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Catherine olhava para o agitado cavalo com temor, pois nunca havia montado em um em toda a sua antiga vida e agora era obrigada a fazê-lo, já que todos a consideravam uma guerreira.
Aquela guerreira valente e destinada, mas nos cinco dias que se passaram desde a Transmigração, Aiyra estava pisando em cascas de ovos. Ninguém a reconhecia mais.
- Pequena esqueceu de como se monta? - perguntou um senhor, dono de alguns cavalos bonitos, e Aiyra sorriu de forma torta, ainda mais com seu pajé olhando-a de forma estranha.
- Eu... eu... - Catherine não conseguia ser Aiyra. Por que ela se teletransportou para um corpo tão complicado? Logo numa jovem índia guerreira?
- Como se esquece de montar em um cavalo? - Kaluanã aproximou-se e cruzou os braços em frente ao peitoral nu. Ele só usava palhas como saia. Será que esse povo indígena não sentia frio?
Aiyra olhava para seu pajé e tentou arrumar uma bela desculpa.
- É que... teve uma vez que caí, batendo a cabeça, e agora... tenho medo!
Utilizou uma voz baixa, tímida... algo que Aiyra nunca usaria. Kaluanã a encarou perplexo.
Essa batida de cabeça foi realmente grave. Além de esquecer algumas coisas, também mudou sua personalidade.
Os olhos de Kaluanã julgavam.
- Não me olhe assim... - fez bico e Kaluanã voltou a si, desviando os olhos enquanto suspirava.
- Ok... ok... irei te acompanhar. Quem sabe andando de cavalo você volte ao normal.
Catherine sorriu sem jeito. Isso era impossível, porém, ela guardou esse segredo para si.
Kaluanã pegou um cabelo negro como a noite e montou em cima dele, sem cela e nada, e estendeu sua mão grande para a garota que agora não é mais guerreira de honra.
- Venha... vamos!
- Assim... sem segurança e nada do tipo? - Perguntou. Os dois índios olhavam para ela e não disseram nada, deixando Catherine sem jeito. - Ok... ok...
Ela segurou a mão do pajé e foi puxada como uma boneca leve. Uau... ele realmente é um bruto. Aiyra foi colocada atrás de Kaluanã e sentiu um corpo alto e quente em sua frente. Isso é para se preocupar? Já que esse homem tecnicamente está... nu?...
As bochechas da índia morena coraram.
- Ooo... - Kaluanã fez o cavalo correr e Aiyra gritou.
Antes, eles estavam no terreno do índio senhor, dono do cavalo negro, agora, Kaluanã guiou o animal para a mata numa cavalgada que fazia Aiyra gritar loucamente.
- Quieta... você está muito barulhenta ultimamente...
Kaluanã brigou, mas se surpreendeu quando Aiyra segurou duas coxas fortes e enfiou as unhas, também o fazendo gritar de dor.
[Parabéns, você ganhou pontos, por se aproximar do seu pajé.]
Aiyra ouviu a voz em sua mente e o cavalo parou, fazendo Kaluanã descer dele.
- Não encoste assim em seu pajé...
Ele afastou as palhas e viu as feridas das unhas em sua coxa farta da cor chocolate. Catherine fechou os olhos com vergonha.
- Não se insinue assim para mim também. Que vergonha.
Kaluanã se sentiu chocado com as acusações da garota. Que péssima ideia foi essa em levá-la para passear.
- Grr... vamos voltar!
Subiu novamente no cavalo, mas desta vez sentou-se atrás da índia, para se proteger dos seus ataques. Porém, isso só fez Aiyra se encolher, afinal, esse homem atrás de si está pelado, apenas com uma saia. Que embaraçoso!
- Se afaste um pouco... - pediu a garota. - Se você quer grudar em mim, peça. Não faça isso sem avisar.
Continuou a dizer e Kaluanã revirou os olhos e a ignorou, mas sua respiração que alcançava o pescoço da garota a deixou arrepiada.
⇜⇝
Os indígenas não têm banheiros, então Catherine precisou de treze dias para se acostumar a usar a mata e pequenas lagoas para tomar banho.
Ela sempre foi uma garota limpa e cheirosa da cidade, e não era diferente aqui. Além de se depilar totalmente com espinha de peixe, Aiyra também tomava banho sempre em uma lagoa rasa quando não tinha ninguém.
