Capítulo 5 autoridade

aposentos. – Eu não estou dormindo com Huet – disse Orlant. – Ele simplesmente apareceu. Usando aquele negócio. – O príncipe disse que todos estariam usando aquilo – disse Huet, fazendo careta.– Pelo menos você estava usando alguma coisa – comentou Orlant, vestindo a camisa. – O príncipe ordenou que aparecesse nos aposentos de Orlant usando aquele negócio? – perguntou Jord. Na manhã seguinte, a Guarda do Príncipe se reuniu no pátio, usando o uniforme completo, as velas brilhando, as botas engraxadas.

A novidade se espalhara feito um incêndio: Chauvin tinha sido mandado de volta para Marches, caído em desgraça, e o conselho havia retirado a ameaça de desmantelar a Guarda do Príncipe. Eles foram reintegrados por completo, e o conselho determinara que a Guarda do Regente não poderia mais se meter com eles. Jord viu o príncipe entrar no pátio e car imóvel quando avistou a guarda, reunida e de prontidão para ele, em leiras organizadas. Por um instante, nenhum ruído foi ouvido, a não ser o dos estandartes de estrela tremulando na brisa. O príncipe então falou: – Essa comemoração é prematura. Tenho total autoridade sobre vocês e não pretendo ser leniente. Farei com que vocês se esforcem como nunca zeram na vida. Minha expectativa é a de que a Guarda do Príncipe seja a melhor. Ele parou na leira diante de Jord e cruzou o olhar com o do capitão. – Era um belo chapéu – disse Jord. – Falei que resolveria a situação – respondeu o príncipe.  A tenda de comando do príncipe era uma forma oblonga de lona cor de creme com um triângulo azul tremulante no alto e a entrada aberta, presa com corda, para permitir que os homens entrassem e saíssem no decorrer do dia, com boletins, com notícias, trazendo mensageiros ou suprimentos. Antes de entrar, Jord observou seu interior. Havia duas cabeças inclinadas e juntas, debruçadas sobre um mapa, uma de cabelos escuros e a outra de cabelos loiros. O príncipe estava a sós na tenda com o akielon que lhe servia. O akielon estava murmurando algo, com uma postura tranquila, no comando da estratégia. O príncipe assentiu com a cabeça, absorto. Então seguiu com os olhos o dedo do servo, que traçava uma linha sobre o mapa. Jord jamais o vira daquele jeito, tendo uma conversa íntima, à vontade. O príncipe não cultivava companhias. Não zera isso quando era menino e tampouco depois que se tornara um rapaz. Jord teve a sensação de que era um intruso numa situação particular. Estava perplexo com a concentração silenciosa dos dois, com a proximidade, os ombros quase se tocando. – Alteza – chamou Jord, como se pigarreasse. Os dois ergueram os olhos ao mesmo tempo. Os rostos deles eram diferentes, mas expressões idênticas – curiosos com aquela interrupção sem importância – quando o príncipe disse: – Reporte-se, capitão. Os equipamentos e suprimentos estavam durando. As manobras de treinamento estavam encaminhadas. Jord tinha castigado um dos mercenários do regente por conta de alguns comentários. Ele detalhou o castigo, no entanto não reproduziu os comentários. O príncipe, cuja anatomia e preferências haviam sido descritas com riqueza de detalhes nos comentários em questão, falou: – Seu relato é prudente. Muito bem. Considero a ausência de carnicina em grande escala um sucesso. – Alteza – disse Jord. A presença dos dois permaneceu na tenda muito depois de terem ido embora. O akielon também escutara os relatos – como se fosse ele quem os estava recebendo. A expressão meiga que surgira nos olhos castanho-escuros dava a entender que se tratava de um homem capaz de encontrar prazeres simples em uma posição complicada. O príncipe, ao que tudo indicava, permitia isso, uma espécie de fam iliaridade, algo que rejeitava quando vindo de outras pessoas. Jord lançou um olhar para o mapa estendido. Era uma confusão de símbolos desconhecidos, uma abreviação geopolítica que ele não sabia ler. Metade dos símbolos