Capítulo 5 Por que eu deveria confiar em você novamente

Helena tentou manter a postura firme, mas o olhar intenso de Gabriel parecia buscar algo além das palavras calculadas. Enquanto o encarava, uma enxurrada de lembranças dolorosas veio à tona - noites solitárias, promessas quebradas, uma sensação de vazio que ele deixoua. Lembrava-se vividamente de como, anos atrás, ela depositara toda a sua confiança e todos os seus sonhos no amor deles, acreditando que construiriam um futuro juntos. Mas, em vez disso, ele simplesmente foi embora, deixando para trás uma jovem perdida e desamparada.

"Eu te amava", pensou Helena, mas engoliu as palavras antes que elas se transformassem em acusações. Ela não queria que ele visse o quanto ainda a afetava. Não depois de tudo que havia conquistado sozinha.

- Você foi embora, Gabriel - disse, finalmente, a voz baixa e transmissão de emoção. - Sem uma explicação, sem sequer uma carta. Você não pensou que deixaria para trás, não estrago que causaria no coração de alguém que acreditava cegamente em você.

Gabriel sentiu o golpe das palavras dela como um soco. Claro que ele sabia que havia partido de maneira abrupta, mas sempre achara que Helena entenderia. Que talvez ela seguisse em frente e construísse sua vida sem ele. Nunca imaginei o impacto real que sua partida teria.

- Helena, eu... - começou, mas a expressão dela suportou.

- Não há desculpa para o que você fez - interrompeu ela, erguendo a mão, como se quisesse mantê-lo à distância. - Eu te esperei por meses. Meses, Gabriel! Você era tudo o que eu tinha... e então simplesmente desapareceu. Como se o que vivemos não teve significado nada.

As palavras dela reverberaram no pequeno espaço do café, enchendo o ar com um amargor palpável. Gabriel passou a mão pelos cabelos, frustrado.

- Eu sei que errei, Helena. Sei que fui um covarde - admitido, a voz repleta de reclamação. - Mas eu não sabia lidar com a perda que estava enfrentando. Na época, eu... - ele hesitou, olhando para o chão, como se procurar as palavras corretas pudesse diminuir a dor que causara -, eu perdi meu pai, Helena. E parecia que o chão havia desaparecido sob meus pés.

Helena piscou, uma surpresa fazendo-a vacilar. Ele nunca havia mencionado isso. O pai de Gabriel era um homem severo, mas que sempre fora do centro de sua vida. Mesmo assim, a revelação não apagou o que ele fez.

- E isso foi desculpa para me deixar sem uma palavra? - Disse ela, a dor corrigindo a surpresa. - Eu teria entendido. Teria ficado ao seu lado. Mas você não me deu escolha. Você tomou uma decisão por nós dois.

Gabriel sentiu o peito apertar com a verdade das palavras dela. Helena, que sempre foi tão leal e forte, realmente teria ficado ao lado dele. Ele se amaldiçoava por não ter enxergado isso antes.

- Eu não mereço perdão, eu sei - disse ele, com a voz rouca. - Mas eu não voltei para pedir desculpas vazias. Eu voltei porque, depois de todos esses anos, percebi que ainda sinto algo por você e preciso saber se há uma chance, por menor que seja, de começarmos de novo.

Helena deu um passo para trás, como se as palavras dele fossem empurradas fisicamente. Seu coração batiamente doloroso no peito. Ele tinha coragem de voltar e falar de sentimentos? Depois de tudo?

- Você não pode simplesmente aparecer e esperar que eu esqueça a dor - murmurou, o olhar brilhando com lágrimas não derramadas. - Eu reconstruí minha vida, Gabriel. Me tornei alguém que você nunca quis conhecer de verdade. Não sou mais a garota que você deixou para trás.

Gabriel a observou, vendo a força nos olhos dela, e soube que estava diante de uma mulher que havia passado por um inferno em específico e precisou se tornar mais forte. Era exatamente isso que o atraía ainda mais agora. Não era apenas a lembrança de quem ela era, mas a mulher impressionante que havia se tornado.

- Eu sei - murmurou ele, dando um passo à frente. - É exatamente essa mulher que eu quero conhecer, a Helena que foi forjada em meio as adversidades e ao caos que eu deixei. Me deixe provar que posso ser alguém diferente também.

Ela balançau a cabeça negativamente com uma risada amarga escapando de seus lábios.

- Por que eu deveria confiar em você novamente?

A pergunta pairou no ar, cheia de desafio e dor. Gabriel sabia que não tinha uma resposta fácil para isso. Como alguém poderia reconquistar a confiança depois de ter sido causa de tanta mágoa?

- Não posso te pedir isso - respondeu ele, gentilmente. - Não agora. Mas estou disposto a lutar por você, se você me deixar tentar.

Helena o encarou por um longo tempo, o conflito evidente em seu rosto. Ela queria acreditar nele, queria desesperadamente que algo dentro dela ainda fosse capaz de se abrir para o amor. Mas o medo do abandono era profundo. Cada vez que pensava em se aproximar novamente, a dor das lembranças a puxava para trás.

- Eu não sei, Gabriel - disse, finalmente, com um suspiro. - Eu não sei se consigo passar por isso de novo.

Ele concordou, aceitando a resistência dela.

- Eu entendo. E vou respeitar seu espaço - disse, com uma determinação serena. - Mas não vou desistir. Ainda não há uma parte de mim que acredita que podemos ser mais do que isso.

E, com isso, Gabriel deu um passo para trás, afastando-se lentamente, como se quisesse dar a ela o espaço necessário para processar tudo. Enquanto ele saía pela porta do café, Helena sentiu as lágrimas que havia segurança finalmente escorreram.

Ela não sabia se era mais forte do que aquela dor. Não sabia se conseguiria perdoá-lo. Mas uma coisa era certa: Gabriel Vasconcelos estava de volta em sua vida. E, desta vez, Helena teria que decidir se enfrentaria os fantasmas do passado para descobrir o que realmente havia sob a superfície daquele homem que ela amava tanto.

                         

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