- De Uber, com a Carol. - Continua olhando. Reviro os olhos mais uma vez. - Não tenho hora pra voltar papai! - Sorrio irônica.
Acho legal sua preocupação. Quando ele não tá tentando me comer, ele é tipo o irmão mais velho que nunca tive.
- Se diverte Loirão. Mas se liga, quando chegar passa o rádio, que vou tá no baile. Pego vocês lá embaixo.- Fala tirando o braço do batente.
- Te mando mensagem! - Falo e quando finalmente passo ele bagunça meu cabelo.
- Cheirosa em! - Grita sorrindo quando eu passo pelo portão.
- Abusado! - Grito de volta.
De algum jeito, durante essas semanas, nossa relação passou de suportável, para amigável.
-Ferrí amor! - Carol manda um beijo pra ele, que retribui na mesma hora. Depois ela me abraça e descemos pra encontrar o Uber.
No caminho compramos nossa bebida e em pouco tempo chegamos na festa. O lugar é grande mas está abarrotado de gente e o som altissimo. Rodamos um pouco pela área externa da casa até encontrar pessoas conhecidas da nossa turma, em um canto. Alguns bebiam, e outros dançavam. Falamos com todo mundo, e alguns ficaram surpresos por me ver ali porque era muito raro eu conseguir ir nas festas que tinha.
Lucas - O aniversariante - chega com um litro de José Cuervo, limão e sal. Olho pra Carol que faz cara feia e se recusa a beber.
- Hoje vou ficar só no energético! - Ela fala próximo ao meu ouvido, por conta da música alta.
Me aproximo do Lucas e pego uma dose, coloco sal na língua, bebo a tequila e em seguida chupo o limão fazendo careta.
O Gustavo se aproxima com alguns meninos da sala e a gente se abraça. Ele solta uma piadinha me fazendo rir e eu não tenho tempo de responder nada pois a Carol me puxa e começamos a dançar.
Rebolo com ela ao meu lado. O Gustavo fica tentando não me olhar e acho graça.
No segundo copo já me sinto alegre demais e um pouco tonta, então paro de beber. Me divirto muito com meus colegas e minha amiga.
Sinto que tô indo longe demais com o Gustavo pelo jeito que estamos dançando, mas já sem conseguir voltar atrás ele passa a mão por meu pescoço, e a gente se beija. Um beijo lento e calmo, sua língua dança em minha boca e ele me aperta contra seu corpo.
Seus braços descem pra minha cintura e ele meio que me abraça, mas deixando uma pequena distância entre nossos corpos. Continuo dançando sem querer ficar de casal na festa.
Quando pedimos o Uber já era mais de três da manhã, a pouco tempo atrás mandei mensagem pro Diego pedindo pra nos buscar. Ele encheria o saco se subíssemos sozinhas, e eu também fiquei com medo. O Uber nos deixou um pouco acima da entrada, e ele já estava lá mexendo em seu celular e nos esperando com uma comitiva de motos ao redor, de homens alertas. Por estarmos perto da UPP.
Entrei no carro conversando com a Carol. E sorrindo feito boba pro vento, efeitos do álcool.
- E aí!? - Diego fala distraído olhando pro celular. Conversamos sobre a festa, eu e a Carol falando ao mesmo tempo. Depois cantando a música que estava tocando e deixando o Diego doido com tanto barulho.
Depois de levar a Carol em sua casa, chegamos na casa de tia Lurdes. Ainda bem que estou com ele, porque esqueci de levar chave, e não ia ser bom acordar a tia essa hora da madrugada.
Ando devagar tentando não fazer barulho dentro de casa, vou direto pro quarto e ele passa pra cozinha. Tiro as botas e jogo no canto, estou levantando o vestido pra tirar quando a porta se abre me assustando. Diego entra com um copo com água na mão. E dou graças a Deus por estar com uma calcinha bonitinha.
- Ih caralho! - Ele fala relutante em se virar e parar de me olhar. - Tu deixou a porta encostada loirão, achei que podia entrar.
Já com o vestido abaixado falo. - Tu e essa mania de entrar sem bater!- Ele me entrega o copo com uma cara de safado.
- Gostosa em loirão.. - Fala e eu dou um tapa nele sorrindo. - Tu bebeu né? - Pergunta ao mesmo tempo que pego o copo e tomo um gole da água. - Tá boazinha demais, se fosse em outro dia tinha me esculachado todo! - Ele sorri e passa por mim indo se olhar no espelho.
Realmente, mas ele me olhou de um jeito tão gostoso, que não consegui ficar com raiva. Ele me admirou e eu gostei.
- Bebi um pouco. E você também né! Me trazendo água aqui. Diz logo o que tu tá querendo! - Falo colocando o copo em cima da cômoda. Depois tiro os brincos distraída e quando me viro ele tá na minha frente.
- Posso dizer mesmo? - Diego está muito perto. Ele passa seus olhos por minha boca e por meus seios. Depois passa a língua pelos lábios. Tarado!
