Capítulo 2 Amor quase impossível - Serena Alves

Capítulo 2

Para minha surpresa acabei voltando a encontrá-lo sentado na calçada, na esquina da casa de Marcelo, ele estava sozinho agora e observou minha aproximação com tanto interesse que meu coração voltou a disparar no peito; seu gesto de erguer os óculos escuros, além de charmoso, revelou um par de lindos olhos azuis, intensos e enigmáticos, que percorreram meu corpo com um brilho de cobiça.

Ah, sim, aos quatorze anos eu tinha um corpo escultural, com medidas exatas que muitas vezes me valiam um misto de inveja e desdém por parte das meninas e uma cobiça masculina que me deixava muito, muito constrangida. Mas meu corpo bem formado também me dava uma aparência mais velha, apesar de minha baixa estatura.

- Perdida? – A pergunta foi feita em um tom rouco e suave.

- Não de verdade. – Sorri, todos diziam que eu tinha um sorriso lindo, então porque desperdiçá-lo, não é? – E você? – Foi a vez de ele sorrir e tirar meu fôlego.

- Creio que acabei de me encontrar. – Não entendi bem o sentido das palavras, mas observei-o levantar-se e caminhar até parar a poucos centímetros de mim. Sua estatura impressionava, principalmente se levando em conta que só tenho um metro e meio.

- Por que não tira esses óculos para eu poder ver seus olhos? – Era um pedido razoável, mas estremeci assim mesmo. Sabia o que aconteceria. Eu retirava os óculos escuros e ele recuava assustado diante do violeta assustador dos meus olhos. Isso acontecia com irritante frequência, eu já estava acostumada.

Mesmo assim atendi ao pedido e, para minha surpresa, ele apenas sorriu ainda mais.

– Olhos de ninfa. – Seu dedo deslizou por meu rosto com tal delicadeza que minha pele se arrepiou, mas continuei a fitá-lo, simplesmente porque não conseguia desviar os olhos dos dele.

– Acredita em amor à primeira vista, minha ninfa? – Só consegui acenar com a cabeça, concordando.

Ora, eu tinha quatorze anos, claro que acreditava em amor à primeira vista! Acreditava em contos de fadas, duendes, bruxas... Só não acreditava em Papai Noel! Meu coração disparou ainda mais quando ele se inclinou ligeiramente, sua respiração se misturando com a minha... Ele ia me beijar, eu tinha certeza disso, embora jamais houvesse passado pela experiência antes.

Meu primeiro beijo!

Os lábios dele eram macios, mornos e tocaram os meus suavemente; suspirei e pousei as mãos em seus ombros, apesar da malha da camiseta pude sentir a pele quente que cobria os músculos fortes.

Ele segurou minha cintura, mas não puxou meu corpo contra o dele, apenas inclinou a cabeça e deslizou a língua áspera sobre meu lábio inferior, me instigando a entreabrir os lábios e lhe dar livre acesso à minha boca.

Meu corpo estremeceu involuntariamente quando nossas línguas se entrelaçaram.

Ele tinha gosto de menta, Coca-Cola e algo indefinível, muito sutil, mas que provocava em mim uma incontrolável ânsia por mais.

Deixei escapar um suspiro e ele finalmente me abraçou, estreitando-me contra seu corpo, foi nesse momento que as emoções explodiram como uma bomba dentro de mim, minha pele formigava, meu sangue corria em tal velocidade por minhas veias que a pulsação ecoava em meus ouvidos como tambores de guerra.

Meus dedos se prenderam entre seus cabelos loiros e macios como seda. Minha mão se firmou em seu ombro, como se em busca de equilíbrio, pois minhas pernas pareciam gelatina.

Meus seios doíam na ânsia de me apertar mais contra ele, os mamilos enrijecidos sob a camiseta de algodão roçavam o peito largo e rijo.

A impressão que eu tinha era de que o mundo inteiro deixara de existir, havia apenas ele, seus braços em torno da minha cintura, sua respiração ofegante se misturando com a minha, seus lábios macios, sua língua acariciando a minha... Tudo em plena rua, sob o forte sol daquela tarde de verão.

Ele estremeceu e suavizou o beijo, antes de correr os lábios por todo meu rosto.

Nossos olhos se encontraram, escurecidos por um desejo que era completamente

novo para mim. Abri a boca, mas ele a cobriu com o dedo indicador.

- Não diga nada agora, minha ninfa. Apenas me encontre no fim da praia da tartaruga nas pedras; aí sim, vou querer saber tudo sobre você. – Beijou a ponta de meu nariz e sorriu, maroto. – Tenho que saber tudo sobre a futura mãe dos meus filhos. – Ri, meio atordoada, meio divertida.

- Eu... Nunca...

- Eu sei, nem eu. – Com essa afirmação ele voltou a me beijar com uma impetuosidade levemente assustadora. – Cinco horas, pedra do elefante. Não parta meu coração. – Com essas palavras ele se afastou correndo, um riso alegre se espalhando pelo ar.

Me sentei na calçada.

Meu primeiro beijo! Toquei os lábios, ainda sensíveis e saboreei um pouco mais do gosto dele em minha saliva.

Meu coração parecia se expandir dentro do peito com aquela emoção arrebatadora que apenas os adolescentes são capazes de sentir em toda sua plenitude.

O primeiro amor...

Acho que passei ainda uma hora sentada naquela calçada, um sorriso deslumbrado brincando em meus lábios, sentindo-me em paz com o mundo; tão de bem com a vida que quando caminhei de volta para a luxuosa casa de praia do meu futuro padrasto, todas as minhas dúvidas e inseguranças haviam desaparecido.

Se minha mãe sentia por Marcelo o mesmo que eu estava sentindo pelo meu doce estranho, então tudo daria certo...

            
            

COPYRIGHT(©) 2022