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Silêncio e vazio.
Foi tudo o que Madeleine encontrou ao retornar para a nova casa. A porta ecoou um clique seco ao se fechar atrás dela, como o fim de uma promessa. Mesmo decepcionada, ela seguiu para a suíte principal, organizando as sacolas e caixas das compras que fizera com Phillip e Eva. Em cinco dias, suas aulas começariam, mas o que a dominava não era a alegria ansiosa de uma jovem iniciando um novo ciclo, mas sim a tristeza amarga de se sentir abandonada.
"O que eu fiz de errado? Por que ele não voltou? Será que eu não fui suficiente?"
Eram os pensamentos que rondavam sua mente, como sombras que se recusavam a desaparecer. Em uma tentativa ineficaz de se distrair, Madeleine pegou um dos livros que comprara naquela tarde e se jogou na cama, os olhos percorrendo as palavras sem realmente absorver o sentido. Não percebeu quando o cansaço a dominou, e adormeceu ainda segurando o livro entre os dedos.
Quando despertou, o quarto permanecia escuro, a luz do entardecer pintando sombras longas nas paredes. Ainda não havia sinal de Ethan. O lado dele da cama seguia intocado, o ar frio e pesado, como se o tempo tivesse parado em sua ausência. Uma sensação de vazio se enraizou em seu peito, tão profunda que parecia drenar toda a cor do mundo ao seu redor.
Descendo as escadas lentamente, seus pés descalços encontrando o chão frio, ela encontrou Elize organizando uma bandeja com frutas e bolos na mesa de mármore da sala de jantar. Apenas os preferidos de Madeleine, dispostos com cuidado, como se cada detalhe fosse uma tentativa de consolo.
- Bom dia, senhora? - Elize a olhou com uma expressão que oscilava entre pena e preocupação, seus olhos evitando os de Madeleine como se soubesse mais do que dizia.
Madeleine forçou um sorriso, tentando ignorar a sensação de que os empregados sussurravam sobre ela, comentando seu abandono e a solidão evidente da jovem esposa.
- Bom dia, Ethan enviou alguma mensagem? - Maddie perguntou, tentando esconder a esperança em sua voz, seus olhos fixos na bandeja, as mãos tremendo ligeiramente.
Elize hesitou por um segundo, ajustando a alça da bandeja, antes de responder com cuidado.
- O senhor segue incomunicável, mas seu pai ligou. Pelo tom que ele usou...
O coração de Madeleine acelerou. Seu pai nunca ligava. Não para ela. Nos poucos aniversários que lembrava, a única ligação que recebia dele era uma mensagem gravada por sua mãe antes de falecer.
- Elize, chame o Charlie e peça que prepare o carro. - A voz de Madeleine saiu firme, mas seus olhos traíam a tempestade que se formava dentro dela.
Ignorando a comida sobre a mesa, ela voltou ao quarto e se trocou rapidamente, os dedos tremendo enquanto puxava o zíper do vestido que escolhera às pressas. Trinta minutos depois, o carro cortava as ruas movimentadas da cidade em direção ao prédio onde ficava o escritório de seu pai, no imponente 18º andar.
Ao entrar, a decoração sombria e austera pareceu comprimir o ar ao seu redor, as paredes escuras e os móveis de mogno criando um ambiente que sempre lhe parecera intimidante. Seu pai estava sentado atrás da enorme mesa de madeira, os olhos perdidos, os ombros curvados como se carregasse o peso de uma vida inteira de decisões erradas.
Ele ergueu o olhar ao vê-la entrar e, por um instante, a máscara fria e controlada se desfez, revelando o rosto desesperado de um homem que havia perdido mais do que poderia suportar.
- Até que enfim... Sente-se, por favor. Eu preciso que me escute! - Sua voz estava rouca, os olhos vermelhos e brilhando com lágrimas que ele parecia incapaz de conter.
Madeleine hesitou, os pés presos ao chão, os joelhos tremendo ligeiramente.
- O que aconteceu, pai? O que está acontecendo? - Ela se aproximou lentamente, a voz quebrada pela confusão e pelo medo crescente.
Ele suspirou, os ombros caindo ainda mais, e de repente se levantou, caminhando ao redor da mesa até se ajoelhar diante dela, os braços estendidos em um gesto desesperado que a fez recuar instintivamente.
- Me perdoe, filha... Eu não fui um bom pai... Eu não consegui... Você é a lembrança mais forte dela, e eu não consegui... Tudo o que te fizeram... Tudo o que eu fiz...
As lágrimas correram livremente pelos rostos de ambos, a dor acumulada ao longo dos anos finalmente encontrando vazão. Pela primeira vez em sua vida, Madeleine viu o amor nos olhos do pai, uma emoção crua e desesperada que a fez tremer.
- Pai... O que houve? Por que agora? Por que hoje? - Ela tentou se afastar, mas ele segurou suas mãos com força, os dedos trêmulos apertando os dela como se temesse que ela desaparecesse a qualquer momento.
- O casamento... Tudo... Foi um plano. - As palavras dele a atingiram como um golpe, roubando seu fôlego, suas forças.
- Pai... O que você está dizendo? - Maddie se ajoelhou ao lado dele, os braços se fechando ao redor do pai que finalmente a abraçava, o homem que sempre fora uma figura distante e fria agora se desfazendo em lágrimas diante dela.
- A herança seria dada a você após o casamento. Assim que você se casasse, elas planejaram tomar tudo... Elas planejaram seu casamento.
- Então o Ethan... - As palavras saíram entrecortadas, o mundo girando ao seu redor.
- Ethan está envolvido em tudo. Ele planejou destruí-la. Eles querem te tirar tudo, até a vida, filha... Eles contrataram alguém para te matar.
O chão pareceu desaparecer sob seus pés. Os sons ao seu redor se tornaram distantes, como se ela estivesse submersa em um pesadelo do qual não conseguia acordar.
- Eu mudei o testamento para te proteger... Mas eles sabem, eles descobriram, e agora você precisa fugir. Steve, meu motorista, irá te levar até o porto. Eu preparei um navio para te tirar daqui. Não olhe para trás, não volte para casa. Fuja. Apenas fuja.
Ele a puxou para um último abraço, seus dedos se enredando nos cabelos dela, o toque desesperado de um homem que sabia que talvez nunca mais a veria.
- Eu te amo, Maddie. Nunca se esqueça disso. Fuja.
Sem forças para protestar, Madeleine se deixou ser guiada para fora do prédio, Steve a conduzindo até uma van preta com vidros escuros. Ele estendeu a mão, revelando um colar com uma única pérola, colocando-o ao redor do pescoço dela com cuidado.
- Não tire isso. É para a sua proteção - sussurrou ele, os olhos duros e focados, como se soubesse que estavam sendo observados.
Madeleine apertou a corrente contra o peito, as lágrimas ainda rolando por seu rosto, os pensamentos se misturando em um caos de dor e traição.
Quando chegou ao edifício luxuoso onde Ethan mantinha seu apartamento de solteiro, as chaves cortaram a pele de seus dedos, o metal frio se tingindo de vermelho.
Sem hesitar, ela se dirigiu à porta do apartamento 1006, o coração batendo forte como se tentasse avisá-la do perigo que a aguardava.