Não era nem horário de pico, por que tinha tantas pessoas nas ruas ao mesmo tempo? O taxista também estava confuso e tentou buzinar algumas vezes, mas era inútil, pois vários pedestres atravessavam as ruas com tanta pressa quanto eu estava. Faltava pouco mais de um mês para o casamento e ainda precisava fazer alguns ajustes no meu vestido de noiva, eram tantas coisas para resolver sobre a cerimônia, recepção e lua de mel que eu quase não tocava no meu celular para algo além de ligações e trabalhos, afinal ainda tinha o peso da faculdade.
Meu conforto era saber que Nate estava tão atolado quanto eu, então não estava me ferrando sozinha nessa bagunça toda, mas era bom ter toda essa adrenalina comigo, a ansiedade pelo grande dia crescia cada vez mais com o passar das semanas. Já era dezembro, logo chegaria 2020 e aquele ano seria o melhor da minha vida, eu tinha certeza disso porque finalmente estaria casada com o homem dos meus sonhos.
Mas esses pensamentos foram arrancados da minha cabeça de forma grosseira quando uma mulher passou correndo e esbarrou na porta ao meu lado, deixando cair os pacotes de papel higiênico que carregava. Olhei para ela, confusa, e só vi seus olhos por um instante, pois ela usava uma máscara para cobrir o nariz e a boca.
- Use isto! - Ela gritou, jogando um pacote fechado pela janela.
Demorei para entender que aquilo era uma outra máscara descartável, exatamente como a dela, mas não sabia o motivo daquele alvoroço todo.
- Parece que é verdade mesmo - o motorista disse.
- Do que está falando?
- A senhorita não sabe do vírus?
- Estou cursando meu último período da faculdade e planejando um casamento ao mesmo tempo - respondi, fazendo ele rir.
- Realmente não deve ter tempo para nada - ele deu de ombros e andou o pouco que conseguiu antes de parar outra vez. - Surgiu um vírus na China, um tipo de gripe aí que está deixando as pessoas muito doentes, até semana passada era uma epidemia controlada, mas vários países estão confirmando casos dessa doença.
Um arrepio ruim subiu pela minha espinha e respirei fundo, segurando o pacote que a mulher jogou pela janela.
- Estão falando em pandemia - o motorista continuou. - É uma doença muito contagiosa, parece que se espalha pelo ar.
- Isso explica as máscaras, mas não dá uma razão para essas pessoas correndo com pacotes de papel higiênico pelas ruas.
- Alguns burros acreditam que tudo vai ser fechado e, ao invés de comprarem alimento, estão abastecendo os papéis - o homem deu de ombros. - É só lavar a bunda! Essas pessoas não gostam de tomar banho?
Ri alto do questionamento do motorista e balancei a cabeça, sem acreditar que tudo aquilo estava mesmo acontecendo. Em parte, meu riso foi de nervosismo. Se aquilo fosse verdade e uma pandemia estivesse estourando, isso atrasaria todos os meus planos, teríamos que adiar o casamento e não teríamos uma nova data para pensar.
Meu celular vibrou na bolsa e o peguei, atendendo a ligação de Nate.
- Soube das notícias? - Perguntei.
- Sim - ele respondeu, um pouco tenso. - Onde você está?
- Na Michigan, perto da Lanfair Interiors - falei, dando uma olhada pela janela para confirmar. - Tem alguns loucos na rua carregando papel higiênico.
- Pague o táxi, estou indo te buscar.
- Mas o trânsito está parado, como vai chegar aqui?
- Estou de moto, não se preocupe. Apenas junte suas coisas, pague o motorista e me espere na frente do escritório - ouvi o barulho da moto acelerando e soube que ele estava pronto para sair de onde estava. - Não se preocupe, estarei aí em breve.
- Te espero então - falei rápido e logo o celular ficou mudo.
Suspirei e peguei uma nota de cem na carteira.
- Pode ficar com o troco - falei para o motorista, que sorriu ao ver a nota. - Meu noivo vem me buscar, então isso deve compensar um pouco pelo tempo que te prendi aqui.
