Capítulo 4 Ser quem eu realmente sou

No Cruzeiro de Princesa Real.

À medida que o crepúsculo envolvia o oceano, os convidados se aglomeravam nas bordas do Cruzeiro de Princesa Real, com os olhares voltados para a imensidão do mar. Conforme o navio se aproximava do Porto de Ontdale, uma mulher em especial se destacou na multidão.

Usando um vestido de seda vermelho-joia que se movia como fogo líquido sob as luzes tênues, ela exalava um charme especial. O tecido se moldava às suas curvas, acentuando sua cintura, enquanto suas longas e elegantes pernas pareciam se estender indefinidamente.

Seu cabelo estava preso em um coque elaborado e, seus lábios vermelhos e ousados, junto com brincos de pérola, transmitiam um luxo sutil.

Embora fosse uma combinação simples, era incrivelmente sedutora.

"Uau, querida, olhe como você está. A famosa rainha, Cobra Escarlate, finalmente voltou!", Rebecca exclamou com admiração. "Foi uma pena você ter passado três anos se vestindo como uma freira!"

"Cobra Escarlate", era o nome que Allison utilizava durante suas missões, uma identidade tão ousada quanto o vermelho que ela sempre usava.

Na época, ela tinha orgulho de sua aparência e se vestia de acordo com sua natureza feroz. Colton, no entanto, a repreendera por isso, descrevendo seu estilo como asqueroso e exigindo que ela se parecesse mais com Melany.

Allison atendera ao pedido, acreditando que poderia conquista-lo de volta ao se adaptar ao cenário. Então, ela começara a usar roupas brancas e modestas, a realizar tarefas de dona de casa e a tentar se moldar à mulher perfeita que sua família desejava, mas nada disso dera certo.

No final, a família a descartara como algo qualquer.

Com um sorriso amargo, Allison afirmou: "Você tem razão, Rebecca. Já está na hora de eu voltar a ser quem eu realmente sou."

Ao proferir essas palavras, ela não notou que Colton e Melany acabavam de chegar ao porto. Eles foram recepcionados por Kaelyn, cuja devoção a Colton era ilimitada.

"Senhorita Johnson, finalmente você chegou! Você ficaria surpresa ao saber o quanto o senhor Stevens sentiu sua falta. Ele preparou uma surpresa incrível para você no cruzeiro desta noite!", anunciou Kaelyn, ansiando por agradá-la.

Comprimindo os lábios, Melany meneou a cabeça e disse: "Colton, não há necessidade de fazer tudo isso. As pessoas podem ter uma impressão errada a seu respeito."

Segurando a mão dela, Colton garantiu: "Não se preocupe com a opinião alheia. Ninguém falará nada, pois estou divorciado."

Com a chegada de mais convidados ao cruzeiro, Allison e Rebecca atravessaram a multidão e subiram até o terceiro andar, onde o banquete as esperava.

O navio, radiante como um palácio de luxo, possuía um estilo vintage. Ao fundo, a música estava alta e intensa, e os corpos se moviam ao ritmo, sem se preocupar com mais nada.

Rebecca entregou um cartão-chave para Allison e disse com um tom divertido: "Aproveite a noite! Contratei oito gigolôs para você. E não se preocupe. Todos eles são limpos e perfeitos."

Se divertindo com suas palavras, Allison arqueou uma sobrancelha e falou: "Então nós não viemos aqui para localizar o perfumista, mas sim para aproveitar a festa?"

"Não precisa se preocupar. Ainda temos uma hora antes de o evento começar. Já tenho algumas pessoas vigiando os convidados da Companhia Charisma por você. Sendo assim, você pode se divertir enquanto aguarda."

Em seguida, ela apontou para um homem atraente no outro lado da sala e disse: "Por falar em diversão, acho que vou dançar com aquele homem bonito."

Enquanto olhava para o homem, Allison percebeu que ele piscava de forma cúmplice para Rebecca.

Balançando a cabeça, ela riu baixinho e guardou o cartão-chave na bolsa.

"Está bem. Vá em frente. Estarei no corredor à direita."

Sem disposição para distrações românticas, ela pediu uma tequila e foi em direção ao lado mais calmo do navio, onde a brisa e o horizonte sem fim proporcionavam um alívio do barulho.

Entretanto, seu momento de tranquilidade não durou muito.

"Olá, linda. Está bebendo sozinha?"

Ao levantar o olhar, Allison se deparou com um homem baixo e corpulento a encarando.

"Caso esteja se sentindo um pouco solitária, eu e os rapazes podemos dar um jeito nisso", sugeriu ele, apontando em direção a um pequeno grupo de homens igualmente repulsivos que estavam a alguns passos de distância.

O homem baixo avançou, sua corrente de ouro balançando a cada passo exagerado, enquanto seus dedos exibiam anéis extravagantes, como se fossem mais valiosos do que sua própria dignidade. Ele então se inclinou ligeiramente, sua respiração exalando arrogância. "Tenho bastante dinheiro para gastar, querida. O que acha de... Ah! Minha mão!"

Um estalo agudo ressoou no momento em que Allison torceu o pulso do homem com facilidade, o gesto sendo tão suave que até parecia ter sido ensaiado.

Os ossos do homem estalaram como se fossem ramos secos, e ela ao menos se deu ao trabalho de olhar para ele ao dizer: "Acho melhor você ir embora enquanto ainda é possível."

O homem permaneceu imóvel, sem conseguir entender o que havia acontecido. Foi então que a dor o invadiu, fazendo com que um grito escapasse de seus lábios e ele retraísse a mão com incredulidade.

Uma mulher acabara de feri-lo com a mesma simplicidade com que alguém afastava uma mosca.

Logo, a humilhação se transformou em raiva. No segundo seguinte, ele agarrou uma garrafa próxima com a mão ilesa e exclamou enfurecidamente: "Sua vadia, você acha mesmo que escapará dessa? Se considere morta!"