Capítulo 3 3

Ao dobrar a esquina, Cesare avistou um carro de polícia e lembrou de algo que não deveria ter esquecido.

- Michelle, entre em contato com meu avô ainda hoje. Informe-o que deve arrumar alguém de confiança para comprar aquele restaurante. Com o que fiz naquele lugar, o preço vai despencar - Cesare alisou a mandíbula seguindo até o pescoço e murmurou com satisfação: - O extremo sul de Manhattan me pertence agora.

- Pode deixar. Fiquei sabendo pelo Santino que o senhor Matteo retorna da Itália em uma semana. Isso significa que as coisas finalmente foram concluídas por lá.

- Bom saber - Cesare sorriu amargamente, um pensamento rondando sua cabeça ganhou voz altas em seu consciente.

Ele se lembrou do último dia na Sicília, poucas horas antes de voltar para Nova York. A conversa que teve com seu irmão durante o jantar vagava em sua mente, enquanto observava o carro parando no sinal e algumas pessoas atravessando a rua com uma empolgação invejável.

Cesare sorriu ao ver uma mulher quase cair ao dar uma gargalhada enquanto segurava uma garrafa de bebida.

Sua cabeça virou-se para a janela ao lado e a voz de Konstantin ressoou em seus pensamentos:

- Cesa, você não pode ficar aqui.

- Por que não? Deixe-me ficar um ano ou dois. - O leve movimento em negação e o olhar rígido de Konstantin tingiram a mente de Cesare de preto. - Quero ficar contigo, você é o único que realmente me trata com afeição e preocupação, tirando aqueles dois ali. Disse ele apontando para Santino e Michelle.

- Somos os responsáveis pela organização agora. Volte para Nova York. - A resposta rude deixou o ambiente desconfortável por um minuto ou dois, até que Cesare quebrou o silêncio:

- Matteo pode cuidar de tudo por lá, aquele velho ainda está bem lúcido, Konstantin. Deixe-me ficar - suplicou, causando choque e descrença em Michelle e Santino, que nunca o haviam visto assim.

- Não, agora não é o momento. Estamos entrando em um monopólio que exigirá nossa total atenção. Você entende isso? Precisamos expandir seu território em Nova York.

Cesare não queria se afastar da pessoa que lhe demonstrou afeto sincero, já que o que seu avô lhe oferecera fora apenas uma versão fraca e superficial de reconhecimento parental.

Na verdade, é assim que Cesare enxergava as atitudes do Matteo.

- Olhe para mim! - A mão quente e pesada de Konstantin segurou sua mandíbula, forçando-o a encarar seus olhos. - Matteo é nosso avô materno. Tenha respeito por ele.

Ah! - Cesare soltou o ar de forma sarcástica.

- Por que deveria, hein? Só porque ele é meu avô, hum? - As sobrancelhas e o nariz franzido, bem como os lábios contraídos de Cesare causaram desconforto nos três na sala. - Aquele filho da puta nunca me tratou com afeto. Sempre me senti um cão de caça, que ele jogava o graveto e eu tinha que correr atrás para pegá-lo.

Sua mão direita acertou a mesa diversas vezes, fazendo um barulho alto com tamanha violência. Cesare deixou vir à superfície a frustração guardada por anos enquanto tirava seu rosto do aperto de Konstantin.

- Cesa, você vai voltar para Nova York. Preciso que ocupe o lugar do nosso avô. Matteo é bom no que faz, mas nós dois. - Sinalizou com o dedo indicador dele para Cesare antes de continuar: - Somos os novos patriarcas, eu aqui e você lá, entendeu?

Aquela pergunta ficou sem resposta. Cesare não disse nada, e sua falta de afirmação criou uma rachadura do tamanho do Grand Canyon, afastando qualquer outro assunto de ser desbravado entre eles. Depois disso, os irmãos não trocaram mais nenhuma palavra até Cesare avisar que estava voltando para Nova York.

- Chefe!

Cesare ainda sentia os reflexos daquela conversa ressoando como um sino grande e pesado que, a cada badalada, tremia tudo ao seu redor.

- ... chefe... ei!

Essas lembranças estavam minando sua felicidade pouco a pouco.

- Cesare... está me ouvindo?

A voz alterada de Michelle e o leve tapa no joelho o trouxeram de volta à realidade.

- Oi... - a resposta saiu baixa e confusa.

- Estou te chamando, mas você não responde.

Cesare percebeu que estava tão imerso em pensamentos que não notou que haviam chegado ao estacionamento da Universidade Pace. O olhar preocupado de Michelle era interpretado por Cesare de forma estranha.

- Não me olhe assim! - pediu enquanto analisava a movimentação do lado de fora da galeria. - Você não é tão bonito para ficar com essa expressão no rosto, por favor, me prive dessa visão.

- Estou preocupado com você! - ele explicou, mas ao se lembrar da ofensa que recebeu o questionou se sentindo insultado. - Como assim não sou tão bonito?

A pergunta fez Cesare gargalhar.

- Ficou ofendido com o fato de eu dizer que não é tão bonito, ao invés de ficar grato por não te chamar de feio? - O tom sarcástico fez Michelle revirar os olhos.

- Chegamos! - Ele olhou para a frente e estacionou em uma vaga que acabou de surgir. - Está bem cheio, será que é algum artista famoso?

- Dificilmente, essa galeria é para dar aos novos artistas dessa universidade a experiência de ter suas obras expostas para o público. Não é um lugar que viria alguma exposição famosa. O autor deve ser algum formando bem popular na faculdade, é só ver as pessoas a sua volta.

Michelle fez o que Cesare sugeriu e de fato só tinha pessoas de aparência bem jovial, os carros que se amontoavam eram na maioria esportivos.

- A artista deve ser bem popular entre os homens. - .Cesare acrescentou como se tivesse certeza disso.

Ele deu uma olhada e viu a fachada iluminada da galeria com o nome Amelia Lopes e a frase embaixo do grande nome em caixa alta dava uma ideia do que podia ter lá dentro.

Entrelhando minha arte

- Deve ser uma combinação bem peculiar. Interessante. - Cesare comentou, enquanto sua curiosidade aumentava.

            
            

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