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formavam um monte de sobras, como aquelas que você dá a um cachorro. Quando os demais tiveram qu e arrancar Huet da cama e afundar Rochert na tina de água onde os cavalos bebiam para curá-lo da bebedeira, Jord soltou uma risada debochada. Lembrou-se de Orlant, um homem corpulento que dois anos antes havia sido expulso da milícia da capital. Então ele viu o que o Huet era capaz de fazer com um arco e como Rochert poderia manejar facas.
Este cou sóbrio, pois Orlant sentou-se a seu lado até que os tremores passassem, e quando Jord se deu conta, já estava de volta aos alojamentos, compartilhando um cozido com os outros, em um prato de lata. – Eu não achei que você seria bom em alguma coisa, não com essa aparência – disse-lhe Orlant. – Sem querer ofender. Seis meses depois, Jord acompanhou o príncipe até uma arena de treinamento privativa e fechada, obedecendo à ordem imperiosa: – Lute comigo. Ele brandiu a espada e atacou, sem levar isso a sério. Não queria ferir o príncipe herdeiro. Quem saberia dizer o destino de um guarda que deixasse o príncipe com o lábio inchado? – Achei que o senhor não fosse muito de brigas – comentou Jord, levantando-se da serragem vários minutos depois. Por m, lembrou-se: – Alteza. – Andei praticando. Isso foi cinco anos antes. Jord jamais esperou que seu príncipe, agora com 20 anos, fosse olhá-lo nos olhos e dizer: "Você é meu capitão". O aperto que deu no ombro de Jord foi rme e, naquele momento, seu olhar já estava na altura do olhar do outro. Jord nunca havia chegado tão perto daquele menino que já era um menino. Tirando as vezes em que o príncipe o zera cair no chão de terra da arena de treinamento e, em seguida, estendera a mão para ajudá-lo a se levantar. – O que foi que você disse para ele? Orlant perguntou, apontando com o queixo para Aimeric. Enervado e manco, os olhos sem vida, ele estava atirado no chão de terra, de costas para o tronco de uma árvore. Tinha superado os próprios limites até mal conseguir se aguentar em pé nos exercícios de treinamento pensados para exaurir homens muito mais duros. – Nada – respondeu Jord. "Tome duro." A contragosto, ele admirava isso. Aimeric se esforçava, terminando o dia praticamente meio desmaiado; além disso, passava a noite limpando a armadura e os equipamentos e era o primeiro a acordar, pronto para encarar os exercícios matutinos. Não se esquivava de nada, não reclamava e aceitava ordens de homens que, por nascimento, estavam abaixo dele – naquela companhia, isso signicava todo mundo. – Eles mandaram um aristocrata vir lutar na Guarda do Príncipe? – perguntara Huet quando Aimeric fora recrutado, olhando xamente para o aristocrata como um torrão de terra olharia para uma or. – Deixe disso – repreendeu Jord. O príncipe queria que Aimeric estivesse ali e, sendo assim, ali estava o rapaz. Sejam quais forem as ideias malucas que o príncipe teve, as pessoas concordaram. Duas noites depois de ter ido parabenizá-lo pelo título de capitão, Aimeric conseguira localizar Jord sentado perto da fogueira. – Terminei de cuidar dos cavalos, posso fazer qualquer tarefa que precise ser feita, caso... – Sente-se. Jord lançou um único olhar para o garoto. Aimeric se sentou, constrangido. Então ele aceitou a caneca de vinho barato que Huet lhe ofereceu. Não falou quase nada. Tornou-se um hábito bastante frequente Aimeric vir sentar-se com Jord perto da fogueira no nal de cada dia. No início, Jord cava apreensivo perto dele, o jovem aristocrata que cava calado enquanto os outros homens falavam alto. Os dois não falavam muito, separados pelo abismo de classe e cultura entre eles. Às vezes, Aimeric fazia perguntas e Jord respondia sem perceber. O capitão cuidava de Aimeric quando possível. O nobre cometeu erros, mas nunca o mesmo erro duas vezes. "Eu quero me sair bem aqui." Quando Jord dava conselhos, Aimeric dava ouvidos, sério, e às vezes continuava trabalhando até altas horas da noite, treinando até bem depois de os demais já estarem dormindo. Isso ajudou. Sua melhora foi notável, graças à persistência obstinada de Aimeric. Provavelmente, pensou Jord, era essa persistência que o príncipe havia enxergado no rapaz, reconhecendo op otencial de sua veia teimosa. A postura de Aimeric cou mais rme, seu modo de cavalgar melhorou, e agora ele conseguia levar um golpe sem cair – de vez em quando, pelo menos. Nas outras vezes, dava a impressão de que iria cair caso uma pluma o atingisse, isso se conseguisse car de pé, para começo de conversa. – É melhor você comer ele antes que dê um mau jeito em alguma coisa – disse Orlant. Não demorou para que se dessem conta de que o príncipe havia (re)formado a Guarda do Príncipe sem pedir permissão para o tio. Era a sensação da corte: o jovem príncipe andando por aí a cavalo com um bando de marginais, convidando-os para entrar no palácio, permitindo que adentrassem em seus aposentos privativos, já que eram seus guardas pessoais. Plebeus usando a estrela do príncipe? O regente não gostou. O conselho não gostou. Acima de tudo, a Guarda do Regente não gostou. A Guarda do Regente era formada por aristocratas. A Guarda do Príncipe, pela ralé: pela escória, por vermes, por gentinha indigna, que aviltava a insígnia de estrela. Com o mesmo sotaque renado com o qual Aimeric dizia "capitão", o jovem aristocrata Chauvin vomitou tudo isso sobre Jord no pátio, na frente de todos. Jord riu com desdém e saiu de perto dele. Essas brigas com a Guarda do Regente haviam começado quase que imediatamente. Havia brigas por causa dos equipamentos. Brigas por causa de território. Havia brigas caso a respiração da Guarda do Príncipe irritasse a Guarda do Regente. O pátio interno, repleto de gente e de estandartes, também estava repleto de sorrisos, porque espectadores de ambas as facções se haviam reunido; e os gritos e incitações não vieram apenas do pátio, mas também das galerias abertas logo acima e dos degraus que levavam à parede. Jord passou batendo seu ombro no de Chauvin, indo em direção à ala norte, deixando-o para trás. O som de metal atravessou o pátio. Jord mal teve tempo de se virar, empunhar a espada e se defender, em meio a um turbilhão rápido e desesperado, conforme Chauvin atacava. Foi rápido, mas Jord vivia da espada desde que se entendia por gente. Ele era bom nisso. Era melhor do que Chauvin e, depois de um primeiro embate de espadas, fez o oponente ir cambaleando para trás, desarmado, quase tropeçando na terra do campo de treinamento. Foi então que os sorrisos começaram a se dissipar do rosto dos espectadores e um silêncio terrível se fez presente. Chauvin tava Orlant, de cara vermelha e humilhado. – Você vai para a forca – disse Chauvin. – Você vai para a forca. Você não é ninguém. Eu sou da família de um conselheiro. – Vá chamar o príncipe – disse Orlant. O príncipe estava acima de Chauvin e provavelmente foi só nisso que Orlant conseguiu pensar. Jord foi retirado do pátio pela Guarda do Regente e, quando percebeu, estava dentro de uma c ela cujas dimensões eram diminutas. Ali, ele se sentou de costas para a parede, os braços cruzados em cima dos