O preço da inocência
img img O preço da inocência img Capítulo 2 Rejeitada
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Capítulo 6 Tratada Como Princesa img
Capítulo 7 Eu acho que era um acordo... img
Capítulo 8 Tudo tão lindo img
Capítulo 9 Para Nando começou assim img
Capítulo 10 É gângster! img
Capítulo 11 Adiantando o treinamento img
Capítulo 12 Batizado Obrigatório img
Capítulo 13 Com requintes img
Capítulo 14 Treinamento que segue img
Capítulo 15 Uma pequena pausa img
Capítulo 16 Amizade Subjetiva img
Capítulo 17 Voltando para o Ensino Médio img
Capítulo 18 Regras img
Capítulo 19 Amizade Fortalecida img
Capítulo 20 Oferta img
Capítulo 21 Des Impondo as Regras img
Capítulo 22 Papai Nunca Erra img
Capítulo 23 Imaginando um futuro img
Capítulo 24 Felicidade não me cabe img
Capítulo 25 Cena de filme img
Capítulo 26 Se houver amanhã img
Capítulo 27 Tomando atitude img
Capítulo 28 É inexplicável img
Capítulo 29 Sonhos Estragados img
Capítulo 30 O noivo img
Capítulo 31 Sério mesmo img
Capítulo 32 Eu não esperava img
Capítulo 33 Um galã img
Capítulo 34 Solucionando o Problema img
Capítulo 35 A história dele img
Capítulo 36 Muitos sonhos interrompidos img
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Capítulo 2 Rejeitada

Quando tinha 14 anos, minha mãe aceitou pagar a taxa do vestibulinho pra Etec, porque se sentiu culpada ao extremo por um rompante.

Ela estava tentando tirar habilitação, e no dia do exame prático, chegou em casa mais cedo, na parte da manhã.

Paola estava na escola e Mayara e meu pai no trabalho. Eu estava esfregando as calças jeans no tanque. A gente tinha máquina de lavar, mas minha mãe não permitia eu usar a máquina para lavar, apenas para enxaguar e torcer. Ela dizia que não lavava direito e gastava muita energia.

Então, eu tinha que esfregar as roupas de todos a mão. As piores peças eram as calças jeans, que além de mais pesadas, eram em grande quantidade: três adolescentes em casa, todos saiam todos os dias de casa para escola ou trabalho, realmente bastante coisa pra esfregar.

Minha mãe chegou e veio direto pra lavanderia, sem nem tirar a bolsa do ombro, ficou de frente para mim, que olhei para ela assustada:

- Mãe, porque está em casa tão cedo? Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu sim. Eu não passei na prova de direção.

E sem quê nem porquê, estalou a palma no meu rosto. As lágrimas vieram aos meus olhos, mas não chorei. Minha mãe odiava demonstrações de fraqueza em mim. Eu nunca podia chorar por nada. Então perguntei pra ela, com os olhos vermelhos tentando controlar as lágrimas:

- Porque você me bateu?

- Não passei no exame porque estava nervosa. Saí de casa nervosa porque não achei a bermuda que eu queria usar. E sabe porque não achei? Porque você é uma incompetente, inútil, que não guarda as coisas no lugar certo. Então eu me atrasei procurando e fiquei mais nervosa ainda, porque nem podia te acordar pra procurar e acabar me atrasando ainda mais. E acabei reprovando na prova de direção. Por sua culpa, porque tudo o que me acontece de ruim é sua culpa, porque você é um inferno em minha vida!

Minha mãe deu as costas pra mim, mas antes de sair da lavanderia, parou e nem se deu ao trabalho de virar pra me olhar:

- E vai fazer meu prato que eu tô com fome.

Toda molhada de esfregar calça jeans, parei tudo no meio pra esquentar a comida pra ela e lhe servir.

