O prazo havia terminado, e eu me encontrava em um estado de desespero crescente. A cada segundo que passava, a certeza de que ele viria tornava-se mais real, como uma sombra que se aproximava sem que eu pudesse ver. O relógio parecia zombar de mim, seu tic-tac ecoando em minha mente, um lembrete cruel de que a contagem regressiva chegava ao fim. Eu sabia que era apenas uma questão de tempo até que Victor Blackthorne cruzasse a porta, e a ansiedade apertava meu peito como uma mão invisível. O desconhecido que me aguardava era uma tortura insuportável, e a única coisa que eu podia fazer era me preparar para o que estava por vir, enquanto a realidade se tornava cada vez mais sombria. Já passava das três da tarde, e a ausência de Victor, embora trouxesse um breve alívio, carregava também o peso do desespero. Cada segundo que se arrastava sem a presença dele fazia com que minha ansiedade crescesse. Eu sabia que era só uma questão de tempo antes que ele surgisse, e isso me deixava à beira do colapso.
- Você encara aquela porta como se sua vida dependesse disso! - A voz da minha mãe cortou o silêncio, me tirando bruscamente dos pensamentos sombrios.
- De certa forma, é isso mesmo... - respondi com um suspiro pesado. - Hoje termina o prazo que aquele homem me deu. Em breve, ele vai passar por aquela porta e nossa sentença de morte estará concretizada! Tudo culpa daqueles dois estúpidos! - Revirei os olhos, a raiva e o medo pulsando em minhas veias. - Cadê eles? Eles deveriam ser os primeiros a morrer!
Minha mãe deu de ombros, o olhar cansado e resignado.
- Saíram bem cedo... talvez nem voltem pra cá. Você não devia ter se envolvido no meio disso...
Senti uma onda de revolta e, por um momento, uma gargalhada amarga escapou dos meus lábios.
- Inacreditável! Colocaram a gente no meio de toda essa confusão e simplesmente fugiram! - Soquei a almofada que segurava, a ironia transbordando em cada palavra. - Nos deixaram aqui para enfrentar o monstro que eles mesmos atraíram.
Aquela sensação de abandono, misturada com o medo que sentia de Victor, fazia com que meu corpo tremesse, uma mistura de raiva e desespero que eu não conseguia controlar. Meu celular começou a tocar, o som ecoando como um lembrete de uma vida que parecia cada vez mais distante. Ao olhar para a tela, vi que era da lanchonete onde eu trabalhava. Fazia dois dias que eu não aparecia, e com tudo o que estava acontecendo, o trabalho era a última coisa na minha lista de preocupações.
- Oi - murmurei ao atender, sem energia.
- Você não vem trabalhar mais? - A voz de Marcela, a gerente, soou apressada e com uma irritação que eu não estava com paciência para enfrentar.
- Não vou! - respondi secamente, sem me alongar em explicações.
- O quê? Conseguiu outro emprego? - Ela perguntou, incrédula, como se não conseguisse acreditar que eu estivesse simplesmente largando tudo.
- Não, simplesmente não vou mais. Podem dar baixa na minha carteira - suspirei, já exausta de toda a situação.
- Helena, não brinca com coisa séria! Você não pode fazer isso comigo, principalmente num dia como hoje, quando a lanchonete está lotada! - Ela tentava me convencer, a voz cada vez mais urgente.
- Eu não estou brincando. Nunca falei tão sério - falei com a voz fria, deixando claro que não havia volta.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, talvez processando o que eu acabava de dizer, antes de voltar com uma última tentativa:
- Será que você poderia, ao menos, ajudar a gente hoje? Por favor? Te pago o dobro da diária!
Suspirei, sentindo o peso de tudo o que estava acontecendo. Nem coragem de enfrentar o trabalho eu tinha, mas naquele momento, talvez fosse uma distração, uma forma de fingir, por algumas horas, que minha vida não estava desmoronando.
