Capítulo 6 Ataque

Cristian Reed estava esparramado no banco de trás do carro, com os olhos fechados, ignorando o mundo ao redor.

"Nossa, a garota é deslumbrante! Olhe só as pernas dela, impecáveis! E a precisão? Jogou aquela lata como se estivesse em uma competição. Aposto que ela tem habilidades que poderiam rivalizar com as suas, Cristian!"

A tagarelice incessante finalmente arrancou Cristian do seu silêncio. Ele suspirou profundamente, abrindo os olhos com uma lentidão calculada.

A luz dos faróis de um veículo que se aproximava iluminou seu rosto por um instante, acentuando seus traços marcantes e a pequena pinta logo abaixo do olho.

Cristian murmurou com a voz grave e arrastada, carregada de exaustão: "Você não está prestes a ficar noivo? A filha mais velha da família Morgan não está destinada a ser sua?!"

Bobby se encolheu com a menção, a expressão distorcida em uma mistura de descontentamento e desconforto. "Ah, nem me fale dela... Aquela menina perdida, criada em um lugar qualquer, e agora acham que ela vai ser uma dama refinada? Só pode ser uma caipira feia e desajeitada! Meus amigos já devem estar rindo de mim pelas costas. Cristian, você é meu primo. Não deveria zombar de mim como eles fazem!"

Cristian ficou calado, se limitando a esticar as longas pernas e se acomodar ainda mais no banco.

O silêncio, carregado e intencional, parecia apertar o nó da frustração de Bobby.

Mas então seus olhos voltaram a pousar na garota iluminada pelo poste de luz.

A figura dela tinha algo magnético, e, apesar da contrariedade anterior, um sorriso travesso começou a se formar no rosto dele.

Sem perder tempo, Bobby abaixou o vidro da janela e se inclinou levemente para fora, chamando: "Ei, linda. Quer uma carona?"

"Não, obrigada." As palavras dela soaram geladas, cortando a noite como um vento gelado, deixando um arrepio que tocou ambos os homens.

No banco de trás do carro, Cristian sentiu os músculos do corpo se contraírem como um reflexo involuntário. Seus olhos se abriram num instante, a cabeça girando rapidamente em direção à origem do som.

A voz... era impossível confundir. Pertencia à garota que ele havia encontrado no hotel decadente, iluminado por lâmpadas trêmulas e cansadas.

Movido por um instinto quase animal, Cristian abriu a porta do carro com agilidade surpreendente e saiu, seus movimentos fluidos.

Fernanda percebeu a aproximação dele, mas, para ela, era apenas mais um homem tentando chamar sua atenção de maneira insistente. Com um revirar discreto de olhos, ela deu meia-volta, mostrando total desinteresse, e continuou caminhando. Ela deu apenas alguns passos antes de sentir um aperto firme em seu braço, interrompendo seu progresso.

Ela se virou, ficando cara a cara com o homem que a havia parado.

Ele era alto e impressionantemente bonito, com uma presença quase intimidante.

Uma das mãos estava enfiada no bolso com um descuido calculado, enquanto a outra mantinha o aperto firme no braço dela. Seus olhos penetrantes estavam fixos no rosto dela.

Lentamente, ele murmurou: "Olhe só, quem encontrei! Parece que estamos destinados a nos encontrar, não acha?"

Fernanda demorou um segundo para processar quem estava diante dela: o homem daquela noite inesquecível.

Sabendo que ele era um foragido perigoso, ela queria manter distância dele. Recuperando rapidamente a compostura, disse: "Desculpe, senhor. Você deve estar me confundindo com alguém."

Com um leve sorriso brincando nos cantos da boca, Cristian respondeu: "Não. Uma dívida de gratidão é algo que nunca deixo de pagar."

O comentário revelou a profundidade de seu caráter. Para ele, honrar um favor era quase uma lei pessoal, algo inegociável.

Enquanto isso, Bobby havia saído do carro e agora estava a uma curta distância, sua expressão de total perplexidade. "O que está acontecendo?"