eram heráldicas que jamais vira na vida, outros eram pontos e barras que nada lhe signicavam. Jord conhecia as letras, sabia como compreender um mapa comum, mas aquele estava além de seus conhecimentos. Ele era um capitão da guarda. Sabia conduzir manobras de treinamento. Sabia administrar suprimentos. Sabia organizar vigílias, formações e barricadas. Sabia proteger um posto avançado ou um pequeno comboio nas montanhas. Mas aquilo era tática de guerra em larga escala. Exigia um conhecimento profundo – de generalato, estratégia e comando, coisas que levaria anos para adquirir. O akielon possuía isso. O príncipe estava aprendendo, era capaz de absorver conceitos teóricos complexos e dar o salto necessário para ter novas ideias em um instante. Ali os dois planejavam algo que Jord não compreendia e sentiu que vislumbrava, por apenas um instante, um mundo que era grande demais para ele. – Capitão – disse Aimeric. Jord ergueu o olhar. Mesmo vestido com aqueles trajes simples de soldado, Aimeric não perdera nada de sua postura aristocrática. O sol havia se posto, e homens vieram acender as tochas da entrada da tenda, assim como outros haviam entrado e saído da tenda ao longo de todo o dia, chamando a atenção do príncipe para isso ou aquilo. A luz emoldurou Aimeric, cuja vez de entrar ch egara, quando Jord estava sozinho. – Posso explicar. Se o senhor quiser. Jord cou corado. Aimeric não estava olhando para o mapa de guerra, mas cou claro sobre o que estava falando. – O senhor me ajudou quando cheguei aqui – disse ele. Atrás de Aimeric, a entrada aberta emoldurava os contornos escuros do acampamento à noite e o ruído minguante que vinha de fora, já que a maioria dos homens estava dando o dia por encerrado e indo se deitar. Aimeric se aproximou e cou no mesmo local em que o príncipe estivera, poucos instantes antes. Jord supôs que aquilo fosse natural para ele, que zesse parte de sua educação aprender a ler os sigilos heráldicos, aqueles símbolos e marcadores desconhecidos empregados para representar o domínio de um território. Jord se sentiu um impostor. Aquele não era seu mundo, mas, se a guerra estava por vir, queria estar do lado certo e fazer o que estivesse a seu alcance. Ele se aproximou do mapa. Aimeric, cou claro, sabia explicar bem as coisas e falou a respeito dos elementos básicos do mapa. Jord cou acanhado de início, e Aimeric também cou um pouco, mas aquelas linhas traçadas à tinta começaram a fazer sentido, e foi uma sensação boa descobrir que estava começando a compreender. Por m, fez-se um silêncio e eles terminaram de ler o mapa. – Obrigado – disse Jord. O que não bastou. Então disse a verdade, baixinho, constrangido: – Ser capitão é muito importante para mim. O clima entre os dois mudou. Aimeric dirigiu o olhar para a boca de Jord. O beijo aconteceu com um Aimeric de olhos muito sérios, a mão de Jord em seu pescoço. O capitão sentiu a submissão doce e instantânea da boca do aristocrata. O corpo inteiro de Aimeric cedeu ao beijo. Jord o puxou mais para perto e o beijou exatamente como havia imaginado, um beijo longo e intenso. Quando se afastou, as bochechas de Aimeric estavam coradas, e os olhos, intensos e arregalados. Os pensamentos de Jord giravam com tolices, o tipo de coisas que ele não encontrava palavras para traduzir. – Permita-me – disse Aimeric, antes que Jord conseguisse dizer alguma coisa. – Sou bom nisso. As mãos de Aimeric começaram a mexer na amarração da virilha de Jord. A entrada da tenda ainda estava aberta. Era tudo rápido demais, repentino demais, a sensação daquele beijo ainda nos lábios de Jord, deixando-o tonto. O capitão segurou as mãos de Aimeric e se afastou, para que pudessem se olhar nos olhos, Aimeric confuso e corado. – Não entendi. Pensei que você... – Eu quero... eu... se me quiser, convido-o para

                         

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