- Tá certo, chego em breve! - respondi, encerrando a ligação.
A frustração tomou conta de mim assim que o silêncio voltou. "Nem pra morrer tenho paz", pensei, ironicamente, enquanto o medo de Victor pesava sobre mim como uma sombra, me lembrando que meu tempo estava acabando.
- Mãe, vou para a lanchonete. Você e o pai deveriam ir para a casa de algum parente. Não fiquem aqui esperando aquele homem aparecer, pode ser perigoso demais! - Suspirei, o peso da preocupação se fazendo presente na minha voz.
Minha mãe me olhou com os olhos cheios de uma resignação dolorosa.
- Vou ver o que faremos, mas acho que não adianta fugir... Não haverá como escapar dele! - ela murmurou, como se já tivesse aceitado um destino inevitável.
- Qualquer coisa, me liga! - falei, tentando manter uma calma que eu não sentia. Dei um beijo no rosto dela e, sem olhar para trás, caminhei até o ponto de ônibus.
Para minha sorte, o ônibus estava chegando no exato momento em que cheguei. Subi e me acomodei no banco, tentando afastar os pensamentos sobre Victor e o que poderia acontecer. Enquanto o ônibus avançava pelas ruas, o nó no meu estômago só apertava mais. Quando cheguei à lanchonete, me deparei com um salão abarrotado de gente, o caos tomando conta do lugar. O movimento era intenso, e já dava para ver que teria muito trabalho pela frente. Suspirei fundo, ajustando o avental, tentando me focar no que estava diante de mim. Mas, no fundo, sabia que não havia como escapar da tempestade que estava prestes a me atingir. Comecei a trabalhar, colocando a cabeça no modo automático. Atendia os pedidos, limpava as mesas, levava pratos, enquanto minha mente vagava para longe, sempre voltando para a mesma questão: Quando ele vai aparecer? Cada vez que a porta se abria, meu coração dava um salto, esperando ver a figura imponente de Victor Blackthorne atravessando o salão. Mas era sempre apenas mais um cliente.
- Helena! - A voz de Marcela me tirou do transe. - Precisamos de ajuda na cozinha. Vai dar conta?
Assenti com a cabeça, mesmo sabendo que minha mente estava a milhas de distância. Fui para a cozinha e comecei a cortar legumes, o som da faca no balcão sendo a única coisa que acalmava um pouco meus nervos. Mas o silêncio interno logo foi rompido pela lembrança do prazo. Ele podia aparecer a qualquer momento. Talvez ele já soubesse onde eu estava. Talvez estivesse me observando, esperando o momento certo para agir. De repente, o som de algo caindo me fez dar um pulo. Uma bandeja havia escorregado das mãos de um colega. Meu corpo estava tão tenso que qualquer barulho me fazia reagir como se fosse um alerta. Respirei fundo e tentei me concentrar. "Preciso passar por hoje... só por hoje," pensei. As horas passavam devagar, mas o salão continuava lotado. Lá fora, o céu começava a mudar de cor, a lua nascendo lentamente, tingindo tudo de um prateado suave.
Estava quase na hora de ir embora. O movimento começava a diminuir, e por um instante, pensei que talvez tivesse escapado de mais um dia sem que Victor aparecesse. Foi quando a porta da lanchonete se abriu mais uma vez. Meu coração parou. A porta se abriu lentamente, e por um momento, o tempo pareceu congelar. Meus olhos se fixaram no homem que entrou, e o ar escapou dos meus pulmões. Não era Victor..., mas algo no jeito daquele homem se mover me fez estremecer. Ele era alto, com ombros largos e uma postura confiante demais para um cliente comum. Sua presença trouxe uma tensão que parecia arrastar o ar pesado para dentro da lanchonete. Ele olhou em volta, como se procurasse algo – ou alguém. Meu coração acelerou, o medo crescendo em mim. "Será que Victor mandou alguém?", pensei, tentando manter a calma.
