Olhando para o teto, pensando em coisas aleatórias. Me lembro que Sarah também me proibiu de usar magia para minha própria segurança. Eu estava me sentindo cada vez mais fraca sem usa-la. Antes eu tinha mais liberdade em expressar meus sentimentos com a minha magia, mas agora Sarah está me proibindo de ser quem eu sou. Quando criança, os pais de Sarah me protegeram dos humanos, dizendo que eu era uma criança normal que foi enxotada para fora de casa quando ainda era um bebê. As pessoas acreditavam em sua história e não faziam perguntas questionando sobre se deixaram algum bilhete ou algo do tipo. Eu tinha quinze anos da última vez que tentei fazer uma magia de sangue para me comunicar com minhas ancestrais mortas, mas isto estava sendo impossível com o decorrer do tempo. O que será que aconteceu com elas?
Nossas ancestrais se comunicavam através da magia de seus pensamentos, mesmo estando no limbo tínhamos contato uma com as outras. A magia das bruxas pode ter enfraquecido com um tempo, e agora só restou eu, a única bruxa existindo na fase da terra. Suspiro asperamente com os olhos fechados e fico assim por uns pares de batimentos cardíacos.
- Acorde Bela Adormecida! - uma voz gritou no fundo.
- Se ela acordar ela não irá mais estar aqui, Izy. - disse uma voz masculina.
Um suspiro raivoso seguido, pelo que aparenta ser pelo som, um tapa. - Você sabe o que eu quis disser, seu babaca.
Me levanto do chão aonde estava deitada e vejo duas pessoas sentadas em uma mesma cadeira me olhando atentamente. A mulher que se não me engano, se chama Izy, me olhava com ódio sem ao menos me conhecer, já o homem ao lado dela, me dava um sorriso pervertido de canto. Eles eram gêmeos, tantas semelhanças claras.
Olhando de um lado para o outro pergunto: - Onde estou? - Não me lembro de ter saído de casa.
- Em um sonho. - diz o homem muito atraente ainda com seu sorriso irritante. - Meio que um universo paralelo.
- Isso existe? - interpelo com o cenho franzido e meneio a cabeça para o lado.
- Sim, mas isso não é um universo paralelo. Isso aqui, - ela gira o dedo pelo ar, indicado o nosso redor. – É o limbo.
O lugar em si era muito escuro, as lacunas pretas com detalhes nem um pouco delicado me lembrava de um castelo. A neblina presente no ar e no chão me dava um arrepio. O ar gelado e silêncio me deixava inquieta. Quando eu ouço isso, - um rugido de dragão, meu sangue gela e fico arrepiada da cabeça aos pés. Isso só pode significar uma coisa, - eu morri.
- O que eu estou fazendo aqui? - me viro de volta para os gêmeos, que agora me encaravam seriamente.
- Não, você não morreu. Estamos usando a energia mística deste lugar para entrar em contato com você. - disse a mulher. Agora que eu percebi suas características físicas: seus cabelos eram pretos e longos jogados para um lado, seus olhos são um tom de vermelho sangue tão viciante que não dava para desviar o olhar, seu pescoço tinham marcas de arranhões de garras que estavam meio escondida pela gola de sua blusa vermelho vinho, que estava em baixo do seu vestido preto feito de couro.
- Quem são vocês? E o que querem comigo? - digo rapidamente.
- Eu sou o Isack, - o homem diz com o seu sorriso arrogante novamente. - E essa é a minha irmã, Izabella. - ele aponta com o polegar para a sua irmã.
- Eu sou a Estela. - me apresento estendendo minha mão para eles apertarem, mas eles só olham para ela e ignora minha mão no ar estendida. Recolho minha mão timidamente. Os pais de Sarah sempre me ensinaram a cumprimentar as pessoas com um aperto de mão, mas acho que eles não foram educados corretamente.
- Sabemos quem você é. - diz Izabella se endireitando na cadeira que compartilhava com o seu irmão.
- Então, vocês são como eu? Bruxas? - interrogo me sentando em meus próprios pés.
- Tecnicamente, sim. - concorda Izabella.
- Vamos ao que interessa, estou ficando com fome. - Isack foi diretamente para o que interessa. - Precisamos sair daqui, e precisamos da sua ajuda.
- Você é um bruxo, por quê não usa a sua magia para sair daqui? - Eu pergunto o óbvio.
Isack fecha os olhos e suspira fundo, como se estivesse irritado com o que eu acabei de dizer. - Não somos bruxos, somos magos. Credo, ninguém entende. - ele levanta abruptamente fazendo Izabella se desequilibrar de seu cantinho na cadeira, sorte a dela que ela conseguiu se apoiar nas extremidades da cadeira e não foi para o chão.
- Ok, senhor estressadinho. - digo erguendo minhas mãos para o ar em rendição.
- Se pudéssemos usar nossa magia para sair desse inferno não acha que já teríamos feito isso há um tempo? - Izabella disse fazendo minha atenção voltar para ela. Ela tinha razão, eles poderiam sair se fosse possível, mas em que eu posso ajudar?
- Por que não podem sair daqui? E por quê precisam da minha ajuda? - Eu pergunto.
- Essa garota faz perguntas demais, parece você quando era criança, Izy. - Isack diz com o sorriso arrogante.
- Ela tem seus motivos para fazer perguntas assim como eu tive quando criança. - Izabella nos defende, virando-se para a minha direção ela continua: - Nossa magia não é o suficiente para sair daqui, por quê estamos meio mortos e meio vivos.
