Eram os pensamentos que rondavam sua mente, como sombras que se recusavam a desaparecer. Em uma tentativa ineficaz de se distrair, Madeleine pegou um dos livros que comprara naquela tarde e se jogou na cama, os olhos percorrendo as palavras sem realmente absorver o sentido. Não percebeu quando o cansaço a dominou, e adormeceu ainda segurando o livro entre os dedos.
Quando despertou, o quarto permanecia escuro, a luz do entardecer pintando sombras longas nas paredes. Ainda não havia sinal de Ethan. O lado dele da cama seguia intocado, o ar frio e pesado, como se o tempo tivesse parado em sua ausência. Uma sensação de vazio se enraizou em seu peito, tão profunda que parecia drenar toda a cor do mundo ao seu redor.
Descendo as escadas lentamente, seus pés descalços encontrando o chão frio, ela encontrou Elize organizando uma bandeja com frutas e bolos na mesa de mármore da sala de jantar. Apenas os preferidos de Madeleine, dispostos com cuidado, como se cada detalhe fosse uma tentativa de consolo.
- Bom dia, senhora? - Elize a olhou com uma expressão que oscilava entre pena e preocupação, seus olhos evitando os de Madeleine como se soubesse mais do que dizia.
Madeleine forçou um sorriso, tentando ignorar a sensação de que os empregados sussurravam sobre ela, comentando seu abandono e a solidão evidente da jovem esposa.
- Bom dia, Ethan enviou alguma mensagem? - Maddie perguntou, tentando esconder a esperança em sua voz, seus olhos fixos na bandeja, as mãos tremendo ligeiramente.
Elize hesitou por um segundo, ajustando a alça da bandeja, antes de responder com cuidado.
- O senhor segue incomunicável, mas seu pai ligou. Pelo tom que ele usou...
O coração de Madeleine acelerou. Seu pai nunca ligava. Não para ela. Nos poucos aniversários que lembrava, a única ligação que recebia dele era uma mensagem gravada por sua mãe antes de falecer.
- Elize, chame o Charlie e peça que prepare o carro. - A voz de Madeleine saiu firme, mas seus olhos traíam a tempestade que se formava dentro dela.
Ignorando a comida sobre a mesa, ela voltou ao quarto e se trocou rapidamente, os dedos tremendo enquanto puxava o zíper do vestido que escolhera às pressas. Trinta minutos depois, o carro cortava as ruas movimentadas da cidade em direção ao prédio onde ficava o escritório de seu pai, no imponente 18º andar.
Ao entrar, a decoração sombria e austera pareceu comprimir o ar ao seu redor, as paredes escuras e os móveis de mogno criando um ambiente que sempre lhe parecera intimidante. Seu pai estava sentado atrás da enorme mesa de madeira, os olhos perdidos, os ombros curvados como se carregasse o peso de uma vida inteira de decisões erradas.
Ele ergueu o olhar ao vê-la entrar e, por um instante, a máscara fria e controlada se desfez, revelando o rosto desesperado de um homem que havia perdido mais do que poderia suportar.
- Até que enfim... Sente-se, por favor. Eu preciso que me escute! - Sua voz estava rouca, os olhos vermelhos e brilhando com lágrimas que ele parecia incapaz de conter.
Madeleine hesitou, os pés presos ao chão, os joelhos tremendo ligeiramente.
- O que aconteceu, pai? O que está acontecendo? - Ela se aproximou lentamente, a voz quebrada pela confusão e pelo medo crescente.
Ele suspirou, os ombros caindo ainda mais, e de repente se levantou, caminhando ao redor da mesa até se ajoelhar diante dela, os braços estendidos em um gesto desesperado que a fez recuar instintivamente.
- Me perdoe, filha... Eu não fui um bom pai... Eu não consegui... Você é a lembrança mais forte dela, e eu não consegui... Tudo o que te fizeram... Tudo o que eu fiz...
As lágrimas correram livremente pelos rostos de ambos, a dor acumulada ao longo dos anos finalmente encontrando vazão. Pela primeira vez em sua vida, Madeleine viu o amor nos olhos do pai, uma emoção crua e desesperada que a fez tremer.
- Pai... O que houve? Por que agora? Por que hoje? - Ela tentou se afastar, mas ele segurou suas mãos com força, os dedos trêmulos apertando os dela como se temesse que ela desaparecesse a qualquer momento.
- O casamento... Tudo... Foi um plano. - As palavras dele a atingiram como um golpe, roubando seu fôlego, suas forças.
- Pai... O que você está dizendo? - Maddie se ajoelhou ao lado dele, os braços se fechando ao redor do pai que finalmente a abraçava, o homem que sempre fora uma figura distante e fria agora se desfazendo em lágrimas diante dela.
- A herança seria dada a você após o casamento. Assim que você se casasse, elas planejaram tomar tudo... Elas planejaram seu casamento.
- Então o Ethan... - As palavras saíram entrecortadas, o mundo girando ao seu redor.
- Ethan está envolvido em tudo. Ele planejou destruí-la. Eles querem te tirar tudo, até a vida, filha... Eles contrataram alguém para te matar.
O chão pareceu desaparecer sob seus pés. Os sons ao seu redor se tornaram distantes, como se ela estivesse submersa em um pesadelo do qual não conseguia acordar.
- Eu mudei o testamento para te proteger... Mas eles sabem, eles descobriram, e agora você precisa fugir. Steve, meu motorista, irá te levar até o porto. Eu preparei um navio para te tirar daqui. Não olhe para trás, não volte para casa. Fuja. Apenas fuja.
Ele a puxou para um último abraço, seus dedos se enredando nos cabelos dela, o toque desesperado de um homem que sabia que talvez nunca mais a veria.
- Eu te amo, Maddie. Nunca se esqueça disso. Fuja.
Sem forças para protestar, Madeleine se deixou ser guiada para fora do prédio, Steve a conduzindo até uma van preta com vidros escuros. Ele estendeu a mão, revelando um colar com uma única pérola, colocando-o ao redor do pescoço dela com cuidado.
- Não tire isso. É para a sua proteção - sussurrou ele, os olhos duros e focados, como se soubesse que estavam sendo observados.
Madeleine apertou a corrente contra o peito, as lágrimas ainda rolando por seu rosto, os pensamentos se misturando em um caos de dor e traição.
Quando chegou ao edifício luxuoso onde Ethan mantinha seu apartamento de solteiro, as chaves cortaram a pele de seus dedos, o metal frio se tingindo de vermelho.
Sem hesitar, ela se dirigiu à porta do apartamento 1006, o coração batendo forte como se tentasse avisá-la do perigo que a aguardava.