Voltei rapidamente ao balcão, fingindo estar ocupada com um pedido, mas meus olhos não conseguiam deixar de seguir o estranho. Ele se sentou em uma mesa perto da porta, com uma visão clara do salão inteiro. E foi ali que ele permaneceu, observando. O nervosismo começou a tomar conta de mim. A cada minuto que passava, o peso daquele olhar aumentava. A lanchonete, antes caótica e cheia, agora parecia sufocante. As pessoas ao meu redor eram vultos borrados, os sons abafados. Tudo o que eu conseguia sentir era o frio que subia pela minha espinha, como se a presença daquele homem trouxesse consigo a sombra de Victor. Marcela se aproximou, alheia ao que estava acontecendo dentro de mim.
- Tá tudo bem? Você parece meio pálida. - Ela franziu o cenho, preocupada.
- Estou bem... - menti, forçando um sorriso. - Só estou cansada.
Ela deu de ombros e voltou para o balcão, mas minha mente não conseguia se desligar daquele homem. Cada vez que ele me olhava, eu sentia como se um peso invisível estivesse prestes a cair sobre mim. Será que ele sabe quem eu sou? Será que está esperando para me levar até o Victor? O relógio na parede marcava quase nove da noite. Minha cabeça estava a mil, e meus nervos estavam à flor da pele. Decidi que era hora de ir. Falei com Marcela, disse que não estava me sentindo bem e que precisava sair mais cedo. Ela, percebendo meu estado, concordou sem hesitar. Com um aceno rápido, fui até os fundos para pegar minhas coisas. Meu coração batia forte no peito enquanto eu tentava sair discretamente. Quando voltei ao salão para ir embora, o homem ainda estava lá, imóvel, me observando. Caminhei até a porta, sentindo seu olhar me perfurando pelas costas, o medo crescendo a cada passo.
Quando finalmente alcancei a saída, respirei fundo e saí para a rua, o ar noturno um pouco mais frio do que o normal. Mas eu sabia que aquele frio vinha de dentro. Olhei para os dois lados da rua, pensando no próximo passo. Eu tinha que correr, sumir por algumas horas, talvez até por alguns dias. Mas antes que pudesse fazer qualquer movimento, senti uma presença se aproximando por trás. O arrepio percorreu meu corpo, e ao virar, lá estava ele. Victor Blackthorne. Calmo, elegante, com aquele sorriso frio no rosto que fazia meu sangue gelar. O mundo pareceu desmoronar ao meu redor quando meus olhos se encontraram com os dele. Ele estava ali, parado na minha frente como uma sombra materializada. Seus olhos penetrantes me analisavam com uma intensidade que fez meu coração parar por um segundo. O sorriso no canto de seus lábios era de pura crueldade disfarçada de charme. Ele vestia um terno preto impecável, como sempre, cada detalhe de sua aparência exalando poder e controle.
- Eu te disse que voltaria... - sua voz soou suave, mas carregada de um perigo latente que fazia meu estômago revirar.
Engoli em seco, tentando manter a compostura, mas minhas pernas tremiam, e meu corpo parecia paralisado pelo medo. Tudo que eu tinha conseguido adiar nos últimos dias estava agora inevitavelmente diante de mim.
- Eu... eu estava tentando conseguir o dinheiro. - Murmurei, minha voz quase inaudível, mas mesmo enquanto eu falava, sabia que era inútil. Victor nunca esperava por desculpas.
Ele inclinou a cabeça levemente, seus olhos nunca deixando os meus, como se estivesse se divertindo com a minha tentativa de justificar algo que ele já sabia ser impossível.
- Ah, Helena... - Ele suspirou, dando um passo em minha direção, a calma assustadora ainda presente em cada movimento. - Nós dois sabemos que não é tão simples assim, não é? - Sua mão se moveu devagar, como se quisesse enfatizar cada palavra. - Eu te dei uma chance. E o tempo se esgotou.
