Capítulo 5 5

Michelle sabia que aquele olhar significava problemas, um tipo de problema que não estava preparado para lidar. Ele viu o chefe dar um passo à frente, como se estivesse prestes a se aproximar daquilo que capturava toda a sua atenção.

- Chefe... - sua voz saiu baixa, mas alta o suficiente para Cesare ouvir, só que nada seria capaz de ganhar a atenção dele naquele momento. E, enquanto o observava se mover com uma intensidade predatória, Michelle percebeu que, qualquer que fosse o objeto da atenção dele, o resto da noite prometia ser tão tensa quanto os últimos dias de carnificina que haviam deixado marcas por toda Nova York.

Ele sentia, em cada fibra de seu ser, que desta vez Cesare poderia estar se enfiando em um problema do qual ninguém seria capaz de sair, nem agora nem no futuro.

E ele estava certo...

Cesare não tinha ideia do que se passava na mente de Michelle. Ele experimentava algo diferente, uma sensação... na verdade, não era uma mera sensação; era como se estivesse provando algo novo, algo indefinível, mas que o agradava profundamente.

Ele estava vicioso, como se aquilo... não, aquela mulher, a alguns metros à sua frente, fosse uma droga altamente perigosa, embalada com um grande aviso escrito em caixa alta: "NÃO TOQUE, NÃO COMA, NÃO INALE NADA QUE VENHA DELA. VOCÊ PODE SE VICIAR". Mas Cesare sempre gostou de jogar com o perigo e estava disposto a quebrar os paradigmas da moral só para provar o que aquela mulher poderia lhe proporcionar.

Ele varreu com os olhos aquilo que desejava possuir. Aquelas íris azuis lhe causaram algo desconhecido... - Porra! - murmurou ele.

Cesare desejava não apenas o que cercava aqueles olhos, mas também o tom de pele parda e reluzente; os lábios carnudos e bem delineados, com uma coloração vermelha acentuada que, se não olhasse de perto, poderia enganar qualquer um a pensar que estavam tingidos de batom.

Ele estalou a língua inconscientemente, revelando sua irritação só de imaginar que outro homem pudesse ver aqueles lábios e desejá-los tanto quanto ele.

- Isso me perturba! - murmurou Cesare, cobrindo o rosto com a mão direita, mas deixando, de propósito, uma brecha para continuar a observá-la.

Os cabelos negros, de fios grossos e ondulados, que emolduravam aquele rosto fino, faziam uma cócega imaginaria na palma de sua mão, que ansiava por acariciá-los e torcê-los entre seus dedos, enquanto seu corpo, como uma onda, se chocaria contra o dela, como uma canoa à mercê de um oceano profundo de desejo, movendo-a com seus movimentos milimetricamente calculados.

Ele reprimiu um sorriso e soltou um leve suspiro: - Ah... eu ia gostar disso.

Seus lábios se curvaram, e ele percebeu que sua expressão assumia o típico sorriso de um bastardo que tomaria aquela mulher para si.

- Sim! Eu gostei e será meu; tudo aquilo será meu!

Um sorriso benigno surgiu em seus lábios, mas rapidamente foi substituído por uma expressão sombria, carregada de malícia. O ar ao redor tornou-se pesado, quase sufocante, como se o ambiente reagisse à mudança em sua postura.

Cesare refletiu como aquela pequena mulher transmitia o oposto dele. Ela tinha traços, postura e uma expressão que emanava tranquilidade... na verdade, pureza, essa era a palavra.

Ela lembrava um lago calmo, inalterado até pelo vento de fim de inverno, cuja brisa não conseguia nem criar aquelas pequenas ondulações que suavemente frisam a superfície. Essa serenidade quase irreal mexia ainda mais com Cesare, como se toda a sua pureza confrontasse a besta feroz que ele mantinha enjaulada dentro de si.

Cesare alisou os cabelos, enquanto sua mente projetava imagens do que estava por vir. Ele sabia que o que tudo desejava seria seu, de um jeito ou de outro. A ideia de quebrar e moldar aquela alma ao seu bel-prazer era irresistível.

Michelle, observando de perto, sentiu a tensão ao redor de Cesare. Ele sabia que algo imoral e terrível passava pela mente dele, mas, como sempre, estava impotente para impedir o que quer que fosse.

Cesare era um homem que não apenas conquistava, mas possuía, e agora, ele havia encontrado um novo objetivo. Enquanto sua mente arquitetava os próximos movimentos, seu corpo reagia como se um iminente desastre fosse assola Nova York.

Ela seria dele, não importava como. E Cesare mal podia esperar por isso.

Ele estava absorto em seus pensamentos quando sentiu um toque leve em seu braço. O contato de Michelle foi como uma rachadura profunda, interrompendo bruscamente sua concentração e fazendo-o recobrar a consciência do ambiente ao seu redor. Ele lançou um olhar frio na direção dele.

O gesto de Michelle, embora leve e talvez bem-intencionado, era uma perturbação desnecessária. Cesare o avaliou com um olhar desinteressado, notando a expressão de cautela que Michelle tentou esconder.

- Encontrou uma escultura que deseja comprar? - perguntou ele, tentando descobrir o que havia atraído o interesse do seu chefe, mas ficou sem resposta.

Cesare revirou os olhos com desdém e então se voltou para o que realmente chamava sua atenção. Em paralelo com as divagações de Cesare estava a mulher que acabara de se tornar seu mais novo desejo. Na verdade, ela havia se tornado seu novo objeto de consumo.

A mulher de pele parda, cabelos negros ondulados, lábios levemente avermelhados e um perfil delicadamente pequeno parecia ser para Cesare algo que ele usaria, seria melhor dizer, que a possuiria de forma leviana e imoral.

                         

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