Cristian ignorou a presença de Bobby, se concentrando em segurar a porta do carro aberta para Fernanda com um aceno sutil.

Ela permanecia imóvel, seus olhos semicerrados, o observando com cautela. "O que exatamente você quer dizer com isso?"

"Gostaria de te levar pra jantar, aceita?", Cristian sugeriu com um sorriso caloroso e convidativo.

Parecia uma pergunta, mas Fernanda podia discernir pela inflexão na voz que ele não estava realmente oferecendo uma opção para recusar.

Sua experiência com a personalidade de Cristian lhe dizia que, se hesitasse ou tentasse resistir, ele provavelmente daria um jeito de contornar sua vontade.

Ela respirou fundo, tentando disfarçar o desconforto, e acabou cedendo com um leve aceno. "Está bem."

Um sorriso tênue surgiu no rosto de Cristian, que gesticulou para que ela entrasse e então tomou seu lugar atrás do volante.

Bobby, por outro lado, parecia paralisado, como se estivesse assistindo a um evento surreal. "Você só pode estar brincando, Cristian! Isso é incrível!"

Cristian havia conquistado a garota atraente com poucas palavras, algo que Bobby considerava quase inacreditável.

Quando Bobby tentou abrir a porta traseira do carro, descobriu que estava trancada.

"Cristian?", ele chamou, sua voz carregada de dúvida.

Do banco do motorista, Cristian respondeu com firmeza: "Vá embora."

Bobby observou o carro preto desaparecer silenciosamente na escuridão, o deixando para trás.

O ressentimento crescia em seu peito, afinal, ele fora o primeiro a avistar a garota.

Então, por que diabos eles o haviam deixado ali?

Dentro do veículo, o silêncio pairava pesado, mas Cristian o rompeu sem cerimônias, disparando uma série de perguntas. "Você é de Esaham ou Zhota?"

"Zhota", Fernanda respondeu suavemente.

"E seu nome é?"

"Letty Molina."

"Quantos anos você tem?"

"Vinte e cinco", Fernanda respondeu, sua voz mal acima de um sussurro.

O olhar de Cristian, afiado e desconfiado, pousou sobre ela mais uma vez. "Não parece."

A resposta dela veio rápida, firme, como se tivesse previsto a observação: "A realidade raramente espelha nossas expectativas. Sua aparência, por exemplo... Nesse terno impecável, você parece o retrato perfeito de um magnata bem-sucedido. No entanto, você é o mesmo fugitivo que encontrei na outra noite."

Cristian soltou uma risada baixa, seu som carregando um toque de diversão: "Você tem razão."

Finalmente, Fernanda havia parado de fingir que não se lembrava do encontro passado deles. Para Cristian, era um alívio. Se ela tivesse escolhido continuar com a farsa, ele já tinha seus próprios meios para fazê-la desistir.

O trânsito de Esaham, como sempre, era um caos de buzinas e luzes piscando. Acostumado com o emaranhado interminável de carros, Cristian desviou para uma rua lateral, menos congestionada.

Quebrando o silêncio, ele sugeriu: "Conheço um lugar tranquilo. É gerido por um nativo de Zhota, e a comida é incrível. O que acha de irmos pra lá?"

"Claro", ela respondeu, seu tom calmo, mas firme.

Assim que a resposta pairou no ar, um estrondo estridente ecoou por trás, sacudindo o carro para frente. Fernanda foi jogada contra o banco, sentindo o cinto de segurança apertar com força o ombro.

Os olhos de Cristian dispararam para o retrovisor.

Sua expressão ficou tensa ao ver uma van cortar bruscamente o caminho, bloqueando-os.

De repente, veículos surgiram pelos lados, e os homens que desciam desses carros carregavam ferramentas ameaçadoras, suas silhuetas sinistras sob a iluminação precária da rua.

Num movimento rápido, Cristian abriu o console central e retirou uma faca.

"Aconteça o que acontecer, fique dentro do carro. Nem pense em sair. Eu vou cuidar disso. Depois, a gente janta, prometo", ele instruiu firmemente, a pressionando de volta no assento.