem?"
Clara perguntou, preocupada.
"Eu fui ao casarão," confessei, tentando controlar a respiração. "E encontrei alguém lá. Um homem chamado Adrian. Ele sabia quem eu era."
"Meu Deus, Emily! Eu te disse para ter cuidado. O que ele queria?"
"Ele disse que estava me esperando. Que eu era a chave para libertar as almas presas lá. Eu... eu vi os fantasmas no espelho, Clara. Eles estavam presos, sofrendo."
Clara ficou em silêncio por um momento, e eu pude imaginar sua expressão preocupada. "Emily, isso parece perigoso. Você precisa se afastar desse lugar e desse homem."
"Eu sei, mas há algo que me atrai para lá. Algo que sinto que preciso descobrir," respondi, a angústia em minha voz evidente.
"Prometa-me que vai tomar cuidado," Clara disse finalmente. "E que vai me manter informada. Não quero que você se machuque."
"Eu prometo," disse, sabendo que seria difícil manter essa promessa.
***
Os dias seguintes foram um borrão de emoções confusas e noites sem dormir. As visões continuavam, me puxando de volta para Thornfield Manor. Cada pintura que eu fazia parecia conter fragmentos do casarão, como se estivesse tentando me comunicar através da arte.
Finalmente, a curiosidade e a necessidade de respostas se tornaram insuportáveis. Decidi voltar ao casarão, desta vez mais preparada para enfrentar o que quer que encontrasse.
Quando cheguei, a neblina estava mais espessa do que nunca, tornando o casarão ainda mais sinistro. As portas pesadas rangeram novamente quando as empurrei, e o interior parecia ainda mais escuro e opressivo.
"Adrian?" chamei, minha voz ecoando pelos corredores vazios.
Ele apareceu quase imediatamente, saindo das sombras como se estivesse me esperando. "Emily, você voltou," disse, um sorriso de alívio em seus lábios.
"Eu preciso de respostas," disse firmemente.
"Quem são essas almas? E por que eu sou a chave para libertá-las?"
Adrian fez um gesto para que eu o seguisse, levando-me de volta à sala do espelho. "Essas almas são os antigos habitantes de Thornfield Manor," explicou. "Pessoas que morreram aqui, presas por uma maldição que não conseguem quebrar. Você é especial, Emily. Tem uma conexão com este lugar, algo que pode romper essa maldição."
"Mas como? Eu sou apenas uma artista," protestei, sentindo o peso da responsabilidade.
"Você tem mais poder do que imagina," disse Adrian, seus olhos fixos nos meus. "Sua arte, suas visões, são uma forma de comunicação com o outro lado. Se pudermos decifrar essas mensagens, poderemos encontrar uma maneira de libertar essas almas."
"O que preciso fazer?" perguntei, determinada a ajudar, apesar do medo.
"Primeiro, precisamos entender a história completa. Há um diário escondido em algum lugar da casa, escrito por uma mulher que viveu aqui há séculos. Suas palavras são a chave para desvendar a maldição."
"Como vamos encontrar esse diário?" perguntei, sentindo a tarefa quase impossível.
Adrian sorriu levemente. "Eu acredito que você saberá onde procurar. Suas visões e sua arte guiarão o caminho."
Passei os dias seguintes explorando o casarão, cada sala uma nova descoberta. As visões eram mais intensas aqui, cada pintura revelando um pouco mais da história de Thornfield Manor. Uma noite, enquanto explorava o sótão, encontrei uma parede que parecia diferente. Havia algo atrás dela, algo que parecia chamar por mim.
Com algum esforço, consegui abrir a parede e encontrei um pequeno compartimento escondido. Dentro, havia um diário antigo, a capa de couro desgastada pelo tempo. Minhas mãos tremiam enquanto o abria, as páginas amareladas revelando a caligrafia elegante de uma mulher chamada Isabelle.
Querido Diário,
Hoje, mais uma vez, senti a presença dele. Adrian. Meu amor proibido. Se ao menos nossa família aceitasse nosso amor, talvez pudéssemos ser felizes. Mas a maldição deste lugar nos aprisiona, e temo que nunca encontraremos paz.