- Quando uma bruxa ou um mago é morto no mundo vamos para o limbo em punição, nossa magia não é o suficiente para nada aqui no limbo, mas a sua sim. - interrompe Isack.
- Anastácia, a dona desse lugar, é a única que pode usar magia neste lugar, e agora você também. - disse Izabella.
- O que querem que eu faça? - exclamo querendo muito ajudá-los, não quero mais ser a última bruxa viva.
- Levante do chão! - disse Izabella com brutalidade.
Eu levanto do chão rapidamente e arrumo meu vestido branco, que agora tinha sujado a bainha com a poeira do chão. Bato no meu vestido tentando tirar os vestígios de poeira dele, quando olho para cima vejo Izabella e Isack já cruzando o batente da sala para ir para algum outro cômodo, corro tentando alcançá-los. Para a minha sorte, eles não estavam andando tão rapidamente e consegui alcança-los.
Enquanto estávamos caminhando pelo longo corredor do castelo do limbo, ouvimos um sino batendo alto o bastante para eu precisar tampar meus ouvidos com as palmas de minhas mãos. Izabella e Isack param de andar pelo corredor e trocam um olhar apavorado.
- E agora? - perguntou Isack ainda com os olhos arregalados.
- O que esse sino significa? - pergunto ficando no meio dos dois.
- Significa que é hora do jantar. Você virá conosco, não diga nada e não use sua magia para nada! Entendeu? - exclamou Izabella apertando meu braço. Eu dou um aceno de cabeça e começo a segui-los novamente.
Entramos em uma sala com várias pessoas ao redor de uma mesa extremamente grande, - não, gigante. A sala de jantar era igual aquela sala em que estávamos anteriormente, preto com detalhes macabros, só um lustre bem elegante com algumas velas penduradas nas paredes iluminavam o local. Sinto um mão gelada me empurrar para a direção de algumas cadeiras vazias que ainda tinham na mesa, olhando para trás, vejo Isack me empurrando gentilmente. Ele era bem mais simpático do que Izabella.
Sentamos na mesa e o prato que estava em minha frente foi enchido com alguma comida esquisita por uma concha flutuante. Estava sentada entre Izabella e Isack enquanto as outras pessoas no local conversavam por cochichos entre si.
Pego a colher que estava junto aos outras talheres do lado do prato, pego uma pequena quantidade do alimento, que parecia ser uma sopa, e coloco um pouco na minha língua. Essa coisa não tinha gosto, ou eu estava com falta de paladar. Não tinha um gosto ruim nem bom, não tinha cheiro bom ou ruim, não estava quente e nem frio. Simplesmente eu não estava comendo nada.
Aquelas perguntas ficaram na minha cabeça quando eu já estava na metade do meu prato, nem eu, nem Izabella ou Isack falaram algo durante o jantar, bem ao contrário dos outros ao redor da mesa.
Suspirando fundo, me viro para Izabella e pergunto: – Por que isso não tem gosto?
Izabella revira os olhos e me olha com desdém. - Porque você não está aqui literalmente. - ela murmurou em um cochicho. - Portanto, você não sente o cheiro nem o gosto de nada.
Dou um curto aceno de cabeça e volto a terminar de comer aquela sopa sem que ninguém saiba que não estou literalmente aqui. Isto ainda é tão estranho para mim. Tão confuso.
Depois que terminamos, nos retiramos da mesa como algumas das outras pessoas. Caminhamos na direção oposta do corredor até chegarmos em uma escada bem longo, aparenta não ter fim. Subimos as escadas dois por dois para chegarmos mais rápido no segundo andar deste enorme castelo. O segundo andar, que se não me engano, havia os quartos das outras bruxas e magos, era similar ao andar de baixo, - tudo preto. Izabella que estava na frente, abre uma porta a esquerda e entramos em um quarto com duas camas, suponho que deve ser o quarto deles.
- O que estamos fazendo aqui? - Eu pergunto inspecionando o quarto.Havia uma mesa perto da lareira que era composto por ervas de vários tipos diferentes, livros, papéis com letras diferenciadas.
- Leia este livro inteiro. - disse Izabella estendendo um livro em minha direção, eu o pego e pressiono em meu peito.
- Por que eu preciso lê-lo? - indago desconfiada.
- Você não sabe ler? - Isack me provocou.
- Mas é claro que eu sei ler. - digo perplexa.
- Eu espero que sim. - disse Izabella duramente. - Este livro tem as instruções que você precisa para nos tirar daqui, vai demorar um tempo, mas estamos aqui tempo o suficiente para ficar mais alguns meses. Confio em você para nos tirar daqui.
- Eu vou fazer de tudo que posso. - digo com convicção. Estava determinada a tirá-los deste limbo, não importa o preço que tenho que pagar.
- Iremos nos comunicar mais freqüentemente em seus sonhos. Iremos te dar instruções com o passar do tempo, e quando chegar a hora certa, todos nós sairemos daqui e deixaremos Anastácia sozinha. - exclamou Izabella.
- Até breve, Estela. - despediu Isack balançando sua mão com um sorriso arrogante.
Antes mesmo de eu perguntar como iria levar este livro comigo começo a perder o sentido e minha visão embaça. O breu cobriu minha visão e comecei a entrar em pânico sobre a onde estava indo.
Abro meus olhos sonolenta e vejo o teto da minha casa, eu ainda estava deitada no sofá, só que agora, um cobertor me cobria da noite gelada. Me levanto na posição sentada e vejo que estava pressionando um livro entre meus seios e mãos, - o livro que Izabella me deu em meus sonhos. Como eu fiz isso? Ou como ela fez isso? Então tudo foi real?
Meu Deus, eu estou tão confusa.