Capítulo 6 Capítulo 6

Elisabeth anotou suas observações sobre o paciente nos prontuários. Ela sabia que a paciente estava observando cada um de seus movimentos.

"Isso é perturbador." Alice fez beicinho e agiu ofendida. Ela acariciou o lado direito do peito.

"Agora meu coração está desconfortável. Isso conta como o desconforto que você perguntou mais cedo? Acho que na verdade não estou bem."

Elisabeth parou de escrever. Ela olhou diretamente para a paciente e viu sua mão acariciando o lado direito do peito.

Ela então se virou para Lucas e o instruiu. "Entre em contato com um de nossos neurologistas de plantão. Talvez tenhamos que examinar o cérebro da senhorita Lambert em busca de qualquer dano."

O enfermeiro parecia confuso. Ele olhou para a paciente e, quando percebeu o que a médica quis dizer, quase soltou uma gargalhada, mas se conteve.

Alice abruptamente jogou a cabeça para trás, rindo como se tivesse sido provocada por uma força desconhecida e invisível.

"Do que diabos você está falando?" ela exclamou. "Você está surdo? Eu disse coração, não cérebro. Você precisa fazer um check-up nos ouvidos, doutora."

"Sim, mas parece que você pode ter um problema no seu lobo temporal medial, onde se localiza o seu córtex entorrinal, responsável pela sua noção de direção."

Enquanto Lucas soltava um sorriso maroto, Alice parecia que estava perdida em um deserto, incapaz de entender o que a médica havia dito.

"Fora isso, você está bem. Você pode sair do hospital hoje mesmo, se quiser."

Elisabeth estava pronta para sair. Ela deu um sorriso genuíno para Alice e disse: "Fica no seu lado esquerdo."

As sobrancelhas de Alice se levantaram em confusão.

"Seu coração," ela acrescentou. "Fica do lado esquerdo."

Sabendo que ela teve a última risada, Elisabeth se virou para sair do quarto e encerrar a situação atormentadora. Mas então Alice não estava prestes a desistir. Ela falou novamente.

"Você operou em mim, e eu acordei, então ainda devo ser grata a você, doutora. Ou devo chamá-la de Sra. Kenneth?"

Havia sarcasmo na voz de Alice, e Elisabeth não falhou em perceber isso. Ela voltou a encará-la com um sorriso.

"Estou grata que você se sinta grata. Estou apenas fazendo meu trabalho", Elisabeth respondeu e pensou que era isso, ela poderia sair.

Claro, ela estava completamente enganada.

"Não está curiosa sobre meu bebê?"

Os músculos de Elisabeth instantaneamente se tensionaram. Alice continuava cutucando-a, e ela não sabia por quanto tempo conseguiria suportar. Tudo o que sabia é que precisava se manter firme para salvar a própria imagem.

Ela conseguiu responder calmamente. "Não estou interessada em seus assuntos pessoais."

"Bem, deveria estar. Isto é um assunto do seu marido, o que também o torna seu assunto."

Elisabeth não conseguiu responder. Internamente, ela concordou com Alice. Definitivamente era assunto dela se envolvesse Zachary.

"Era o bebê de Zachary," ela disse orgulhosamente. "Nós nos amamos. Ele prometeu um casamento a mim depois que se divorciar de você."

Elisabeth pensou que ela já estava quebrada, tão despedaçada e pulverizada que não havia como ela se esmagar mais.

Mas não, pela enésima vez, seu coração caiu, se espatifou feito vidro e sangrou sem parar.

Lucas não conseguia se conter ao ver Elisabeth ser intimidada. Então, ele a defendeu.

"Cale a boca!"

"Lucas ..." Elisabeth o advertiu para ficar fora da conversa.

Lucas estava demasiado enfurecido para a ouvir e olhou para Alice com maldade.

"Você é a pior pessoa do mundo! Seduziu um homem casado, teve um filho dele e ainda tem a cara para falar com a esposa dele? Você não sente vergonha?"

Os pés de Elisabeth estavam fincados no chão. Todo o seu corpo congelou e ficou adormecido.

Ela engoliu várias vezes, pois sentia um nó enorme na garganta. Estava com medo de começar a chorar na frente de Alice.

"Bem", conseguiu articular Elisabeth. Ela engoliu novamente, como se isso lhe desse força. "Agora não importa. O seu bebê se foi. E se o Zachary realmente quer o divórcio, eu tenho que ouvi-lo diretamente dele. Caso contrário, eu não acreditarei."

Ela olhou para Lucas. "Você assume."

Depois, deixou o quarto com passos leves e cuidadosos, segurando a respiração como se isso tornasse sua dor menos visível para os outros.

Lucas caminhou até a cama, seu coração cheio de desprezo pela paciente que intimidava o médico.

Ele agarrou o braço dela com força. Sem aviso, inseriu uma agulha na veia dela.

"Ah! Isso dói!" Alice encarou a enfermeira.

Lucas deu de ombros. "Eu me voluntariei para ser designado para ela, só para fazer isso."

Ele retirou a agulha sem sentir pena. Alice gemeu de dor novamente, o que trouxe satisfação para o interior enfurecido de Lucas.

Ele se aproximou dos ouvidos dela e, em uma voz ameaçadora, disse: "Se você intimidá-la novamente, eu posso te matar com uma agulha e uma seringa. A dosagem certa de potássio pode causar parada cardíaca súbita, e ninguém ficará sabendo. Nem mesmo o grande Kenneth."

A boca de Alice secou com a ameaça do enfermeiro.

O enfermeiro forçou um sorriso depois de endireitar as costas. "Se não precisar de mais nada, estou indo embora."

Com a ameaça dele, Alice calou a boca.

A enfermeira foi até o escritório e viu Elisabeth sentada próxima à janela, absorta em pensamentos. Sua pele branca como porcelana estava pálida. Seu rosto delicado era estoico, mas seus olhos inexplicavelmente quase choravam.

"Qual é o problema com essa cara de semi-morto? Arme um escândalo, Elly. Mostre para aquela mulher que ela não pode mexer contigo. Ou fique brava com o seu marido."

"E depois disso?" Elisabeth respondeu sem olhar para ele. Seus olhos estavam focados no exterior.

"Isso resolveria alguma coisa?" ela indagou.

"Provavelmente?" Lucas retrucou.

"Eu não posso investir minhas emoções em algo provável."

"Irônico," Lucas comentou. "Você desperdiçou sua vida casando com o seu marido quando nem isso é provável. "

"Por favor, Lucas," implorou Elisabeth, já emocionalmente abalada.

Ela se levantou e foi até o canto da sala. Despejou café instantâneo em uma caneca e acrescentou água morna.

"E quanto ao espécime do embrião? Ele não estava mais na minha mesa," ela perguntou.

"Eu joguei fora quando você o deixou ali intocado," Lucas respondeu.

Elisabeth permaneceu em silêncio enquanto mexia seu café como se estivesse pensando profundamente. Ela tomou um gole do seu café quente.

"Eu sei que você está frustrado com minha vida", ela disse. "Se você está tão frustrado, se é tão doloroso para você, quanto mais para mim? Então, por favor, eu não preciso que você me jogue isso na cara. "

Lucas cerrou os dentes de raiva. Ele queria que ela escapasse de sua vida dolorosa. E ele não sabia como fazê-la perceber que fugir era uma opção.