- Não se preocupe, moça, isso aconteceria com qualquer pessoa - ele respondeu. - Felicidades ao casal, tomara que essa doença não atrapalhe muito os planos de vocês.
Sorri para o gentil homem e abri a porta com cuidado para não derrubar alguém, então saí com cuidado e fui até a calçada, parando na frente da Lanfair para esperar meu querido noivo. Aproveitei para ligar no ateliê e avisar que não iria, o que foi um alívio para eles, que não tinham ideia de como ligar para cancelar o horário. Não demorou mais do que cinco minutos e ali estava Nate, correndo até mim no meio da multidão, ele ainda usava seu capacete e carregava outro na mão para me entregar.
- Você está bem? - Perguntou.
- Estou sim, calma - respondi, lhe abraçando rápido. - Vamos para casa, alguma pessoa aqui pode estar infectada.
- Tem certeza de que não quer ir ao ateliê?
- Eles estão fechados pelas próximas semanas, pelo menos até termos uma noção da gravidade desse vírus - cocei o braço, ansiosa. - Isso vai atrasar nossos planos, não vai?
- Possivelmente - Nate soltou a trava do capacete e o tirou. - Nada disso importa, Dahlia. O que importa é ficarmos juntos, temos a vida inteira para fazer essa cerimônia. Vamos apenas ser cuidados nesse começo de epidemia e depois pensamos no resto, ok? Segurança primeiro.
Assenti e peguei meu capacete, o seguindo até a moto. Pelo movimento das ruas, Nate precisou estacionar no fim do quarteirão e andamos bastante até chegarmos nela, mas o caminho para casa foi tranquilo e isso foi um alívio para mim. Eu só queria me deitar e descansar depois de tudo isso.
Naquele mesmo dia, todos os alunos da DePaul receberam um e-mail com o assunto "COVID-19". Foi uma leitura complicada, mas eu entendia os motivos de estarem fechando as portas, toda aquela situação estava crescendo rápido e o pânico generalizado da população não ajudava a manter o controle das coisas. Com as aulas paralisadas por tempo indeterminado, não restou muito para mim a não ser buscar hobbies e ligar para os fornecedores do casamento para avisar sobre a pausa nos planos. Aquilo não era o ideal para mim, não queria ter minha vida parada tão drasticamente, mas aconteceu assim e não tivemos escolha no assunto.
Nate e eu decidimos manter nossa segurança como prioridade, foi quando me mudei definitivamente com ele e demos entrada na papelada do casamento civil, queríamos ser casados pelo menos no papel logo, chamá-lo de marido era um desejo crescente em mim, porém os cartórios estavam todos fechados também. Apenas hospitais e serviços de necessidade, como supermercados e farmácias, estavam funcionando normalmente, mas seguindo as regras de distanciamento e fazendo o uso de máscaras ser obrigatório.
Fevereiro chegou em um piscar de olhos e nada parecia perto de melhorar, as mortes pelo mundo foram apenas crescendo mais e mais, assim como os atritos entre familiares que, antes, não conviviam tanto como agora. A quarentena que deveria durar algumas semanas, duas no máximo, se estendeu por meses e eu tive a oportunidade de aprender a tocar violino, o que foi uma grande dor de cabeça para Nate até eu conseguir acertar os acordes.
Precisamos cancelar todos os planos do casamento e conseguimos um reembolso de boa parte das coisas, mas não havia nenhuma possibilidade de conseguirmos qualquer avanço tão cedo nesse ano, mesmo sendo apenas na união civil. Isso me entristeceu quando chegou o dia que havíamos marcado para a cerimônia, mas Nate conseguiu me distrair com jogos e brincadeiras bobas, além de filmes e todos os meus lanches favoritos.
Certa tarde, estava tocando em frente à janela do quarto para tentar me distrair quando senti o olhar de Nate em mim.
- Apreciando a vista?
- Sempre bom te ver de camisola - ele respondeu, se aproximando.
Parei de tocar por ter começado a rir e deixei o instrumento em seu lugar de sempre, na mesinha de canto perto da janela. Não demorou muito para que as mãos de Nate estivessem em mim, segurando firmemente minha cintura para me virar para ele.
