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ava tudo meio escuro, luzes coloridas piscando e ela cheia de glitter na cara e no decote dançando de olhos fechados no meio da pista de dança. Eu a olho de longe enquanto meus amigos gritam no meu ouvido que estão cansados e querem ir embora. A festa mal começou, respondo. Não consigo ouvir o que eles argumentam de volta, a música tá alta demais ou talvez eu que tenha me distraído porque, nessa hora, ela, estrela da pista e do meu coração que se encanta fácil, abre os olhos e seu olhar encontra o meu, como uma flecha subitamente atirada. Ela sustenta o olhar, eu desvio, nervosa.
Decido que vou ficar na festa. Meu corpo ainda tem muito pra dançar, eu digo pros meus amigos e pra mim mesma. Verdade não deixa de ser, mas tem outro outro motivo também: um motivo cheio de glitter na cara e no decote. Meus amigos me abraçam e se despedem, perguntam se vou ficar bem sozinha, pedem desculpas por estarem tão velhos, balbucio que sim, tudo bem, mas não estou prestando muita atenção, estou mais preocupada com ela que sumiu da minha vista. Procuro seu rosto entre os outros rostos. Nenhum brilha como o dela.
Vou até o bar como quem não quer nada, não a encontro. Dou uma volta, não a encontro. Procuro na fila do banheiro, não a encontro. Talvez ela tenha ido embora. Talvez meu destino seja mesmo ficar sozinha. Sacudo esse pensamento da minha cabeça. Estou sendo catastrófica, é o que minha psicóloga diria. Desisto e danço. Meu corpo quer dançar, sacudir a poeira, os ossos, o peso nas costas. Me lembro o propósito da saída de hoje: celebrar o começo de um novo ciclo.
A semana foi difícil, terminei o namoro e a menstruação veio com dor, claro, como não doeria?, o útero, do tamanho de um punho, é meu segundo coração e sente tudo. Meu coração apertou, o útero se contraiu, foi uma coreografia dolorosa. Eu sei que aquela dor era apego, um restinho de mim querendo se apegar àquilo que se acabava e a cólica era minha resistência em deixar ir, em deixar fluir - o sangue e as lágrimas. Afinal deixei. Tudo que estanca apodrece ou adoece. Terminei o namoro e aqui estou.
Estou aqui pra celebrar, me lembro disso. Danço de olhos fechados, rebolo, o quadril solto, ondulante, permissivo, tudo está se permitindo em mim, por um momento esqueço que estou cercada, só existe eu e a dança, sobe um calor, começo a suar e é bom, quero mesmo é transpirar tudo. Quando abro os olhos ela está na minha frente, não no meio da pista, na minha frente, a um passo de mim, me olhando e sorrindo, o glitter brilhando na pele negra.
Ela é linda, grande, com uma cabeleira cacheada que parece uma auréola brilhando sob as luzes coloridas.
Tomo um susto, mas chego junto, não sei de onde vem essa coragem, na verdade, certas coisas só precisam que a gente tome coragem pra dar um passo: o primeiro. Eu dou. Estamos cara a cara e sorrimos uma pra outra. Dançamos juntas. Rimos. Tentamos conversar apesar da música alta. Falhamos. Entendo o nome dela, que ela trabalha com moda, é ativista, filha de Iansã e tem três gatos, o resto se perde no batidão.
Ela faz um sinal que está com sede e vamos no bar pegar uma água. Ela pergunta, direta: hétera? Livre, respondo. Ela sorri. Digo que preciso ir no banheiro, ela me acompanha. A gente não precisa falar nada. Eu entro e ela também.
Ela me beija ou eu a beijo, não sei, só sei que quando me dou conta a língua dela tá dentro da minha boca, tem gosto de álcool e chiclete, seus lábios são carnudos e gostosos de morder, não tem muito espaço pra duas nessa cabine apertada, mas a gente não precisa de espaço, colamos as peles suadas uma na outra, ela enfia a mão debaixo da minha blusa e brinca com meus mamilos.
Minha buceta imediatamente acende, deixo as alcinhas da blusa caírem sobre os ombros e ela vai beijando meu pescoço, minha nuca, tudo em mim se arrepia, ela pega meus seios com as mãos em concha, me olha safada de baixo pra cima, e brinca de passar a língua bem devagar e suave entre um mamilo e outro. Eu me contorço. Minha buceta pisca mais que as luzes da pista de dança. Ela vai abocanhando e chupando um mamilo, enquanto aperta o outro com os dedos. Não aguento, enfio minha mão por debaixo da minha saia, afasto a calcinha e começo a me masturbar, ela gosta do que vê, diz que ama mulher com atitude. Gozo com ela sussurrando gostosa no meu ouvido. Eu nunca tinha gozado em pé na vida, nunca tinha ficado com ninguém num banheiro de festa, meus joelhos tremem e eu rio um pouco.
É minha vez de retribuir. Ela sobe o vestido e tá sem calcinha. Eu lambo meus dedos e massageio sua vulva, carnuda como seus lábios, molhada como sua língua, ela é corpulenta, voluptuosa e toda gostosa de apertar. Eu peço pra ela me ensinar como ela gosta. Ela vai guiando minha mão, me leva até o clitóris e... eu brinco. Ela ri e geme, eu rio e ofego. Quando sinto que o orgasmo dela vai chegando, colo meus lábios nos dela e ela goza gemendo abafado no céu da minha boca. Sinto a força do seu orgasmo fazer tremer a terra. Ela é uma deusa gozando. Começam a bater na porta do banheiro, a gente se arruma apressada, obviamente não conseguindo disfarçar nada, e saímos com a cara mais lisa do mundo. Quando a gente se despede eu digo pra ela: foi bom brincar com você. Ela salva seu número no meu celular e responde: pode me ligar que eu gosto de brincar de pega-pega.