É difícil se acostumar com essa cultura. Todos os indígenas tomam banho juntos, vivem sem roupas, e isso é difícil para a garota da cidade. Desde que acordou nesse corpo, ela começou a costurar roupas para esconder seu corpo e é considerada a jovem mais cheirosa da aldeia.
No final, acabou ganhando admiradores.
Catherine seguiu até a lagoa, onde se certificou de que estava vazia. Sentindo-se em paz, ela tirou as roupas e ficou nua dos pés à cabeça.
Entrar na água foi fácil e tomou banho como tanto amava, porém, sem perceber, bem no canto da lagoa, longe dali, estava Kaluanã, que a observava. Ele se aproximou calmamente pela água e chamou sua atenção.
- O que é isso?
Perguntou curioso sobre o creme caseiro que Aiyra passava no seu corpo. Ela se assustou e virou para ele.
- Você...
Cobriu seus seios e também a virgindade, fazendo Kaluanã arquear a sobrancelha.
- Você não está me vendo nua? Como tem coragem de se aproximar assim?
Ela desceu os olhos para a água transparente, onde conseguiu ver o membro dele, e isso a fez corar e fechar os olhos.
- Eu estava aqui primeiro, você chegou depois... você está agindo muito estranho.
Kaluanã se afastou e saiu da água, colocando sua saia de pano, e foi embora como se vê-la nua fosse normal, mas, ele estava em choque, já que vê-la sem pelo era chocante para sua cultura.
Aiyra o observava se afastar e soltou o ar. Ela nunca vai se acostumar com isso... depois disso, sua vontade de relaxar na água foi embora e ela saiu, vestindo sua roupa e correu dali de volta para sua oca.
Catherine tinha um namorado no seu tempo moderno, mas ele nunca a viu nua e ter os olhos de Kaluanã no seu corpo a deixou tímida.
Enquanto penteava os longos cabelos negros, Aiyra pensava nisso. Corando algumas vezes.
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Três semanas...
- Aiyra, o que achou disso? - Anori mostrou uma pena dourada, seus olhos brilhavam pela beleza dela, mas logo o objeto que tanto o menino gostou foi tomado das suas mãos pequenas por Aiyra, que o colocou em um enorme pano.
Ela o olhou e percebeu a carinha de choro da criança. Com o coração dolorido, Aiyra procurou pela pena específica entre outras várias e, quando a encontrou, a ergueu e mostrou ao garotinho com um enorme sorriso.
- Você deve ter gostado muito dela, toma.
Anori pegou-na e seus pequenos olhos novamente brilharam. Ele admirava realmente a pena e planejava fazer dela um colar. O indiozinho pulou animado e saiu da oca; no início, ele trouxe várias penas para Aiyra, mas essa específica, desejava que a mais velha desse de presente e enfim, agora era dele.
Aiyra juntou todas as crianças que gostavam muito dessa versão dela e as convenceu a trazerem várias penas de galinha, pois ela pretendia fazer um colchão, já que o de palha era muito duro e incomodava seu corpo com coceiras. Quando finalmente colocou as últimas penas, ela comemorou. Aquela era a primeira vez que fazia algo sozinha, sem ajuda de ninguém. Isso a deixou feliz.
[Parabéns, você ganhou pontos.]
Ela sorriu com a voz do sistema e deitou-se em seu "colchão" feito de pano e penas, mas percebeu que, mesmo estando cheio de penas, ainda continuava duro. Então como? Por que existe aquele ditado: "fofo que nem penas"? Será que era outro tipo de pena? Aquelas que fossem totalmente macias, já que as das galinhas tinham aquele "caninho" duro no meio.
Ela levantou-se, decidida em pesquisar sobre as aves que existiam naquele lugar. Ao sair pela porta, seu corpo bateu contra outra pessoa, que era mais alta, e Aiya sorriu ao ver que era o Kaluanã.
- Kauã. Eu estava pensando em você agorinha a pouco. Onde esteve? - Ela segurou a mão do chefe que estava bem esbelto naquele dia.
- Não me chame de Kauã, meu nome não é esse - reclamou, mas logo resolveu mudar de assunto, afinal, já fazia três semanas e Aiyra não compreendia esse pedido; ela continuava com esse apelido. - Vamos ao rio com as crianças.
- Quê? Por quê? - Ela não queria ir, mas no final, não conseguiu negar e se viu como uma cuidadora de uma creche, pelo menos Kauã estava ao seu lado, para não deixar nenhum acidente acontecer.
