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Olhei pela enésima vez para o relógio em meu pulso, eram cinco e meia. A praia estava deserta. "Ele não vem." Pensei. "Mas por quê?".
No fundo eu sabia a resposta, tinha apenas quatorze anos, nossos pais iam se casar e esperavam que fossemos como irmãos; eu sabia, mas isso não diminuía a dor.
Queria, precisava vê-lo.
Lágrimas corriam por meu rosto, apenas quem já se apaixonou na adolescência sabe como a dor pode ser desesperadora. Não era justo perdê-lo daquela forma! Abracei os joelhos e deitei a cabeça sobre eles, deixando o pranto lavar minha dor. Nesse momento senti seu braço em torno de meus ombros e deitei minha cabeça em seu peito.
- Não chore assim. – Pediu ele, rouco. – Vai acabar ficando doente. – Mas sua afirmação tinha pouca convicção e muita tristeza.
- Você... Acredita em amor à primeira vista? – Minhas palavras saíram entrecortadas pelos soluços e ele me abraçou com força, acariciando meus cabelos e beijando minha testa.
- Você só tem quatorze anos, Cristy, vai se apaixonar mil vezes antes de encontrar o homem certo. – Encolhi-me por dentro, como se ele tivesse me batido. – Não, Ninfa, eu não estou subestimando o que está sentindo agora. Deus sabe que eu não poderia fazer isso, ainda que quisesse. Mas eu sou muito mais velho que você e preciso pensar friamente, por nós dois, entende? Imagine o que aconteceria com o relacionamento de nossos pais se eles pensassem que seduzi você? Eles estão tão felizes...
- Eu sei, mas... – Ergui a cabeça e nossos olhos se encontraram. – Então beije-me, Alex, pela última vez. – Vi enquanto ele travava uma batalha interna, também percebi quando a paixão venceu e ele inclinou a cabeça em minha direção.
- Eu me enganei, você não é uma ninfa... É uma feiticeira... – Murmurou, antes de devorar minha boca, lambendo, mordiscando meus lábios até que ardesse em mim a mesma ânsia que parecia dominá-lo. Não sei por quanto tempo ficamos ali, nos braços um do outro.
Mas finalmente Alex se afastou, ofegante e me fitou com um olhar sombrio.
- Isso não vai acontecer novamente, Cristy... Não pode acontecer. Não vai ser fácil, eu sei, mas de hoje em diante seremos como irmãos. – Enrolou um cacho de meus cabelos entre os dedos e me brindou com um sorriso triste.
- Alex...
- Não diga nada, não vai adiantar. – Soltou meu cabelo e beijou minha testa. – Seja bem-vinda à família, Cristine; meu pai tem razão, eu e Ricardo acabaremos mimando você. – Com um só impulso, ele se levantou e suspirou. – Não demore muito por aqui. – Com essas palavras ele se afastou rapidamente, sem olhar para trás.
Por vários minutos me revoltei com o destino e a injustiça da situação. O que aconteceria muitas vezes ao longo dos anos seguintes. Mas acabei concordando com Alex; eu nunca vira minha mãe tão feliz e já amava Marcelo como a um pai. Não seria capaz de fazer nada que pudesse causar o mínimo desgosto aos dois.
Passaram-se apenas seis meses até que nos mudássemos para a mansão de Marcelo no Alto da Boa Vista, o casamento dos dois foi simples, com apenas a presença de amigos íntimos e a família, que não era muito grande. Alex e Ricardo nos receberam com carinho, a afeição que dedicavam a minha mãe era autêntica e de certa forma me comovia e, como Marcelo previa, logo me vi na posição de princesa da casa.
Um quarto fora decorado especialmente para mim e Marcelo fizera questão de me matricular na mesma escola de Ricardo que fazia questão de me apresentar a todos como sua nova irmã.
Alex e eu nunca ficávamos sozinhos, evitávamos situações difíceis e tratávamo-nos de forma fraternal diante dos outros. Na verdade, só era possível nos ver juntos em ocasiões inevitáveis; mas eu sentia, e percebia que Alex também, uma contração no estômago todas as vezes que alguém dizia algo como: "Seu irmão fez isso..." ou "Chame sua irmã..." Eu sentia vontade de gritar em alto e bom som:
- Ele não é meu irmão! É o homem que eu amo! – Mas me calava, assim como ele, cada vez mais, me dedicava aos estudos, trancada em minha luxuosa suíte decorada para uma mocinha de 14 anos, e tentava ser a irmã dos sonhos de Ricardo.
Mas, ninguém poderia ser ferido pelos meus sonhos, então, sonhava com ele e pela manhã se tornava ainda mais difícil arrancar de minha boca o doce sabor de Alex.
Parecia combinado que quando eu estivesse na piscina, ele se mantinha dentro da casa e vice-versa. Um mudo acordo tácito que no fundo não amenizava a tensão entre nós e só causava ainda mais sofrimento.