Capítulo 2 Ecos do passado

Helena observou Gabriel enquanto ele caminhava lentamente pelo café. Seu jeito de se mover era o mesmo de antes, mas havia algo mais nele agora. Uma espécie de peso nos ombros, como se os anos que se passaram foram carregados mais do que apenas distância. Ela mal conseguia acreditar que ele estava ali, naquele lugar que um dia era frequentado juntos.

- Por que voltou? - A pergunta escapou antes que pudesse se conter. A voz saiu mais alta do que ela pretendia, contendo uma mistura de curiosidade e nervosismo.

Gabriel soltou um sorriso discreto. Não era um sorriso leve, daqueles que Helena lembrava, mas um curvar de lábios que parecia carregar histórias não ditas.

- Cansei da cidade grande. - Ele extrai os olhos, fitando o local ao redor. - Preciso de um tempo para recomeçar. E... parece que alguns lugares nunca deixam de nos chamar de volta, não é?

Helena tentou decifrar o que havia por trás das palavras dele, mas desistiu. Não era seu papel querer entender. Afinal, eles eram apenas... conhecidos? Amigos? Ex-alguma coisa?

- Isso é verdade - respondeu ela, limpando nervosamente uma mesa próxima. - Mas não achei que você fosse do tipo que deixa levar pela nostalgia.

Gabriel deu um passo mais perto, encurtando a distância entre eles. Helena sentiu um frio estranho subir pela espinha. Como ele poderia fazer isso? Parar o ar à sua volta só com um olhar?

- Eu mudei - disse ele, a voz baixa. - E você também. Não sei ainda como, mas vejo isso em você.

Helena desviou o olhar, sentindo o peito apertado. Claro que havia mudado. O tempo a havia transformado. O passado a havia moldado. E agora ele estava de volta, fazendo tudo parecer assustador novamente.

- Bem, aqui está o seu café - murmurou, forçando um tom neutro ao colocar a xícara à frente dele. - Espero que goste.

Gabriel agradeceu com um aceno, mas não se moveu para tomar o café. Em vez disso, ele continua olhando para ela, como se buscasse por algo. Quando finalmente falou, suas palavras transmitiram uma emoção que ela não esperava.

- Sabe, Helena, eu perdi muitas coisas nesses anos. Pessoas que amei... lugares... e também perdi você. Sei que éramos jovens, mas - ele fez uma pausa, parecendo lutar contra lembrança alguma -, mas você significou muito para mim.

O silêncio entre eles tornou-se espesso, quase palpável. Helena sentiu o coração acelerar e, por um instante, desejou que não houvesse tanto ressentimento dentro de si para responder sinceras palavras. Mas como poderia esquecer o que ele havia feito? Como poderia perdoá-lo por ter partido sem dizer adeus, sem sequer uma explicação?

Ela fechou os olhos por um segundo, recuperando o controle. Então, com um sorriso triste, olhou para ele.

- Mas eu também mudei, Gabriel. E talvez... talvez essa cidade não seja grande o suficiente para apagar o passado.

Gabriel inclinou-se um pouco mais, como se tentasse romper a barreira invisível entre eles.

- Ou talvez seja o lugar perfeito para curar o que o passado cristão - murmurou.

Por um momento, Helena sentiu o impulso de concordar, de deixar o passado para trás e permitir que ele entrasse novamente em sua vida. Mas não podia. Ainda não.

Ela deu um passo para trás, afastando-se.

- Boa noite, Gabriel - disse, em um tom firme. - Espero que tenha o descanso que veio procurar.

E com isso, girou nos calcanhares e subiu uma pequena escada para o andar superior do café, deixando Gabriel sozinho no salão vazio.

Ele a observou se afastar, a silhueta dela desaparecendo pela escada. Não era isso que eu queria. Ele sabia que Helena havia ferido no passado, mas agora estava determinado a provar que poderia ser diferente.

Enquanto pegava a xícara e sorvia um gole do café, sentia o sabor forte e intenso que ela costumava preparar, como se cada gota trouxesse um pouco da essência de Helena.

"Eu também mudei, Helena", pensou Gabriel, fechando os olhos por um momento. "Desta vez, não vou deixar você ir embora tão facilmente."

            
            

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