Eu respiro e tenho um instante de absoluta lucidez. Contemplo essa calmaria, o privilégio de ter uma varanda com vista pro mar, o conforto dessa casinha que chamamos de nossa, cada coisinha que compramos juntos, as almofadas, o tapete, a luminária de sal rosa do himalaia, as plantas batizadas com nome de gente... esse é o nosso ninho, nosso lar, nosso cotidiano. Esse cotidiano ordinário me basta.
Tô tão cansada de gastar tempo e coração desejando sempre algo a mais, algo que não está aqui, algo qualquer no futuro, algo grande, inexistente e fantasmagórico. O ínfimo é exuberante e o presente é suficiente - sei e sinto e preciso me lembrar constantemente porque é tão fácil esquecer. É tão fácil colocar a felicidade lá na frente e achar que só serei feliz e realizada quando conquistar isso e aquilo. O que tenho agora é bonito. Esse saber me preenche o peito - é contentamento o nome disso. Olho pra ele lendo e desejo que ele me preencha também.
Não é um desejo faminto, não sinto pressa nem afobação, é suave, sereno, como aquela música do Cazuza, deve ser isso a sorte de um amor tranquilo, certamente tem sabor de fruta mordida. Sento do seu lado e olho pra ele. Meu namorado, meu marido, meu amigo, meu amante. O homem com quem escolhi dividir a vida. Até quando, não sei. Não sei se acredito em pra sempre. Mas acredito profundamente na infinitude desse momento. Quando a gente sabe estar presente não falta tempo. Olho pra ele e o vejo. Andei trabalhando demais esses dias, focada, determinada... obcecada, na verdade, talvez seja uma palavra mais justa. A gente quase não transou. Eu quase não pensei nele. Tava conectada no celular, no e-mail, nos deadlines, nos projetos. Quase não dei atenção pra gente. É tão fácil se distrair. Ele me percebe o encarando e levanta as sobrancelhas como se perguntando "que foi?".
Nada, digo. Mas a resposta completa na verdade seria: eu tô me lembrando que te amo e escolhi estar com você. Então lembro que ele não lê mente e falo em voz alta. Ele sorri e abaixa o livro. Repito tudo isso na língua do beijo. É um beijo lento, molhado, nossos lábios se sentem, minha buceta acende. Quando a gente para de se beijar é quase como sair de um encantamento. Ele está sorrindo e faz de conta que quer continuar a ler, mas eu sei e ele também sabe que a leitura chegou ao fim. Tudo começa comum, ordinário, banal. A gente se beija. A gente se olha nos olhos. A gente ri e tira a roupa sem fechar as cortinas. A gente não liga se alguém espiar a gente. A gente se toca como já se tocou um milhão de vezes. A gente se chupa num meia nove que não dura muito tempo porque quando começo a sentir prazer esqueço de chupar. Ele, por sua vez, continua fazendo seu trabalho e nunca reclama do meu esquecimento. A gente chega naquele ponto em que minha buceta tá pronta e o pau dele lateja. A gente tem tempo e não quero que a gente se apresse. Vou no quarto e volto pra sala com meu vibrador favorito.
Deito na frente dele de pernas abertas e ele ri sabendo exatamente o que quero. Ele me beija e enfia dois dedos devagarinho na minha buceta, esperando paciente enquanto eu posiciono o vibrador sobre o clitóris. Respiro fundo e deixo meu corpo amolecer. Não gemo. Ainda não. Ele faz o que faz de melhor: escava e estuda meu interior, compenetrado e sério, o olhar cravado no meu rosto, observando cada mínima reação. Deixo minhas pernas se abrirem mais um pouquinho, liberando a tensão da semana, as preocupações, as nóias desnecessárias que de vez em quando ainda me pego nutrindo.
Aos poucos minha respiração vai pesando e o toque dele também - ele pressiona pontos dentro de mim que me reviram inteira.
Sinto a buceta se encharcando aos poucos, um prazer que desordena as estranhas, que vem das profundezas, pesado e denso e que só é bom porque estou mole e entregue, se estivesse tensa... doeria. Mas não dói, já aprendi que quanto mais relaxo, mais profundo é o êxtase. Já aprendi que contrair os músculos e tensionar o corpo pode até acelerar o orgasmo, mas é um orgasmo que não tem tempo de adentrar fundo na carne dura. A carne mole não oferece resistência: o prazer penetra fundo e cresce por dentro até explodir chacoalhando o corpo inteiro. Eu me contorço e acho que grito - não tenho certeza e não penso. Com muito custo consigo articular em voz alta: vem logo que eu tô morrendo - suplico (sempre dramática na hora do prazer e sei que ele gosta).
Diante da minha súplica ele sorri e me ama - já conheço a carinha que ele faz quando tá me amando e ver essa carinha sempre me dá um conforto bom no peito. Então ele vem, com aquele pau lindo, duro, grosso e rosa empunhado na minha direção. Eu coloco as pernas pra cima e ele coloca uma almofada debaixo da minha bunda. Eu gosto dessa posição porque assim ele toca meu ponto g, ele gosta porque acha bonito me ver arreganhada. Pego meu vibrador e gozo de novo. Ele pergunta se tô satisfeita. Eu tô. Sei que ele tá falando de sexo, mas eu tô falando da vida.
Ele me pede pra eu deitar de barriga pra baixo e sou toda sim pra ele agora. Ele goza na minha bunda e nas minhas costas e é como uma chuva quente de verão. Ele cai do meu lado ofegando e a gente tenta se abraçar sem melar o sofá de porra. A gente sorri um pro outro e fazemos alguma piada que não lembro. Com certeza é uma piada boba, sem graça até. Mas a gente ri. A gente ri porque a gente tá contente agora e porque há amor aqui. Deitada no sofá e no seu peito, rindo de qualquer besteira, estou no fundo me lembrando que por tanto tempo busquei a intensidade, as paixões loucas, violentas, por tanto tempo achei que amar era uma dor no peito, uma agonia constante... e agora tenho essa oportunidade incrível de reaprender o amor, esse amor que é ninho e não dói. Não, não dói. Hoje sei que o que dói é o apego, o medo de perder, o ciúme, a insegurança e a vontade de controlar. Amar é só bom e há intensidade na serenidade. A tarde continua caindo. A gente escolhe um filme na Netflix e tenta seduzir um ao outro pra ver quem vai levantar pra fazer pipoca. Eu vou. Eu vou porque estou grata por poder experimentar amar em paz.