- Você parece uma dessas deusas gregas quando está tocando - ele sussurrou, beijando meu pescoço lentamente. - Uma verdadeira musa, tão linda quanto as melodias que toca.
- E você é um exagerado - respondi, a voz ameaçando falhar quando ele mordeu minha pele. - Isso não é certo, sabia? Você tem muito controle sobre o meu corpo.
- É o que eu mais amo nisso tudo - ele riu, me puxando para a cama.
O tecido de cetim deslizou facilmente pela minha pele e eu não usava nada além de uma calcinha fina por baixo. Todos os dias seguiam uma rotina parecida, Nate sempre parava meus ensaios para uma rapidinha e nunca era tão rápido assim, mas eu gostava disso então não tinha do que reclamar.
Recebi beijos pelo meu corpo devagar, Nate se aproveitou de cada parte de mim como se estivesse adorando o meu ser, deixando minha pele arrepiada a cada novo toque e eu estava tão ansiosa por aquilo, pronta para receber ele. Seus olhos castanhos mostravam sua diversão ao ver minhas reações desesperadas, mas ele apenas introduziu os dedos em mim e me massageou. Tentei cruzar as pernas, tentando intensificar aquela sensação deliciosa, mas Nate me segurou e tirou os dedos, lambendo os dois antes de abaixar a bermuda e cueca de uma vez só. Sorri maliciosa vendo sua ereção completa, majestosa, pronta para me invadir.
Ele já estava preparado, pois pegou uma camisinha na bermuda antes de terminar de tirar a peça e logo estava protegido, totalmente pronto para mim. Nate me penetrou devagar, entrando e saindo aos poucos, me torturando com aquela lentidão deliciosa. Quando ele entrou por completo, começou a estocar tão forte que soltei vários gemidos altos, aquilo iria ser assunto na próxima reunião de condomínio, mas eu não me importava com os vizinhos da casa ao lado ouvindo. Era bom que soubessem que eu estava muito mais do que satisfeita com o homem que me preenchia naquele momento.
Nate segurou meus pulsos acima da minha cabeça e deixou parte do seu peso cair sobre mim, começando a estocar mais rápido, mais descompassado, ele já estava perdendo o controle e eu sabia que não aguentaria muito tempo também, então pedi entre gemidos:
- Eu quero sentar em você.
Senti o pau de Nate pulsar dentro de mim quando ele ouviu isso, mas ele se segurou e se levantou, saindo de mim para se sentar na cama. Eu sorri para ele da forma mais provocativa que consegui e me levantei também, subindo em seu colo sem dificuldade alguma. Nossos corpos se encontraram outra vez e tomei um tempo apenas para sentir ele por inteiro dentro de mim, então comecei a rebolar e quicar em cima dele, subindo e descendo, crescendo a sensação em mim até virar uma explosão de espasmos que me levaram a apertar o pau de Nate. Ele xingou com isso e não demorou para chegar ao próprio orgasmo depois disso, rindo sozinho com a situação.
- Nós esquecemos a janela aberta - sussurrei, ofegante.
- Isso não importa, o máximo que eles viram foi uma mulher sendo muito bem fodida - ele respondeu, também respirando fundo.
Dei um tapa em seu braço, rindo daquilo que ouvi. Meu rosto estava completamente vermelho e eu senti necessidade de vestir minhas roupas, mas não queria sair dali ainda, não queria me separar de Nate. Ele era meu porto seguro e, naquele momento, o meu amante.
- Se você quiser ficar aí e tentar um segundo round, preciso pelo menos trocar o preservativo, não acha? - Ele brincou e balancei a cabeça.
- Às vezes você acaba com o romantismo das coisas, sabia?
Ele riu e me ajudou a levantar, finalmente quebrando o contato entre nós. Corri para vestir minha camisola novamente e fechei a janela, sendo observada pelo meu noivo, que ainda estava nu.
- Aceita um banho, querida?
Respirei fundo e me virei para ele, sabendo que minha sessão de violino do dia havia acabado oficialmente.
- É claro, mas você vai lavar meu cabelo.