Um frio tomou conta do meu corpo. Eu sabia o que ele queria. Sabia que não haveria mais negociação, nem piedade. Meus olhos se voltaram para os lados da rua, procurando desesperadamente por uma rota de fuga, mas não havia ninguém ali. Era só eu, ele, e aquela escuridão crescente ao nosso redor. Ele deu mais um passo, reduzindo ainda mais a distância entre nós. Eu podia sentir o cheiro de seu perfume caro, uma fragrância que contrastava com a crueldade que ele exalava.
- Não há como escapar disso! - ele disse em voz baixa, como se estivesse me consolando, mas o brilho predatório em seus olhos me dizia o contrário. - Mas não se preocupe. Vou fazer com que tudo acabe rápido, sem dor... a menos que você prefira do jeito difícil. - O sorriso aumentou, revelando a perversidade escondida.
Minha mente estava em pânico. Cada fibra do meu ser gritava para correr, mas meus pés pareciam presos ao chão. "Fale alguma coisa, faça alguma coisa!", minha mente implorava, mas as palavras me faltavam. Foi então que lembrei da minha mãe e do meu pai. Eles também estavam em perigo. A dívida não era minha, mas eu a carregava, e agora não era só minha vida que estava em risco.
- Por favor... - minha voz finalmente saiu, trêmula e desesperada. - Dê-me mais tempo. Eu posso conseguir o dinheiro. Faço o que você quiser, só... só me dê mais uma chance.
Victor inclinou a cabeça, como se estivesse considerando minha súplica. Ele ficou em silêncio por um momento, seu olhar ainda fixo no meu, o sorriso desaparecendo lentamente. Então, ele estendeu a mão e tocou meu rosto com uma suavidade que me fez encolher por dentro.
- Tempo? - Ele repetiu, como se fosse uma palavra divertida. - Você já está vivendo de tempo emprestado, Helena. - Seus dedos traçaram uma linha gelada ao longo da minha pele, e eu estremeci. - Mas... - ele continuou, sua voz suave como seda - talvez haja algo que você possa fazer para me convencer. Algo... diferente.
Meus olhos se arregalaram, e meu corpo gelou. Eu sabia o que ele estava insinuando, e o horror que tomou conta de mim era impossível de esconder.
- Não... - consegui balbuciar, dando um passo para trás, mas ele segurou meu braço antes que eu pudesse me afastar.
- Pense bem! - Disse ele, agora a poucos centímetros de mim. - Você pode salvar a si mesma e quem você ama, ou pode deixar que tudo se desmorone à sua volta. A escolha é sua.
Eu queria gritar, correr, fazer qualquer coisa para escapar daquele pesadelo, mas o peso de sua presença me mantinha presa. Sabia que não tinha mais opções. Victor Blackthorne era o tipo de homem que sempre conseguia o que queria, e agora, ele queria me controlar completamente. Tudo o que eu sabia era que, de uma forma ou de outra, minha vida jamais seria a mesma. Eu sentia o chão sumir sob meus pés, e o ar parecia pesado demais para respirar. Victor segurava meu braço com firmeza, seus olhos me prendendo como se já tivessem me devorado inteira. Sabia que qualquer decisão que tomasse naquele momento viria com um preço alto. A ideia de ceder à sua proposta, de me tornar mais uma peça em seu jogo doentio, fazia minha pele arder de repulsa. Mas, ao mesmo tempo, a sombra de minha família pesava sobre mim, suas vidas agora penduradas por um fio tão fino quanto meu desespero.
- Helena? - Victor sussurrou, puxando-me levemente para mais perto, sua voz suave e mortal. - Vai mesmo me dizer que prefere que sua mãe e seu pai paguem por isso? Que prefere ver aqueles que ama destruídos, quando você pode evitar tudo com uma simples decisão?
Meu coração batia descompassado, e as lágrimas ameaçavam vir à tona. Não, eu não podia deixar que eles pagassem por isso. Mas também não conseguia suportar a ideia de me entregar completamente a um monstro como Victor.
