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Aquela casa havia sido um presente direto dos pais de Ethan, que os haviam ajudado pessoalmente a escolher cada detalhe da mobília e decoração. Era um gesto de amor e acolhimento que aquecia o coração de Madeleine, trazendo a promessa de um verdadeiro lar.
O senhor Phillip Hallow mantinha sua figura séria e discreta diante de estranhos, mas, para Madeleine, ele sempre foi uma figura alegre e amável, alguém que fazia biscoitos em formatos de animais pela manhã e tinha o mesmo olhar doce de Henry, seu falecido filho, e o sorriso zombeteiro herdado por Ethan.
Eva, a mãe de Ethan, era uma presença ainda mais carinhosa na vida de Madeleine. Desde os primeiros anos de convivência, a doce senhora a tratava como uma filha, conhecendo cada um de seus pratos favoritos e guardando fotos e memórias dela e de Henry enquanto cresciam juntos. Embora nunca tivesse dito em voz alta, Eva sempre deixou claro seu desejo de que Henry e Madeleine fossem mais do que amigos. Era um sonho que nunca se realizou, pois para Henry e Madeleine o amor que compartilhavam sempre foi fraternal, algo puro e protetor, que frustrou silenciosamente os planos de Eva. Esse desejo só se concretizou com o trágico acidente de Henry e o retorno de Ethan após seus longos anos de estudo no exterior.
Ao entrar na ampla sala de estar, Madeleine não pôde deixar de se surpreender ao ver os dois esperando por ela. Sem hesitar, ambos se aproximaram, a apertando em um abraço caloroso que a fez se sentir, finalmente, em casa.
- Bem-vinda ao lar! - Phillip e Eva a conduziram até o sofá, onde Elize, a antiga governanta da família Hallow, apareceu com uma bandeja de chá e biscoitos em formatos de animais, fazendo os olhos de Madeleine se encherem de lágrimas.
- Se soubesse que faria você chorar, não deixaria o Phillip fazer esses malditos biscoitos - brincou Eva, mas seu olhar era carinhoso, atento a cada reação da jovem nora. Vendo a direção do olhar de Madeleine, ela sinalizou para que Elize se retirasse.
- Não, não... Por favor, não estou chorando pelos biscoitos. - Madeleine se agarrou à bandeja, pegando um elefante com a tromba quebrada entre os dedos trêmulos, enquanto as lágrimas desciam livremente por seu rosto. - Este é o melhor dia da minha vida. Eu não estou triste... Eu finalmente tenho uma família.
A lembrança da doce menina de vestido amarelo, que um dia pediu que fossem seus pais, invadiu a mente de Phillip e Eva. Eles sabiam a triste realidade daquela que agora era sua nora, conheciam suas dores, seus medos, e estavam determinados a protegê-la como a filha que nunca tiveram.
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Eva e Phillip passaram o dia distraindo Madeleine da ausência de Ethan. A jovem estava radiante, cozinhando pela primeira vez em sua nova e bela cozinha, aprendendo a assar biscoitos com Phillip e a fazer a famosa torta de pêssego de Eva. Eles riram juntos, experimentaram receitas, e Madeleine mostrou com orgulho as lembranças que trouxera da lua de mel, presentes que havia escolhido com Ethan para ambos.
Estavam tão imersos na leveza do momento que não notaram quando Elize apareceu na porta do jardim, acompanhada por uma figura que Madeleine reconheceu imediatamente.
- Senhora Hallow, sua irmã está aqui para visitá-la. - Elize anunciou a chegada de Adeline, que já havia tomado a dianteira e entrado no extenso jardim, os olhos percorrendo cada detalhe da casa com uma expressão que para um estranho poderia parecer simples admiração, mas que para Madeleine revelava algo mais próximo de desprezo.
- Olá a todos, bem-vinda, Maddie. Mamãe e eu sentimos muito a sua falta. - Adeline se sentou diante de Madeleine, o sorriso doce que exibia não alcançando os olhos frios e calculistas.
Madeleine permaneceu estática, as palavras presas em sua garganta. Ela não sabia como responder, afinal, tudo que não sentira era saudade. Eva, notando o desconforto de Madeleine, cerrou os punhos, seu olhar endurecendo. Ela conhecia a história, sabia dos anos de abuso e manipulação que a jovem sofrera nas mãos daquela família que agora se apresentava como amorosa.
- Querido, o carro já está pronto? - Eva ignorou deliberadamente a presença de Adeline, virando-se para o marido.
- Já está tudo pronto, apenas estão nos aguardando - respondeu Phillip, captando o pedido silencioso da esposa. Ele se levantou e se aproximou de Madeleine, pousando a mão gentilmente em seu ombro.
- Querida, suba e se arrume. Já estamos atrasados e precisamos que nos acompanhe. - Sentindo-se grata por ambos, Madeleine se despediu de Adeline com um aceno rápido e correu para se trocar no quarto.
Adeline, vendo a irmã se afastar, deu um passo para segui-la, mas foi parada por Eva, que se colocou firmemente em seu caminho.
- Senhorita, estamos todos de saída, e o mais educado seria que a visita se retirasse - disse Eva, sua voz baixa mas carregada de firmeza.
- Desculpe o incômodo. Nos veremos novamente em breve - Adeline respondeu, sua voz carregada de uma falsa doçura, os olhos lançando um brilho ameaçador antes de se virar e se retirar, seus passos rígidos ecoando pelo corredor enquanto Eva a observava até que a porta se fechasse.
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O resto do dia foi leve e divertido. Phillip e Eva levaram Madeleine para comprar todos os itens necessários para o início de sua vida universitária, além de jóias, roupas e sapatos, cada presente escolhido com carinho, como se tentassem compensar todos os anos de ausência e dor que a jovem suportou.
Phillip, sem se importar com as negativas de Madeleine, a presenteou com um carro, insistindo que ela deveria ter liberdade para se locomover, para ir e vir sem depender de ninguém.
Enquanto os três aproveitavam o dia, rindo e comemorando, não perceberam a figura elegante que os seguia desde que saíram de casa. Ao observar Madeleine sorrindo ao lado dos sogros, Adeline falava furiosamente ao telefone.
- Eles a estão mimando como se fosse uma rainha! Jóias, roupas, sapatos e bolsas! Isso é inaceitável! Como você pode deixar que façam tudo isso por ELA?
A voz do outro lado da linha disse algo que fez Adeline parar, seu rosto tenso se suavizando em um sorriso frio e cruel.
- Você sabe que tudo o que eu quero é que a justiça seja feita - sussurrou ela, seus olhos fixos na imagem distante da irmã sendo abraçada por Eva e Phillip.
"Aproveite, querida irmã, assim vai doer mais quando acabar."
Madeleine nem imaginava a dor que a aguardava.