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esforça mais que qualquer homem aqui. O príncipe o quer nesta tropa. – Não é o príncipe que estou tentando impressionar. Fez-se um silêncio, e essas palavras caram pairando no ar. O fogo crepitou e soltou faíscas, e houve a impressão de que a noite se estreitou. – Eu quero você nesta tropa – declarou Jord. – E fora dela? – Você é lho do conselheiro Guion. – Não ligo para hierarquia – retrucou Aimeric. – Pois deveria. – Por quê? O senhor liga? – Eu sou seu capitão. – Então é o senhor que está acima de mim.
– Deixe disso – disse Jord, mas tinha um sorriso no rosto conforme pagava o cantil de volta e tomava um gole. – Eu penso no senhor – revelou Aimeric. Jord se engasgou com a bebida. Sentiu que algo se derramava no ar entre eles, e o fato de seus batimentos se acelerarem fez com que se sentisse tolo. Aimeric não cou ruborizado por falar dessa maneira com um capitão da guarda de classe inferior – não se constrangeu nem cou acanhado como Jord, de repente, cara. – O senhor pensa em mim, nem que seja um pouco? – perguntou Aimeric. – Ou é igual ao príncipe? Com o queixo teimoso, o menino sinalizou para o príncipe, cujo cabelo loiro era identicável do outro lado do acampamento, mesmo sob aquela luz fraca. Jord tinha demasiada consciência dele e dos demais homens do acampamento que os cercavam, como se o que estivesse transcorrendo entre ele e Aimeric fosse algo íntimo, mas, ao mesmo tempo, devesse ser óbvio para os espectadores, testemunhado por todos. Se Aimeric fosse um ajudante de estábulo, Jord o teria traçado. Mas, em termos hierárquicos, o menino estava mais perto do rei do que Jord. Aimeric tinha mais poder e inuência do que a patente de Jord conferia. Aristocratas não se metiam com capitães de guarda da ralé, ou, quando o faziam, tratava- se de um capricho imprevisível. Recusar um aristocrata... só isso já era ruim o bastante. Agora, le var um aristocrata para a cama era pior. O conselheiro Guion não permitiria que um homem como Jord se sentasse à mesa, que dirá ir para a cama com seu lho. Jord olhou para o rosto aristocrático de Aimeric, para os lábios volumosos, para o cacho impossível de domar caído sobre a testa, que ele tinha vontade de afastar dali com as próprias mãos. – Você sabe que o tenho em alta conta – respondeu Jord. E sentiu as bochechas carem quentes. – Você me tem em alta conta – repetiu Aimeric. – Até o príncipe é um homem – disse Jord. – Você é o único que acha isso – rebateu Aimeric. – Ele é uma estátua. Você não sente nada. Jord se virou e olhou para o príncipe. Era verdade que ele era um déspota. Aquele tinha sido um dia de ordens implacáveis, combinadas com a falta de compaixão desumana do príncipe por aqueles que não eram capazes de acompanhar o ritmo que ele havia estabelecido. Quando deu por si, Jord estava dizendo: – Eu luto sob as ordens do príncipe desde que ele tinha 15 anos. – Então você também não teve escolha. Via de regra, Jord não revelava o que pensava de seus superiores. Ele sabia que, para Aimeric, a Guarda do Príncipe era um rebaixamento: que Aimeric estava sozinho, que não tinha mais ninguém de sua própria classe com quem se misturar. Como lho de conselheiro, poderia muito bem ter se tornado um companheiro de infância do príncipe. Mas aquele príncipe era um cretino sem am igos. Sendo assim, desprezado pelo príncipe, Aimeric foi relegado à companhia de soldados malnascidos. Era provável que o rapaz tivesse ido atrás de seu capitão porque Jord era a coisa mais próxima de um homem de sua própria classe que havia na tropa. Ele jamais entenderia a honra que era, para um homem nascido na classe de Jord, ter a oportunidade de usar a estrela do príncipe, que dirá ser promovido a capitão. – Ele é meu príncipe – declarou Jord. Todos recordavam: semanas