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O som do relógio sobre a mesa era irritante. Cada tique seco e preciso parecia zombar da minha inquietação, uma lembrança constante de que o tempo, apesar de implacável, também trazia libertação.
Dez anos.
Dez longos anos vivendo em uma prisão que se mascarava de lar. Uma promessa vazia feita quando Katri e Adeline se mudaram para nossa casa. A doce irmã de minha mãe, viúva e solitária, se tornou a nova senhora do lar, e sua filha, o tesouro intocável a ser protegido e venerado.
Meu pai jurou que nada mudaria, que tudo seria para o meu bem, mas as palavras se perderam no silêncio crescente que se instalou entre nós. A cada dia, eu me tornava uma estranha em minha própria casa, minha existência reduzida ao silêncio, à sombra. Katri, com seu olhar afiado e sua voz sempre tão doce para os outros, me desacreditava a cada gesto. Adeline, a filha perfeita, sempre tão delicada e angelical, era a luz que eclipsava minha presença.
Eu aprendi a desaparecer. Me afundei nos estudos, transformei bibliotecas e corredores de escola em meus refúgios. Qualquer lugar que não fosse aquele casarão sufocante era bem-vindo. Consegui trabalhos de meio período, juntei cada centavo com determinação, construindo minha independência em segredo, longe da fortuna do meu pai e da vigilância de Katri. Eu era uma prisioneira preparando sua fuga.
Então, Ethan Hallow surgiu na minha vida, como um raio de luz em um céu sempre nublado. Ele era o sonho de qualquer mulher – 25 anos, inteligente, bem-humorado, doce e gentil. Filho único de uma família proeminente e amorosa, Ethan era o homem que prometia a liberdade que eu tanto desejava. O meu futuro marido.
Cada badalada do relógio me aproximava do meu destino. Hoje, eu seria livre. Hoje, eu me tornaria a senhora Hallow, vivendo em um verdadeiro lar, longe das sombras que me aprisionaram.
Ethan era o príncipe encantado das histórias que eu lia em segredo, o herdeiro que alavancou a empresa familiar, tornando-a internacionalmente conhecida em menos de cinco anos. O homem que revistas exaltavam como um dos melhores partidos da cidade, amado e invejado em igual medida.
Seus gestos de carinho em público o tornavam objeto de admiração, e Madeleine, a mulher que conquistou seu coração, parecia a personificação da perfeição. Jovem, bela e inexperiente, ela havia conquistado o que muitas sonhavam – um homem belo, rico e poderoso. E eu, finalmente, seria essa mulher. Seria a senhora Hallow, livre das correntes que me prenderam por tanto tempo.