Essa é a hora que mando ele ir a merda e ele vai embora. Mas eu não faço nada. Apenas encaro ele de volta, descendo os olhos pra sua boca. E em um gesto involuntário mordo o canto do meu lábio inferior. Pensando qual seria meu nível de arrependimento amanhã.
Ele sorri e aproxima sua boca devagar, achando que eu vou correr.
Eu deveria.
Era o que minha cabeça dizia.
Mas não o fiz.
Sustentei seu olhar faminto, ele me olhava com desejo evidente. Seu rosto é muito bonito, com detalhes lindos olhando de perto. Sua boca é cheia e a barba rodeia seus lábios, no meio dos pelos castanhos tem algum loiros que se destacam, tudo completando seu charme.
Seu perfume é muito bom,
Sua altura é perfeita.
Minhas pernas estão fracas, e meu coração bate rápido. Uma ansiedade e vontade estranha. Por que diabos quero tanto que ele me beije?
- Não vou cair nessa de novo! - Ele fala, e vai saindo do quarto. - Antes era cu doce, agora é esse joguinho com minha cara. Já te dei o papo, para de brincar assim comigo, uma hora te pego de jeito loirão!- Ameaça. - Depois não reclama!
Pega?
Ele achou que eu estava brincando de novo.
Escuto a porta se fechando e em seguida o portão. Fecho os olhos e respiro fundo.
Fico aliviada. Mas também desapontada. Para todos os efeitos eu ia me afastar, assim que ele fizesse menção em me beijar. Como se não tivesse sentido nem um pouco de vontade de deixar.. deixar ele fazer o que quisesse.
Ia fazendo uma merda pra depois me arrepender absurdamente. Agora que estamos amigos, se beijasse ele, ia tudo água abaixo. Ele ia voltar com as provocações, piadinhas, e ia tentar me levar pra cama de novo.
Eu nunca mais bebo! Ficar com o Gustavo não foi suficiente Bianca? Pergunto a mim mesma. Deito na cama e fico pensando.
Eu não senti meu coração pulando feito louco no peito...
Não senti aquele frio na barriga...
As pernas bambas...
A ansiedade e desejo...
O Diego me deixou fora de mim sem nem se quer ter me beijado..
O fato dele ser tão experiente, já ser um homem e não um adolescente. Ser tão sedutor, me olhar com tanto desejo, como se eu fosse a mulher mais gostosa que ele pôs os olhos. Isso tudo me instiga. Em outras palavras, me excita. Ele tem a mulher que quiser, e fica nesse jogo comigo.
Mas é claro que isso tudo só aconteceu porque bebi. E amanhã tudo volta ao normal, Diego é ex da minha irmã, e acabou de parar de ser um estupido comigo, não vou estragar isso.
.
Acordo com a Carol abrindo a porta do quarto, não sei que horas são, mas pra mim é cedo demais pra ela está falando alto assim.
- Bora que hoje tem churrasco , levanta! - Fala me sacudindo. - Quero comer até abrir o botão do short.- Ela sorri e vai se olhar no espelho.
- Que animação é essa? - Pergunto sonolenta. - Todo domingo so te vejo a noite, porque passa o dia todo na cama de ressaca. - Levanto amarrando o cabelo em um coque.
- Pois é, mas hoje quem tá de ressaca é tu, eu to pro crime! - Da risada levantando os seios e arrumando na blusa. - E outra, quem não se anima com churrasco de graça? - Pergunta arqueando a sobrancelha pra mim.
- Não to de ressaca. - Falo pegando minha toalha e lembrando da noite passada. - Só se for ressaca moral. - Murmuro fazendo uma careta. E ela vem atrás de mim curiosa perguntando o que aconteceu.
Realmente não to de ressaca, só com muito sono, e sede. Poderia ser pior, mas eu não bebi muito..
Depois do banho escolho uma roupa, enquanto conto pra Carol o que aconteceu com o Diego ontem. Melhor dizendo, quase aconteceu.
- Eu sabia! Tu se faz de desinteressada né safada! - Ele junta as mãos sorrindo. - O Ferrí também ta de quarto por tu!
- Por mim, por você, por todas. Mas eu não to mesmo interessada. - Sorrio e falo penteando meus cabelos.
- Aham tá, acabou de dizer que ele quase te beijou! - Ela fala fazendo uma cara de debochada.
- Diego é charmoso. - Admito revirando os olhos. - Já tem lá sua experiência, por isso tem pegada e tudo.. Mas não presta, e eu não vou me envolver com o traficante ex da minha irmã. -Explico.
- Ah bom! E quem disse que é pra casar? Ele também não deve querer se envolver não Bianca. - Ela fala descontraída. - Rola uma atração aí né? Então se joga, porque a Letícia tá muito longe e tá cagando pro Diego e pra você. Inclusive a muito tempo né, desde que meteu o pé daqui e a favela toda comentou o que ela fez. - Ela levanta e vai retocar o batom.