engolindo insultos, ignorando atos de sabotagem, permitindo que a Guarda do Regente passasse por cima deles com crueldade. A Guarda do Regente danicou os equipamentos deles. Eles não disseram nada. A Guarda do Regente sabotou suas armas. Ninguém reclamou. Orlant até segurou Huet quando Chauvin mijou na cama dele. Estar naquele momento andando a cavalo na companhia dos mercenários do regente não era nada em comparação àquelas primeiras semanas, quando restrições opressivas expulsaram a Guarda do Príncipe dos salões de treinamento e do pátio, e as humilhações e os insultos foram se acumulando, uns por cima dos outros. Não tinha sido possível fazer nada a não ser aguentar rme. Pelo bem da guarda, eles tiveram que aguentar. O príncipe havia arriscado a própria reputação por causa de um deles, portanto os homens da tropa o honrariam. O caldo entornara três semanas depois que Chauvin tinha atacado Jord, que se encontrava parado do lado de fora dos alojamentos da guarda, na companhia de seis homens da Guarda do Príncipe, além do conselheiro Audin, Chauvin e um esquadrão de homens portando tochas. Jord sentiu um embrulho no estômago quando viu que os aposentos que estavam cercando pertenciam a Orlant. Porque, daquela vez, a acusação triunfante de Chauvin era que alguém da Guarda do Príncipe estava na cama com uma escravizada de estimação, uma mulher. Ele pensou em Joie, a lavadeira, que atiçava Orlant pelas manhãs, ou Elie, das cozinhas, que certa vez deu para Orlant a ponta de um lão de pão recém-assado. Não poderia haver uma escravizada de estimação lá dentro com Orlant. Qual delas correria o risco de perder uma vida de joias e conforto em troca da cara de boi de Orlant? Deveria ser alguém da classe deles, e ela seria expulsa de lá, junto com Orlant. Se ele tivesse sorte, levaria chibatadas. Se você realmente fosse a escravizada de estimação de uma mulher nobre, seria executado. De qualquer forma, a Guarda do Príncipe não sobreviveria. Orlant estava arruinado, assim como a guarda – essa era a expressão triunfante nos olhos de Chauvin. Soldados se posicionaram. Jord só teve tempo de vislumbrar o aríete – o olhar duro dos soldados, o golpe – antes que a porta fosse arrombada. Por um instante, todos caram olhando. Atrás da porta estilhaçada, os alojamentos eram pequenos. Não havia onde se esconder ou como se jogar atrás de um biombo. Tudo estava à vista. E lá estava Orlant, nu como Jord jamais quisera ver, e certamente havia alguém com ele, usando o chapéu característico das escravizadas de estimação. Mas não se tratava de uma escravizada. Era Huet. – Ei! – exclamou Huet. – Isso não é nem um pouco indecente – falou Audin, com a testa levemente franzida de quem achava ter perdido tempo. – Esta é a segunda vez que a Guarda do Regente faz falsas acusações contra meus homens – disse o príncipe, para o conselho. E falou isso de forma branda. Demorou alguns instantes para que as implicações dessa entonação fossem compreendidas pela câmara do conselho, para onde todos tinham sido arrastados, para prestar testemunho. – Foi apenas um simples engano... – disse Chauvin. – Dois simples enganos – rebateu o príncipe. Sentava-se no trono ao lado direito do tio, uma gura de menino, com um rosto que não trazia nenhum traço além de inocência. O cabelo feito raios de sol, os olhos feito o céu, o tom ainda brando, assim como a consideração branda dirigida a Chauvin, que, por instinto, encarava seu benfeitor. – Conselheiro... – Primo, você arrastou o nome da família para suas querelas – falou Audin, franzindo o cenho. – Conselho não existe para resolver desentendimentos banais. Os demais conselheiros assentiram com a cabeça, mudaram de posição e murmuraram palavras de concordância. Todos os cinco eram homens de idade, e o mais velho deles, Herode, disse: – Nós deveríamos