- Você realmente não precisa sair de lá, mas entendemos o que sente - Madeline disse, apertando minha mão entre as suas. - Nate era o nosso mais velho, sempre foi um exemplo incrível para os irmãos e ter escolhido você para fazer parte da nossa família apenas mostra como ele era maduro com suas decisões.
- Você sempre será uma de nós - Jerome confirmou, fazendo um carinho breve no meu braço. - Nós perdemos um filho, mas nunca deixaremos de ter uma filha.
Essas palavras me emocionaram tanto, mas eu não conseguia chorar mais. Estava esgotada.
- Se você quiser, temos um apartamento perto dessa empresa, você ficaria mais segura e mais perto do trabalho - minha sogra propôs, mas neguei.
- Não posso aceitar algo assim, os senhores não têm obrigação nenhuma comigo - falei rápido. - Eu posso me virar.
- Não estamos oferecendo por obrigação, querida - Jerome sorriu para mim. - Nós sempre cuidaremos dos nossos filhos, isso inclui você, então aceite nosso presente. Podemos mandar um caminhão amanhã para levar suas coisas?
Fiquei muito receosa sobre aquilo e quis negar, mas eles insistiram tanto que acabei aceitando e precisei correr para casa. Precisava arrumar tudo para a grande mudança se quisesse descansar no domingo à noite. Em uma rápida ligação, convoquei Lisa e Jane, minhas amigas, para me ajudarem com a mudança. Elas chegaram com duas garrafas de vinho, seis latinhas de cerveja e alguns salgadinhos para comermos enquanto tudo era organizado.
Elas passaram a noite comigo e aquela foi a primeira vez que dormi uma noite inteira e em paz.
Lisa continuou comigo no domingo, auxiliando com tudo na mudança e arrumação do novo apartamento. Eu mal podia acreditar que tudo isso estava acontecendo em tão pouco tempo, mas me sentia grata e feliz, pois sabia que Nate estava olhando por mim naquele momento e esperava que ele estivesse orgulhoso das minhas ações.
Depois de pendurar a última foto que faltava, Lisa e eu nos sentamos no sofá e encaramos a TV desligada.
- Nunca imaginei que isso aconteceria - ela disse, bebendo um gole da cerveja em seguida. - Tem certeza de que ficará bem aqui, sozinha?
- Preciso reaprender a viver sozinha, amiga - falei, o cansaço do dia batendo aos poucos. - Os anos em que vivi com Nate foram os melhores da minha vida e eu queria, mais do que tudo, estar vivendo mais alguns com ele. Não era assim que eu imaginava minha vida há um ano, mas aconteceu e não tem volta mais.
- Sinto muito por tudo que aconteceu - ela sussurrou, segurando minha mão. - Acho que nunca tive a chance de te dar um abraço de consolo.
- Não precisa disso, eu só...
Mas ela apenas me ignorou e deixou o copo na mesinha de centro, me puxando para um abraço que eu não sabia que precisava tanto até receber. O que eu achava ser uma fonte seca, de repente, voltou a jorrar e eu jurei para mim mesma que aquela seria a última vez que ficaria chorando assim. Se eu queria reagir, não seria assim que conseguiria.
Naquela primeira noite em meu novo lar, consegui me manter tranquila e não pensar muito no trabalho que teria, não queria despertar um ataque de pânico poucas horas antes daquilo, então tomei um chá calmante e dormi cedo para evitar problemas, mas acabei acordando cedo também. Aproveitei para adiantar algumas coisas para o almoço e me arrumei tranquilamente, dando mais atenção ao meu cabelo para fazer um coque sofisticado. Queria aparentar um pouco mais profissional e preparada para qualquer desafio, então fiz uma maquiagem que me deixou com uma aparência mais madura e séria, mas não descartei o batom vermelho.
Vesti um tailleur cinza grafite com uma camisa social branca por baixo, tomando o cuidado de não ficar muito vulgar deixando um ou dois botões abertos, então calcei um scarpin preto e não muito alto, pois precisaria usar ele o dia inteiro e não aguentaria algo maior que oito centímetros. Peguei minha melhor e mais espaçosa bolsa e guardei tudo que era necessário dentro dela antes de sair para o primeiro dia de trabalho.
Eu realmente tinha esperanças de que minha vida melhoraria completamente depois desse primeiro passo.
Fui a pé para o trabalho, não demorei mais do que dez minutos para chegar no saguão do prédio e fui até a recepção me apresentar. A moça mal olhou para mim antes de perguntar:
- Scott Industries?