- Aqui só tem fofoqueiro. Não sabemos a história toda. - Fico pensando no que ela fala, mas não me convenço. Diego não é mais um menino pra ficar só de amasso, ele vai querer sexo, e eu jamais ficaria com ele na minha primeira vez.
Também to convivendo muito com ele, não seria só um amasso e tchau. A gente ia continuar tento contato, e nossa amizade provavelmente não seria a mesma. Então com certeza é melhor evitar.
Escolho um conjuntinho amarelo, de alcinhas finas, colado no corpo e com decote bonito, calço uma rasteirinha de pedras e passo apenas rímel e batom rosa. A Carol está com um body branco justinho, short de listras e salto. Ela tá bem maquiada e o cabelo solto. Tenho uma leve impressão que quer impressionar alguém. Não que ela precise se arrumar muito pra isso. Ela me empresta um óculos de sol aviador e depois saímos do quarto. Tia Lurdes também foi convidada pela mãe da Marina e já estava nos esperando pra subir juntas.
Chegando na casa do Vitão, cumprimentamos as pessoas, e a Marina nos leva até uma mesa. Perto do Negão e do Diego, que me olha de cima a baixo. E depois sorri me cumprimentando.
O almoço foi maravilhoso, tinha uma galera bebendo e dançando. Não estava muito cheio, e eu conhecia poucas pessoas lá. Marina estava linda em um vestido rosa que o decote ia até perto do umbigo. A maior parte do tempo ela estava agarrada no Vitão.
A Jessica estava do outro lado dançando com umas meninas, mas não tirava o olho do Diego. E a Kessia que pelo que sei também é amante dele, estava sentada próximo a gente mas não com ele. Acho que nunca vi o Diego de casal com ninguém além da Letícia..
- Vou lá no banheiro, já volto! - Carol me avisa e sai andando sem me deixar falar que eu também queria ir.
Levanto seguindo ela e encontro com o Diego na porta, ele segura meu braço. Olho pra cima tentando entender, ele parece uma parede na minha frente, comparando nossa altura e porte.
- Vai aonde? - Pergunta.
- Com a Carol no banheiro, por que? - Falo confusa.
- Ela não tá no banheiro, e é melhor tu esperar ela voltar. - Ele fala com um aviso silencioso no olhar.
Fico sem entender nada, mas então penso que ela pode ter ido encontrar alguém. Por que será que Carol não me conta mais nada? A gente falava sobre tudo antigamente.
Volto pra mesa com ele e fico bebericando meu refrigerante e brincando com o Ruan, tia Lurdes está fofocando com a mãe da Mirela e o Diego conversando com o Negão.
- Dança tia! - Ruan me chama puxando meu braço. Levanto segurando suas mãozinhas e começo a sambar com ele pulando em minha frente. Todos ao redor ficam sorrindo dele fazendo graça.
De relance olho pro Diego, em um minuto ele olha como se me admirasse, e quando volto meus olhos pra ele de novo sua expressão está fechada encarando as pessoas. Vai entender!
Quando olho ao redor percebo de longe o Vitao vindo pra varanda, ele estava me olhando com um cigarro na boca e conversando com outro cara.
Meu celular vibra no bolso e me sento com o Ruan.
Carol: To indo embora. Você vem?
Fico sem entender, mas de longe vejo ela passando feito uma bala, de cabeça baixa com os cabelos cobrindo seu rosto. Me despeço rapidamente das pessoas e corro atrás dela que já passa do portão.
- O que foi? - Pergunto quando a alcanço.
Seus olhos estão vermelhos e as lágrimas escorrem por suas bochechas, junto com a maquiagem.
- Não é nada. - Desconversa passando seu braço pelo meu. - Se você quiser ficar eu desço sozinha, não tem problema. - Fala sem me olhar.
- Meu Deus Carol! Como não é nada? Você estava tão animada, foi só sair de dentro da casa que ficou nesse estado. E agora tudo fica escondendo de mim! Não somos mais amigas? - Questiono preocupada.
- Sim bia, claro que somos! Foi mal! - Ela abraça minha cintura e apoia sua cabeça no meu ombro. Ainda chorando. - É só o idiota que estava ficando, eu encontrei ele lá dentro e a gente discutiu. Foi isso! - Explica com a voz triste.
- Carol você não é de chorar, muito menos por homem. Mas eu não vou te pressionar mais, quando quiser me conta. Sabe que to aqui pra tudo. - Afago seus cabelos.
- Prometo te explicar tudo assim que eu resolver. Não quero te meter nos meus rolos irmãzinha.- Ela fala limpando o rosto e sorri ao falar a última frase.
- Você é a mais velha aqui, mas eu sou muito mais cabeça, então nada de resolver sozinha. A gente é 10/10 ou não cachorra? - Pergunto enquanto caminhamos pra casa. Xingo na frente e defendo nas costas. Carol é minha irmã, não sei o que tá acontecendo, mas vou fazer o que puder pra ajudar ela.
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Dançando com o caos, namorando com a paz..
Filipe Ret
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