A porta se abriu, e Elena Soler surgiu no batente. Trazia consigo um tubo de projetos debaixo do braço e a habitual expressão de determinação, aquela que parecia desafiar o mundo inteiro. Seus cabelos, ainda úmidos pela chuva, caíam em mechas rebeldes sobre os ombros.
– Estou atrapalhando? – perguntou, embora em seu tom não houvesse qualquer traço de desculpa.
Sebastián girou lentamente, pousando o copo sobre uma pequena mesa ao lado da janela. Os olhares de ambos se encontraram, e por um instante o ar entre eles pareceu se eletrificar, como se a tempestade também estivesse dentro daquela sala.
– Disse que precisava dos ajustes para a ponte principal antes do amanhecer – continuou Elena, avançando até a mesa dele sem esperar convite. – Aqui estão.
Colocou os projetos sobre a mesa com um movimento firme.
– E então? – Sebastián arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.
– Estão prontos – respondeu ela com calma, mas com um brilho desafiador nos olhos. – Se encontrar algo que não goste, é porque não sabe o que está procurando.
Um sorriso fugaz cruzou o rosto de Sebastián. Elena sempre tinha essa maneira de desafiá-lo, de enfrentá-lo em um mundo onde ninguém mais se atrevia. Ele se inclinou sobre a mesa, desenrolando um dos projetos.
– Isso significa que decidiu manter o design original do arco? – perguntou, analisando os traços com atenção.
– Não. Ajustei para que ficasse mais leve e eficiente, reduzindo custos sem comprometer a estrutura. Mas, claro, se preferir desperdiçar milhões desnecessariamente, posso refazê-lo.
Sebastián levantou os olhos para ela, sua expressão indecifrável.
– Você sempre tem uma resposta para tudo, Soler? – murmurou com a voz baixa, quase um sussurro.
Elena cruzou os braços, sustentando o olhar dele.
– Só quando tenho razão.
Um silêncio tenso pairou no ar. A chuva batia com força contra os vidros, mas nenhum dos dois parecia perceber. Era um duelo silencioso, uma batalha de vontades que ambos pareciam apreciar mais do que admitiriam.
Finalmente, Sebastián se afastou da mesa e voltou a encarar a janela. Sua silhueta, iluminada pelos relâmpagos, parecia ainda mais imponente.
– Elena, já se perguntou como seria sua carreira se abandonasse seu idealismo? – perguntou, sem se virar para ela.
– E você, já se perguntou como seria seu império se abandonasse sua ambição desmedida? – rebateu ela sem hesitar.
Ele soltou uma risada curta, seca, antes de finalmente virar-se para encará-la.
– Você é única, Soler. Deveria saber disso.
– Eu sei. Mas não tente me adular, Leduc. Isso não funciona comigo.
Sebastián deu alguns passos em direção a ela, parando do outro lado da mesa.
– Não é adulação. É um fato. E é isso que me irrita em você.
Elena franziu o cenho.
– Ah, é? E o que exatamente te irrita tanto?
– Que você sempre me faz questionar minhas próprias decisões.
Ela permaneceu em silêncio, surpresa com a sinceridade em sua voz. Havia algo diferente nele naquela noite, algo que ela não conseguia decifrar.
– Talvez porque, no fundo, você saiba que algumas delas estão erradas – disse ela, suavemente.
Sebastián a observou por um longo momento.
– Quer saber o que mais me irrita em você? – perguntou, dando um passo à frente.
Elena instintivamente recuou, até sentir o bordo da mesa contra suas costas.
– O quê? – murmurou, a voz quase inaudível.
– Que você me faz sentir coisas que eu não deveria sentir.
O coração de Elena disparou. A proximidade de Sebastián, o olhar intenso e o peso de suas palavras a deixaram sem fôlego.
– Sebastián... – tentou dizer, mas ele ergueu a mão, interrompendo-a.
– Não diga nada. Sei o que está pensando. Isso não deveria estar acontecendo.
– Exatamente. Não pode acontecer.
Sebastián deu um passo atrás, passando a mão pelos cabelos escuros.
– Você tem razão – disse ele, a voz carregada de frustração. – Não pode.
Elena respirou fundo, tentando recuperar a compostura.
– E também não deveria. Seu compromisso, minha carreira... tudo está em jogo.
Ele assentiu, mas não respondeu. Por alguns segundos, o único som na sala foi o da chuva. Finalmente, Sebastián quebrou o silêncio:
– "Eterna" é a única coisa que importa agora. Todo o resto... não existe.
Elena o encarou, dividida entre o alívio e a decepção.
– Certo – disse ela, cruzando os braços. – Então, voltemos ao trabalho.
Sebastián riu brevemente.
– Isso soa bem mais fácil do que realmente é.
Elena pegou os projetos e começou a enrolá-los novamente.
– Para alguém como você, deveria ser simples.
Antes que pudesse se virar, Sebastián segurou sua mão.
– Elena.
Ela levantou o olhar, presa na intensidade dos olhos dele.
– Você não tem ideia de como é difícil me manter longe de você.
Elena retirou a mão com cuidado, apertando os lábios.
– Então, não torne isso mais difícil do que já é – disse ela com firmeza, antes de se virar e caminhar em direção à porta. – Boa noite, Sebastián.
Ele a observou sair, deixando um silêncio ensurdecedor para trás.
Sebastián voltou à janela, mas desta vez a tempestade já não tinha sua atenção. Tudo o que ele conseguia pensar era em Elena, a única tempestade que ele não sabia como controlar.