Pelo caminho, os índios adultos cumprimentavam Aiyra e Kauã. É, vendo agora, ela já estava bem familiarizada com todos aqui, até sabia os nomes de todos e fez amizades novas. Daqueles dois por cento, agora tinha aumentado uns trinta. Enfim, estava se acostumando com esse tipo de vida.
O caminho era uma trilha, no meio de um campo, que subia para um tipo de montanha e ao chegar no topo, após longos minutos, Aiyra enfim, percebeu que estava em cima de um rio azul cristalino. O lugar realmente era muito bonito, encantador, o que a fez sorrir de admiração.
Ela chegou perto da beirada do penhasco e observou a altura que era média, mas que, mesmo assim, dava medo e quando foi virar para se afastar, três crianças a empurraram para baixo, direto ao rio.
Pronto! Agora iria morrer novamente, já que seu corpo afundava. Todas as crianças sorriram, já que a brincadeira de empurrar era normal; muitas vezes Aiyra empurrou os outros. Kaluanã arqueou a sobrancelha ao ver que a garota não apareceu, ele continuou a olhar para a água e quando viu que ela afundava, ele pulou de ponta, afundando e observando a garota lutar para subir. Ele a pegou nos braços e a levou para superfície e ali sua ficha caiu. Essa Aiyra, não era a mesma Aiyra que ele conhecia.
Todos voltaram para a tribo, tristes, pois não brincaram no rio. Kauã levou Aiyra pelo braço até a oca da garota, obrigando-a a se sentar na cama e todo clima ao redor parecia tensão.
Catherine tremeu de medo.
- Quem é você? Aiyra sabe nadar, caçar e andar de cavalo. Você não é ela! Então me diga... você é alguma irmã dela?
Catherine mordeu o lábio. Ela poderia dizer que realmente é uma irmã, mas... como se explicar? Talvez dizer a verdade seja a melhor solução. Com essa ideia, ela ficou séria e disse:
- Na verdade... - ela abaixou a cabeça e suspirou. - Você tem razão. Eu não sou Aiyra... meu nome é Catherine Sanches e eu... sou uma garota do futuro... eu...
Kaluanã franziu a sobrancelha e julgou a garota à sua frente.
- Você está louca? Futuro?
A índia do Paraguai olhou para ele e se levantou.
- Essa é a verdade. Eu sofri um acidente enquanto saía do shopping e, ao acordar, estava nesse corpo. Você acha que sou louca? Eu também acreditei estar maluca, mas essa vida, esse corpo e as circunstâncias são reais.
Kaluanã a olhava chocado. Ele nem entendia essas palavras.
- Eu sou do ano de 2021, onde existem muitas tecnologias...
O índio ouvia, mas tudo isso parecia uma loucura. Porém, mesmo assim, diante da perplexidade, ele perguntou com a voz trêmula:
- Cadê... cadê Aiyra?
[Aiyra não pertence mais a esse corpo, ela teve uma morte súbita enquanto dormia. Então, sua casca estava vazia quando Catherine entrou.]
Ao ouvir a voz da Mini, Catherine abaixou a cabeça triste.
- Ela morreu antes de eu entrar... Desculpa!
Kaluanã estremeceu. Isso é uma loucura. Por que está dando corda a isso? Ele olhou mais uma vez para a falsa Aiyra e, sem dizer nada, deu as costas e saiu daquele lugar.
Catherine não o seguiu, ao contrário, ela se sentou na cama e bufou frustrada. Por que ela se sente triste pelo seu pajé? Com isso... ela resolveu perguntar:
- Mini, Aiyra realmente morreu? Você tem certeza? - Disse sozinha, parecendo uma louca.
[•́ ‿ ,•̀ Nesse espaço de tempo sim, como você na sua antiga vida...]
"Então... ela pode ter entrado no meu corpo? Isso é possível?"
Disse na mente desta vez e deitou-se na cama.
[Talvez?]
- E se trocarmos de corpo? - gritou alto com a possibilidade e um resquício de esperança invadiu seu coração.
[Negativo...]
Catherine parou e toda a animação foi esmagada e isso a desanimou. No final, ela só sentia saudades de casa. Porém, a garota realmente preferia que Aiyra estivesse no seu corpo. Desta forma, seus pais não iriam sofrer com sua morte.