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Madeleine despertou ainda sonolenta com o som de um celular vibrando insistentemente. O toque parecia cortar o silêncio da suíte de luxo como uma lâmina, penetrando seu sonho confuso e a puxando de volta à realidade. Ethan, despido, se levantou rapidamente em direção à poltrona onde suas calças vibravam com o toque insistente da chamada.
Ele pegou o aparelho e, sem sequer olhar para ela, se dirigiu ao banheiro, fechando a porta com um clique firme. Sua voz era baixa, mas o tom parecia tenso, palavras abafadas pela porta pesada. Maddie franziu a testa, a confusão ainda misturada ao sono, sentindo o lençol de seda deslizar por seu corpo enquanto se erguia ligeiramente.
- Bom dia... - sussurrou sonolenta, os olhos fixos na porta fechada, mas não houve resposta. Dez minutos se passaram, e a porta continuava trancada, os sons abafados da conversa ainda ecoando. Depois de esperar em vão, Madeleine suspirou, se levantou lentamente e caminhou até a mala que ainda estava junto à porta do quarto. Separou suas roupas e itens de higiene pessoal e, com passos hesitantes, se aproximou da porta do banheiro, batendo suavemente.
Nenhuma resposta.
Ela sentiu um leve desconforto se instalar em seu peito, como se algo estivesse prestes a mudar para sempre. Decidiu se vestir e, após alguns minutos, se sentou na mesa da varanda, onde um envelope branco com a inscrição "Parabéns aos noivos!" em uma bela caligrafia parecia zombar de seu primeiro despertar como mulher casada. Ela segurou o papel entre os dedos, o toque frio do cartão contrastando com o calor que ainda sentia da noite anterior.
Enquanto os minutos se arrastavam, Madeleine se pegou revivendo os momentos intensos da noite de núpcias. Ethan havia sido intenso, apaixonado, quase possessivo. Cada toque, cada beijo, cada palavra sussurrada ao seu ouvido pareciam confirmar que ele a desejava profundamente. Ele sempre a tratara com respeito, esperando pacientemente que completasse 18 anos, honrando seu desejo de se casar antes de consumarem o relacionamento.
Mas, por que então a sensação incômoda de que algo estava errado? Por que, mesmo agora, ela sentia que algo entre eles havia mudado?
A lembrança de seu primeiro encontro veio à mente. Ethan, o irmão de Henry, seu melhor amigo e confidente que tirara a própria vida de forma trágica. Ela nunca entendera completamente o que o levara a tal ato, mas Ethan aparecera em sua vida pouco tempo depois, os olhos sempre cheios de dor, mas com uma doçura que a confortava. Ele a fez se sentir menos sozinha, menos perdida. Era como se, ao perder Henry, ela tivesse encontrado uma nova razão para sorrir.
Foi assim que tudo começou, no cemitério, entre lágrimas e biscoitos de chocolate deixados sobre a lápide do amigo falecido. Ethan a viu ali, frágil e solitária, e sorriu. Aquele sorriso a fez se agarrar à esperança de um futuro feliz. Mas agora, olhando para o cartão abandonado na mesa, uma sensação de vazio a envolveu, como se aquele mesmo sorriso estivesse começando a se transformar em uma máscara que escondia algo muito mais sombrio.
Madeleine suspirou profundamente, seus pensamentos dispersos, até que a porta do banheiro finalmente se abriu e Ethan apareceu, os cabelos ainda úmidos, uma toalha amarrada frouxamente em seus quadris. Ele a observou em silêncio por um momento, seus olhos verdes escurecidos por algo que ela não conseguia identificar. Havia uma tensão em seus ombros, algo que parecia pesar mais do que os lençóis que ele havia deixado para trás.
- Um prêmio por seus pensamentos? - Ele se aproximou lentamente, inclinando-se para depositar um beijo doce em seus lábios antes de se sentar à sua frente. Ele pegou o cartão de felicitações deixado pelo hotel, girando-o entre os dedos distraidamente.
- Alguma coisa aconteceu na empresa? - Maddie forçou um sorriso, tentando ignorar a sombra que ainda pairava sobre seu coração. "Sinto falta de Henry", ela quis dizer, mas sabia que o nome de seu irmão falecido sempre trazia uma escuridão inquietante ao olhar de Ethan.
- Apenas um dos fornecedores, com pressa de iniciar o projeto. - Ethan respondeu, ainda girando o cartão entre os dedos, seus olhos fixos em um ponto distante, como se estivesse a quilômetros dali.
- Essa fornecedora também está com pressa - Madeleine se levantou lentamente e se sentou no colo de Ethan, enlaçando seus braços ao redor do pescoço dele, buscando algum sinal do homem que a fizera se apaixonar tão intensamente. Ela sentiu os lábios dele se curvarem em um sorriso breve contra sua pele.
- E qual a demanda dessa bela fornecedora? - Ele perguntou, suas mãos firmes deslizando pela cintura dela, os lábios descendo para o pescoço delicado, ainda marcado pelos beijos da noite anterior.
- Um banho e depois café da manhã - Maddie sussurrou, tentando ignorar a sensação de que algo escapava por entre seus dedos. - Essa fornecedora precisa se refrescar e se alimentar.
Ethan riu baixinho, se levantando com ela nos braços e a conduzindo ao banheiro. O vapor quente logo preencheu o espaço, os corpos se pressionando contra a fria cerâmica das paredes, os gemidos suaves de Maddie se misturando ao som da água corrente.
Os quinze dias seguintes se tornaram uma rotina de luxúria e prazer, tardes de longos passeios pela cidade e noites intensas que faziam Madeleine se esquecer das sombras que ameaçavam sua felicidade. Ela se entregou por completo, cada toque, cada beijo, cada sussurro a levando para mais longe de suas inseguranças.
Mas, ao final da lua de mel, enquanto o avião particular da família Hallow sobrevoava as nuvens rumo à cidade natal, Ethan se trancou na cabine privada sem uma palavra, deixando Maddie sozinha, perdida em pensamentos e dúvidas. Quando o avião finalmente pousou, Peter, o secretário pessoal de Ethan, a esperava ao pé da escada.
- Senhora Hallow, por favor, me acompanhe até o carro - disse ele, a voz firme, mas os olhos refletindo algo que Madeleine não conseguiu decifrar.
- E o Ethan? - Ela se virou, olhando para a porta fechada da cabine privada, mas não houve resposta. O silêncio era opressor.
- O senhor Hallow precisa seguir diretamente para uma conferência. Ele irá para a empresa assim que sair do avião. - Peter a conduziu delicadamente até o carro, seu tom tranquilizador, mas os olhos ainda distantes.
Madeleine hesitou, mas se permitiu ser guiada, decidindo que não deixaria que as sombras voltassem a dominá-la. Afinal, aquele era o início de sua nova vida, sua casa, seu verdadeiro lar.