Lágrimas encheram meus olhos ao ler as palavras de Isabelle. A conexão entre ela e Adrian era evidente, e eu sentia a dor e a esperança em cada linha.
"Adrian, eu encontrei o diário," disse, minha voz embargada. "Isabelle... ela escreveu sobre você."
Adrian apareceu ao meu lado, seus olhos sombrios cheios de tristeza. "Isabelle era minha amada. Nós fomos separados pela maldição deste lugar, e nossas almas foram presas aqui desde então. Eu a perdi, e agora, tudo o que desejo é libertá-la."
"Vamos conseguir," prometi, sentindo uma determinação crescer dentro de mim. "Vamos libertar todas as almas presas aqui."
"Há um ritual que precisamos realizar," explicou Adrian, suas mãos segurando as minhas. "Um ritual que exige coragem e sacrifício. Eu não posso fazer isso sozinho, Emily. Preciso de você."
"O que devo fazer?" perguntei, pronta para enfrentar o que fosse necessário.
"Precisamos reunir os itens que Isabelle mencionou em seu diário. Cada um é uma peça do quebra-cabeça que desbloqueará o ritual. E, acima de tudo, precisamos da sua arte para canalizar a energia necessária."
Passei os dias seguintes mergulhada no diário de Isabelle, cada página uma nova pista. Minhas pinturas começaram a refletir os itens mencionados: um medalhão, uma rosa negra, e um fragmento de espelho antigo. Cada um parecia ter uma história própria, e eu podia sentir a energia deles enquanto os recriava na tela.
"Emily, você está indo bem," disse Adrian, observando enquanto eu pintava. "Estamos chegando perto. Só precisamos encontrar os itens reais agora."
"No diário, Isabelle mencionou que o medalhão estava escondido na capela da família," disse, apontando para a passagem. "A rosa negra está no jardim, e o fragmento de espelho está na biblioteca. Precisamos buscar cada um deles."
Adrian assentiu, e juntos começamos a busca. A capela estava coberta de poeira e abandono, mas encontramos o medalhão escondido atrás de um altar antigo. O jardim, embora selvagem e descuidado, ainda guardava a rosa negra, sua beleza contrastando com o ambiente decadente.
A biblioteca foi a mais difícil. As prateleiras estavam repletas de livros velhos e empoeirados, mas depois de horas de busca, encontramos o fragmento de espelho escondido dentro de um livro de contos antigos.
Com os itens reunidos, voltamos à sala do espelho. Colocamos o medalhão, a rosa negra e o fragmento de espelho em um círculo, como descrito no diário. As velas ao redor lançavam sombras dançantes nas paredes enquanto Adrian começava a entoar palavras antigas e poderosas.
"Emily, agora você," disse Adrian, seus olhos fixos nos meus.
Peguei um pincel e comecei a pintar no chão, criando um círculo ao redor dos itens. Sentia a energia fluir através de mim, cada movimento carregado de poder.
A sala começou a tremer, e os espíritos no espelho pareciam se agitar. Sentia uma presença crescente, como se a própria casa estivesse viva.
"Estamos quase lá," disse Adrian, sua voz tremendo de emoção. "Apenas mais um pouco."
Finalmente, terminei o círculo, e uma luz intensa emanou dos itens. Os espíritos no espelho começaram a desaparecer, um a um, libertados de sua prisão.
"Conseguimos," disse Adrian, lágrimas de alívio nos olhos. "Eles estão livres."
"Mas a que custo?" perguntei, exausta, sentindo o peso do sacrifício.
Adrian sorriu tristemente. "Você fez mais do que qualquer um poderia esperar. E agora, temos a chance de encontrar paz."
Enquanto nos abraçávamos, sabia que nossa jornada estava apenas começando. Thornfield Manor ainda guardava muitos segredos, e juntos, estávamos determinados a descobrir cada um deles, não importa o que custasse.