- Eu... - minha voz falhou. Eu não conseguia dizer nada. Ele estava me forçando a um beco sem saída, e sabia disso.
- Eu sabia que você seria sensata! - ele disse, baixinho, um sorriso frio surgindo no canto de seus lábios. Sua mão, que segurava meu braço, afrouxou um pouco, como se quisesse me dar a ilusão de escolha. - Vou te dar uma chance, Helena. Uma oportunidade para consertar as coisas. Mas saiba que não vou esperar muito tempo. A oferta está sobre a mesa... por enquanto.
Ele se afastou levemente, liberando meu braço, e senti o peso do ar retornar ao meu corpo. Eu devia me sentir aliviada por ele não me arrastar ali mesmo para seu inferno particular, mas a realidade é que ele acabara de me prender em uma nova teia. Não havia fuga. Eu estava presa entre o sacrifício da minha dignidade e a destruição da minha família. Victor deu um passo para trás, seus olhos nunca deixando os meus, como se estivesse saboreando o medo e a confusão que via em mim. Ele inclinou a cabeça, observando-me com um misto de curiosidade e impaciência, como um predador que deixa a presa se debater antes do golpe final.
- Vou dar um tempo para você pensar, mas lembre-se... o relógio está correndo, e a paciência não é uma das minhas virtudes! - ele disse, a voz como uma lâmina fria cortando o silêncio.
Ele caminhava de um lado para o outro, sua presença imponente criando uma tensão no ambiente. Senti meu corpo estremecer levemente quando ele virou a cabeça ligeiramente na minha direção, como se pudesse ler cada pensamento que passava pela minha mente. O ar ao meu redor parecia congelado, denso, enquanto a raiva que borbulhava dentro de mim encontrava um muro de frieza impassível.
- Está sugerindo que eu me torne sua prostituta de luxo particular? Eu preferiria morrer, pode me matar de uma vez! - disparei entre os dentes, minha voz tremendo com a mistura de indignação e desespero, sem me preocupar com as consequências de minhas palavras.
Ele parou imediatamente, o silêncio que se seguiu era sufocante, como se o tempo tivesse parado. Ele se virou com uma calma perturbadora, seu olhar afiado como uma lâmina, capaz de cortar qualquer vestígio de bravura que ainda restava em mim. Quando falou, sua voz era baixa, mas carregada de uma ameaça latente que reverberava.
- Eu nunca mencionei que queria algo com você. Está sonhando acordada? - Aquele sorriso de desprezo se instalou em seu rosto, como se eu fosse apenas um inseto insignificante sob seu pé. - Além do mais, você não faz meu tipo! - Sua expressão se tornou ainda mais fria, e a atmosfera parecia gelar ainda mais à sua volta. - Estou dando a você a oportunidade de quitar a dívida do seu irmão e do seu primo trabalhando para mim, e você tem a audácia de me ofender? Sabe com quem está falando?
Engoli seco, meu coração batendo tão forte que parecia querer explodir do peito. Aquele homem era um monstro, um predador que me observava com olhos de quem sabia exatamente o quanto de poder detinha. O medo se misturava à raiva, e eu, estúpida, havia ousado provocá-lo.
- A propósito, o que você estava fazendo na cafeteria da minha empresa? Me seguindo? Agindo como um detetive, procurando informações sobre mim na internet? - Ele deu um passo à frente, sua presença se tornando ainda mais opressora, cada palavra carregada de veneno. - Com a Laís?
O último nome ressoou como um trovão em minha mente. As lembranças da conversa que tive com Laís vieram à tona, e percebi que ele sabia mais do que deveria. O jogo estava longe de terminar, e, naquele momento, eu entendi que estava envolvida em algo muito maior do que eu imaginava. A situação fez meu estômago se revirar, e uma sensação de pânico me dominou, como se uma tempestade estivesse se formando dentro de mim. O que ele sabe sobre Laís? Cada segundo parecia se arrastar, e eu não conseguia afastar a pergunta que ecoava na minha mente.