- Sim, como...
- Pode esperar com aqueles ali, eles também vão subir para lá.
Ela apontou para um grupo de pessoas com idades variadas, alguns pareciam mais velhos que eu, mas a maioria era mais novo, com certeza. Me aproximei do grupo hesitante e um rapaz loiro, aparentemente da minha idade, se aproximou com um grande sorriso no rosto.
- Essa aqui poderia ser a face da empresa tranquilamente - brincou, apontando para mim. - Parece uma dona de empresa, não é mesmo?
Todos no grupo riram e eu senti meu rosto ficando corado aos poucos, mas consegui esboçar um sorriso para não mostrar o meu desconforto pelo comentário daquele desconhecido.
- Quem são vocês?
- Os novos estagiários da grande Scott Industries - ele respondeu, estendendo a mão para mim enquanto se apresentava. - Eu sou Theo.
- Dahlia - respondi, o cumprimentando educadamente. - Estamos todos aqui por uma vaga só?
- Não, todos seremos estagiários ao mesmo tempo.
- Tecnicamente, estamos sim todos atrás de uma vaga só - uma das moças mais novas disse, se aproximando. - Laura.
Acenei para ela com a cabeça.
- O que quer dizer?
- Todos os anos eles fazem isso, chamam um bando de estagiários e oferecem uma vaga de emprego no fim de setembro - ela respondeu. - Quem tiver as melhores avaliações ganha a vaga.
- Uma forma saudável de promover competição - comentei.
Os dois riram e logo fomos chamados, mas não ouvi muito do que foi dito dentro do elevador enquanto subíamos para o último andar. Algumas das candidatas, Laura inclusa, usavam decotes tão fundos que era bem mais fácil soltar o restante dos botões e andar com a camisa aberta. Se elas queriam boas avaliações agindo assim, eu provavelmente perderia qualquer chance no primeiro olhar. Eu devia ter imaginado que não seria a única a ser chamada, mas apenas estar ali já fazia muito pela minha carreira e essa leve competição era justamente o que eu precisava para manter a mente ocupada.
Saímos dos elevadores devagar, pois fomos separados em dois grupos de seis e cada um subiu com um funcionário. Me arrependi de não ter prestado mais atenção no que o nosso rapaz dizia antes, pois fiquei perdida enquanto andávamos até a área principal do andar. Pelo que podia ver, aquela parte do prédio foi obviamente reformada para acoplar dois andares como se fossem apenas um. Os escritórios estavam separados e organizados perfeitamente, mas havia um grande salão muito bem arejado quando saímos dos elevadores. Eu sabia da capacidade dessa empresa, mas ver com meus próprios olhos era completamente diferente.
Segui o grupo no automático, encarando tudo ao meu redor, mas não percebi quando pararam e acabei esbarrando em Theo sem querer. Ele riu e me mostrou porque paramos.
- Bem-vindos à Scott Industries - um homem disse, parado ao lado de outros dois. - Eu sou Michael Burk, um dos sócios da Scott Industries.
- E eu sou Tristan Manning, também sócio da empresa - o segundo se apresentou.
- Eu sou Oliver Scott, atual presidente da empresa - o último disse, sorrindo gentilmente para todos nós. - Avaliei pessoalmente os formulários que vocês preencheram e achei cada um digno de estar aqui hoje. Espero que me provem certo e continuem fazendo valer a pena esse voto de confiança.
- Vocês terão um supervisor designado, mas serão avaliados por todos nós, individualmente e também em equipes, pois serão divididos em três grupos - Burk disse, ainda sério. - Não costumamos fazer cortes durante o estágio, mas todas as suas ações dentro dessa empresa contarão em peso, então pensem bem no que falarem ou fizerem.
- Não levem ele tão a sério - o presidente disse, ainda sorrindo. - Estamos felizes por tê-los aqui. Ah! Ryan, venha aqui!
Ouvimos outros passos se aproximando e me virei, encontrando o olhar frio de um homem muito parecido com Oliver, mas muito mais novo. Ele não esboçava nenhum sorriso enquanto nos encarava de cima abaixo, parando o olhar em Laura, claramente interessado no que havia ali.
- Este é meu filho, Ryan, espero que ele aceite a proposta de supervisionar vocês esse ano - Oliver disse, abraçando o filho de lado. - Ele não é sempre tão sério.
Ryan deu de ombros, acenou e sumiu em um dos corredores.
Aquele seria um longo ano.