Coloquei a chave no portão, dando graças a Deus por estar em casa. Balancei a cabeça, afastando as lembranças ruins. Eu tinha passado o dia inteiro na rua. Saí muito cedo pra não perder o fechamento dos portões, e realmente era muito longe de lá até em casa de volta. Tinha comido um pacote de bolacha antes da prova, já eram quase 8 horas da noite. Queria tomar um banho, jantar e ir pra cama.

Desde o vestibulinho, tinha descoberto que sempre tinha dores de cabeça de ansiedade em fazer uma prova difícil. Não sei se porque pensava demais, se tinha medo de decepcionar ou outro motivo, mas minha cabeça começava a doer absurdamente quando ia preencher o gabarito e só parava depois que eu dormia. Então estava ansiosa por esse momento, mas me decepcionei consideravelmente quando entrei e vi a pia cheia de louças, pratos sobre a mesa e panelas vazias sobre o fogão. "Pelo menos esvaziaram as panelas e colocaram a comida na geladeira", pensei

Percebi que estava sozinha em casa, quando vi o bilhete pregado na geladeira, quando fui ver o que tinha pra comer.

"Saímos para comer pizza, não tinha a menor condição de fazer janta com essa bagunça na cozinha. Espero que você não tenha intenção de ir dormir deixando essa cozinha nesse estado que eu te arrebento. Bateu pernas o dia inteiro, agora faça suas obrigações"

Novamente, meus olhos encheram d'água. Dessa vez, eu deixei rolar, não tinha ninguém pra ver minha fraqueza em casa. Fui para o quarto que dividia com minhas irmãs, peguei roupas e fui tomar banho. Prendi o cabelo em um rabø de cavalo, limpei a cozinha inteira enquanto chorava, tentando ser o mais rápida possível. Estranhamente, a fome passou e o que sentia era um bolo em minha garganta.

Quando terminei a cozinha, deixando impecável, pensei com alívio que dali a três meses, eu ia completar 18 anos e poderia colocar fim naquele sofrimento! Eu tinha que arrumar uma forma de sair da casa da minha mãe, passando ou não no vestibular. Se eu tiver passado, era mais importante ainda sair de lá, para que ela não fizesse o mesmo de quando comecei a ETEC.

Passar no vestibular era uma honra, e isso era comemorado pelos veteranos. Quando passava em uma instituição pública para colégio técnico, não era diferente. Chamam de vestibulinho, pois seria curso técnico junto com ensino médio. Não era fácil passar e menos ainda agregar todas as matérias técnicas junto com a grade curricular regular.

E os bichos e bichetes, eram batizados em uma cerimônia similar à da faculdade. Pintavam nossos rostos, escreviam "bichete" na testa, espirravam desodorante barato, creme de barbear no cabelo, essas coisas. Ser pego no trote da Etec ou universidade, era motivo de orgulho.

E eu voltei pra casa toda pintada, com a testa bichete, fedendo desodorante vagabundo, os riscos verde e amarelo na bochecha, e nada disso chamava mais atenção do que o enorme sorriso estampado em meu rosto. Todos que entravam no ônibus e olhavam pra mim, sorriam junto e me parabenizavam.

E quando cheguei em casa, minha mãe ficou doida, disse que bicho eram os alunos daquela escola e eu não iria mais me prestar aquilo. No outro dia, me levou na escola antiga para rematrícular.

Por sorte, as meninas da secretaria que me conheciam pela dedicação aos estudos, convenceram minha mãe que o trote era um ritual pra encher um pai de orgulho.

Quando terminei de limpar a cozinha, sequei o banheiro com desinfetante nas peças e paredes, escovou os dentes e fui deitar, antes que meus pais chegassem com minhas irmãs. Queria evitar todo mundo. E mais ainda, que minha mãe percebesse que eu andei chorando.

Consegui evitar todos por aquela semana. Como era semana de provas finais, todos estavam concentrados em estudar e meus pais me deixaram em paz...

            
            

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