- Talvez você ainda não saiba, mas Laís não está mais entre os vivos. Ela falava demais, tive que dar um jeito nela! - Victor pronunciou a frase com uma indiferença perturbadora, como se fosse apenas um detalhe trivial em uma lista de tarefas. - Não vai querer o mesmo destino dela, não é mesmo?
Meu corpo inteiro congelou. Laís... morta? A realidade daquelas palavras se instalou em meu peito como um punhal afiado. O chão parecia se abrir sob meus pés, e a dor da culpa me atingiu como uma onda avassaladora. Ela estava morta por minha causa? Ou simplesmente por ter cruzado o caminho dele? Victor, observando a minha reação, parecia se deliciar com meu desespero e continuou, impiedoso.
- Quer saber? Minha paciência com você e sua família se esgotou. Eu ia te dar um tempo para decidir, mas agora é tudo ou nada. - Ele avançou mais um passo, a intensidade de sua presença tornando-se quase opressora. Sua voz baixa e perigosa parecia se infiltrar em cada canto da sala. - Ou você vai trabalhar para mim e pagar a dívida, ou vai pagar com a vida. O que será?
Minhas pernas fraquejaram, e meu coração parecia ter parado de bater. Não havia escapatória. Um instinto primal gritava para eu correr, mas a razão sabia que era inútil. Ele me caçaria, caçaria minha família. A voz dele ecoava na minha cabeça, a realidade de Laís morta... meu irmão e meu primo em fuga... e agora eu era o próximo alvo, marcada como uma presa vulnerável. Com o rosto em chamas e a alma esmagada pela impotência, olhei para ele, incapaz de formular uma resposta decente. Minhas palavras se perderam na garganta, e tudo o que consegui fazer foi acenar com a cabeça, concordando com um destino que eu sabia que me destruiria. O sorriso frio de Victor se alargou, satisfeito com minha rendição.
- Boa escolha! - ele disse com uma calma assustadora, como se tivesse alcançado uma vitória. Então, voltou a caminhar em direção à saída, deixando um rastro de tensão no ar. - Vou te procurar em breve com os detalhes do seu novo trabalho. Não me decepcione.
E, assim, ele saiu, me deixando para trás em um abismo de vazio e derrota que parecia me consumir de dentro para fora. Eu havia acabado de me vender para o diabo, e uma pergunta aterrorizante se instalou em minha mente: eu teria forças para escapar desse pesadelo? A revelação sobre Laís me atingiu como um soco, deixando-me sem fôlego. O chão parecia desmoronar sob meus pés enquanto a frieza das palavras daquele homem ecoava em minha mente. Tentei desesperadamente processar a informação, mas a realidade era sufocante. Peguei o celular com as mãos trêmulas, a urgência me impulsionando a buscar por qualquer pista, qualquer notícia, qualquer coisa que confirmasse ou desmentisse o que ele havia dito.
Naveguei pela internet com a rapidez que o desespero permitia, digitando o nome de Laís repetidamente, procurando alguma menção, uma reportagem, um rumor. No entanto, como eu já temia, nada apareceu. Nenhuma pista, nenhuma notícia. Nem mesmo o vídeo que ela havia postado antes, falando sobre desmascarar o Victor existia mais. Ela havia sumido como se nunca tivesse existido. Isso só reforçava o que eu já sabia: Victor não deixava rastros. Ele fazia as pessoas desaparecerem da vida e da memória como se fossem meros fantasmas. O pânico começou a se instalar. Eu sabia que não importava o quanto tentasse, não havia nada que eu pudesse encontrar. Victor Blackthorne era implacável, e Laís era mais uma vítima do seu controle sombrio. O medo crescia dentro de mim. Se ele havia feito isso com ela, o que me aguardava?